Capítulo 4: Caminhos Cruzados
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O corredor da escola estava silencioso, exceto pelo ocasional som de passos que ecoavam nas paredes brancas. Endy andava lentamente, seu olhar atento a cada detalhe ao redor. O chão polido refletia a luz das lâmpadas do teto, criando um brilho sutil que parecia acentuar a tranquilidade do ambiente. As paredes estavam adornadas com cartazes e trabalhos de alunos, o que dava uma sensação de normalidade e vida ao espaço, mas havia uma tensão no ar que contrastava com a calma visível.
Ao se aproximar de um canto do corredor, Endy avistou Akiyo encostada na parede. Ela estava sentada no chão, com as costas apoiadas na parede fria, e seus ombros sacudiam ligeiramente com os soluços. O rosto dela estava escondido entre as mãos, e o som abafado do choro parecia ressoar no silêncio do corredor vazio. A imagem era comovente, uma cena de vulnerabilidade em meio ao cotidiano escolar.
Endy se aproximou com cuidado, seus passos eram suaves, quase hesitantes. Ele se abaixou ao lado dela, tentando oferecer algum conforto, seu coração estava apertado ao ver a dor evidente de Akiyo. O ambiente ao redor parecia se tornar mais íntimo, com as paredes do corredor criando uma sensação de claustrofobia gentil.
— Akiyo? — chamou ele suavemente, sua voz era um sussurro reconfortante. — Está tudo bem? Por que você está chorando?
Ela ergueu o olhar lentamente, revelando seus olhos vermelhos e inchados. A expressão de dor e desespero estava evidente, seus olhos brilhavam com lágrimas não derramadas, e o rubor nas bochechas indicava o quanto ela estava abalada. O rosto dela estava marcado pela tristeza, com o traço de lágrimas secas evidentes, formando uma trilha pálida sobre a pele.
— Eu sou... — Akiyo começou, sua voz tremendo, quase inaudível, como se cada palavra fosse um esforço doloroso. — Sou a ovelha negra da minha família. — Fez uma pausa, engolindo em seco, e uma sombra de vergonha passou por seu olhar. — Entre as quatro gerações anteriores, eu sou a única que não se destacou na área em que minha família tem tradição. Eles esperavam que eu fosse excelente, mas eu falhei. Agora, sinto que sou uma vergonha para todos eles.
Endy ouviu cada palavra com atenção, seu coração apertando-se ainda mais. Ele sentiu o peso da culpa e da inadequação que Akiyo carregava, e a sensação de impotência era quase tangível.
— Akiyo, não pense assim. Todos nós enfrentamos desafios. Só porque você não se destacou em algo que sua família esperava não significa que você não seja incrível de outras maneiras. — Endy falou, tentando infundir sua voz com sinceridade e encorajamento. Seu olhar estava fixo em Akiyo, e ele estendeu a mão para ela, seu gesto simples mas carregado de significado.
Akiyo olhou para ele com uma mistura de frustração e ceticismo, sua expressão era dura, refletindo o conflito interno e a dor que ela sentia. — Você não entende. Você, que não tem um plano definido para o futuro, não tem o direito de me dizer isso. — Seu tom era amargo, e ela rapidamente cobriu o rosto novamente com as mãos, sua voz ficando abafada. As palavras dela estavam carregadas de uma frustração que parecia ser um desabafo necessário.
Endy, com paciência, tentou oferecer uma perspectiva diferente. — Eu entendo que deve ser difícil. Mas mesmo que você não tenha um plano agora, há um mundo inteiro de possibilidades lá fora. Só porque você não é boa em algo não significa que não possa ser excelente em outras áreas. E, se o que seus pais querem para você não é o que você deseja, isso não define seu valor.
Ele estendeu a mão para ela, seu gesto era um convite para que Akiyo aceitasse o conforto que ele estava oferecendo. Akiyo olhou para a mão dele e hesitou por um momento antes de aceitá-la. O toque da mão dele foi firme e reconfortante, oferecendo uma sensação de segurança e apoio. O gesto simples parecia ter o poder de trazer um pouco de paz ao tumulto interno de Akiyo.
Akiyo, ainda abalada, o abraçou abruptamente. Endy ficou surpreso com o gesto, mas retribuiu o abraço com um leve sorriso, sua presença estava oferecendo um alívio emocional para Akiyo. O corredor parecia agora mais quente e acolhedor, apesar da tensão anterior. Quando Akiyo percebeu a situação e o ambiente ao redor, ela se afastou rapidamente, um pouco envergonhada, suas bochechas coradas.
