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Ele gosta de pão?

"Heaven, como você?"

"Hmm? Como aprendi a falar Espanhol?" Heaven sorriu para Paula. A pergunta escapou de sua boca no minuto em que o atendente as deixou sozinhas. O sorriso em seus lábios se tornou mais amplo, mais largo e mais confiante. Quem diria que falar outra língua a faria se sentir assim? Ela olhou para Paula e disse, "Em outras palavras, mesmo ficando dentro de casa, eu preciso de alguns hobbies."

"Hobbies?" Paula perguntou, franzindo a testa. Se tinha algum hobby que Paula sabia que Heaven tinha, era chorar e ser ingrata.

"Nossa. Você consegue se imaginar fazendo nada dentro do seu quarto o ano inteiro?" Heaven riu, lançando um olhar desprezivo para a outra mulher. "Não é como se eu me concentrasse nisso. Aprender idiomas foi na verdade muito simples."

"Ah. Então por que você me pediu para explicar tudo se você já sabe falar o idioma?" Paula perguntou ceticamente. 

"Porque você parecia animada em me ajudar!" Heaven exclamou, parecendo uma completa idiota enquanto piscava para Paula. "Eu pensei que iria magoar seus sentimentos se eu recusasse."

'Então você deveria ter fingido que não sabia até o fim!' Paula argumentou mentalmente. Mas ela mordeu a língua, impedindo-se de argumentar mais. "Oh. Eu pensei que você precisava de ajuda, então ofereci."

"Tudo bem. Não tem problema. Isso só mostra o quanto você realmente se importa comigo," Heaven disse alegremente e sorriu brilhantemente para Paula. "De qualquer forma, eu vi que você ainda estava com dificuldades com o idioma. Devo te ensinar? Como nos velhos tempos?"

Paula franziu a testa, cravando as unhas no colo. Será que Heaven estava ficando mais burra? Paula sabia que Heaven já era muito emocional e que mal conseguia funcionar. Mas agora, mesmo que Heaven estivesse com muito mais energia, parecia que ela ainda não estava usando a cabeça.

Paula negou todas as possibilidades de que Heaven estivesse dizendo coisas dolorosas de propósito. Ela estava culpando a ignorância de Heaven. De jeito nenhum Heaven seria tão astuta.

A Heaven que Paula conhecia era uma garota de bom coração com uma personalidade direta. Se Heaven estivesse brava, ela expressaria. Assim, se estivesse chateada com Paula, Heaven deixaria isso claro para ela. Era assim que Heaven lidava com as coisas e com as pessoas.

"Está tudo bem." Paula se acalmou, sorrindo de volta para Heaven. Ela se certificou de que sua postura ainda era a mesma: elegante e amigável. "Eu já contratei um tutor. Além disso, como posso te incomodar?"

"Tem certeza?" Heaven perguntou com uma voz doce. 

"Mhm." Paula assentiu. "Você vai estar ocupada com a mudança — já arrumou suas coisas? Devemos buscá-las depois?"

"Certo."

"Hmm?"

"Eu não vou me divorciar," Heaven soltou a notícia, olhos em sua amiga, observando como ela reagiria.

"O quê?!" Paula exclamou em voz alta. 

Heaven inclinou a cabeça para o lado, confusa com a reação de Paula.

"Ah, desculpe." Paula disse baixinho, e depois limpou a garganta. "Como assim, você não vai se divorciar? Heaven, ele te ameaçou de novo? Por que você está mudando de ideia de repente?"

"Paula, não é assim," Heaven disse calmamente. Ela se recostou na cadeira e explicou, "O Dom não me ameaçou e nunca fez isso, ou qualquer coisa do tipo."

"Então, por quê? Se ele não está te ameaçando, ele te convenceu a desistir? Ele te fez sentir culpa de novo? Usando seu filho só para você ficar nesse casamento miserável?" Paula perguntou de maneira urgente.

"Paula."

"Heaven," Paula disse, ficou claro que ela estava agitada, especialmente a maneira como ela se inclinou e segurou a borda da mesa. "Não deixe ele te influenciar. O Sr. Zhu é um homem poderoso. Ele pode arruinar qualquer um sem levantar um dedo. Ele te forçou descaradamente a entrar nesse casamento depois de violar você —"

Heaven bateu a mão na mesa. Seus olhos, que estavam quentes e amigáveis um segundo atrás, mudaram para um olhar frio e calculista que Paula nunca tinha visto antes. Isso fez Paula dar um pulo e se sobressaltar, olhando para Heaven com olhos arregalados.

