Guru sorri ao ver que todos estão interessados em aprender e mostra uma figura do deus Brahma e as divisões em castas, aponta e vai fazendo a sua explicação.
— Há muito tempo o povo indiano está dividido por castas, é uma classificação que foi dada de acordo com a atividade, finanças e tipo de trabalho do povo. Os hindus ensinam que essas castas nasceram através de Brahma. Da cabeça de Brahma veio a mais alta casta, os Brâmanes que somos nós os sacerdotes, os filósofos ou professores, autoridades intelectuais e espirituais. Dos braços de Brahma vieram os Xátrias que são os guerreiros ou governantes. Das pernas de Brahma nasceram os Vaixás que são os administradores de todas as formas, tais como comerciantes ou agricultores. Dos pés de Brahma nasceram os Sudras que são os trabalhadores braçais, tais como servos, empregados domésticos e operários. Da poeira debaixo dos pés de Brahma vieram os Párias ou Dalits, que são as pessoas sem casta, intocáveis e impuras, não nasceram de Brahma, essas pessoas são proibidas de entrar nos templos e devem retirar-se da presença das pessoas das outras castas, nem mesmo a sombra dos Párias pode tocar a sombra das pessoas das outras castas. São responsáveis por trabalhos que são considerados imundos, tais como limpar os esgotos, recolher lixo, manipular cadáveres. Os casamentos devem ser realizados apenas entre pessoas da mesma casta, as castas nunca devem ser misturadas. – Guru continua a sua aula.
Meus amigos ficam horrorizados durante a descrição sobre os Párias e se agitam.
— Essa divisão me parece injusta. Estou imaginando o preconceito que os que não tem casta sofrem. – Mayara questiona.
— Como vivem essas pessoas? Como reconhecer quem são elas? - Tatiane pergunta.
— Guru, o Senhor disse que os Párias são intocáveis, e se alguém tocá-los por engano? - Iara pergunta.
Os casamentos devem acontecer entre pessoas da mesma casta, o que estamos fazendo? Isso está errado, nosso casamento pode ser uma vergonha não apenas para Eros, mas para toda a sua família.
— Os párias vivem à margem da sociedade, são bem pobres, mas fazem o trabalho que nasceram para fazer e recebem por isso. Normalmente andam sujos por conta do trabalho que fazem, e não usam joias porque não ganham o suficiente para comprar. Quando entram em uma casa que é de outra casta para fazer um serviço, todos os membros da família se escondem e chamam rapidamente um sacerdote para purificar tudo novamente. Quando uma pessoa toca em um pária por engano também recorre aos templos e sacerdotes para que sejam purificadas.
A expressão de todos ainda é de choque e tristeza com tamanha diferença social.
— No caso do Imperador qual é a casta? – Ricardo pergunta.
— O Imperador é Xátria. Mas o Príncipe herdeiro foi criado entre brâmanes para seu aprendizado, mesmo sendo Xátria. O Príncipe nasceu na província de Rajput, é de onde saem os mais bravos guerreiros indianos, deverá provar em algum momento que é o melhor guerreiro do império.
O meu Eros!
— Guru, por que o Príncipe deverá provar que é o melhor guerreiro? Se ele já é da casta dos guerreiros. – Carol questiona.
— Lhes contarei a história do Império e do Principe sucessor outro dia, vão descansar agora. – Guru diz, nos dispensando.
Nós o cumprimentamos e saímos. Essa primeira aula é suficientemente complexa e cheia de informações, mas o Guru tem uma didática maravilhosa.
Almoçamos todos juntos no restaurante, me despeço, saio mais cedo e vou para a minha aula particular.
Preciso me dedicar para ser uma boa esposa, aprendendo o máximo possível, não só para a celebração do shádi, mas para viver como uma esposa hindu. Preciso aprender canções, danças e poesia, dentre outras tantas coisas. Guru Shankar tem uma grande equipe composta por honradas mulheres e homens, inclusive músicos e poetas.
Estou decidida a me vestir como uma indiana solteira em todas as aulas, já estou me acostumando com essas roupas mais simples.
Eles me levam para o templo indiano, retorno ao hotel apenas as dez da noite, tomo um banho para relaxar e logo pego no sono.
