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Conto 51: A guerra continua...

Chego do hospital. Como é bom poder sentir o perfume de casa! Minhas mamas doíam, devido a uma cirurgia, e, com dificuldade ando até o quarto, coloco um pijama e deito na cama. Olho para o teto, respiro pausadamente para não sentir tanta dor, e, depois para meus curativos: estavam manchados de sangue, tinha levado muitos pontos. Deles emanava o cheiro da anestesia misturado com o de sangue...

Ele veio rápido... parecia ter saído do guarda-roupa. Contemplava-me de pé, ao lado da cama... era o espectro alto e de dentes aparentes.

Parecia desejar algo... eu me senti como uma oferenda. Entendi o significado do sacrifício de animais, para que uma entidade dessas venha, não bastam feridas, tem que ter dor e sofrimento.

Chegam minha mãe e irmã, pois ouço a conversa delas na sala. Vieram para cuidar de mim durante a convalescença.

Ele continua me contemplando... estou muito fraca para me defender, parece que minhas barreiras no mundo espiritual desabaram.

Chamo minha mãe e peço uma oração. Ela também o vê e o expulsa, em nome de Jesus.

- Eu vou voltar... – avisa-a.

Então se afasta, mas fica espreitando numa região do plano espiritual, onde está o guarda-roupa, atrás do espelho.

É contra esse espectro que venho lutando nos últimos meses. A mãe vai para a cozinha. Lívia entra no quarto:

- O quarto tá escuro! – brada.

- Sinto-me melhor assim... – explico devagar.

- Não! Vamos abrir a janela e deixar a luz entrar!

- Eu queria dormir, estou com muita dor...

Abre a janela e o quarto se ilumina.

- Ele gosta do escuro e está fazendo você pensar que é melhor ficar com a janela fechada.

Chega a noite... confesso que estou com medo...

- Lívia, dorme comigo?

- Tenho medo de dormir, e te machucar sem querer.

- Fica tranquila.

De madrugada ela desperta para orar, e os vê, ao meu lado da cama, o espectro e alguns pequenos. Assim que acordo...

- Ana, ele falava e a voz dele saía do seu corpo! – contava assustada.

- E o que dizia?

- Não entendi o que falava! Não interessa o que demônio fala, expulsei-o em nome de Jesus! Ah sim, avisou que iria voltar!

- Ele disse isso pra mãe também!

- Parecia existir uma espécie de hierarquia: o espectro maior era o "chefe" e os menores o obedeciam. - explicou.

"Por que ele faz isso? Por que me olha?" – indago-me.

À tarde, entro no quarto e paro em frente ao guarda-roupa. Estava furiosa, queria brigar com ele, então o chamo. Ele vem...

- O que você quer? – pergunto, com a mente.

Não responde, apenas me observa.

- Por que não diz nada?! O que você quer? – esbravejo.

Minha ira aumenta... queria ir para o outro lado, para o mundo espiritual, e brigar com ele.

Chega à noite e adormeço. Pela manhã acordo, com mãos acariciando minhas mamas. Meus olhos ainda estão fechados, quem será? Sinto dor, estão recém operadas... repentinamente ele as aperta com força:

- Aiii! Doeu! – grito.

Abro os olhos, viro a cabeça para o lado e vejo um espectro, com a forma do meu ex-marido, deitado na cama e com um sorriso sarcástico. Parecia existir uma névoa em todo o seu corpo.

Deve ser uma brincadeira, e de mau gosto! Pensei em elevar meu espírito para brigar, mas fiquei com medo que tomasse meu corpo de novo. Dei um cotovelada nele e gritei:

- Sai, seu idiota!

Tive uma forte ânsia de vômito por ter tocado no espectro... Orei o "Pai Nosso" e ele saiu da minha cama.

"Isso já foi longe demais!" – penso furiosa.

Lívia volta para a sua casa e chega a minha mãe, já abrindo a janela do quarto:

- Tá no escuro de novo! – fala enfurecida.

Conto tudo o que ocorreu e ela vai orar.

- Saí agora, em nome de Jesus! – expulsa.

- Ela me chamou... – diz o espectro a ela.

- Chamou nada! Seu mentiroso! Pega tua bagagem e vai embora, em nome de Jesus!

Penso: "Meu Deus! Eu o chamei para brigar, como confessarei isso a minha mãe?

- Satanás é mentiroso! Como ele fala que você o chamou? Mentiroso... – esbraveja.

- Não sei, mãe... – respondo cabisbaixa.

Ela vai até a sala, e se ajoelha para orar. O Senhor fala por meio dela:

- Ai de você se for para o outro lado! Vou retirar minhas mãos, vou retirar minha proteção da sua vida, e, você vai ver como é! Tenho ainda muitas bênçãos para você, mas se for para o outro lado, não vou liberar! Ai de você, se for para o outro lado! – avisa, com tom de ameaça.

Penso assustada: "Deus está bravo comigo, que medo! O que seria de mim sem Ti, Senhor, sem a Tua proteção! Perdão Deus!"

Minha mãe levanta, aproxima-se e fixa o seu olhar no meu:

- Ana, Deus falou que se você for para o outro lado, Ele vai retirar todas as bênçãos! – fala furiosa.

- Mãe, eu não vou para o outro lado! – digo baixinho.

- Deus sabe o que fala! Se falou é porque existe o risco! – esbraveja.

"Não entendo porque Deus está bravo comigo, não sei o que fiz de errado." – penso.

- Tudo o que você tem foi graças a Ele! Deus te ama muito... – diz, com uma entonação mais suave.

- Eu sei, também o amo. Nunca deixarei a Deus... – falo, engolindo o choro.

Conversamos, oramos, tomamos café da tarde e ela se vai. Sozinha, perambulo pela casa, pensando em tudo o que aconteceu, quando um anjo chega:

- Uma coisa é o inimigo vir, e a gente se defender. Outra coisa é chamar o inimigo para brigar, que é o que você fez! Você só pode entrar numa batalha espiritual com a autorização de Deus! Você faz parte de uma organização. – explica, pacientemente.

Mostrou muitos anjos andando rápido, de um lado para outro, pareciam resolver questões, e continuou:

- Você não pode fazer um ataque isolado! As batalhas espirituais são autorizadas por Deus.

- Entendi no que errei... perdão Deus!

Segundos de suspense...

- Eu dou trabalho, não é? – pergunto, aborrecida.

Então vi, pelo menos uns seis anjos balançando a cabeça positivamente. Cada um tinha a sua fisionomia, alguns eram magros, outros gordinhos, vários cortes de cabelo... mas, todos pareciam vestir a mesma túnica.

- Tenho muito a aprender anjo...

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