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Capítulo 33

General Jahangir Azimi POV:

Tento seguir o dia normalmente, cumprindo todos os meus deveres e sem me preocupar com o que estar porvir, então ao entardecer chega uma denúncia à sala do trono, quando estão todos os nobres reunidos diante do Imperador, lida pelo Papak, escriba real. 

— Ao cair da noite todos saberão quem é a verdadeira prometida do general Jahangir Azimi, procurem no estábulo junto a um servo de nome Anoush. Quem assina é um servo leal do império. – o escriba diz.

— Isso não pode ser verdade, é algum intento para que o general não se case com a jovem nobre escolhida para ele. – o Imperador diz.

— Majestade, não há como lhe afirmar algo que não vi ou não conheço, verei junto com todos que quiserem testemunhar. – digo e os nobres concordam em ir.

— Devemos constatar a veracidade dos fatos, Majestade, é da pureza da jovem que estamos tratando. – Babak diz.

— Isso é muito sério e o general terá direito de repudiá-la se isso for verdade. – Heydar diz. 

— Uma dama não pode ser impura para seu casamento, isso é inadmissível. – Rashne diz e todos concordam, inclusive o Imperador.

Todos somos dispensados da sala do trono para que possamos seguir com os planos ao anoitecer, confesso que estou muito ansioso para que tudo dê certo. 

Assim que saímos do salão o banquete, os nobres determinam uma estratégia, seguimos quase que em uma comitiva para o estábulo, vamos nos esgueirando para não assustar os amantes, mas o que não podemos esperar é que encontrarmos uma cena tão perfeita.

Flagramos Marjan e Anoush deitados nus durante o ato sexual sobre o feno.

— Marjan Baran! – digo para assustá-la e surte o efeito desejado, que me faz ter vontade de rir.

— Diante de todas essas testemunhas eu te repudio! Eu te repudio! Eu te repudio! – digo com tanto prazer, enquanto a ouço gritar de desespero, afinal uma mulher repudiada não conseguirá casamento, assim como uma mulher impura. 

— Nós testificamos que esse casamento não pode acontecer. – os nobres dizem.

— Podem prendê-los, mas permitam que cubram sua vergonha antes. – digo e sorrio.

Saímos do estábulo e eles seguem para as suas alcovas, o alívio preenche a minha alma de um jeito que eu não consigo explicar.

Como uma celebração de casamento está marcada para amanhã, o Imperador decide casar o Sarosh, filho de Jaleh com a nobre Val, filha de Ebrahim e todos aceitam, mesmo sendo um enlace apressado, é um compromisso previsto há algum tempo. 

Ainda à noite, encilho meu cavalo e sigo para a casa dos meus pais, preciso lhes dizer tudo o que está acontecendo, ao chegar lá cumprimento o servo e vou adentrando.

Meus pais correm para me abraçar e beijar.

— Sentimos tanto a sua falta, meu filho. – papai diz.

— Eu também. – digo e lhe conto tudo sobre a guerra, sacrifício de Shahnaz, minha prisão e julgamento, deixando-os perplexos.

— Mas não é só isso, chegando aqui, confessamos o nosso amor diante dos Imperadores e toda a corte. – digo.

— Que loucura foram fazer, meu filho. Agora serão massacrados por esse amor. – papai diz.

— Culpa da Marjan e seu amante que roubaram uma carta que Shahnaz escreveu confidenciando tudo e fez questão de entregar diante do Imperador. – explico.

— Descobriram que ela tem um amante? – mamãe pergunta.

— Hoje e a repudiei diante dos nobres que testemunharam tudo, vim dizer que estou livre do casamento. – digo.

— Ahura-Mazda nos ajudou. – papai diz e mamãe levanta as mãos para o céu.

— Por que Marjan queria se vingar de vocês? – pergunto.

— Porque ela veio aqui querendo nossa apreciação, mas sou encontrou sinceridade e apreço por você e seu amor pela Princesa. – mamãe diz e todos nós rimos.

— Como está a Princesa? – papai pergunta.

— Certamente feliz por saber que não me casarei. – digo. 

Abraço novamente meus pais e nos despedimos, preciso retornar ao forte imediatamente. 

Vamos para a área externa, monto em meu cavalo e sigo para o palácio, chego em pouco tempo e vou direto para a minha alcova, procuro descansar porque amanhã será um dia cheio.

Desperto ainda antes do amanhecer, sigo para o quarto de banho, me arrumo, vou para o salão do banquete, vejo Shahnaz feliz, desfrutamos do banquete e a conversa é bem agradável, assim que terminamos, procuro me apressar para cumprir o meu dever em relação a toda a segurança do cerimonial e do palácio.