Sonho com o Eros, deve ser a saudade. Acordo cedo, me arrumo e vou para o restaurante para tomar o café da manhã junto com meus amigos.
Terminamos a refeição e entramos na sala de aula cinco minutos antes do horário marcado para o início, saudamos os mestres indianos conforme aprendemos ontem.
Guruji cumprimenta a todos e espera até que estejamos acomodados para começar a aula.
— Prometi que falaria com vocês sobre o Império e vou cumprir isso hoje. É um assunto extenso e estejam à vontade para perguntar.
Segunda aula - Tema: Governantes e governo da Índia
— A Índia é governada por um Imperador? Nem imaginei que ainda existisse império. Ainda existem Reis e Rainhas? Como funciona isso tudo? - Melissa pergunta.
Todos os amigos gostam da pergunta porque é a dúvida deles também.
Nem sei se quero ter mais informações sobre esse assunto, ainda não consigo acreditar que estou envolvida nisso tudo.
— Vou tentar ser o mais sucinto possível. Nos primórdios, os indianos viviam em tribos eram classificados em três grandes grupos, que são o dos sacerdotes, dos guerreiros e nobres e o terceiro grupo composto pelas pessoas comuns. O chefe dessas tribos era o Raja ou rei, que era escolhido entre os melhores guerreiros, ele não era escolhido apenas para ser um líder, mas um verdadeiro rei que deveria dominar todo o seu território, ou seja, a sua província. Então dessa forma foram criados os reinos e seus Reis, logo depois as castas. – Guru inicia a sua explicação.
Digerimos as primeiras informações.
— Mas a Índia começou a ser invadida por outros povos e aí começaram as guerras, usurparam o trono do Império e com isso monopolizaram e dominaram as províncias, apenas com o intuito de saquear, de roubar as riquezas e grandezas do meu país. Nem todos os Reis se curvaram aos novos Imperadores e acabaram por guerrear, muitos foram mortos, muitos exércitos foram extintos e muitos outros Imperadores invadiram Delhi e usurparam do trono e de nossas riquezas, foram tempos de dor e de grande miséria para o nosso povo.
Ele faz uma nova pausa e todos nós estamos em silêncio. Imagino toda a dor e desespero desse povo, também sua conhecida e injusta miséria.
— O último a tomar o trono do Império foi o governo Britânico, mesmo a contragosto dos indianos, muitos anos se passaram até que o governo Britânico decidiu devolver a soberania do país para a Índia, que a partir daí se tornou república, mas o povo ainda nutria saudades do tempo que fora governada por seus Marahajas e Maharnys, assim, foi tomada mais uma vez de assalto pelo Império Rajput e desde então está sob o comando do Imperador Himanshu Manohari e cada província é governada por uma família real, portanto Rei e Rainha, eles são submissos a maior autoridade do país que é o Imperador, mas ainda não há soberania definitiva.
Então esse é o nome do meu so... Não consigo nem imaginar ou pensar nisso.
— O que é Maha.. Ra...Ji... Afinal o que significa isso? – Gislaine tenta dizer e nos faz rir.
— Maharaja pode ser traduzido como Marajá, é um título de nobreza equivalente a um Rei.
Me sinto desconfortável ao ouvir sobre o Império.
— E quem é o Imperador, como é essa coisa de todas as províncias estarem submissas ao Imperador? É bem diferente do governo que conhecemos. – Guilherme pergunta.
— Há muita disputa pelo poder, muitas guerras são proclamadas para conseguir o trono do Império e subjugar as províncias, se tornando a maior autoridade na Índia. Nosso Imperador não conseguiu unificar todas as províncias sob seu domínio, mas tem poder o suficiente para essa administração. Sua função é gerir as finanças, territórios, tomar decisões que influenciarão na vida do povo, nomear líderes para auxiliar nesta administração, cuidar da segurança e estabilidade. O Imperador tem em si mesmo todo o poder para governar a nossa terra, ele é nossa justiça, nossas leis, nosso protetor e o mantenedor da ordem, deve ser como um deus para o nosso povo.
Todos nós observamos atentamente a explicação.
— Quem é ele? Ouvi dizer em um documentário que há pena de morte na Índia, é verdade? – Enzo pergunta.
