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CAPÍTULO 18 - UMA ESPERANÇA

– "Você precisa sobreviver…" – Uma voz feminina se encheu de sentimentos durante sua fala.

– "Não temos outra solução, senhorita." – Uma voz forte respondeu de forma firme.

– "Tudo bem, esse é o destino dele." – Mesmo relutante, a dona da voz que clamava pela vida cedeu.

Envolvida sobre um pano branco, a criança que tinha acabado de nascer estava sofrendo fortes sangramentos por seu nariz e boca. Os que conversavam ao seu lado eram sua mãe e o médico que havia feito o parto.

Segundo ele, não havia outra opção além do sacrifício da criança que havia acabado de nascer.

Pegando a criança recém nascida nos braços, a senhorita já de uma idade avançada, andou em direção do rio que estava perto do local onde havia dado a luz a criança.

Por mais do recente parto que havia tido, a mulher de idade avançada andava normalmente enquanto carregava o peso da criança em seus braços.

Acompanhada de seu médico, ela finalmente chegou ao rio.

– "É realmente essa nossa única opção?" – Ela perguntou, se virando para trás.

– "Não é por nós, é por essa criança que está sendo trazida a esse mundo apenas para sofrer." – Sendo encarado pela senhora, ele a encarou de volta durante sua firme resposta.

Abalada, a senhora alternou seu olhar entre o rio e os olhos do médico que mantinha em seu rosto um semblante totalmente fechado e sério.

Tendo tomado sua decisão final, a senhora respirou fundo enquanto apertava seus próprios olhos cheios de lágrimas. Seu rosto naquele momento estava preenchido por uma tristeza profunda e impossível de se descrever.

– "Não farei isso a meu filho."

Levando novamente a criança para perto de seu peito, ela se afastou do rio e voltou a subir para onde tinha dado à luz.

Ainda envolvida no pano branco, a criança chorava de dor, enquanto tingia seu pano com a cor de seu sangue.

– "Não há solução para ele." – O médico levantou sua voz, enquanto permaneceu na beira do rio.

– "Isso não importa." – Disse a senhora, evitando olhar para trás.

– "Ele terá sua doença, isso é impossível de evitar." – Usando palavras fortes, ele causou o silêncio total naquele lugar.

A doença na qual ele havia se referido era a que tinha levado todo o cabelo e cor de pele da mulher, que era totalmente careca e pálida.

Aquele pano no qual a criança estava enrolada naquele momento era o que a mulher usava para esconder sua doença. Usando em sua cabeça a todo tempo, ela o tirou para salvar aquela vida, se revelando doente para o médico ao tirar o pano de sua cabeça.

– "Não quero que faça minhas consultas daqui pra frente, anote essa criança como um óbito após o nascimento."

A mulher se retirou daquele local sem dar mais nenhuma palavra para o médico, que retirou seu jaleco branco e correu para alcançar a mulher que partia.

– "Espere!" – Ele gritou para a mulher, que parou para ouvi-lo.

Sendo direto, ele não disse nada até se aproximar dela.

– "Me desculpe por tudo que disse. Farei tudo como você me pediu."

Colocando sobre a cabeça da mulher o seu jaleco, ele partiu em direção contrária a dela, a deixando ir normalmente.

Mesmo sem trocar nenhuma conversa com a senhora, ele se sentiu aliviado em ter pago uma das várias dívidas que gerou após sua fala.

Por outro lado, a mulher já de idade seguiu seu caminho enquanto carregava a doente criança em seus braços.

– "Uzur, você vai crescer saudável, eu te prometo." – Ela disse, limpando as lágrimas de dúvida que caíam de seus olhos.

Beijando a testa da criança, a mulher rapidamente sumiu em meio à margem do horizonte.

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Muitos anos haviam se passado desde o dia em que Uzur teve sua vida poupada à beira do Rio. Tendo vencido sua doença ainda na infância, ele agora liderava um grupo de homens em sua volta para a casa após uma missão de resgate.

Sendo o homem mais a frente da tropa, Uzur carregava o título de liderança querida de todos os que o seguiam.

– "Que bom que tudo deu certo." – Comentou o jovem homem que surgiu ao seu lado.

– "Pois é, finalmente essa foi minha trigésima missão concluída à frente desse grupo."

