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Capítulo 30

LETTIE

— PICCOLO!!!!!!!!!! — Disparei até ele, seguida por um Gohan tão desesperado quanto eu.

Nós dois nos debruçamos sobre o corpo estirado de Piccolo no chão. Sangue escorria do seu ferimento, manchando a areia sob ele.

— Piccolo, por favor, fale comigo! — Peguei em seu rosto e dei leves tapinhas em sua bochecha.

Mas ele não respondia. Seu Ki estava baixíssimo.

Troquei olhares apavorados com Gohan. Não era possível… Será que o ataque atingiu o coração de Piccolo??

Lágrimas inundaram os meus olhos. Não podia terminar assim! Piccolo não poderia morrer aqui! Ele não poderia morrer sem resolvermos nosso relacionamento!

Mas lá estava ele, imóvel em meus braços. De novo!

Outro déjà vu me acometeu. Eu, Piccolo e Gohan, juntos sofrendo um pelo outro… Como na batalha contra os Saiyajins, anos atrás. O mesmo sentimento de pavor e de impotência diante adversários tão poderosos… Tudo voltou!

Só que muito mais forte.

Enquanto tudo isso passava pela minha cabeça e Gohan chamava pelo Sr. Piccolo abatido, os gritos do meu irmão ao ter sua energia sugada pelo Androide 19 continuavam ecoando por toda a região.

Então, ele apareceu.

Vegeta.

Ele chegou DO NADA e simplesmente deu uma bicuda no Androide 19, jogando-o para longe. Todos ficaram perplexos.

— É o MEU DEVER destruir Kakarotto! — Ele encarou um atônito Androide 20. — Vocês, suas latas velhas ambulantes, não se metam!!!

Silêncio.

— Ué, m-mas… — começou Gohan. — Aquele ali é mesmo o Vegeta?

— O quê?! Vegeta está aqui?! — Piccolo de repente abriu os olhos e se levantou, como se nada tivesse acontecido.

Agora, eu e Gohan nos encarávamos com um profundo assombro.

— Sr. Piccolo?? — exclamou ele. — O senhor está… bem?

Não faço ideia de como minha cara estava ao fitá-lo ali, de pé ao meu lado, completamente são e recuperado.

— M-M-M-Mas… — gaguejei, confusa. — V-V-Você tinha…!

Piccolo então virou-se para mim com um pequeno sorriso encabulado e disse:

— Desculpe, Lettie… Eu tinha pensado em ajudar Goku ao fingir ser atingido. Talvez os Androides me vissem como um alvo mais fácil no momento e eu os pegaria de surpresa. Porém… — Ele fuzilou Vegeta com o olhar. — Aquele sujeito apareceu aqui quando não era necessário. Idiota! Tinha que interferir nos meus planos!

Tá. Aquele parecia ser, sim, um bom plano, mas não exclui o fato de eu ter ficado MEGA PREOCUPADA COM ELE!!! Se não estivéssemos numa situação tão complicada, juro que eu teria dado uns bons tapas nele por ter me feito pensar que estava morrendo.

Vegeta então começou a xingar o meu irmão por ter se transformado em Super Saiyajin mesmo se sentindo mal e, agora, sua doença avançaria muito mais rápido, e que seu objetivo sempre fora derrotá-lo, etc etc etc. Enfim, Vegeta sendo Vegeta. Não gostei nem um pouco da sua próxima atitude, mas não estranhei quando ele despretensiosamente chutou Goku na direção de Piccolo, que o pegou no ar.

— Papai!!! — Gohan debruçou-se sobre ele quando Piccolo o colocou no chão, derrotado pela fraqueza da doença.

Todos do nosso grupo (exceto Vegeta e os Androides) rodearam o meu irmão, falando palavras encorajadoras para ele reagir. Ajoelhada ao lado de Gohan, eu disse:

— Precisamos levá-lo para casa. Ele precisa tomar o remédio o mais rápido possível!

— Eu faço isso, Tia Lettie!

— Não, Gohan. — Yamcha deu um passo à frente. — Pode deixar comigo. É vergonhoso, mas sou o mais inútil aqui.