 

O Narrador: 

Shahanshah segue para a sala do trono com seus nobres, manda convocar a Imperatriz, Princesa Shahnaz, suas esposas secundárias, as jovens nobres, as esposas dos Sirdares e de seus filhos e manda trazer os prisioneiros. 

Então pede um relatório sobre a situação de Marjan Baran, Heydar lhe dá detalhes sobre o acontecido, que vez por outra são acrescidos pelos outros membros da corte até que chegue ao final de sua narração dos fatos. 

Segue o general informando que a repudiou, cumprindo seu direito, uma vez que nenhum homem tem a obrigação de se casar com uma mulher impura, ainda mais passando por uma situação vexatória como essa, prendendo-os na sequência.

— Marjan Baran acabou mostrando-se traidora como o nobre Sinbad, ambos devem ser esquecidos. Qual será a sua sentença, Majestade? – Babak pergunta.

— Qual é o castigo de uma mulher traidora? – o Imperador pergunta.

— Cortar-lhe a ponta do nariz. – Sarod diz.

— Que cumpram a sua sentença. – Shahanshah diz. 

— Não, eu imploro que não permita, general! – Marjan pede e o general nem olha para ela.

— Ouviram o Imperador, cumpram imediatamente a sentença. – general Jahangir repete. 

Dois soldados seguram Marjan Baran e com um punhal outro corta a ponta de seu nariz, fazendo com que ela caia de joelhos diante de todos na sala do trono com as mãos no rosto.

— Vejam o que ganha uma traidora de seu prometido ou esposo. Agora viverá nas ruas e terá que comer e viver de seus próprios recursos. – o Imperador diz e os soldados levam Marjan para fora do palácio.

— Servo Anoush deve ser julgado pela dupla traição ao general, por ser amante de Marjan e conspirar para a morte do casal Azimi. – Fravardin diz.

— Deve ser condenado à morte. – Payam diz.

— Eu fiz um acordo com o general... – Anoush começa a dizer.

— Cale-se, apenas o Imperador pode lhe dar o direito de falar. – Sirdar Kansbar diz.

— Mesmo que o general sugira uma sentença nesse caso eu não aprovarei, condeno-lhe à morte por enforcamento. Que se cumpra a sentença, general. – Shahanshah diz.

Então os soldados levam o homem que se debate violentamente falando do acordo com o general a todo o caminho, até que a sentença seja cumprida e sua morte seja confirmada na sala do trono. 

Todas as mulheres são dispensadas da sala do trono, menos Shahnaz, um novo assunto começa a ser discutido, novas rebeliões estão começando e precisam ser debeladas, desta vez parece ser um número maior, estão havendo saques e ataques aos viajantes nas fronteiras com Susa e Pasárgada, o general deve ir com parte do exército para resolver essa questão. 

Existem os rumores cada vez mais fortes de que o exército grego deseja anexar o trono do império e em breve terão que marchar contra ele, precisam se preparar para isso, não sabem se acontecerá nos próximos meses ou ano, mas devem estar prontos. 

Assim que termina a audiência o Imperador dispensa a todos e se reporta somente a Shahnaz.

— Entende tudo o que está acontecendo nesses últimos meses, Shahnaz? – o Imperador a questiona.

— Sim Majestade. Sua glória e esplendor cobrem essa terra, tens conquistado territórios, Satrapias e as governado através de Sátrapas, o que tem funcionado muito bem, além de permitir que seu povo cultue os deuses que desejarem e sigam suas tradições e costumes. – a Princesa Shahnaz diz. 

— Sobre os rebeldes? – o Imperador pergunta.

— Há que se governar com mãos de ferro, não se pode deixar que rebeldes tenham sucesso em seu intento contra o império, tens razão em puni-los com a morte, debelando de uma vez a rebelião, mostrando seu poder e austeridade. – Shahnaz diz e mais uma vez seu coração se alegra de ver que ela compreende sua justiça.

Saem juntos da sala do trono e seguem em direção às suas alcovas, precisam se preparar para a celebração do casamento de Sarosh com Val.

No harém todos estão agitados, principalmente Jaleh e Val, que se preparam com esmero para o momento tão importante, mas todas estão muito felizes, afinal poderão acompanhar a celebração, apenas as concubinas e servas não poderão aproveitar. 

 

Princesa Shahnaz POV:

Sigo para a minha alcova, minhas damas preparam meu banho e meu vestido azul e dourado, acinturado e de mangas longas e largas, elas penteiam os meus cabelos e os deixam soltos sob o véu que é do mesmo tom das vestes, ponho as pulseiras, brincos, colar, anéis e coroa, Zena pinta meus olhos com o Kohl e passa carmim em meus lábios, calço as sapatilhas e estou pronta para descer. 

Essa celebração deve durar quatro dias e todos estão felizes, principalmente minha querida Jaleh.