Uzur continuou o assunto que tinha sido puxado por seu amigo que tinha chegado a seu lado a pouco. Se tratava de Oji, o qual era um jovem franzino que carregava seu cristal da Água em mãos.

– "Aproveitando, você sabe que essa foi minha última missão como líder, não é?"

– "Não me lembro de ter aceito sua proposta ainda." – Oji Mizu respondeu virando o lado oposto ao de Uzur.

– "Não foi uma proposta, minha influência dentro do sindicato dos vilarejos da região é grande o suficiente para que fosse uma ordem irrecusável." – Uzur sorriu de forma provocativa, porém não foi visto por seu amigo Oji, que permanecia de rosto virado.

Chegando ao monte onde tinham como destino, todos os homens pararam e foram arrumar suas cabanas e pertences para que pudessem descansar antes da reunião de posse que estava programada para dois dias após aquele.

Apenas Oji e Uzur não pararam para descansar, seguindo juntos para um gramado limpo que havia próximo do acampamento.

Se sentando na grama, Uzur puxou novamente o assunto de antes, quebrando o silêncio que havia entre os dois.

– "Você é capaz disso, eu tenho total convicção da minha decisão." – Uzur sorriu de forma cativante em direção do rosto de Oji

– "Você é o heroi desse povo. Desde que você sobreviveu a sua doença fatal, nós já sabíamos que você era escolhido por esse mundo. Eu não sou capaz de te substituir." – Oji sorriu de volta para Uzur, porém manteve em seu rosto um olhar hesitante.

Rindo da fala de seu amigo, Uzur o acertou com tapas em suas costas.

– "Você é horrível em recusar as coisas Oji." – Ele disse, enquanto aumentava a força dos tapas.

– "Pare de me bater! Porque você diz algo assim do nada?" – Oji disse, enfurecido com os repetidos tapas.

– "Você esqueceu que foi exatamente você que me disse sobre não existir profecias e escolhidos? Assim como você me ensinou, o que nos define não é nossa forma de nascer ou vencer problemas por sorte, mas nossas atitudes e escolhas."

Se levantando, Uzur pareceu lembrar de algo.

O clima ao redor deles estava agradável naquela conversa levemente descontraída. O silêncio que havia ganhado força após a fala de Uzur se juntava ao vento frio que havia começado a passar sobre a grama verde do campo.

As flores estavam cheirando ao perfume da natureza, algo que se fixou na cabeça do jovem de cabelo levemente azulado.

– "Sabe…" – Oji puxou a atenção de Uzur, o fazendo olhar para sua direção. – "Acredito que você está certo."

Se levantando, Oji cumprimentou Uzur em forma de despedida. Os dois levavam expressões serenas em seu rosto, parecendo aproveitar daquela brisa fresca que o vento trazia junto à grama.

– "Eu aceito sua proposta Uzur. Agora eu acho que você tem coisas a resolver e não quero atrapalhar isso."

Oji se retirou do campo sem olhar para trás. Caminhando em passos lentos, o jovem homem aproveitava do vento que seguia na mesma direção na qual ele estava indo.

Uzur por sua vez, se manteve de pé parado à frente do pequeno amontoado de flores que havia naquele campo. Eram flores que surgiam pouco a pouco e em poucos dias seriam ainda mais a preencher aquele lugar.

Sem mover seu olhar, Uzur se fixou nos pés que surgiram em meio às flores. Eram pés enrugados, porém que para ele tinham grande valor.

– "Você realmente veio" – Ele disse, levando grande emoção em sua voz.

– "Eu prometi que viria." – Respondeu a experiente voz feminina que parecia levar consigo muito amor a cada palavra.

Tocando diretamente no coração de Uzur, o fez sorrir enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas presas a suas pálpebras.

– "Faz muito tempo desde que pude te ver pela última vez, mãe."

– "Eu sei disso, Uzur. Realmente você ficou fora por muitos meses."

Finalmente chegando perto um do outro, eles se abraçaram de forma amorosa e afetuosa, na qual mostravam um para o outro sua saudade e seu amor.

– "Já fazem dois anos, mamãe." – Uzur comentou durante o abraço, corrigindo a fala anterior de sua mãe sobre o tempo.

Visivelmente emocionado, Uzur não teve forças para se manter de pé, se sentando novamente na grama.

Rapidamente, ele foi acompanhado de sua mãe, que agora tinha em sua cabeça um pano azul bebê.