Ficamos quietos por um momento, mas acabamos concordando com a sua sugestão. Yamcha colocou Goku sobre os ombros e se preparou para levantar voo.

— Tome cuidado — alertou Piccolo. — Essa doença se propaga por um vírus. Pode ser contagioso, então também tome uma dose do remédio.

Dito isso, Yamcha foi embora, levando meu irmão desfalecido consigo. Aquilo cortou meu coração. Um homem tão forte, sempre tão animado e disposto para uma luta, precisando ser carregado naquele estado. Pobre Goku…

O Androide 19 fez menção de segui-los, mas o Androide 20 o parou.

— Vai ser mais divertido se deixarmos Goku por último — alegou ele. — Primeiro, temos que acabar com esses insetos irritantes. Agora que Vegeta chegou, será bem mais divertido!

O ódio por aqueles Androides só cresceu em nosso grupo, e nos reunimos um ao lado do outro, como fizemos contra os Saiyajins, prontos para lutar.

Fez-se silêncio por um longo tempo. A tensão aumentava a cada segundo. Quem daria o primeiro ataque? Nós ou os Androides? E quanto a Vegeta? Seu olhar era sinistro. O que ele planejava?

— Ei, pessoal — sussurrou Kuririn. — Não acham melhor fugirmos daqui, para a nossa própria segurança?

— O quê?! — replicou Tenshinhan.

Encaramos Kuririn, atordoados com aquela repentina sugestão.

— Estou falando sério — continuou ele. — Vocês não lembram o que o rapaz do futuro disse? Goku ficará doente e todos nós, inclusive Vegeta, seremos assassinados por esses Androides. A situação é um pouco diferente. Fomos alertados e treinamos para este dia, mas ninguém pode garantir que isso de fato vai alterar o futuro.

Meu coração disparou e olhei para Piccolo. Ele voltara a esboçar aquela mesma expressão perturbada desde a nossa conversa ontem. Será que… ele concordava com Kuririn? Pensava que de fato não havia saída para nós? Que nosso destino era mesmo perecer nas mãos desses Androides e deixar a nossa filha órfã?

Será que não havia mesmo um futuro feliz para a nossa família?

Um grande nó se formou na minha garganta, mas eu o engoli.

Não. Eu não acreditava naquilo. Eu não ACEITAVA aquilo!

Felizmente, meu sobrinho parecia compartilhar do meu sentimento:

— Se fugirmos, eles vão destruir toda a Terra, igual ao que fizeram com a cidade! Não vou permitir isso, prefiro arriscar a minha vida!

Nunca senti tanto orgulho de Gohan.

— Mas podemos voltar quando Goku se sentir melhor — rebateu Kuririn.

— Existe a possibilidade de que a vinda daquele rapaz tenha mudado o futuro para algo pior. — Piccolo finalmente falou, e sua voz era carregada de desolação. — Não temos como adivinhar nada. A partir de agora, tudo é incerto.

Suas palavras foram como um balde d'água fria em nossos ânimos. Eu e Gohan nos entreolhamos com profunda tristeza ao vermos Piccolo tão pessimista. Justo ele, nosso antigo Mestre e Líder.

De qualquer modo, não tínhamos tempo para lamentar, pois o Androide 19 pediu autorização ao Androide 20 se podia lutar sozinho com Vegeta. O Androide 20 não gostou da sugestão, mas acabou cedendo com a condição de que lutaria sozinho contra o restante de nós cinco.

Então, para a surpresa de todos ali, Vegeta se transformou em um Super Saiyajin. 

Sua transformação era muito diferente da de Goku. O céu escureceu e um vendaval arrepiante nos percorreu. Formou-se uma cratera ao seu redor e uma forte luz azulada e fria emanou dele, fazendo com que precisássemos cobrir nossos olhos para não ficarmos cegos.

Era uma sensação apavorante.

— I-Isso não pode estar acontecendo! — exclamou Kuririn. — Como o Vegeta conseguiu se transformar em um Super Saiyajin??? Não era verdade que um Saiyajin só poderia se transformar se fosse calmo e tivesse o coração puro???

