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Capitulo 04

O rei Hayden convocara Letícia para uma reunião administrativa com o objetivo de discutir os detalhes de seu casamento com o príncipe Ryuuji. Presentes estavam todos os conselheiros reais e o príncipe Laurenn. Os conselheiros, com semblantes graves, pintaram um quadro sombrio da situação financeira do reino, enfatizando a importância estratégica do acordo matrimonial com o Outono. 

 

Hayden, apoiado nos cotovelos, as mãos entrelaçadas, fitava a mesa com uma expressão preocupada. 

 

— Não podemos dar-nos ao luxo de recusar essa proposta — declarou, sua voz pesada. — Não podemos tê-los como inimigos... Não teríamos forças para enfrentá-los. 

 

Laurenn, apesar da profunda discordância, decidiu apoiar a decisão. Afinal, conhecia o príncipe Ryuuji dos tempos do treinamento real. Se Ryuuji tratasse Letícia com respeito e gentileza, o casamento, embora indesejado, poderia ser tolerável. Além disso, a presença de um cavaleiro de confiança garantiria a segurança de sua irmã no Reino do Outono. 

 

Quando o rei Hayden começou a sugerir nomes de cavaleiros para acompanhar Letícia, ela o interrompeu com firmeza. 

 

— Vossa Majestade, se possível, gostaria de escolher meu próprio cavaleiro. 

 

O apoio imediato de Laurenn reforçou o pedido de Letícia. A princesa sabia que precisava encontrar alguém fora da esfera de influência do rei e dos conselheiros, um guerreiro verdadeiramente leal a ela. 

 

A apreensão apertava o peito de Letícia. Casar-se com um completo desconhecido, em um reino distante, era uma perspectiva assustadora. Mas ela entendia a importância da sua missão. O futuro do Inverno dependia daquele casamento. E todos depositavam suas esperanças nela. A lembrança dos ensinamentos de sua mãe, registrados no caderno que guardava como um tesouro – a única lembrança de Elyza que Hayden não havia destruído –, lhe dava forças para seguir em frente. Aquele caderno, com suas anotações e conselhos enigmáticos, era seu guia, sua bússola em meio à tempestade. 

 

... 

 

 

 

Alguns dias se passaram. Letícia decidiu visitar a feira que animava a cidade, uma oportunidade de conhecer melhor o reino que em breve deixaria para trás. Percorria as barracas com entusiasmo, encantada com as cores, os aromas e a vibrante energia do local. 

 

Após comprar um lanche em uma das barracas, sentou-se para degustá-lo. Avistou uma vendedora de bebidas que pareciam o complemento perfeito para sua refeição. No instante em que se levantou, um vaso de flores caiu do alto de um prédio, estilhaçando-se no chão exatamente onde ela estivera sentada segundos antes. A multidão ao redor expressou preocupação e alívio, e Letícia, ainda atordoada, agradeceu à sorte por ter escapado ilesa. 

 

Absorta pela atmosfera festiva, Letícia perdeu a noção do tempo. Quando percebeu, a noite já havia caído. Enquanto caminhava de volta para o castelo, um calafrio percorreu sua espinha. A nítida sensação de estar sendo seguida a invadiu. Apressou o passo pelas ruas mal iluminadas, a sensação de perigo crescendo a cada instante. Pela aura que sentia, não era apenas uma pessoa. Mas quem seriam? E por quê? A proximidade dos perseguidores a fez correr em direção à rua principal, esbarrando em alguém no caminho. 

 

Era o cavaleiro de cabelos prateados. 

 

Ele a reconheceu imediatamente. Preocupado com sua expressão aflita, perguntou se estava tudo bem. 

 

Letícia, ainda olhando ao redor em busca de seus perseguidores, sentiu a pressão diminuir. Eles haviam desistido? 

 

— Gostaria de acompanhá-la até sua casa? — ofereceu o cavaleiro. 

 

— Não precisa. Só até um local mais movimentado, por favor — respondeu, aliviada. — O centro da cidade já é suficiente. 

 

Enquanto caminhavam, a conversa se desenrolou naturalmente. 

 

— A propósito, não me apresentei — disse o cavaleiro. — Meu nome é Aleph. 

 

— Pode me chamar de Ticy — respondeu Letícia. — Você é novo por aqui? Nunca o vi no castelo. 

 

— Cheguei há pouco tempo. Trabalho como guarda da cidade, mas pretendo conseguir um emprego no castelo. O príncipe Laurenn me convidou para treinar aqui. 

 

— Vocês se conhecem? 

 

— Sim, somos amigos. Treinávamos juntos. 

 

— Se são amigos, por que não pediu a ele diretamente um emprego no castelo? 

 

— Gostaria de chegar lá com o meu esforço — respondeu Aleph, com um sorriso. — E ele ainda não sabe que estou na cidade. 

 

— Às vezes, aceitar a ajuda de um amigo é um sinal de sabedoria — observou Letícia. 

 

— Pensarei nisso — respondeu Aleph. — Desculpe interromper a conversa, mas chegamos ao nosso destino. 

 

Letícia agradeceu a companhia e seguiu em direção ao castelo. Os incidentes daquela noite, porém, a perturbavam. O vaso de flores, os perseguidores... tudo parecia suspeito demais. Principalmente após o anúncio de seu casamento com o príncipe do Outono. 

 

— Será que alguém do Reino está insatisfeito com o casamento e está tentando me eliminar? — pensou, apreensiva. — Mas como saberiam que eu estaria na feira? A menos que… seja alguém do castelo. Alguém próximo a mim. 

 

A semente da dúvida, plantada no solo fértil da incerteza, começava a germinar. 

 

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