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CAPÍTULO 1 - NASCIDO NAS ÁGUAS

O céu se abriu ensolarado no pequeno vilarejo localizado ao leste do País-Estado dos Grandes Muros. De dentro de uma das casas da vila, saía um garoto, totalmente destacado de todos os outros da vila por seu cabelo azul-claro e seus olhos castanhos cor de mel. Sua aparência física não era surpreendente e, tirando seu cabelo e seus olhos, ele se tornava apenas uma pessoa normal em meio a grande multidão. Nas mãos ele carregava um simples bolo de creme, o qual indicava seu dia feliz.

Juntamente dele, alguns dos moradores da vila saíram de dentro da casa enquanto cantavam o nome do garoto de forma animada.

— Mizu! Mizu!

— Parabéns por seus 15 anos, Mizu.

Uma das pessoas que acompanhava Mizu desde sua casa o parabenizou, fazendo todos ao redor pararem de gritar para ouvir as palavras do garoto.

— Agradeço por isso, é bom ter todos por perto!

Observando o homem de cima a baixo, Mizu se esforçava em esconder de seu rosto um claro desconforto,

— Esse é um dia muito feliz para mim, agradeço por tudo.

Abaixando a cabeça, saiu dali logo que terminou seu agradecimento. Era evidente que ele não estava confortável em estar naquele lugar e situação, porém ele parecia saber onde poderia livrar sua cabeça de todo o incômodo que carregava em seu peito.

— Você finalmente veio. Achei que me faria ser o último a dar os parabéns.

Após caminhar por todo o vilarejo, o jovem Mizu chegou a um banco de pedra que ficava atrás da última casa do vilarejo. Ao chegar lá, foi recebido por um homem já de idade. Alguém que parecia ser bem próximo.

Respondendo à afirmação do homem com um sorriso, Mizu se sentou no banco de pedra ao seu lado, lhe oferecendo o bolo que estava em sua mão. Os dois pareciam transmitir sentimentos totalmente diferentes, porém pareciam estar em uma mesma sintonia.

Ao ver o bolo, o velho senhor hesitou em aceitar pegá-lo, porém, cedeu a seu espírito de criança, o pegando das mãos de Mizu.

— O que te fez lembrar de mim tão cedo, jovem Mizu. — Disse o velho, segurando o bolo em suas mãos.

— Não fale como se fosse a última opção, velho idiota. — Mizu respondeu de forma levemente agressiva, porém sem carregar raiva ou qualquer sentimento próximo disso em seu olhar.

O tom amistoso entre os dois fazia com que até mesmo as ofensas parecessem palavras de conforto entre amigos.

O velho senhor, ouvindo as palavras levemente fortes do garoto, o ignorou, priorizando comer parte do bolo em silêncio. Aquele foi o jeito pensado por ele para que os ânimos da conversa voltassem a ser tranquilos.

Sorrindo, Mizu aceitou e entendeu a ação do velho homem, respirando profundamente para que finalmente pudesse tornar a conversar de forma tranquila.

— Hunf.

Respirando profundamente por mais uma vez, Mizu reparou em algo que estava ao lado do velho senhor.

— Você reclama da minha decisão, porém parece estar preso à saudade. — Deixando de lado a busca por um tom tranquilo, Mizu usou de sua forte ironia para comentar algo ao homem.

O que Mizu havia reparado se tratava de uma pequena bengala de madeira, aparentemente da metade da estatura do velho homem que o segurava, sendo impossível que fosse de uso dele.

Com seu comentário em tom forte de forma íntima, Mizu fez com que o velho senhor baixasse sua cabeça diante dele por alguns instantes.

— Você ainda é uma criança. Mesmo que saia hoje para realizar o que tanto deseja, não deixará de ser apenas uma criança ingênua. — Disse o velho senhor, usando leve tom de superioridade.

— Vocês sempre falam tanto de experiência, mas por mais dos anos de diferença entre nós, temos o mesmo sentimento que nos move. — O garoto respondeu ao homem, usando um tom propositalmente irônico.