Por detrás da fumaça da cratera, Vegeta saiu andando lentamente e disse:

— Ora, mas eu sou calmo, e meu coração é puro. — Ele então abriu um sorriso sinistro. — Meu coração é pura maldade!

Todos os pelos do meu corpo se arrepiaram. De fato, apesar do grande poder que ele exalava da sua transformação, uma aura maligna o rodeava. Seus olhos brilhavam com uma sede de sangue em um nível muito perturbador.

Ao meu lado, Piccolo estremeceu. Seu rosto não parecia surpreso com a súbita transformação de Vegeta em Super Saiyajin, pelo contrário. Parecia apavorado. De início, não entendi o porquê, entretanto, logo me dei conta.

Piccolo não estava com medo de Vegeta, mas do que estava dentro de Vegeta.

— Tudo o que eu desejava era ser o mais forte! — prosseguiu Vegeta, caminhando na direção do Androide 19. — Por isso, treinei duro e jamais me dei por vencido! — Ele então virou-se para mim com o mesmo olhar macabro e disse: — E quanto a você, Lettie? Já conseguiu se transformar em Super Saiyajin ou passou os últimos três anos brincando de casinha com esse alienígena verde e aquela menininha plebeia?! Pelo visto, você agora é a única Saiyajin de raça pura que ainda não conseguiu se transformar! QUE VERGONHA! — E cuspiu no chão.

Considerando que a raiva é o gatilho para a transformação em um Super Saiyajin, eu não estranharia se eu me transformasse ali, naquele momento. Parecia que as pessoas tinham tirado o dia para nos ofender gratuitamente. É sério, o que os outros tinham contra eu querer ser a esposa do homem que amo e mãe de uma filha maravilhosa?? Por que aquilo incomodava tanto elas? Era errado querer viver uma vida calma e tranquila com a sua família??

Pelo visto, Piccolo também quase se transformou em um Super Saiyajin ao meu lado (ou melhor, em um Super Namekuseijin), pois seu rosto ficou vermelho-pimentão ao ouvir quão desdenhosamente Vegeta falou sobre nós.

Contudo, para a nossa surpresa, foi Tenshinhan quem nos impediu de fazer uma besteira.

— Não se deixem abalar pelas palavras desse imbecil. — Ele colocou as mãos em nossos ombros, apertando-os com afeto. — O nome disso é inveja. Apenas ignorem.

Meu nível de admiração e respeito por Tenshinhan elevou-se bastante com sua atitude. Foi difícil controlar minha raiva, mas acatei o seu conselho e respirei fundo. Felizmente, Piccolo fez o mesmo e nós três trocamos um aceno de cabeça amigável.

Vegeta continuou o seu discursinho:

— Não contive minha emoção ao me transformar em um Super Saiyajin. — Ele fechou o punho e admirou a sua mão brilhante. — Finalmente vou superar Kakarotto!!! Chegou a hora da volta do Príncipe dos Saiyajins!!! Todos deverão ser leais a mim!!!

Vegeta poderia ser da realeza, poderia compartilhar da minha raça, mas eu era leal a apenas um homem, que era mais digno do que qualquer título.

— Já chega desse seu papo-furado! — vociferou o Androide 20. — Não importa que tenha mudado. Ainda é impossível nos derrotar! Somos Super Androides! Você sofrerá o mesmo que Goku!

Deu-se início a luta. O Androide 19 lançou-se no ar, soltando raios lasers dos olhos na direção de Vegeta. Um forte clarão vermelho cobriu toda a paisagem, levantando mais fumaça.

Porém, Vegeta saiu ileso, ainda exibindo seu sorrisinho sarcástico.

Foi um embate muito intenso. O Androide 19 socava Vegeta sem parar, mas ele apenas retrucava com zombaria, parecendo não sentir absolutamente nada dos golpes.