Sigo para o harém e acompanho Jaleh, Dara, Arzu e as outras esposas do Imperador até o salão do baile, então assumo a minha posição ao lado dos Imperadores e de Mirza, enquanto sei que às portas do palácio estão Ashtad e o general recepcionando os convidados e os mandando aqui para dentro para que possamos lhes dar as boas-vindas. 

Mir Ebrahim, sua esposa Helya e Jaleh estão à frente cumprimentando todos como os verdadeiros anfitriões dessa noite, em seguida todos passam por nós. 

Vemos as damas de ambas as famílias trazendo moedas de prata e se encaminhando para o encontro, é assim que começamos o cerimonial pelo Nâm pâdvûn. É como um compromisso que a prometida toma o nome de seu futuro esposo, é nesse instante que ambas se põem diante uma da outra e se cumprimentam, formalizando o primeiro ritual dessa noite diante do sacerdote Hormuzd, trocando as moedas entre si e oferecendo ao oficiante.

Todos iniciam a celebração com muita alegria, felicidade, mas um pouco de timidez por parte dos prometidos.

Seguimos o cerimonial com Madasoro – Divô, que é o acendimento de duas lâmpadas nas casas das pessoas que se casam e uma moeda em cada uma delas. Então presentes são trocados entre as famílias, é a formalidade que conclui a troca de alianças.

Mir Ebrahim e Helya Delara e o Imperador e Jaleh cumprem essa exigência com alegria e sem trocar qualquer palavra para que não digam nada comprometedor.

Então todos nós celebramos a primeira noite do casamento dos prometidos, uma vez que tudo está acontecendo de acordo com o combinado, tudo está perfeito e lindo, muito divertido. 

Ao final da noite, vamos descansar e nos preparar para o segundo dia de celebração do casamento de Sarosh e Val, sinto que eles estão radiantes, mesmo que o casamento tenha sido às pressas. 

Observo de longe o general e sua alegria por não ser ele a se casar hoje, realmente ele é como uma águia, jamais saberá viver em cárcere. 

 

O Narrador:

No harém de um momento para o outro, duas das concubinas do Imperador começam a entrar em trabalho de parto e as parteiras são chamadas para ajudar. 

Asal sofre por aproximadamente três horas e dá à luz a uma menina, a quem dá o nome de Giti.

Bita sofre por cerca de cinco horas, mas nem a mãe e o bebê varão resistem.

Shahanshah é avisado do nascimento de sua filha, da morte de seu filho e concubina, deixa a celebração, vem conhecer a menina e ver e lamentar os mortos. 

Manda realizar a cerimônia de sepultamento do masdeísmo, as mulheres lavam seus corpos e enrolam em túnicas brancas, colocam em espécie de macas e os homens os levam até o cume da montanha onde os deixam sobre a pedra, a mulher no centro e o bebê varão na borda, para as aves comerem seus corpos e libertarem seus espíritos. 

Então o Imperador retorna para a celebração, avisa a Imperatriz sobre os acontecimentos e continuam a festa normalmente por toda a noite. 

Convidados vão despertando e se preparando, são convidados ao salão do cerimonial para um banquete e se preparam para o início da celebração que é o âdarni, o dia da troca de presentes, a família do prometido deve dar à família da prometida roupas e joias, os parentes e vizinhos também devem ser presenteados com um banquete bem tradicional.

Shahanshah e Jaleh cumprem o ritual e presenteiam Mir Ebrahim e Helya Delara e também Val com muitas roupas e joias, deixando-os exultantes com a riqueza e luxo dos presentes. 

Seguem convidando todos para desfrutar de um farto e tradicional banquete, celebrando a união de seus filhos, em seguida todos comemoram com um baile que se estende até o entardecer.

Então convidam todos para seguir ao templo para cumprir com o sacerdote Hormuzd o varadhapatra, que é a cerimônia religiosa em homenagem aos mortos. Encerrando o segundo dia de celebração do enlace.

Despertam felizes e então o Imperador vai realizar o mândav-saro, ritual em que um galho de uma mangueira é plantado próximo à porta, simbolizando o desejo de fertilidade. 

Todos aguardam ansiosos os acontecimentos do terceiro dia, são servidos com um farto banquete pela manhã e já se arrumam para a celebração que deve começar em breve.

Há uma certa agitação no harém com tantas mulheres para vestir e adornar, Dara cuida que cumpram o ritual do banho, conhecido como nân

— Está linda com seu jâma-pichhoir. – Dara diz, se referindo ao vestindo branco e a marca de kunkun na testa, admirando a prometida que acaba de vestir e adornar.

Shahnaz faz questão de acompanhar e se vestir junto com as mulheres, gosta de apreciar a felicidade das prometidas no dia de seu casamento.