Levantando novamente a cabeça, o senhor encarou fixamente a paisagem das montanhas que estava em frente a seus olhos. O jovem garoto o acompanhou e também encarou as montanhas de forma fixa. Era a segunda reforma de ambiente pensada pelo homem, o qual buscava novamente acalmar o clima da conversa.

— Você ainda acha que estou errado em buscar consertar o mundo?

Rapidamente, Mizu deixou de encarar as montanhas, desviando o olhar para o velho senhor ao seu lado.

— Você sofreu, meu jovem, assim como eu também sofri. Essa é sua decisão para lidar com seu sofrimento, não posso dizer-lá como certa ou não, no fundo, isso é algo que apenas você pode dizer.

Ao final da fala do velho homem, Mizu suspirou fundo enquanto procurava em sua cabeça palavras para dizer.

Sem sucesso, não encontrou nada que pudesse descrever sua sensação ou pensamento, tudo era mais profundo do que podia expressar com simples palavras. Por outro lado, o velho homem já tinha experiência e sabia exatamente quais palavras deveriam ser ditas a seguir de sua fala anterior.

— "Você pensa como um herói dos que lemos em lendas, porém nada garante que vai agir como um. Você quer acabar com as guerras porque sua mãe morreu em uma. No fundo, isso não é apenas uma vingança?"

Desviando o olhar do velho homem, o fixou em olhar para o chão. Relutante em responder o questionamento cheio de experiência do velho senhor, respirou fundo e contou até cinco em sua mente até que finalmente encontrasse em seu coração as palavras que sua mente não conseguia formular.

— Talvez seja uma vingança de princípio, porém, o que me move não é o ódio. — Suspirou fundo antes de continuar sua fala em mesmo tom de autoridade que havia usado antes — Eu só não quero mais ver pessoas sofrerem do que eu sofri. O fio da espada mata inocentes durante as guerras. Quantas crianças ainda vão perder os pais se eu não agir agora?

A autoridade passada através da voz do garoto, o fazia parecer ter mais idade do que realmente tinha. As palavras encontradas em seu coração tinham magicamente trazido um gás de emoção sobre sua alma.

— Srff

O velho homem suspirou enquanto via o garoto receber de volta o seu ânimo rotineiro. O discurso do garoto, porém não havia o convencido, o fazendo manter seu olhar sereno sobre as montanhas que cercavam o vilarejo.

— Tudo bem, você sabe o que faz. — Afirmou o velho senhor, deixando que o silêncio tomasse o ambiente durante alguns instantes.

Mizu, mesmo coberto por seu mais profundo ânimo, não encontrou palavras que pudessem impedir que o silêncio tomasse conta do clima daquele banco de pedra.

— …

Levantando repentinamente, o velho o senhor chamou a atenção do garoto, o qual apenas o observou sair em direção à sua casa. Sem abrir a boca ou expressar algo exato em seu rosto, apenas se contentou em manter o silêncio da despedida repentina entre eles.

Observando o velho de longe, o viu entrar na última casa do vilarejo, que se tratava do armazém geral da vila.

"O que o velho foi fazer lá?"

Antes mesmo que o garoto pudesse pensar em uma resposta para seu próprio questionamento, viu o velho senhor sair do armazém segurando diversas coisas em suas mãos. Em sua mão esquerda o velho trazia uma espada de fio limpo e brilhante, aparentemente recém-produzida. Em sua mão direita, trazia um arco, que juntamente à espada, parecia ter sido produzido recentemente. Por fim, o velho senhor trazia em suas costas uma mochila de cor marrom fosca.

Se aproximando do garoto em passos lentos, o velho senhor retirou de suas mãos tudo que segurava, estendendo tudo que tinha para que Mizu os pegasse.

O jovem garoto que havia ficado confuso de primeiro momento, finalmente entendeu o que estava acontecendo. Seu semblante que já abrigava um sorriso sereno agora teria que abrir espaço para um sorriso ainda maior e mais amarelado.