Mas então, Vegeta resolveu atacar. Com um único golpe, ele jogou o Androide 19 para longe, o que só demonstrou o quão forte ele estava. Deu pra perceber o quanto o Androide 19 ficou frustrado por ser atingido de um modo tão fácil, mas ele simplesmente não tinha chance. Vegeta estava agindo como um sádico profissional, o atacando e zombando sem um pingo de misericórdia. Seu comportamento era tão violento e sanguinário, que me deixou assustada.

Por fim, Vegeta lançou seu oponente no chão com tamanha força, que criou outra cratera. Fomos correndo para lá. Quando chegamos à borda, testemunhamos o Androide 19 agarrar os braços de Vegeta e rir alto, alegando que sugaria a sua energia.

Vegeta não saiu do lugar. Seu rosto estava impassível. Na verdade, parecia gostar de toda a situação. Foi aí que aconteceu. Vegeta pulou no lugar, de modo que conseguiu a proeza de colocar os dois pés bem no meio da cara do Androide 19, ainda segurando seus braços, e então, sem mais nem menos, ele fez força e ARRANCOU OS DOIS BRAÇOS DO ANDROIDE. De uma só vez.

Todos ficaram boquiabertos e abismados, inclusive o Androide 20. Sangue e óleo saíam dos braços arrancados de um aterrorizado Androide 19. Inconscientemente, me encolhi para perto de Piccolo e, do mesmo modo, acredito que ele também nem percebeu quando ele passou a mão pela minha cintura e me trouxe para junto de si.

Vegeta então caminhou na direção do Androide 19, que se escorava na parede da cratera, chorando de medo ao ver que seu fim provavelmente estava próximo.

E, de fato, estava.

Num ato de desespero, o Androide 19 conseguiu a proeza de escalar a cratera e sair correndo e gritando em pânico. Vegeta se impulsionou para os céus e, flutuando no ar, estendeu a mão. Sua aura de poder aumentou exponencialmente, trazendo um forte vendaval consigo. Dei um jeito de puxar Gohan para mais perto e Piccolo nos segurou com força, num ato de proteção.

— TOME ISSO!!! — gritou Vegeta. — ESTE ATAQUE SE CHAMA "GRANDE EXPLOSÃO DO SUPER VEGETA!!!"

Eu nem tive tempo de pensar o quão brega era o nome daquele ataque, e uma bola de energia saiu das mãos dele, atingindo o Androide 19 com precisão. Um enorme clarão amarelo nos cobriu e, quando se dissipou, deixou apenas uma torre de fumaça em formato de cogumelo no lugar.

Quando abri meus olhos, cobri a boca para conter um grito de pavor.

A cabeça decepada do Androide 19 jazia à nossa frente.

Morto. Ou seria melhor dizer: desligado?

De qualquer modo, aquela era a verdade: Vegeta derrotara o Androide 19.

O Androide 20 não ficou nada contente com a perda do seu companheiro. Vegeta pousou à sua frente, em sua forma normal, e o convidou para um duelo, mas então, de repente, o Androide 20 levantou voo e disparou em direção ao aglomerado de rochas mais adiante.

Após ameaçar Kuririn para lhe entregar uma Semente dos Deuses e comê-la, Vegeta transformou-se em um Super Saiyajin outra vez.

— Vocês cinco aí! — Ele virou-se para nós com um olhar altivo. — Podem ir para casa tomar café com leite! NÃO INTERFIRAM NA MINHA LUTA! — E saiu em disparada para seguir o Androide 20.

— Mas quem ele pensa que é?! — Kuririn levantou os punhos na direção de Vegeta. — Ninguém nos manda tomar café com leite!

Não minto que também fiz uma careta de descontentamento. Vegeta causava esse efeito nas pessoas. Entretanto, me dei conta de quão próximos eu e Piccolo estávamos. Corando, mas com o mesmo olhar triste de sempre, ele se afastou de mim, limpou a garganta e disse, num tom ansioso:

— Bom, o fato é que Vegeta perdeu uma grande quantidade de energia ao lutar com o Androide 19. — Suor escorria da sua testa. — E ele prolongou a batalha de propósito para comprovar que os Androides realmente absorviam energia pelas palmas das mãos.

— Tem certeza disso? — indaguei, preocupada.

