Estando ela tão perto dele, Elias não pôde evitar sorrir. Embora, desta vez, fosse mais genuíno. Lembrava-lhe da infância deles, quando ela era apenas uma menina jovem com energia demais para o mundo. Ela corria até ele e então pulava em cima dele para um abraço, com o sorriso mais estúpido e ignorante, sem saber exatamente quem ele era.
Elias ainda se perguntava, mesmo até hoje, o que a fazia gostar tanto dele.
"Mas isso não significa que nunca tenha acontecido," ele acrescentou.
Assim como que por magia, o feitiço se quebrou. Ela levantou a cabeça e tentou criar distância entre eles. Sua infelicidade era evidente. O canto dos lábios dela descaiu para uma carranca, e ela desviou o olhar.
O sorriso de Elias desapareceu. Ela era boa em fazer birra. Ele podia ver as palavras que ela queria dizer, mas não disse. Estava escrito em todo o rosto dela.
"Sou tão repulsivo assim?" ele perguntou. "Foi tão entediante que você quis esquecer?"
"Não, claro que não!" ela explodiu dizendo.
Imediatamente, a conotação das palavras dela se impôs. Ela cobriu o rosto com as mãos e o escondeu dele.
As mãos de Elias deslocaram-se para ambos os lados da cintura dela. Ele não tinha percebido antes, mas ela estava terrivelmente magra. Ela não comia?
"É só que…" ela começou. "É tão embaraçoso!"
A sobrancelha de Elias se levantou.
"Eu-Eu estava fazendo barulhos tão libidinosos, e você simplesmente—"
"Mas eu gostei do som adorável que você fez."
"Elias!"
Um sorriso malicioso cresceu em seu rosto. Perverso e pecaminoso, ele inclinou a cabeça, querendo ver mais das bochechas brilhantes e vermelhas dela. Quando ela chamava seu nome daquela maneira, era difícil não prendê-la contra as grades e tomar posse. Ela o tentava de maneiras inimagináveis.
"Você não pode esquecer isso, por favor? Por mim?"
Elias riu. Ela estava escondendo o rosto dele. Não adiantava nada para ela.
Ele ainda estava incrivelmente perto dela. A ponta dos dedos dela roçava em seu peito, mas não havia para onde ela fugir. Se ela se inclinasse mais para trás, ela cairia da varanda — não que ele a deixasse.
Elias tinha prometido fazer com que ela ficasse neste palácio. Depois desta noite, ela nunca mais conheceria o mundo exterior. Este seria seu lar de agora em diante. Onde quer que ela fosse, os homens dele a acompanhariam. Não haveria um dia em que ela precisasse estremecer com mãos erguidas.
"E por que eu deveria fazer algo por você?"
Adeline gemeu. "Você não é nada como os homens que eu leio nos meus livros fictícios."
Elias zombou. "Eles são fictícios por uma razão."
Adeline se perguntou o que fazia aqueles homens serem tão gentis com suas amadas. Mas então o pensamento fez seu rosto corar novamente. Amantes. Era um título íntimo que não pertencia à Adeline e Elias.
Adeline respondeu à sua própria pergunta. De alguma forma, ela estava um pouco chateada. Apenas um pouquinho irritada.
"Tudo tem um preço, querida Adeline." Sua voz baixou para um murmúrio sedutor. Sua respiração esfriou o lado do pescoço dela ao tocar. Ela tremeu em resposta e, inconscientemente, se inclinou mais para ele.
"Não existe almoço grátis." Seu polegar acariciou a parte de baixo do queixo dela, agarrando a pequena coisa com seus dedos.
"E-então o que você gostaria como seu preço?"
"Você."
Adeline não pôde evitar de rir. Foi um som pequeno e contido. Ela teve que cobrir a boca e balançar a cabeça.
"Não brinque comigo."
"Eu não estou brincando."
Adeline espiou para cima. Ele estava mortalmente sério. E ela estava aterrorizada. Finalmente, ela percebeu a posição promíscua deles. Uma de suas pernas estava entre as coxas dele, e o corpo inferior dele estava pressionado contra o estômago dela. Ele prendeu o corpo dela com facilidade contra as grades. Um braço abraçando a cintura dela, o outro tocando seu queixo.
Ele havia levantado a cabeça e a inclinado. Ele estava mortalmente sério.
"Por que... por que você me quer?" Adeline disse com uma voz perdida e confusa. "Eu sou igual às outras garotas dessa festa, eu—"
"Algumas pessoas são verdadeiramente ignorantes da própria beleza. Estou surpreso."