— Feliz aniversário, meu jovem.

— Obrigado, velho idiota.

Ignorando todos os itens que o velho lhe estendia, Mizu saiu do banco unicamente para abraçar o velho, o qual deixou que tudo que carregava caísse no chão sujo de poeira.

Sendo abraçado de forma carinhosa, o velho homem ignorou a queda dos itens que carregava, aproveitando unicamente o momento em que estava. Partilhando do mesmo sorriso do garoto que o abraçava, deixou evidente o sentimento que sentia pelo garoto de cabelo azulado, o qual também demonstrava grande reciprocidade ao velho senhor.

Ao terminar o abraço, o garoto de nome Mizu pensou de seu coração em novas palavras para dizer para o velho senhor a sua frente.

— Não morra até eu voltar, velhinho.

O velho de cabelo ralo grisalho e sorriso amarelado caiu em lágrimas, sujando suas roupas claras com a marca de suas lágrimas.

— Está tudo bem, velho. Eu prometo que não vou demorar a voltar.

Abraçando o velho senhor à sua frente, permaneceu assim por alguns minutos até que sentisse ser o momento certo.

— Sorria, velho. Sua alegria me contagiou junto de sua experiência.

Entendendo que aquele era o momento de despedida, o velho homem, por mais de não concordar totalmente com a escolha do garoto, preferiu apenas apoiá-lo como podia, porém, isso não evitou que suas lágrimas caíssem por longos minutos.

— Você vai conquistar o mundo, meu jovem, ainda espera que eu esteja aqui ao final disso? — O velho disse, emanando de sua voz um tom fraco e choroso.

— Eu não demoro a voltar, eu te prometi isso e vou cumprir. — Sorriu suavemente em resposta ao velho senhor.

— Tenha cuidado no país dos grandes muros.

— Tudo bem. Dos assassinos da minha família eu não terei piedade e nem mesmo descuido.

Levantando a cabeça, o velho senhor sorriu para os olhos do garoto Mizu e o abraçou novamente, sendo esse o seu último abraço antes de sua partida.

Logo, os dois finalmente seguiram caminhos diferentes. A jornada do jovem Mizu estava prestes a começar naquele momento. Ele estava seguindo em direção ao País-Estado dos grandes muros, lugar onde habita o Cristal do Poder da Defesa. O velho homem o acompanhou até a primeira casa do vilarejo, o lugar onde os dois se despediram pela última vez apenas com olhares.

Partindo na estrada reta em direção ao país da defesa, Mizu olhou pela última vez para trás e, após balançar sua cabeça em concordância para o velho homem, seguiu sem desviar novamente seu olhar de seu caminho.

O velho homem que ficava para trás sorriu, levantando seu braço para acenar em direção do jovem, mesmo sabendo que não seria respondido por ele.

— Não tenha o mesmo destino de seu pai, Mizu. Espero te ver de volta o mais rápido possível. — O velho homem disse para si mesmo em voz baixa.

O jovem garoto seguia olhando apenas para seu caminho. Seus olhos estavam cobertos por seriedade. Daquele momento em diante tudo ao redor dele parecia entrar em um clima de conflito.

Seu objetivo já tinha sido planejado em sua mente, que trabalhava a todo momento para fazer tudo da forma mais perfeita possível.

— Meu primeiro passo, invadir o país mais seguro, roubar o Cristal do Poder que está em posse deles e matar o chefe do exército que comanda o país.

Levando com ele apenas comida, água e as armas que o velho lhe deu, exalava de si mesmo uma grande confiança e superioridade.

Levando sua mão direita para cima de sua cabeça, a fechou enquanto a estendia para frente em linha reta na direção do País dos Grandes Muros.

— A Jornada em busca de me tornar o ser mais forte do mundo começa aqui! E o primeiro capítulo disso será uma vingança.

Próximo capítulo