— Sim. — Ele me olhou com uma expressão fechada e sinistra. — Pior do que isso, tenho certeza de que se um de nós tivesse lutado com o Androide 20, já estaria morto.

Fez-se um silêncio mórbido.

Olhei para Piccolo com profundo pesar. Aquilo não era nada bom. Ele estava cada vez mais pessimista sobre a nossa situação. Eu nunca o vi daquela maneira.

— Odeio admitir — finalizou ele —, mas Vegeta é mesmo um gênio das batalhas.

Ninguém disse nada, ou pelo menos acho que ninguém soube o que dizer. Contudo, um pensamento me veio à mente e o externalizei:

— Eu também odeio admitir isso, mas acredito que Vegeta já pode ter superado Goku.

— O QUÊ???!!! — Foi a réplica de todos, menos de Piccolo, que continuou em silêncio. Aposto que ele também chegou na mesma conclusão que eu.

— De todo modo, eu vou atrás dele! — alegou Tenshinhan, indignado. — Quero confirmar com os meus próprios olhos que o Androide 20 será eliminado.

— Então, eu também vou! — acrescentaram Kuririn.

— Eu também vou!!! — exclamou Gohan.

Já eu, apenas olhei para Piccolo, aguardando sua reação. Aquela era uma decisão muito séria, que poderia custar nossas vidas. Eu não queria decidir algo por mero impulso da minha aversão pelos Androides. Não quando eu tinha uma filha pequena esperando que eu voltasse viva para casa, de preferência com seu pai também vivo.

— Calma, Gohan — eu disse. — Vamos pensar bem sobre isso.

— Mas Tia Lettie, se pararmos agora, nosso Treinamento duro nos últimos três anos terá sido em vão!

— Sua tia tem razão, Gohan — disse Piccolo. — E não é porque treinamos que devemos agir no calor do momento. Precisamos analisar com cautela. — Ele suspirou e ficou em silêncio por um tempo, até concluir: — Tudo bem. Acredito que podemos ir para apenas observar a luta entre Vegeta e o Androide 20 e ver no que dá, mas, agora me escutem: nenhum de vocês irá lutar, entenderam? Não somos páreos para aquele Androide!

Os meninos não gostaram nem um pouco da ideia.

— Pessoal, eu sei o quanto isso é frustrante. — Abri os braços em um gesto apaziguador. — Como o Gohan disse, treinamos muito para este dia, mas não podemos nos precipitar. É lamentável dizer isso, mas nosso adversário é muito mais poderoso do que calculamos.

Silêncio. Pareceu que os outros começaram a entender a gravidade da situação.

— É… Acho que Piccolo e Lettie têm um ponto. — Tenshinhan cruzou os braços. — Além disso, quem nos garante que o próprio Vegeta não nos mate caso ousarmos interferir na sua luta contra o Androide 20?

Uau. Aquela, sim, era uma boa observação.

— Certo — assentiu Piccolo. — Nós seguiremos eles. Mas tomem cuidado redobrado, pois o Androide 20 pode se esconder entre as pedras. Outra coisa, não se esqueçam de que não podemos sentir o seu Ki, então será quase impossível localizá-lo.

Enquanto os outros concordavam e levantavam voo, Piccolo me fez parar e olhá-lo.

— Lettie… — Sua voz era trêmula. — Não lute caso encontre o Androide. — Nossos olhares se sustentaram por um momento, até que ele pediu, num sussurro: — Por favor.

Seus olhos, tão pequenos, brilhantes e intensos, e seu tom suplicante me cortaram o coração. É claro que eu não iria contrariá-lo. Com delicadeza e carinho, apertei seu braço, como eu sempre fazia, e anui com a cabeça em concordância.

Piccolo tomou mais um gole do seu odre, e todos levantaram voo. Decidimos nos separar para que cada um investigasse com mais precisão. De repente, encontrei-me sozinha no meio daquele labirinto de rochas. A qualquer momento, eu poderia esbarrar no Androide 20 ou Vegeta. Qual dos dois seria pior? Honestamente, não sei.

