Uma vida insignificante e uma morte fantástica. Muitas vezes as coisas não acontecem como o esperado, mas Lary Flores nunca desistiu por causa disso, e sofreu até o dia de sua maravilhosa morte.
Dia 1:
Eu acordei aquela manhã sem energia alguma, como sempre, mas meu corpo se moveu mesmo assim, quase que em piloto automático, ele já sabia tudo que deveria fazer, eu não precisava se quer pensar sobre. Tomei banho, escovei os dentes, vesti minhas roupas, entrei no carro, e fui trabalhar.
Meu trabalho? Nada memorável, um trabalho pequeno, em uma empresa pequena, em um escritório pequeno. Bom, pelo menos eu consigo ganhar dinheiro para sobreviver, não preciso de mais nada.
Enquanto estava "zombiando" jeito que eu carinhosamente chamava o meu estado de meio acordado e meio dormindo, um carro bate no fundo do meu, e assim que eu senti o impacto, a primeira coisa que pensei foi, "Como vou pagar por isso? Quantas refeições deixarei de comer? Por quanto tempo?" Dúvidas invadiram minha mente, muitas delas, e eu precisava resolver todas.
Sai do meu carro irritado com o acontecimento, e fui mostrar minha insatisfação para a causadora da minha dor de cabeça. Quando sai do carro, sabia que tinha um problema gigante em minhas mãos, pois, o carro que bateu no meu era uma Ferrari, uma muito cara, na verdade caro era pouco para descrever esse carro, e sua bela pintura vermelha havia sido arranhada pelo impacto e seu pára-choque tinha sofrido um dano considerável também.
Não importava se era que havia causado isso, o homem que saiu daquele carro definitivamente tinha os meios para acabar com minha vida, que já não era muito, com um telefonema, quem sabe menos de um, antes que ele desligasse eu já estaria acabado. Quando notei isso, imediatamente me desculpei pela falta de atenção e falei-"Eu mesmo arcarei com os custos do conserto senhor, não se preocupe"-Mas ele simplesmente virou para mim e falou-"Não se preocupe com isso, a culpa foi minha por estar desatento, pagarei pelo concerto do seu carro e do meu"-Fiquei muito surpreso, e muito contente também, agradeci ao senhor por ter reconhecido seu erro e decidido me ajudar-"Vou precisar pegar o seu número para poder te ligar mais tarde e resolver coisas como pagamento e onde levar seu carro, se importa?"-Ele perguntou-"Não de forma alguma, aqui está"-Eu então entreguei meu cartão de negócios para ele, sinceramente não sei para que os carrego, esse foi o primeiro que entreguei na minha vida, e não foi nem para um cliente-"Certo, mais uma vez me desculpe por bater no seu carro senhor… Lary Flores, um nome meio incomum para um brasileiro se me permite dizer"-"Minha mãe sempre achou nomes estrangeiros mais bonitos senhor"-respondi para acabar com sua óbvia curiosidade. Não perguntei seu nome por costume, já que prefiro não falar com outras pessoas, por isso não criar nenhum tipo de relação com elas é mais simples.
Após, esse encontro eu segui meu caminho para o trabalho, e cheguei lá sem mais problemas. E o trabalho não foi nada além do esperado, ligação atrás de ligação, documento atrás de documento, sem pausa alguma durante o dia. Nem noto mais as horas do dia, meu relógio natural está sincronizado com o da empresa, eu sei que horas devo acordar para entrar e que horas devo ir embora.
Mais um dia de trabalho meu acaba, e eu fui embora da empresa em direção ao meu carro, o que eu vou fazer agora? Hoje eu vou comer. Faço uma refeição no dia, dia sim dia não. E ontem eu não comi, logo, preciso achar algum lugar para comer. Eu sempre penso isso mesmo sabendo que no final eu vou para o mesmo restaurante de sempre, um restaurante que serve sopa, uma sopa grande e até que barata, por isso, era graças a eles que eu conseguia comer em dias alternados, e a comida era realmente muito boa.
Entrei em meu carro e fui para lá, eles estavam abertos como de costume, quando entrei a garçonete imediatamente falou-"o de sempre Lary?"-Que eu respondi simplesmente acenando a cabeça. Uma moça ainda jovem eu diria, mais nova que eu pelo menos, com seus cabelos cacheados pretos da mesma cor de seus olhos, e um sorriso que alegra a todo cliente. O 'de sempre' era uma canja de galinha simples com pedaços de galinha, cenoura, cebola, alho, salsa, e seu caldo de galinha com um tempero da casa, um tempero maravilhoso e também segredo do chefe.
Esse é um dos momentos que eu mais espero chegar no dia, comer essa canja me faz esquecer de todos os meus problemas. Enquanto me deliciava com minha refeição, outro homem entrou no restaurante, o que não era muito comum já que meu trabalho termina muito tarde, não me lembro que horas exatamente, mas com certeza depois das 10:30h da noite. Esse é um dos únicos restaurantes que fica aberto na região a essa hora, e eu normalmente como sozinho devido ao horário, mas um ou outro companheiro de janta tendem a aparecer aqui e ali. O homem se sentou ao meu lado e pediu a sopa do dia, uma ótima pedida tendo em mente que todas as sopas de lá são ótimas.
Quando acabei minha comida, arrumei minhas coisas, me levantei, e fui embora do restaurante em direção ao meu carro novamente, com um destino em mente, um lugar que odeio voltar para, mas que sempre preciso, casa. Uma casa completamente cinza e sem vida, apenas um colchão no canto do quarto, e uma televisão antiga que nem funciona mais, ligo apenas para escutar a estática para dormir.
Mas ao chegar na porta do carro, senti algo me acertando na nuca, algo frio e redondo, comecei a ficar tonto e minha visão a turvar, me segurei em meu carro para não cair e coloquei a mão em minha nuca para investigar o impacto, e eu senti, senti o meu sangue descendo lentamente pela parte de trás de meu pescoço e caindo para minhas costas, a última coisa que eu ouvi foi uma voz masculina que me dizia-"Me desculpe, eu preciso…"-Tudo preto, apaguei antes mesmo de escutar toda sua fala.