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Capítulo 27 – Weenny: Sete dias?!

Retorno ao hotel um pouco mais cedo, as oito da noite, vou direto para a minha suíte.

Meus amigos percebem a minha chegada e vem conversar comigo. Os convido para lanchar e quando terminamos de comer, ouvimos meu celular tocando, Claudio põe na viva voz e me deixa o celular na mesa bem a minha frente, queriam ouvir o Eros, mas não querem que ele saibam que estão aqui.

Agora tenho medo de atender assim, podemos trair o segredo dele.

— Boa noite, meu Príncipe!

— Boa noite para você, aqui ainda é de madrugada, minha Princesa. Ah que saudade da minha amada. – percebo o sorriso em sua voz.

— Meu coração dói de saudades.

— Ah Baby, os dias custam a passar quando estou longe de você e as minhas noites são sempre insones porque meus pensamentos estão presos a você.

— Também me sinto assim sempre que você viaja. Como estão os preparativos?

— Nos reunimos com o Pandith para encomendar os estudos dos nossos mapas astrais e também para o cálculo da data mais auspiciosa. Tivemos uma resposta hoje a noite.

— Então quando será? – pergunto, já ansiosa.

— Nossos pais e o Pandith firmaram a data dos dias oito a quatorze de fevereiro.

Meus amigos levam a mão à boca e depois mostram o número sete com suas mãos, tentando confirmar o que estão ouvindo, sete dias para celebrar um casamento?!

— Parece que estou vendo as expressões dos nossos amigos quando contarmos isso para eles. Se assustarão, é claro. São sete dias para as celebrações do casamento! – digo e rio.

— Eu tentei reduzir ao máximo todo o cerimonial e protocolo, mesmo assim será pelo período de uma semana, sem contar com o período da viagem, é claro. Os convidados devem sair do Brasil no dia seis e sairão da Índia no dia quinze.

— Sim, imaginei isso, Jaan, não se preocupe, eu tomarei as providências necessárias.

Eros diz algo em hindi.

— Preciso levantar, hoje tenho treinamento e Mom está reclamando que eu não comi nada ainda, faz questão de usar todos os seus argumentos para me fazer comer demais, dizendo que eu não posso ficar fraco...

Rio para interromper a sua fala, apenas por temer que se exponha demais.

— Ela está certa. Vá querido e tenha um dia maravilhoso.

Nos despedimos e desligamos.

Ufa...

Que absurdo! Sete dias? - Guilherme logo diz.

Os amigos fazem uma expressão engraçada e todos falam juntos, demora para eu entender que tudo isso é só ansiedade, tento acalmá-los e logo todos se despedem e retornam para suas suítes, afinal vamos acordar muito cedo.

Recebo um e-mail do Eros contendo a programação do casamento.

Não consigo dormir pensando em toda essa programação do shádi. Agora que tenho essas informações em mãos, preciso tentar preparar os convites de casamento e enviá-los o quanto antes.

Penso em fazer um livreto com as informações básicas para que todos compreendam as cerimônias, comportamento e costumes dos indianos, não posso permitir que os convidados brasileiros se sintam desconfortáveis em nosso casamento.

Preciso reunir imagens e informações para esse pequeno livro, que será enviado junto com o convite, espero que todos apreciem.

Tomo um banho e vou descansar.

Acordo cedo, me arrumo e desço para o café da manhã no restaurante, vejo todos os meus em nossa mesa.

Percebo nos rostos dos meus amigos a ansiedade, talvez apenas por saber o quão próximo está o meu casamento. Mal tenho tempo de cumprimentá-los.

— Como pode não estar ansiosa? Estamos loucos! – Claudio diz e me vê rir e negar.

Claro que estou, vou me casar em um mês, mas alguém precisa manter a calma.

— Hoje é dia oito de janeiro, isso significa que você vai se casar daqui um mês e ainda não sabemos o que temos que fazer como padrinhos! – Igor diz.

— Sei que nós homens somos menos ansiosos do que as mulheres, mas de tão nervosas, elas estão mudas! Então nós temos que falar por elas, como vamos saber o que devemos fazer? – Ricardo, agitado, diz.

— Calma meus amigos, todos nós sabíamos que o casamento seria marcado para breve. O Guru não disse que todos nós estaremos prontos em tempo hábil? Ele e a sua equipe são ótimos e nós vamos aprender rapidamente. Eu estou anestesiada com tanta novidade, mas muito feliz, vamos comer? – digo com uma naturalidade que me surpreendo.

É claro que estou tensa com essa nova vida que me espera e com toda a verdade que em breve virá a tona, mas por enquanto preciso ser forte e guardar esse segredo.

Olho no relógio e percebo que faltam poucos minutos para o início da aula, terminamos a nossa refeição rapidamente e vamos para a sala de aula.

