"Suponho que esta menina será a fornecedora das armas para me matar, querida Adeline?"
Elias só queria provocá-la. Ele queria ver os olhos dela, encantadores, embora recatados, vacilar com hesitação. A incerteza estava sempre sobre suas feições suaves. Ela era uma mulher séria e determinada que o divertia. Ele queria saber mais sobre ela e as mudanças inesperadas que aconteceram na década em que não a tinha visto.
Na verdade, Elias esperava que Adeline se comportasse como a infame Lydia Claymore, conhecida por sua natureza exuberante. Adeline costumava ser muito mais enérgica. Quando criança, ela provocava travessuras.
"E-Eu acho que meu segredo foi revelado..."
Os olhos de Elias se arregalaram um pouco. Era uma brincadeira, mas ela respondeu com a verdade. Ele desviou a atenção para ela. Ela estava sentada no sofá, de costas para ele, mas com a cabeça e o braço virados em sua direção, surpresa.
Sua expressão era sempre delicadamente bela. Seu cheiro, sua voz suave, sua voz, tudo nele o enlouquecia. E quando ela revelou aquele sorriso tímido e provocante, algo desconhecido o sacudiu.
"E-Era uma piada," Adeline adicionou, em voz mais baixa.
"Hah," o sorriso de Elias se tornou uma careta.
Por um segundo, ele acreditou nela. Afinal, o Duque Claymore era um dos maiores fornecedores de armas para o Império dos Espectros. Embora, o homem fosse fiel demais para virar as costas para Elias — que havia apoiado o casamento de Kaline e Addison desde o início.
"Você não vai me cumprimentar?" Elias pediu suavemente. Ele fechou as portas atrás de si e concentrou toda a sua atenção nela.
Adeline piscou por alguns segundos. Lentamente, ela se levantou do sofá, mas havia um olhar de dúvida em seu rosto. Ele suprimiu um sorriso. Era uma brincadeira, e ela estava começando a se familiarizar com seu jeito.
"E você não vai cumprimentar s-sua noiva?"
Os lábios de Elias se contorceram. Ele se perguntava se seria possível não sorrir na presença dela. Sua curiosidade o divertia demais. Ela havia ficado ausente do cenário da alta sociedade por um tempo.
Um salão de desenho luxuoso como este teria ofuscado todas as pessoas indignas. No entanto, ela estava aqui, no mais simples e plano vestido branco, com cabelos dourados em cascata e olhos brilhantes esmeralda. Ela não parecia pertencer a este quarto. Parecia que o quarto pertencia a ela.
"Então, só por hoje, vamos dispensar os cumprimentos," Elias disse suavemente. Ele manteve sua distância, decidindo observá-la a partir da entrada.
Elias não era alguém que não pudesse controlar seus impulsos. Ele tinha sido ensinado por décadas a fazê-lo. Mas esses eram impulsos primários para se banquetear com sangue. Havia outro tipo de instinto que ele havia esquecido há muito tempo, até que ela tropeçou de volta em sua vida.
"Mas nós nunca nos c-cumprimentamos," Adeline murmurou, sem saber que era um sarcasmo.
Elias percebeu que ela era direta. Ela dizia o que vinha à mente? Surpreendentemente, ele gostava disso.
"D-deveríamos começar a partir de hoje e daqui em diante?" Adeline adicionou, em um tom de voz ainda mais baixo do que antes, como se ficasse perplexa com sua própria pergunta.
"Você gostaria disso, querida Adeline?" Elias respondeu.
Adeline balançou a cabeça imediatamente. "B-bem, eu uhm—"
"Acho que nem estou aqui," Lydia falou em tom neutro. Ela os observava como alguém assistindo a um filme com pipoca e petiscos. "Sou apenas uma ilusão. Não liguem para mim~"
Adeline soltou uma risada suave, enquanto o olhar de Elias escurecia. Ele não gostava de pessoas interrompendo Adeline, especialmente quando ela se esforçava tanto para falar. Ela tinha sido reprimida por muito tempo na vida. Levaria algum tempo para se acostumar a falar novamente.
Elias mal lançou um olhar para Lydia. Ela tinha a cor de cabelo de palha de feno que os cavalos mastigavam e olhos da cor de água pantanosa turva. Adeline provavelmente descreveria sua melhor amiga em uma luz mais bonita, mas ele estava com preguiça de se importar.
"Elias," Adeline declarou. Ela gesticulou com a mão em direção a Lydia. "Esta é minha boa amiga, Lydia Claymore."
Lydia estreitou os olhos para o Rei. Ela o conhecia. Durante as frequentes saídas de seu Pai para o castelo, ela o acompanhava, mas não entrava na reunião privada. Ela tinha ouvido rumores sobre ele dos socialites fofoqueiros que sempre cobiçavam o Rei.
Até herdeiras de conglomerados ricos, com mais dinheiro do que se pode imaginar, sonhavam com Sua Majestade. Vampiros e humanos eram igualmente cativados por Elias Luxton.
Lydia, no entanto, não era. Ela não gostava de quão vermelhos eram os olhos dele. Eles a intimidavam.
"Sua Majestade," Lydia finalmente disse em uma voz monótona.
"Claymore," Elias respondeu seco.
Adeline piscou inocentemente, olhando de um lado para o outro. Ela sentia que havia uma tensão palpável, mas não sabia o que a iniciara.
Lydia passou o braço pelo de Adeline e se aproximou mais. "Então, onde estávamos?" ela cantarolou. "Antes de sermos interrompidos grosseiramente, quero dizer."
