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Capítulo 1.1: Histórias Antigas

"Olá, o senhor Takuya Nagumo ainda está aqui, certo? Gostaria de visitá-lo neste momento. Meu nome é Ayato Unten." 

"Claro, só aguarde um pouco, te chamarei quando ele estiver disponível."

"Muito obrigado."

Atualmente estou no hospital que fica perto da minha casa. O lugar onde o senhor Nagumo está descansando. 

Será que ele está bem? Eu sei que ele não vai me responder, mas eu tenho esperança de que em um momento ele vai acordar de novo.

Só de pensar que há chances de eu nunca mais poder falar com ele, me faz refletir sobre o quão inesperadamente podemos perder pessoas.

A cada ano, mais de 1,8 milhões de pessoas morrem aproximadamente, e isso pode parecer muito, porém, tem uma grande chance dessas 1,8 milhões de pessoas não estarem relacionadas a mim ou à minha família, deixando-as de certa forma mais insignificantes no meu ponto de vista. 

Mas e quando alguém realmente está relacionado? Agora as estatísticas importam, o que as pessoas fazem é lamentar do ocorrido, lamentar que aproximadamente 1,8 milhões de pessoas morreram apenas naquele ano, apenas porque continuam de luto por causa de suas perdas.

Por mais que milhões de pessoas sejam prejudicadas por perdas de familiares e amigos todos os anos, só conseguimos realmente nos preocupar com aqueles que estão ao nosso lado, aqueles que nos acompanharam nessa jornada difícil, chamada de "vida". 

Aqueles que sempre nos apoiaram, nos tratavam com respeito… nos alegravam, perder eles quando você menos esperava gera uma ferida muito grande em quem realmente se importava. 

Essas pessoas são aquelas que…

"Ayato Unten, está aqui?... Ótimo. Me siga, vou te acompanhar até o quarto do senhor Nagumo." 

Essas pessoas são aquelas que devemos proteger e ajudar sempre quando podemos, ao mesmo tempo que sabemos que elas não ficam nesse mundo para sempre e não devemos perder a oportunidade de ficar mais com elas.

Por isso que eu estou visitando o senhor Takuya Nagumo hoje.

A pessoa que estava me escoltando para de andar em um quarto. Nele, me encontro mais uma vez com o senhor Nagumo.

"Aqui estamos, Unten. Você tem apenas alguns minutos para ver ele. Por favor, não encoste no paciente e nem faça barulhos altos."

"Eu entendo, vou ser rápido com a visita, não precisa se preocupar com o tempo."

"Olá, senhor Nagumo, é bom te ver. Faz alguns dias que não te encontro."

Não recebo respostas. 

Takuya Nagumo está em coma desde o dia do "acidente". Ele não me responde por causa da sua incapacidade de acordar, mesmo ainda tendo esperanças de viver.

"Eu sei que você não pode me responder, mas se, por algum motivo, conseguir me escutar, saiba que eu ainda acredito que você consiga sair desse coma, e quando voltar ao normal, vamos fazer uma festa para comemorar sua volta. Vai ser na minha casa, meus pais também gostariam muito de te ver. Apenas preciso de que você acorde."

Ainda esperançoso, tento fazê-lo escutar minha voz, sabendo que há chances de pacientes em coma ouvirem seus arredores enquanto estão incapacitados.

"Vou apenas deixar aqui sobre a mesa uma caixa de bombons para quando o senhor melhorar. Mesmo que não seja a melhor ideia dar esse presente para alguém da sua idade em coma, eu sinto que seria algo que o senhor amaria."

Posso ter parecido rude, mas é preocupante o fato dele estar em coma em uma idade avançada, as chances de óbito aumentam bastante. Se eu tivesse ido no lugar dele… Seria diferente.

Se fosse eu, tudo poderia ter dado certo, eu apenas deveria ter insistido em continuar, mas falhei. Eu joguei toda a responsabilidade para ele naquele dia, e me arrependo disso até hoje. 

"Senhor Nagumo, se lembra de quando eu era pequeno? Nós nos divertimos muito naquela época. O senhor sempre tinha coisas interessantes para me contar, nunca me esqueci de nenhuma das suas histórias. Eu ainda lembro daquela vez que você visitou Kyoto e ajudou a limpar um templo local por causa da sua experiência em ser zelador da escola que meus pais… trabalhavam."

Eu não queria me despedir dele, queria continuar conversando por horas com um dos únicos amigos que tive, uma das poucas pessoas que se importou comigo e com meus pais, um dos únicos que eu realmente tinha vontade de falar tudo o que tinha acontecido no meu dia para ele. Eu não quero sair de perto dele, mesmo sabendo que meu tempo é limitado e que ainda tenho chance de ver ele depois.

"O meu tempo está acabando, não posso mais ficar conversando por horas com você, como fazíamos antigamente."

Eu começo a me lembrar de alguns dos momentos que conversei com o senhor Nagumo. 

"Olha só quem veio… é o Ayato. Estava com saudades de mim? Hoje eu tenho mais uma história que posso contar para você."

"Ayato, eu já te contei sobre a vez que fui a Kyoto?"

"Ayato, o tempo passa muito rápido para um cara que acabou de passar da meia-idade. Lembre-se que sempre deve aproveitar as oportunidades enquanto você as tem, porque vai chegar uma hora que você vai perdê-las."

É como se eu tivesse voltado no tempo, em uma época que eu ainda era uma criança, uma época onde conversar sobre a vida com o senhor Nagumo era normal. 

É isso, eu não posso perder a oportunidade, eu tenho que falar o que eu sinto.

"Senhor Nagumo, eu gostaria de falar que… você me ajudou muito, desde o início da minha vida, desde que nos conhecemos, e você está até agora me ajudando. Eu sou muito grato por você. Essa despedida é definitivamente depressiva, mas eu preciso fazer isso, já que tem chance de eu nunca mais poder ver você de novo. Foi o senhor que me ensinou a não perder as oportunidades que eu recebo, afinal. Muito obrigado, Takuya Nagumo."

Eu me curvo diante de Takuya Nagumo, o senhor que me fez ser uma pessoa melhor e mais sábia. 

"Mesmo sabendo que você ainda pode acordar, gostaria de dizer um adeus indefinido. Eu vou sentir muito a sua falta caso você não consiga voltar."

Com isso, eu decidi me despedir mais uma vez dele.

"Adeus, senhor Nagumo."

Eu terminei minha visita ao senhor Nagumo com um gesto de gratidão e saio do quarto com felicidades, tendo ciência de que falei tudo que deveria falar para ele, sem guardar sentimentos de tristeza.

Eu saí do hospital, sentindo tristeza por ele estar naquela situação. Se tudo o que ocorreu naquele dia não tivesse acontecido, o senhor Nagumo não estaria daquele jeito.

Ele não possui nenhum familiar, então eu e meus pais somos os únicos que ele pode considerar como família, mesmo não sendo de sangue. Acho que essa visita não deve ter sido boa apenas para mim, mas ele também, eu espero.

Eu só queria que ele pudesse me responder de novo, seria isso pedir demais?

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