Oito de janeiro. Terceira aula - Tema: Comportamento, regras de convivência e o significado do casamento hindu.

Guru Shankar nos recebe e espera até que todos se acomodem.

— Namastê! Bom dia. Vou lhes ensinar hoje as regras de convivência e comportamento dentro do universo indiano. – sua introdução cativa nossa atenção.

— A respeito dos relacionamentos, na Índia existem os casados e os solteiros, não existe o namoro ou noivado como aqui no Brasil. Quando as famílias se comprometem em casar seus filhos, fazem o acordo apenas entre os membros mais velhos da família, geralmente o rapaz e a moça vão se conhecer apenas no dia da cerimônia do casamento, isso porque a maioria dos casamentos é arranjado. É incomum um hindu se casar por amor, apenas em famílias nada tradicionais e muito liberais isso poderá acontecer, geralmente fora da Índia.

Vejo a surpresa dos meus amigos, seguida pela expressão: "Ah vi isso em um documentário e na novela".

— Nas ruas da Índia não vemos demonstrações de intimidade entre um casal, tais como beijos, ainda que seja no rosto ou na testa, abraços e até mesmo o andar de mãos dadas. É proibido! O casamento para os indianos é algo sagrado, de tal forma que as intimidades devem acontecer apenas no quarto do casal, nem mesmo em frente a família devem ter tal liberdade.

— O povo indiano é frio assim? – Iara reclama.

— Não somos frios, apenas evitamos escândalos ou julgamentos desnecessários, nós indianos sabemos como cuidar de um amor para que ele cresça e seja duradouro.

Parece que a resposta do Guru satisfaz a maioria, permitindo que ele conclua seu raciocínio.

—Demonstrações de afeto entre amigas e parentes do sexo feminino são admitidos, desde que sem exageros, da mesma forma com um homem e seus amigos ou parentes do sexo masculino. Em hipótese alguma uma mulher deverá andar na rua sozinha, é bom que tenha a companhia de outras pessoas para protegê-la dos julgamentos e da violência das ruas.

Parece fácil de compreender.

— Sei que essas regras são chocantes para vocês, assim como são fáceis de entender, vamos então prosseguir e falar sobre atitudes de respeito relacionadas ao vestuário. – Guru diz e todos pegam seus blocos de anotações e as canetas.

— Mulheres devem sempre usar o pallu, principalmente quando estiverem diante de homens ou pessoas estranhas. Entendam que quando eu menciono pallu, me refiro a borda do sari que é dobrada para que seja colocada no alto da cabeça, sobre os cabelos. Em situações especiais, as mulheres precisam cobrir todo o rosto, esse gesto é chamado de Ghoonghat e é considerada uma atitude de respeito e decência demonstrada por elas, em especial pelas noivas.

Guru faz um gesto em minha direção para que eu mostre como fazer, sua esposa já havia me ensinado, quando começamos as aulas tempos atrás. Demonstro e todos me observam com atenção.

— Estava esperando por isso. Como devemos nos vestir, Guru? – Carol diz.

Guru agradece a pergunta.

— As indianas podem usar vários tipos de roupas, o sari é o traje mais tradicional, são aproximadamente seis metros de tecido que é enrolado no corpo, existem várias formas de usar o sari, mas é necessário colocar o choli por baixo, que é como uma blusa curta e que cobre os ombros. Outra vestimenta muito usada é o salwar kameez que é um conjunto de calça de corte reto e uma túnica. O calçado mais tradicional é a khussa que é uma sapatilha bordada e decorada, também podem ser usadas sandálias ou sapatos.

Alguns anotam as informações.

— Para uma indiana é proibido usar um decote, mostrar os ombros ou pernas. O ideal é estar com essas partes cobertas pela roupa, as solteiras costumam se vestir com roupas simples como as que a Senhorita Weenny tem usado esses dias, sem brilhos. Claro que joias serão usadas, mas serão discretas e em pequena quantidade, pode vir aqui, por favor, Weenny?

Atendo o pedido dele e fico à frente de todo o grupo, a esposa do Guru mostra as peças que eu estou usando, enquanto o mestre continua sua explicação.

— Vejam que o modelo do choli deixaria a Senhorita Weenny com os ombros à mostra, então ela optou por um chunari ou echarpe longa, que vai cobrir essa região. Vejam as joias, os brincos pequenos, algumas pulseiras, as tornozeleiras e o bindi. Atentem para o comprimento deste sari, é assim que deve ser, cobrindo os tornozelos.

Todos entendem e demonstram acenando positivamente.