Adeline animou-se um pouco mais. "Sim, acho que estávamos discutindo as armas que você sempre..." ela interrompeu, sem querer embaraçar sua amiga na frente de alguém.
Lydia apertou o braço ao redor de Adeline.
"Isso me lembra," ela disse de repente. "Como está o Duque Claymore?"
Lydia torceu o nariz. "Você sabe que o Pai preferiria que você o chamasse de Tio Claymore, ou apenas Tio. Duque é tão formal, e—"
"Adeline," Elias disse em tom severo.
As mãos de Lydia tremeram com vontade de bater em algo. Ela odiava que as pessoas a interrompessem — a menos que fosse Adeline. Ela segurou sua querida Addy, encarando o Rei.
Elias se desencostou da parede, com os olhos fixos apenas em Adeline. Ele chegou até elas num piscar de olhos, com sua grande figura imponente sobre elas.
Lydia hesitou, sentindo um leve senso de medo. Mas então ela se lembrou de quem era, e endireitou os ombros.
"Elias," Adeline disse delicadamente.
Elias ignorou a vinha se agarrando ao braço de sua mulher. Ele estendeu a mão e tocou o queixo dela, levantando seu rosto.
"Venha, eu tenho uma surpresa para você." Elias pressionou gentilmente o ponto sensível do pequeno queixo dela. Ela piscou, com os olhos passando rapidamente do indisciplinado Claymore de volta para ele.
"M-meu amigo…"
O aperto de Elias se intensificou. Ela nem sequer se encolheu. "Ela pode vir também, mas como mera filha de um Duque, caminhará atrás de nós."
Adeline balançou a cabeça lentamente. Então, ela hesitou, sabendo que tinha acabado de desobedecer o Monarca no controle do governo. Sem aviso, ela balançou a cabeça novamente.
"Lydia é minha melhor amiga, eu caminharei atrás de você com ela."
O olhar de Elias tornou-se ainda mais assustador. Ele viu o corpo de Lydia se tensionar. Sua ingênua pequena Adeline continuou a olhar para ele, com olhos grandes e ignorantes.
"Por favor?"
Elias soltou um pequeno suspiro. Ele soltou o queixo dela e pegou sua mão. "Não me implore," ele disse irritado.
Adeline piscou novamente, escavando em surpresa a reação dele. Então, ela sorriu um pouco, percebendo que ele era muito mais gentil do que esperava.
"Não pode a surpresa ser trazida para cá?" ela acrescentou lentamente.
"Não."
"Ah."
Uma sutil e desconfortável silêncio caiu sobre eles. A sombra de Elias pairava sobre elas, mas ela parecia não se incomodar com isso. Ela sequer se dava conta da posição em que estava?
"Eu tenho certeza que pode ser trazido para cá," Lydia disse de repente.
Adeline se virou para a amiga.
Lydia a presenteou com um sorriso encorajador. "Presentes podem ser—"
"Minha querida Adeline," Elias murmurou gentilmente. Ele ergueu a mão dela em direção a ele, trazendo-a mais perto do seu peito. Uma expressão de preocupação relampejou em seu rosto. Nisso, a atenção dela estava imediatamente sobre ele.
"Você está bem?" Adeline perguntou, com preocupação dançando em seus olhos.
Elias escondeu seu sorriso sarcástico atrás de um sorriso. Ele podia sentir Lydia fulminando-o com o olhar, apesar de sua posição neste mundo. Ele poderia mandar matá-la por ser tão desrespeitosa. Assassinos eram em abundância, sua morte poderia parecer um acidente. Mas sua doce Adeline valorizava demais a inútil Claymore.
"Estou um pouco ferido," ele disse.
Ela soltou o ar suavemente em surpresa, seu corpo instantaneamente se erguendo em direção a ele, enquanto procurava por lesões visíveis.
Elias ouviu o escárnio silencioso de Lydia.
"Addy, não caia nas armadilhas dele!" Lydia exclamou. "Como pode Sua Majestade estar ferido quando ele é um dos mais antigos—"
"Veja, meu coração foi machucado porque você pulou a refeição e mal deu uma mordida," Elias interrompeu. Ele largou a mão dela e caminhou ao redor do sofá, até estar de pé, diretamente na frente dela.
"M-mas eu compareci à nossa refeição..."
"Você mal comeu qualquer coisa lá," Elias disse incisivamente. Ele pegou as mãos dela novamente, desta vez, trazendo-a de pé, muito para o protesto de Lydia.
Adeline olhou para suas mãos e então de volta para ele, com os lábios entreabertos. Ela estava fascinada por ele, mas sua atenção continuava voltando para Lydia.
Elias apertou mais a mão dela, trazendo-a ainda mais perto. Ele queria que ela não olhasse para mais ninguém além dele. Como um garoto mimado, ele queria toda a atenção dela.
"Adeline," ele a chamou afetuosamente.
Ela o olhou.
"Venha, minha querida Adeline, vamos te alimentar."
Lydia lançou um olhar furioso para Elias. Ela sabia o que ele estava fazendo. Não pode ele compartilhar?!
"Ótimo!" Lydia entrou em cena de forma intempestiva. "Eu também estava começando a ficar com fome!"
Elias se virou friamente para ela. "A comida não é para você," ele retrucou.
Lydia soltou uma risada de escárnio. "Você está me dizendo que Sua Majestade Real não pode alimentar mais uma boca?"
Elias a encarou furiosamente. Essa mulher era louca!