Era tão estranho ficar sozinha. Me acostumei tanto com a presença protetora de Piccolo nos últimos anos, que era como se uma parte minha faltasse quando eu me afastava dele. Será que ele sentia o mesmo em relação a mim?

Decidi baixar o meu Ki ao máximo. Com cuidado, me esgueirei por entre as rochas, procurando manter-me o mais escondida possível. O som da minha respiração era a única coisa que eu ouvia, o que só me deixava mais ansiosa. Onde eles estavam??

Foi então que, por detrás de uma pedra pontuda, avistei Vegeta ao longe. Ele estava parado no topo de uma formação rochosa, ainda na forma de Super Saiyajin. Pra variar, ele gritava algo para os quatro ventos, chamando pelo Androide e gastando todo o seu extenso vocabulário de xingamentos.

Vegeta parecia cada vez mais irritado e levantou voo, provavelmente para ter uma visão melhor. Decerto o Androide 20 estava usando aquele terreno como vantagem.

— JÁ QUE NÃO QUER APARECER — ele criou uma grande bola de energia nas mãos —, VOU ARREBENTAR TODAS ESSAS PEDRAS!!!

Espere aí. Se Vegeta jogar aquela energia aqui, ele vai… ele vai matar a todos!

Essa não… Piccolo e Gohan seriam atingidos!!!

Não consegui me conter. Saí de detrás da pedra pontuda e gritei:

— VEGETA!!! NÃO FAÇA ISSO!!! TEM GENTE AQUI EMBAIXO!!!

Só que Vegeta não me ouviu. Ou fingiu não me ouvir.

A bola de energia cresceu de forma espantosa, até formar um clarão, e começou a cair. Só tive tempo de agarrar meus cabelos, desesperada com aquela súbita mudança de eventos.

Até que ele apareceu.

O Androide 20 de repente surgiu e se posicionou bem embaixo da bola de energia que caía rapidamente em nossa direção. O que ele estava fazendo???

Ele ergueu as mãos e, com um grito, conteve a bola de energia. Um forte vento transcorreu aquela área e então, cinco segundos depois, o clarão sumiu.

O Androide sugara toda a bola de energia.

Apesar de ainda com o coração disparado em pânico após nossa "quase morte", eu não ficaria ali para ver o desfecho daquilo. Saí correndo o mais rápido que pude, voltando a me esconder entre as rochas. Só tive tempo de ouvir um possesso Vegeta xingando enquanto voava pelos ares por ter seu plano impedido.

O silêncio retornou.

Após caminhar por alguns minutos, cheguei em uma área que era impossível continuar a pé e precisei flutuar, mas me mantive atenta.

Uma sensação estranha tomava conta do meu corpo. Medo e aflição crescente. Eu sentia uma presença maligna por perto, mas onde ela estava? Não importava para onde eu olhasse, tudo o que cobria minha vista era um extenso deserto com centenas de pedras.

Foi então que algo me agarrou por trás, ou melhor, alguém, travando as pernas ao redor do meu corpo e me aplicando um mata leão.

— Ora, ora… — O Androide 20 sussurrou no meu ouvido. — O que uma bela Saiyajin faz aqui, sozinha? Onde está o seu maridinho verde? Te abandonou aqui, é?

Arregalei os olhos em pleno desespero. Tentei gritar, mas a minha boca era tapada pelas mãos enrugadas e nojentas do Androide.

— Xiu, fique quietinha — continuou ele. — Vai ser rápido, e logo, você cairá em um sono profundo e eterno. — E começou a sugar minha energia.

Minha visão começou a ficar turva devido ao estrangulamento e à falta de ar. Um formigamento percorreu todo o meu corpo conforme a minha energia era tirada de mim.

Não… Não durma, Lettie! Resista!

A primeira coisa que fiz foi manter a calma. Entrar em pânico não me ajudaria em nada. Além disso, eu era uma Saiyajin e fui treinada pelo melhor Mestre.

EU NÃO DESISTIRIA!