"Isso se chama baixa autoestima, m-muito obrigada," ela disse sarcasticamente.
"Bem, é bom ver que você consegue dar uma resposta atravessada para alguém."
Adeline desviou o olhar dele. Ela não queria mais vê-lo frustrado. Tia Eleanor sempre a repreendia por responder às pessoas. A Madama especialmente odiava quando o sarcasmo era utilizado.
"Deixe-me ouvir mais disso," ele provocou.
Elias virou o queixo dela em sua direção. Seus olhos cintilaram. Ela estava envergonhada. Estava escrito por todo o seu olhar brilhante e nariz levemente enrugado. Ela estava fazendo o melhor para não corar. Ele se perguntava se ela apenas tinha sangue demais em seu sistema. Quando foi que ela não ficou vermelha na frente dele?
Adeline reagiu como se cada palavra que ele dissesse fosse um pecado. Ela estava ou envergonhada de ouvir isso, ou incomodada, ou excitada e incomodada. Ele preferia a última opção.
"Você era muito mais atrevida quando criança, minha querida Adeline."
Adeline estremeceu. Ela finalmente se lembrou da pergunta esquecida. "Você me conhecia quando criança...?"
"Você é uma Princesa, Adeline. Não faria sentido para um Rei perder o nascimento da primeira Princesa de Kastrem."
"O-oh…"
À medida que as palavras dele se assentavam, os olhos dela se arregalaram. O que ele acabou de dizer? Sua cabeça ergueu-se em terror.
Sua pele empalideceu.
O sorriso dele se aprofundou.
- - - - -
"Onde diabos ela está?" Asher ficou no mesmo lugar onde Adeline deveria estar. A sobremesa amarela brilhante estava deslocada em sua mão. Especialmente com as meninas humanas lançando olhares curiosos para ele, apenas para rir entre si.
Asher estreitou os olhos. Esse tratamento estúpido não estaria acontecendo se Adeline fosse obediente. Ela só tinha que ficar parada.
Adeline estava fraca e indefesa. Ela gostava de atrair a morte e o perigo? Por que ela andava por aí, sozinha, em um lugar infestado de criaturas sugadoras de sangue que a viam como um pequeno cordeiro?
"Hah…" ele suspirou alto. "Você só adora causar confusão."
Asher não estava surpreso.
O sorriso mais inocente esconde o coração mais sombrio.
Adeline era ótima em esconder seu lado travesso. Ele se lembrou das brincadeiras ousadas que ela aprontou no palácio. Mas tudo chegou a um abrupto fim quando o Príncipe Herdeiro e a Princesa foram encontrados mortos em sua propriedade. A primeira pessoa que descobriu o corpo sem vida deles foi a jovem Princesa.
"Eu não deveria ter deixado ela se afastar," Asher se repreendeu. Ele girou sobre os calcanhares e observou o ambiente. Humanos e Vampiros, misturando-se entre si, como se não se odiassem.
À medida que a tecnologia avançava, também avançava a progressão do povo. Eventualmente, as pessoas esqueceram quão horríveis os Vampiros se comportaram durante a Guerra das Espécies.
Asher lançou um olhar severo a um casal. Era evidente que o homem era um vampiro, a julgar por seus traços afiados e pele pálida. A mulher era uma humana, o rubor da vida em suas bochechas o indicava.
"Essas malditas feras…" Asher rosnou baixinho. Assim que ele colocasse as mãos no bastardo que dançou com Adeline, ele garantiria que o homem nunca voltaria a mostrar seu rosto por aqui.
Quem diabos ele era, afinal de contas? Asher tinha notado os Vampiros recuando e encarando o homem. Alguns até baixavam a cabeça, como um cão com o rabo entre as pernas.
O homem era um Puro-Sangue. Apenas aquela raça, linhagens prestigiosas, recebia uma saudação respeitosa assim.
"De todos os Vampiros que ela poderia atrair, tinha que ser um Puro-Sangue."
Asher balançou a cabeça desaprovando. Ela poderia ter escolhido um Mestiço, que era metade Humano e metade Vampiro, ou mesmo um Enfraquecido, cujos pais eram ambos Vampiros, mas cujo sangue estava diluído demais para ser rastreado.
"Que tipo de confusão você se meteu, Adeline?" Asher murmurou para si mesmo.
"Não importa de qualquer modo," ele disse com firme resolução. "Eu sempre te salvarei do perigo."
Seu aperto no prato de porcelana se intensificou. "Mesmo que isso me custe a vida. Eu vou te manter segura, Adeline."