— Já o vestuário do homem indiano inclui a kurta, que é uma túnica longa usada tanto por homens quanto por mulheres, claro que em modelos diferentes. A kurta pode ser usada com o pajama que é uma calça mais larga, fazendo com ela a combinação mais comum, costumam usar um lenço longo chamado dupatta. Existem outras opções como o Dhoti que é um pano que os homens enrolam ao redor dos quadris como se fosse uma calça, o lungi que é bem parecido com o Dhoti, porém mais fechado e mais longo. Em ocasiões formais e casamentos costumam usar o sherwani ou ackan que são elegantes casacos longos e bordados e também o pagri que é o turbante.

Entendemos as instruções com clareza, mesmo assim ainda vemos todo esse conteúdo em fotos e pessoalmente, já que os membros de sua equipe estão usando roupas típicas.

— Como vocês são ocidentais, podem ser vestir como desejarem na maioria das cerimônias, mas quando estiverem em templos ou cerimônias mais tradicionais tentem usar as roupas típicas. Para os homens será muito mais fácil porque será admitido que usem ternos ou calças jeans e camisa, por exemplo. - Guru salienta.

Eles ficam aliviados e as meninas não se importam com a necessidade de usar as roupas típicas, pelo contrário, estão ansiosas por isso.

— Que bom que vocês aprendem rápido. Agora vou começar a lhes ensinar tudo sobre o casamento. A partir de agora substituiremos a palavra casamento por Shádi, que é a mesma palavra no hindi. E passaremos a nos referir ao noivo como Dulhan e a noiva como Dulhana, que são as mesmas palavras em hindi. Vamos treinar?

Todos repetem as palavras até que aprendam a pronúncia correta.

— A palavra casamento pode ser dita de duas formas em hindi, Shádi que é o modo como já lhes ensinei e também Vivah. Quero que entendam que o casamento para um hindu é um momento muito importante e marcante de sua vida. Um vivah ou shádi une dois indivíduos para a vida, com intuito de cumprir juntos o dharma, que significa o dever ou o destino, para que juntos possam conquistar Artha, que são os bens e desfrutar do Kama, que são os desejos físicos, mas devem buscar o Moksha, que é a iluminação espiritual juntos. O shádi vai além da união dessas duas pessoas, unirá para sempre as famílias dos noivos, e a cerimônia obrigatoriamente deve acontecer na presença do Agni, que é o deus do fogo sagrado, e segundos as leis e tradições hindus, nenhum vivah é considerado completo sem que ocorram as voltas em torno do Agni e sem os votos feitos por ambos os noivos.

Eu conheço o significado espiritual do shádi ou vivah e também sobre nossos deveres como casados, aprendi em uma das primeiras aulas, a diferença é que nas aulas particulares tudo o que está sendo ensinado é esmiuçado em detalhes para que eu, como uma Dulhana, tenha o entendimento completo de tudo o que preciso saber e fazer.

Ninguém pergunta nada, mas percebo que todos refletem a respeito do que é falado, tenho certeza de que agora compreendem que um casamento hindu envolve muito mais conceitos do que muitos de nós esperavam.

— Um shádi é sempre muito elaborado e precisa ter muitas cerimônias de preparação antes do casamento propriamente dito. Nas próximas aulas vou detalhar cada cerimônia e cada ritual para que saibam exatamente o que deverá acontecer.

Sinto que ele observa a nossa reação e talvez espere por questionamentos, mas não há.

— Em cada compromisso verão que Ronaldo e Vilma, pais da Dulhana, vão recepcionar os convidados no interior do local do evento e vocês padrinhos e madrinhas ficarão responsáveis por dar as boas-vindas aos convidados na entrada do local escolhido para as cerimônias e também deverão direcioná-los ao salão ou tenda destinada a eles.

Alguns fazem uma expressão preocupada de tal maneira que provocam sorrisos em nosso Guru e equipe.

— Não se preocupem, eu ensinarei como devem fazer. Saibam apenas que homens e mulheres ficarão separados em seus respectivos grupos, homens com homens e mulheres com mulheres, durante boa parte do cerimonial mais formal, isso facilitará o entrosamento entre os gêneros. Durante as festas, danças e refeições todos estarão juntos, compreenderam?

— Separados como? Não poderei ficar ao lado do meu noivo? – Samara se desespera e pergunta.

— Todos ficarão no mesmo hotel e todos estarão nas cerimônias, mas quando me refiro que homens e mulheres serão mantidos separados, estou querendo dizer que, por exemplo, na porta de entrada de uma cerimônia, mulheres ficarão juntas à esquerda enquanto os homens ficarão juntos à direita. E da mesma forma será feita essa divisão durante as cerimônias, sentarão lado a lado grupo de homens e grupo de mulheres, está mais claro?

Nosso mestre percebe que todos nós entendemos a tal divisão mencionada e a aula prossegue com o aprendizado básico do hindi, com as pronúncias e explicação das palavras e frases mais utilizadas. Nós todos anotamos e gravamos as informações até o término da aula.