— Nosso Imperador é Himanshu Manohari, filho de Eknath, um governante rígido e impassível a ponto de provocar grande medo no povo, exatamente por isso é respeitado e muito temido. Sim, há pena de morte em casos graves ou em casos de ameaça a vida do Imperador e de sua família.
Todos estão assustados, mas ouvem atentamente.
— O Imperador faz todas as leis e as revoga quando julga necessário, toma as decisões importantes para o país e cuida de todos os impostos, distribui as riquezas ou minimiza a pobreza, distribui as rendas e terras, ele proclama ou impede as guerras. Tudo que é instituído pelo Imperador é ordem suprema e irrevogável.
— E por que estamos aprendendo isso? O senhor está explicando por que estávamos curiosos, apenas isso? – Carol pergunta.
— Vocês irão para a Índia, devem conhecer como é governado o país e deverão respeitar as leis durante o tempo que estiverem lá, como qualquer outro indiano.
— Guru, não entendo, somos brasileiros e estaremos a passeio, apenas para uma festa, mesmo assim devemos conhecer as leis e nos comportar como os indianos fazem, por quê? – Samara pergunta.
— Se uma pessoa que não é Brasileira vem para o Brasil, não estará sujeita aos deveres, direitos e as leis? Se cometer um crime ou infração aqui, será julgada conforme a justiça Brasileira, não é? – Guru explica e todos nós concordamos.
— Entendo que vocês não conheçam as nossas autoridades, mas devem lembrar que estarão na Índia, lugar que seus amigos escolheram para se casar, cada um de vocês deve respeitar as normas de comportamento e as leis justamente para evitar a punição com os rigores dos nossos governantes.
Concordamos novamente, todos ficam em silêncio, talvez refletindo sobre os últimos ensinamentos.
— Guru, quem seria o suficientemente louco para ameaçar a vida do Imperador? – Dani pergunta.
— Vou ser mais específico porque entendo que tudo isso é muito complexo. Ninguém pode ser mais importante na Índia do que o Imperador e sua família, devem ser tratados com a devida devoção. Eles têm o direito de andar por onde desejarem, algumas vezes os Imperadores poderão ir diante do povo, mas o povo não deve ousar olhar em seus olhos ou lhes dirigir a palavra, jamais! Devem sempre manter distância, deixar os braços cruzados a frente do corpo, a cabeça e os olhares sempre voltados para baixo. Devemos saudar os Imperadores como eu os ensinei, levando a mão direita na direção do rosto por três vezes. Suponha que os Imperadores passem diante do povo, todo o povo deverá saudá-los e depois devem manter essa postura que eu mencionei, devem também abrir espaço, afastando-se, mas jamais devem dar as costas aos Imperadores, isso é um desrespeito muito grave. E por que explico isso tudo? Ameaça a vida do Imperador, Imperatriz ou seus filhos será punida com a morte. Quais tipos de ameaças? Por exemplo, se algum de nós entrar na presença deles sem ser chamado ou se vocês se aproximarem deles, ou olharem nos olhos deles, dirigirem a palavra ou moverem seus braços em direção aos Imperadores será entendido como ameaça e serão punidos imediatamente. – Guru explica.
Todos nós ficamos chocados, sobretudo eu porque sei que Guruji está falando sobre meus sogros, isso me deixa apavorada.
— Meu, Deus, por que tudo isso? - Gislaine diz.
— Nosso povo respeita as autoridades. Deve-se ter todo o zelo com o Imperador e a família Imperial. Sempre há risco de outros países quererem roubar o trono do Império para voltar a saquear o nosso país, há também o risco de alguma traição por parte dos Reis das outras províncias, também com intuito de obter o trono do Império, isso gera ainda mais disputas e guerras. E se nosso Imperador morre e vem um Imperador pior, o que será do nosso futuro?
Mais uma vez refletimos sobre o assunto.
— Mas um dia o Imperador morrerá e quem vai sucedê-lo? – Claudio diz.
— O filho homem, o primeiro e legítimo! – Filipe diz.
— Quem são os sucessores desses tronos? – Samara diz, fingindo não ouvir a resposta do Filipe.