— Desculpe, não era para eu ter agido assim. — Disse Akiyo, com um rubor nas bochechas e uma leveza na voz, enquanto tentava recompor-se. Ela parecia envergonhada pelo desabafo emocional, mas também aliviada por ter compartilhado sua dor.
Endy sorriu com compreensão, o gesto era uma forma de mostrar empatia e apoio contínuo. — Não precisa se desculpar. Vamos para a sala de aula antes que comece a aula.
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Na sala de aula, a atmosfera estava um pouco carregada. O início da aula estava se aproximando, e os alunos estavam se acomodando em suas carteiras. O cheiro familiar do giz e dos livros preenchia o ambiente, criando um cenário de rotina que contrastava com o momento emocional que havia acabado de passar. O som do burburinho dos colegas e o barulho das cadeiras sendo arrastadas davam um toque de normalidade ao ambiente.
Nenji estava sentado em sua mesa, a expressão preocupada enquanto seu telefone tocava. Ele atendeu a ligação com um gesto apressado, e sua expressão mudou instantaneamente para uma mistura de preocupação e tensão. O tom de sua conversa era baixo e urgente, e seus olhos demonstravam uma profunda inquietação. O telefone em sua mão parecia ser o único elo entre ele e a situação que estava enfrentando.
— Entendi. Vou sair agora. — Disse Nenji, sua voz tremendo ligeiramente. Ele desligou o telefone e a expressão em seu rosto era uma máscara de tensão enquanto ele se levantava rapidamente. O olhar dele estava fixo em algum ponto distante, e ele parecia perdido em pensamentos enquanto saía da sala apressado.
Akiyo e Endy trocaram olhares preocupados, a situação estava claramente afetando Nenji de maneira significativa. Não tiveram tempo de discutir o que poderia estar acontecendo, pois a aula estava prestes a começar. O som do sino anunciando o início da aula era um lembrete de que o tempo não parava, e os alunos começaram a se acomodar para a próxima aula.
Endy ficou pensativo após Nenji sair.
"Meu amigo pode estar em apuros. O que pode ter acontecido?"
"Ah droga! Devia ter seguido ele! Que mancada!"
"Se bem que pareceu muito pessoal, será que eu realmente devia me entrometer?"
Nesse momento, Akiyo o chamou.
— Por que essa cara, Endy? — perguntou ela, com curiosidade.
Ele não entendeu a pergunta.
— Você estava assustador — ela disse, e ele virou-se para frente, tentando ignorá-la.
— Akiyo, para com isso, você faz parecer que eu sou um morto vivo. — ele pediu.
— Tudo bem, eu vou parar, mas tem um preço, fufu — ela respondeu, com um sorriso travesso.
— Qual é o preço? — ele perguntou, intrigado.
— Você tem que tirar essa cara de Endy.
— Essa é a minha cara — ele protestou.
— Ou você para, ou eu vou continuar! — ela desafiou.
Ele riu, e Akiyo e as garotas atrás dele se iluminaram com seu sorriso.
— Está feliz agora? — ele perguntou, ainda um pouco cético.
— Você está muito fofo — Akiyo respondeu.
— Não sou fofo! — ele gritou, olhando ao redor e percebendo que todos estavam olhando para ele.
"Por que ela fez isso na sala de aula?"
Ele começou a corar, e Akiyo riu, virando-se para frente. Endy fez o mesmo, pensando:
"Eu terei minha vingança! Calma, tudo que vai volta, Akiyo!"
Ouviu algumas garotas comentando.
— Olha, ele voltou a ser o Endy do 9º ano! Agora talvez a gente tenha chance.
— Ele está muito fofinho! — disse outra.
"Não sou fofo! Denovo isso! Caramba!" Ele olhou para Akiyo, que parecia não ouvir, mas por dentro queria matar as garotas.
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Na hora do almoço, os rumores de que Endy estava sorrindo mais cedo se espalharam, e ele percebeu que voltou a receber olhares. "Isso não pode estar acontecendo de novo. Amanhã, todos esquecerão... se não, Akiyo vai me matar! Sem dó nem piedade." Ao chegar no refeitório, Akiyo o gritou.
— Endy! Vem senta aqui comigo!
Ele foi até ela e se acomodou, começando a comer em silêncio.
— O que você tem? — ela perguntou, notando sua seriedade.