Rapidamente, encolhi meu queixo na direção do peito, criando uma barreira pequena contra o estrangulamento, mas o suficiente para eu escapar da mão que sugava a minha energia. Respirei o máximo de ar que pude. Num movimento súbito, forcei meu corpo na direção do chão e consegui me desvencilhar das pernas do Androide. Sem perder um segundo sequer, girei o tronco para o lado e finalmente fiquei livre, não sem antes dar uma cotovelada bem no meio da cara do desgraçado.

Eu e o Androide nos encaramos, flutuando no ar.

Meu peito subia e descia com a adrenalina que já corria pelas minhas veias, porém, calculei que o Androide sugara cerca de trinta por cento da minha energia.

Eu estava em grande desvantagem.

— Então, você decidiu ser burra o suficiente para querer lutar comigo. — Riu ele, limpando um filete de sangue e óleo que escorria do seu nariz. — Muito bem. Que assim seja. — E lançou-se na minha direção.

Mal pisquei e o Androide já estava na minha frente. Como era veloz!!! Consegui escapar de um soco no último milissegundo, mas fui atingida em cheio na boca do estômago com uma joelhada, me fazendo debruçar sobre o meu corpo, mais uma vez sentindo falta de ar.

Ele me atingiu nas costelas, me deixando ainda mais sem fôlego. Uma dor dilacerante me tomou e caí na direção das rochas. Com certeza quebrei alguma coisa, entretanto, antes de eu ser empalada viva por uma pedra pontiaguda, flutuei, me endireitei e disparei na direção dele para contra-atacar. Dane-se a dor.

Meu alvo era suas mãos. Se eu conseguisse arrancá-las, como Vegeta fez com o Androide 19, eu pelo menos tiraria sua vantagem de sugar o restante da minha energia.

Mas obviamente ele percebeu isso, deixando-as fora do meu alcance. Pois bem, se eu não conseguia alcançar suas mãos, iria para as suas pernas! Girei meu corpo e, num movimento rápido, atingi bem no meio do seu joelho esquerdo.

Crec! — Ouvi o barulho de ossos se quebrando.

O Androide resmungou, e agora, sua perna esquerda estava numa posição estranhamente torta. No entanto, para o meu desespero, o meu pé também estava estranhamente torto. Que ótimo. Quebrei o meu pé no golpe por causa da dureza da sua carcaça. O som de ossos se quebrando veio de mim.

Encarei o Androide de novo. Ele estava furioso. 

— Pensa que consegue me quebrar??? — Com um olhar maníaco, ele atirou-se para cima de mim, aplicando socos e chutes numa velocidade inigualável. Consegui desviar de alguns, mas fui atingida por muitos golpes.

Era impossível rebatê-lo! E o fato de ele ter sugado a bola de energia de Vegeta deve tê-lo deixado ainda mais forte. Eu não tinha nem tempo de pensar em como eu poderia me defender ou contra-atacar, e ele já me atingia com outro golpe em cheio. Cada centímetro do meu corpo latejava de dor. Eu já havia perdido a conta de quantos ossos meus foram quebrados por ele. 

Que tipo de adversário era aquele?!?! Ele estava num nível muito além do que imaginávamos! Senti como se eu tivesse jogado os últimos três anos de Treinamento no lixo!

Meus olhos começaram a se turvar outra vez.

— MORRA!!!!! — O Androide juntou os punhos acima da cabeça e então, os afundou bem no meio da minha coluna, quebrando-a no meio instantaneamente.

Caí com um baque por entre as pedras, não sentindo mais o meu corpo.

— P-Piccolo… — sussurrei, ou pensei sussurrar.

Entre meus olhos roxos e inchados, distingui o Androide 20 pousar no chão ao meu lado e me virar para encará-lo.

— Piccolo não pode te salvar agora. — Ele travou meu pescoço com ambas as mãos. — Pode deixar que eu mesmo vou avisar sua preciosa filhinha de que sua mamãe morreu como uma fraca. Vou me divertir muito quebrando o pescoço dela.

Não… Naíma… Minha filha…!!!

O Androide começou a sugar minha energia.

Cinquenta por cento… Quarenta por cento… Trinta por cento… Vinte por cento… Dez por cento… Cinco por cento…

Obrigada por ler mais um capítulo!

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