— Um dia será o seu casamento com o general, minha querida. – Gatha diz.

— Não tenha tanta certeza disso, os Imperadores jamais aprovarão.

– Shahnaz diz.

— Algo acontecerá para essa aprovação suceder. – Madge diz. 

Elas terminam de se arrumar e se preparam para descer. 

Muitos presentes chegam para o Imperador em nome de Mir Ebrahim. 

Uma assembleia de testemunhas, o sacerdote, todos os nobres, os Sirdares, o Imperador aguardam no salão do cerimonial até que as mulheres e os prometidos cheguem. 

Sarosh adentra o salão e é saudado por Helya, que coloca uma nova marca de kunkun em sua testa.

Então Val Delara adentra o salão do cerimonial e o casal fica frente a frente diante do sacerdote Hormuzd. 

Por diversas vezes o arroz é usado como símbolo de boa sorte e são realizadas oferendas ao fogo sagrado. 

Para remover tudo o que não é auspicioso para o prometido, um ovo é passado ao redor da sua cabeça por três vezes e depois jogado no chão para se romper e destruir com ele todo o mal que possa haver em sua vida.

Novamente o ritual é realizado com um côco, sobre uma pequena bandeja com água, lançando-o no chão na sequência.

Então o prometido cumpre o var-behendoo, mergulhando sua mão no pote de água, que faz parte de seu dote, jogando uma moeda de prata, como sinal de agradecimento.

É o momento de os prometidos tomarem seus assentos, se posicionando frente a frente e na direção leste, arroz é colocado em bandejas de cada lado do casal para serem lançados, enquanto recitam palavras de bençãos, no mesmo instante pequenos recipientes com o fogo sagrado são colocados ao redor deles. Duas testemunhas estão ao lado do casal segurando uma cortina de pano que os separa. 

— Sarosh e Val, consentem esse casamento? – sacerdote Hormuzd questiona.

— Sim. – ele responde com firmeza.

— Sim. – ela responde após olhar para os pais.

Hormuzd junta suas mãos, costume conhecido com hâthevârô ou aperto de mãos, colocando as mãos direitas do casal uma sobre a outra. 

Então um pedaço de pano é passado em volta das cadeiras e amarrado, envolvendo-as em um círculo, é nesse momento em que o sacerdote aperta por sete vezes suas mãos direitas que estão agarradas uma na outra e a oração yatha ahu vairyo começa a ser recitada por ele.

Só nesse momento que a cortina que os separa é abaixada e o casal lança arroz um sobre o outro como em uma competição.

Conclui-se o casamento com a benção do sacerdote sobre o casal.

— Que o criador, o senhor onisciente conceda a vocês uma progênie de filhos e netos, muitos meios para se proverem, amizade arrebatadora, força corporal, longa vida e uma existência de cento e cinquenta anos! – o sacerdote Hormuzd diz.

Sacerdote Hormuzd segue fazendo várias perguntas à consorte e ao marido, assim que eles tenham respondido que estão entrando nesse casamento de mente justa, o sacerdote fará admoestações e bençãos.

Então o casal come simbolicamente no mesmo prato cumprindo o ritual dahi-koomro.

Todos entoam canções e celebram a conclusão do casamento, brindando e dançando por toda a noite.

 

Princesa Shahnaz POV: 

Celebro muito a minha vitória sobre Marjan Baran, sabendo que ela organizou cada detalhe dessa decoração e casamento que hoje é palco para Sarosh e Val e a verdadeira felicidade desse casal que construirá um relacionamento alicerçado no amor e respeito. 

Danço com todos que me convidam e alegremente, afinal hoje é um dia de comemoração e Vashti desconfia da minha felicidade e me vigia de perto, de tal maneira que mal posso olhar na direção do meu amado Jahangir. 

Vejo que os recém-casados se retiram para consumar o casamento e logo se encerra a comemoração do terceiro dia de casamento, retornamos às nossas alcovas.

Então os convidados iniciam a celebração do quarto dia do casamento de Sarosh e Val quase que no banquete da tarde, tamanho é a exaustão dos convidados por terem comemorado quase até o amanhecer na noite passada.

Voltamos ao salão do cerimonial e recomeçamos a celebração seguindo por todo o dia, os recém-casados surgem logo no começo da tarde para a felicidade de todos, que nos fartamos com o banquete, dançamos, nos divertimos, até o anoitecer. Quando a lua está alta os convidados começam a se despedir, seguir para suas carruagens, saindo do forte e retornando para suas províncias. 

É nesse momento que vemos o Imperador caindo ao chão, todos corremos em sua direção e notamos que está desacordado e febril, o general o pega no colo e leva até a sua alcova. 

— Chamem o curandeiro real e todos os sábios, alguém deve descobrir o mal que aflige o Imperador. – digo aflita. 

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