— As pessoas não têm amor próprio — ele respondeu, um tanto desanimado.
Ela ficou confusa.
— Esquece isso — ele disse, e ela aceitou, ainda confusa.
"Espera? Quem ele pensa que é? Pra falar algo assim?"
"E que confiança é essa toda? Hmpf! Vamos ver quem manda aqui."
Apos ter uma ideia, ela soltou um sorriso provocador.
— Você não vê problema em se sentar sozinho com uma garota?
— Não, porque essa garota é minha amiga — ele disse, sem emoção alguma.
— Você está certo. Você ganhou esse round — ela respondeu, divertida.
E então Akiyo pensou.
"Já sei se eu elogiar ele, ele vai corar igual a um bebê."
— Por sinal, Endy você está bem bonito hoje. — Ela disse enquanto tinha um sorriso provocante em seu rosto.
— Mas você está ainda mais bonita que eu agora que está sorrindo — ele brincou.
Ela corou, e ele acrescentou:
— 2 a 0 para mim.
— Seu... — disse Akiyo, porém antes de Akiyo terminar, ele percebeu que estava recebendo olhares demais.
— Melhor eu comer em outro lugar — ele decidiu, levantando-se e Akiyo apenas ficou sem reação.
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Ele se sentou em um banco vazio no pátio e continuou a comer. Logo, Kaori chegou.
— O Nenji saiu mais cedo? — perguntou ela.
— Sim — ele confirmou, e ela se despediu rapidamente.
Akiyo apareceu de repente.
— Oi!
Endy não se assustou.
— Por que você e tão você? — ela reclamou, irritada.
— Eu sou eu. Então melhor você se acostumar — ele respondeu, divertido.
— Você já foi ao shopping? — Akiyo perguntou.
— Eh duh? Mas é óbvio que sim — ele disse, e ela se sentou ao seu lado.
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Depois das aulas, Endy se aproximou de Akiyo, que estava se preparando para sair. A sala estava mais tranquila agora, com poucos alunos ao redor. As luzes do corredor estavam começando a se apagar, sinalizando o fim do dia escolar e a transição para a noite.
— Akiyo, vou embora agora. Agradeço por tudo hoje. — Disse Endy com um sorriso genuíno, tentando transmitir sua gratidão e apoio. — Espero que tudo se resolva para você.
Akiyo sorriu de volta, um pouco mais tranquila, seu olhar refletindo gratidão. A expressão dela estava mais serena, e a tensão em seus ombros parecia ter diminuído um pouco. — Obrigada, Endy. Realmente aprecio sua ajuda. Nos vemos amanhã?
— Sim, estarei lá. — Confirmou Endy. — Até amanhã.
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Ao sair da escola, Endy viu Nenji sentado em um banco de praça próximo ao prédio onde morava. O banco estava sob a sombra de uma árvore, com folhas que tremulavam suavemente com a brisa. O ambiente ao redor era pacífico, com o som suave das folhas sussurrando e o cheiro da terra úmida misturando-se ao ar fresco. Nenji parecia visivelmente tenso, com o olhar distante e os ombros caídos, como se o peso do mundo estivesse sobre ele.
— Ei, Nenji. — Endy chamou, aproximando-se com um olhar preocupado. — O que aconteceu? Você parece mal.
Nenji levantou o olhar, a tristeza estampada em seu rosto. Seus olhos estavam vermelhos e havia um cansaço evidente em seus traços. — Meu avô faleceu. Recebi a notícia mais cedo e tive que sair da escola apressado.
Endy sentiu um peso no coração ao ouvir a notícia e tentou encontrar palavras de consolo. O sol estava se pondo, tingindo o céu com tons quentes de laranja e rosa, e a cena parecia refletir a melancolia do momento. O ambiente tranquilo ao redor oferecia um contraste com a dor interna de Nenji.
— Sinto muito pela sua perda, Nenji. — Ele disse com sinceridade, sua voz era um eco de empatia e solidariedade. — Eu... eu queria te informar que Akiyo me convidou para ir ao shopping amanhã. Ela também queria que você fosse, mas não teve chance de falar com você antes.
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Nenji balançou a cabeça, apreciando o gesto de Endy. O sorriso triste em seu rosto era um reflexo de sua gratidão pelo apoio. A notícia do convite de Akiyo parecia oferecer um pequeno conforto em meio à sua dor.