"Heaven?" Paula chamou cautelosamente o nome dela. Seus lábios tremiam, sentindo essa aura inexplicável emanando de sua amiga. "Por que você —"

"Como você se atreve?" Heaven disse com uma voz fria e cruel que fez o fôlego de Paula se prender. "Como você se atreve a trazer à tona algo assim?"

Paula mordeu o lábio inferior enquanto baixava os olhos. Ela sabia que era um tópico sensível e se estivesse no lugar de Heaven, ela também ficaria brava. No entanto, Paula tinha que mencionar isso de vez em quando para lembrar Heaven de seu ressentimento em relação a Dominic Zhu. Ela se livrou disso no passado depois de convencer Heaven, e estava certa de que seria o mesmo desta vez.

"Paula, vou ser honesta com você. Às vezes, eu realmente questiono essa amizade," Heaven falou depois de um momento de silêncio. Dúvida coloriu sua voz enquanto observava Paula lentamente levantar a cabeça novamente. "Mesmo que o que você está vomitando fosse verdade, como você pode facilmente trazer à tona o trauma de sua amiga? Você é tão insensível? Ou estava tentando me machucar de propósito?"

"Heaven, não é assim —" Paula se defendeu urgentemente. 

Heaven bateu a mão na mesa mais uma vez, o prato tilintou fazendo Paula engolir nervosamente sua saliva. "Eu deixei isso passar no passado porque você é minha amiga. No entanto, estou extremamente chateada e decepcionada com você," Heaven disse sem emoção. Ela então apoiou as mãos na mesa e se levantou, inclinando-se para frente para poder olhar bem para Paula. "Meu marido não me ameaçou ou me convenceu a desistir do divórcio. Eu sou velha o suficiente para decidir por mim mesma, e escolhi consertar meu casamento. Era isso que eu queria te contar hoje." Quando teve certeza de que tinha passado a mensagem, Heaven endireitou-se.

"Perdi o apetite, então vou para casa primeiro," ela acrescentou, olhando para baixo para ver o choque dominando o rosto de Paula. "Obrigada por oferecer seu lugar, mas eu não preciso mais dele."

Com isso dito, Heaven pegou sua bolsa e foi embora. Ela não olhou para trás para Paula nem uma vez, nem hesitou em seus passos. Paula, por sua vez, permaneceu imóvel, sentada com os olhos fixos na porta fechada.

"Consertar o casamento?" Paula repetiu depois de recuperar os sentidos. Ela debochou e mordeu o lábio interno com força o quanto pôde. "Não. Eu não acho que ela quis dizer isso. Ela está provavelmente apenas chateada — será que eu abusei da sorte?"

Paula então mordeu o polegar por hábito para aliviar o nervosismo. Após minutos pensando sobre isso, ela balançou a cabeça.

"Ela vai se acalmar logo. Uma vez que fizer isso, tenho certeza de que ela vai se desculpar," Paula disse, racionalizando as ações de Heaven, ela então assentiu, convencida e confiante no padrão de comportamento de Heaven. "Essa idiota logo vai chorar para mim, implorando para eu ajudá-la a sair deste casamento."

*************

"Droga!" Heaven praguejou enquanto saía do restaurante. Ela ainda parecia consternada com a sequência dos eventos. "Ela me deixa com raiva. Como ela se atreve a falar de coisas sérias tão levianamente — meu Deus, ela me deixa tão furiosa! Ainda bem que almocei na casa da Vovó Zhu. Senão eu teria mandado ela para o inferno onde ela pertence."

Heaven estava quase na saída do shopping quando um cheiro agradável passou por suas narinas. Fez com que ela parasse em seu caminho e olhasse em volta. Ela virou a cabeça, e respirou fundo, apenas para ver uma padaria perto da entrada do shopping.

"Será que ele gosta de pão?" ela se perguntou em voz alta. Ela deu de ombros, sem esperar que uma memória ressurgisse. Ela entrou na padaria com um sorriso no rosto encantador.

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