Então todos são dispensados, mas eu permaneço na sala para a minha aula particular, mais uma vez estou sem apetite.

Finalmente chego mais cedo da aula, passo um tempo pensando e listando tudo o que é necessário para o casamento. Lembro de ver alguns modelos de cartões de casamento hindu que Andrea deixou em minha suíte para eu escolher, preciso resolver essa questão com urgência.

Antes de qualquer coisa, devo pensar em um convite tradicional, que é o modelo mais indicado para um membro da família Imperial... Ao lembrar disso tenho um calafrio.

Em breve farei parte desta família. Como vai ser? Acho prudente não pensar nisso agora.

Como estou indecisa, a princípio separo três modelos para o convite e dois para o livreto, então depois de muito pensar, acabo me decidindo.

Escolho um box vermelho de veludo com placa dourada com uma turmalina vermelha no centro para ser o que carregará os doces e o livreto. Um segundo box vermelho fechado mostra o cortejo e palanquim da noiva sobre o elefante, ao abrir encontrarão os cartões de casamento e doces indianos, ambos os modelos são para os convidados brasileiros.

A escolha mais tradicional é um box bege de três andares, sendo no topo um pequeno adorno, na primeira parte os cartões de casamento, na segunda parte um incensário, incenso perfumado, essências e na terceira parte doces indianos. Então segue o convite formal também para os indianos.

Pego a lista de eventos do casamento que Eros enviou por e-mail minutos atrás, reúno todo o material para montar o livreto explicativo, tenho todas as informações necessárias para montá-lo, graças as aulas com o meu Guru.

Esse pequeno livro reunirá todo o conteúdo necessário para deixar nossos convidados brasileiros familiarizados com as cerimônias e rituais do casamento hindu e com os costumes do povo indiano. Preparo-o com muito zelo.

Termino e decido os três modelos que vou usar para os convites dos brasileiros e dos indianos, além do modelo do livreto.

Reviso as listas de convidados que incluem minha família, parentes, as famílias dos nossos padrinhos, alguns bons amigos que moram mais distante, amigos famosos e imprensa.

Ligo para Andrea, nossa secretária, aviso que vou enviar um e-mail para Eros com os modelos escolhidos e com o livreto que acabo de preparar, quero que ele veja se tudo está correto e se está de acordo com a minha escolha, só então Andrea poderá mandar confeccionar os boxes e cartões.

Envio a lista de convidados para o e-mail dela, para que reserve as aeronaves para os nossos convidados e também a estadia, Andrea me avisará quando tudo estiver pronto.

Espero que tudo fique pronto logo, teremos pouco menos de um mês para entregar todos os convites.

Durmo com facilidade. Acordo cedo, me arrumo, tomo o café da manhã na minha suíte e recebo uma ligação da Andrea, avisando que a gráfica entregará minha encomenda em no máximo três dias, afinal tudo o que é pedido em nome do Eros é prioridade.

Pego o notebook para ver se há alguma resposta do Eros em relação ao e-mail sobre os cartões e livreto. Leio sua resposta:

"Meri Jaan, meri Rajkumari, fico feliz por ver que já ganhei apelidos carinhosos e que já está se acostumando a casar com um Príncipe e a ser uma Princesa.

Minha vida aqui está agitada, meus pais estão eufóricos desde que retornei e querem me levar para todas as suas atividades.

Quanto a sua escolha dos cartões de casamento e do livreto, preciso dizer que você assimilou com perfeição tudo o que vamos viver em nosso shádi, está tudo perfeito e absolutamente lindo, eu jamais teria feito melhor.

Já solicitei que Andrea envie tudo para a gráfica e peça prioridade.

Agora preciso ir, estamos atarefados aqui, penso em você em todos os momentos e meu coração está despedaçado de saudades.

Pra sempre seu,

Jagal"

Observo a data e hora de sua resposta, percebo que ele respondeu apenas dez minutos depois que enviei o e-mail, mas a notificação não chegou no meu celular.

Olho mais uma vez o texto do e-mail que enviei para Eros, vejo que o chamei de Meri Jaan e Rajkumar, respectivamente meu amor e Principe em hindi, por isso mencionou que gostou dos apelidos carinhosos.

Fico aliviada por ter redigido corretamente todos os eventos do nosso shádi, a ponto de deixá-lo satisfeito e orgulhoso, enfim agora compreendo o motivo para a minha encomenda chegar tão depressa, Eros respondeu primeiro para mim e depois fez questão de notificar a secretária para agilizar o processo de entrega.

Encontro meus amigos no saguão e seguimos para a sala, eles parecem apressados, nos cumprimentamos, nos acomodamos e nosso mestre começa a aula de hoje.

Próximo capítulo