— Agradeço por me informar, Endy. — Disse Nenji, sua voz ainda carregada de tristeza, mas com um toque de gratidão. — Vou pensar no convite quando estiver mais calmo. É bom saber que meus amigos estão pensando em mim, mesmo em momentos como este.
Endy assentiu, sua expressão demonstrava compreensão e empatia. — Claro, tome o tempo que precisar. Se precisar de algo ou quiser conversar, estarei por perto. Às vezes, compartilhar o peso das coisas pode ajudar, mesmo que seja apenas um pouco.
Nenji fez um gesto de agradecimento e se recostou no banco, seus pensamentos aparentemente distantes. O ambiente ao redor continuava calmo, com o som suave das folhas ao vento e o brilho do crepúsculo proporcionando um cenário tranquilo. As sombras das árvores e o tom quente do pôr do sol criavam um ambiente propício para reflexões e conversas profundas.
— Desculpe por mudar de assunto abruptamente. — Endy completou, percebendo que o momento exigia um pouco de leveza. — Meus pêsames, realmente sinto muito pela sua perda.
Nenji assentiu lentamente, o gesto de Endy era uma pequena âncora de normalidade em um momento de desolação. — Obrigado, Endy. Sua presença já ajuda mais do que você imagina. Às vezes, só estar aqui faz uma grande diferença.
Os dois amigos permaneceram em silêncio por alguns momentos, permitindo-se um espaço para refletir sobre a situação. O sol continuava a se pôr, tingindo o céu com tons cada vez mais profundos de laranja e rosa, e a atmosfera ao redor parecia criar um ambiente de conforto silencioso.
— Você se lembrou de algum momento especial com seu avô? — Perguntou Endy, tentando trazer um pouco de luz à conversa e ajudar Nenji a focar nas memórias positivas. O tom de sua voz era suave e respeitoso, demonstrando um desejo genuíno de ajudar.
Nenji pensou por um momento, seus olhos fixos no horizonte. — Sim, na verdade, ele sempre gostava de contar histórias sobre sua juventude. Era um contador de histórias incrível. Lembro-me de como ele falava com tanto entusiasmo sobre suas aventuras e experiências. Essas histórias sempre me fascinaram.
Endy sorriu, apreciando a visão das memórias preciosas que Nenji compartilhava. — Parece que ele era um homem incrível, cheio de vida e histórias. Essas memórias devem ser um grande conforto para você agora.
Nenji sorriu levemente, um brilho de nostalgia nos olhos. — Sim, são. E eu me sinto grato por ter tido o privilégio de conhecê-lo tão bem. Às vezes, é fácil esquecer o quanto alguém pode significar para você até que seja tarde demais.
O silêncio que se seguiu foi cheio de compreensão e reflexão. Ambos os amigos estavam imersos em seus pensamentos, absorvendo a tranquilidade do momento e o conforto da companhia um do outro.
— Bem, vou te deixar agora. — Disse Endy, levantando-se com um sorriso encorajador. — Preciso ir, mas se precisar de alguma coisa, não hesite em me chamar.
Nenji levantou-se também, agradecendo o gesto de apoio. — Combinado, Endy. Agradeço por estar aqui. Nos vemos mais tarde, então.
Endy se despediu com um aceno e começou a caminhar de volta para casa. A noite estava começando a se instalar, e a temperatura estava caindo levemente, trazendo uma sensação refrescante após o calor do dia. O céu estava repleto de estrelas começando a aparecer, e a cidade estava se preparando para a tranquilidade da noite.
Enquanto caminhava, Endy refletiu sobre o que havia acontecido durante o dia. A conversa com Akiyo e a situação com Nenji tinham sido emocionalmente intensas, e ele sentiu um misto de cansaço e satisfação. Havia algo profundamente satisfatório em ajudar os amigos em momentos de necessidade, mesmo que isso significasse enfrentar seus próprios desafios emocionais.
Ao chegar em casa, Endy se deitou na cama, o dia estava cheio de reflexões e emoções intensas. Olhou para o teto, suas mente cheia das conversas e momentos compartilhados. Ele pensou nas palavras de Akiyo e na dor de Nenji, sentindo uma profunda conexão com eles, mesmo que as circunstâncias fossem difíceis.
Com uma sensação de tranquilidade e um leve sorriso nos lábios, Endy fechou os olhos, permitindo-se relaxar e descansar. A noite estava silenciosa, e a paz que finalmente encontrou era um alívio bem-vindo após um dia tão turbulento.