– "Eu finalmente vou poder voltar para a casa." – Uzur disse, focando seu olhar para o longínquo horizonte que observava do monte.

– "Não diga coisas assim, isso me deixa ansiosa."

– "Desculpe, esqueci que você já é de idade."

– "De idade são seus miolos!"

– "Tudo bem, me desculpe."

Uzur pediu desculpas após apanhar de leves tapas de sua mãe, que ao ser provocada por ele, respondeu da mesma forma.

Retomando o olhar sério em seu rosto, Uzur se lembrou de algo e, se pondo de pé, preencheu seu punho, o apontando para o alto.

– "Está aqui a entrega da liderança do grupo, Oji é o dono disso a partir de agora." – Uzur abaixou sua cabeça para ser coroado por sua mãe. Ela se levantou imediatamente, porém não o fez.

– "Você perdeu o símbolo da liderança?" – Levantando levemente o tom de voz, ela fechou seu punho, ameaçando dar um soco no jovem.

– "Não, ele já está entregue para o Oji, eu só não acreditei que você viria mesmo."

Dando passos largos para trás, Uzur se protegeu de sua mãe para que tivesse total garantia de sua vida sem que tivesse alguma sequela permanente.

– "Pois bem então. Eu disse que viria, você não pode duvidar de sua mãe."

– "Me desculpe, isso não foi por mal, faz tempo que não nos vemos pessoalmente."

Uzur se colocou novamente para a frente, curvando novamente sua cabeça na mesma pose na qual estava antes.

Sua expressão carregava seriedade, porém ele não conseguia esconder sua felicidade genuína ao estar ao lado de sua amada mãe.

– "Assim como naquele dia você foi salvo por uma escolha assertiva minha, é importante que apresentemos que todas as suas sejam também. Eu confio na sua decisão e sei que assim como você recebeu a esperança que precisava, que outras pessoas também terão essa chance através de você e do Oji."

Abaixando sua mão na cabeça de seu filho, a senhora chamada de Louis o abençoou com suas palavras. Aquele era um ato simples, porém carregava o significado da vida e da esperança. Se mesmo naquele momento em que não havia mais esperança, houve vida, nos momentos em que ainda há esperança, não há razão para voltar atrás.

Terminando aquele momento familiar, Uzur e Louis se abraçaram novamente e, pelo resto do dia, mantiveram suas conversas e suas companhias.

Logo, aquela longa tarde de ventos frios passou. Ao final de tudo, Uzur se despediu de sua mãe, a qual tinha tido a companhia por quase todo o dia enquanto ainda estava claro.

Sorrindo, ele retornou para o acampamento, onde ao ver Oji dormir, o perturbou com tapas fracos, o fazendo acordar.

– "Você ainda está com aquele cristal de ouro?" – Uzur perguntou, porém não teve resposta, tendo que repetir sua mesma pergunta por duas vezes.

Finalmente entendendo o mundo novamente, Oji despertou e ouviu a fala de seu amigo.

– "Estou sim." – Ele respondeu com sua voz cansada.

– "Tudo bem, o guarde como sua vida." – Uzur o cumprimentou em despedida balançando a cabeça para cima e para baixo

Saindo dali lentamente, Uzur se lembrou de algo mais a falar e pela última vez se virou para referir sua fala a Oji.

– "Chame sua mulher para te visitar antes de irmos para a missão do país dos grandes muros." – Uzur piscou um de seus olhos e partiu dali sem nem mesmo dar ouvidos a resposta de seu amigo.

Tendo chegado a sua cabana, Uzur dormiu profundamente.

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– "Está funcionando, ele está voltando a ver."

Abrindo lentamente os olhos, Uzur percebeu uma voz que falava em seus ouvidos.

– "Ele pode ver novamente, ele está salvo."

A voz se repetiu, trazendo a curiosidade do olhar, que rapidamente se alternou nas direções da qual ele conseguia acessar.

Percebendo estar deitado em uma espécie de cama, Uzur se desesperou ao sentir o sangue que escorria em sua retina, a manchando.

– "Não não não!"

– "Ele não vai sobreviver dessa forma."

– "Faça ele voltar a sonhar…"

Sendo quebrado durante a última fala que ouviu, Uzur teve sua consciência terminada naquele mesmo momento.

Próximo capítulo