— Os filhos legítimos! - Filipe insiste em responder e Samara faz cara feia para ele.
— Como assim legítimos? – Victor pergunta.
— Os homens comuns hindus têm apenas uma esposa, mas os Reis devem ter várias esposas e concubinas no seu harém real, e para provar sua virilidade devem se deitar com várias mulheres e ter vários filhos, esses são considerados ilegítimos. Os filhos legítimos vem como fruto de seu casamento com a rainha, sua primeira esposa, de linhagem nobre. Da mesma forma acontece com o Imperador, mas em proporções ainda maiores, as virgens mais bonitas do Império são selecionadas para seu harém, é esperado que tenha muitos filhos, mas apenas o filho homem, que é fruto de seu casamento com a Imperatriz é que herdará o trono.
As mulheres se agitam e logo começam a comentar e falar desenfreadamente.
Sinto um nó na garganta, não tinha pensado nisso, vou ter que dividir meu Eros com muitas mulheres? Oh, meu Deus.
— Sei que estão escandalizadas, isso para vocês mulheres ocidentais é inaceitável. - Guru interrompe e diz.
— Como essas Rainhas e a Imperatriz podem aceitar que o marido delas faça um absurdo desse? - Samara parece furiosa ao dizer.
Gostaria que essa parte fosse um pesadelo, não quero ser uma das esposas ou vê-lo com outras mulheres.
— Acho muito bom, como ele pode garantir que terá muitos herdeiros sem ter muitas mulheres? Mulher não quer engravidar para não perder a boa forma. - Guilherme acha que deve defender os homens, então diz.
— Deve ser incrível! Sem desculpas e muita diversão! - Rafael diz.
As meninas querem bater neles, começam a atirar suas pulseiras e Guru tem que apartar e encerrar a briga.
— Guru, por que elas aceitam? Isso não pode ser evitado? – Gislaine diz.
— Pode explicar melhor? – Iara pede.
— Princesas e Rainhas são educadas e preparadas para servir seus maridos e seus reinos, precisam defender a honra deles. Um homem hindu casado sem um filho homem para sucedê-lo é terrível e um desastre e vergonha para todos, se ele não for capaz de gerar um filho homem, como terá sucesso nas guerras e no governo? Por essa razão elas aceitam e tratam com naturalidade o harém. - Guru, sempre solícito, explica.
Continuo apreensiva, mas meu noivo é apenas um Príncipe, deixarei para sofrer se for necessário daqui há alguns anos, alguns vivem como Príncipes até o fim de suas vidas.
— Guru, no caso do Imperador, ele tem o filho legítimo para sucedê-lo? – Marília pergunta.
— Sim, era o que eu ia dizer antes de entrarmos no assunto do harém. O sucessor do trono da Índia, filho legítimo do Imperador, sumiu há muitos anos, sabemos que ele está vivo, mas deve estar protegido em algum lugar que não foi divulgado para a sua segurança. Ele é nossa maior esperança, de todo o povo indiano na verdade. O Príncipe tem um mapa astral muito auspicioso que indica que ele poderá ser o melhor Imperador e guerreiro que já tivemos e trazer para nossa terra bênçãos jamais vistas. Aguardamos ansiosos o retorno dele. – Guru diz.
— Mas onde ele está? Se vocês sabem que ele está vivo, vocês têm que saber como ele está. – Michele diz.
— Quantos anos ele tem hoje? Em torno de quantos anos? – Mayara pergunta.
— Tentaram matar o Príncipe quando era apenas um bebê para roubar o trono que será dele, os Imperadores decidiram levá-lo para longe, a fim de protegerem sua vida e seu trono. Sabemos que o Príncipe é homem feito e aguardamos seu retorno com ansiedade.
Estranha a sensação de ouvir a mesma história que meu Príncipe contou, e é ainda mais estranho saber que de todo esse grupo apenas eu sei a verdade.
Guru ainda nos ensina alguns termos em hindi e tirar as dúvidas que ainda restam sobre a aula de hoje, depois encerra a aula.
Meus amigos seguem direto para o restaurante e eu não consigo comer nada porque a aula de hoje me deixou sufocada, apenas sigo para a minha aula da tarde.
Os Amigos POV:
Depois das aulas, eles têm cumprido os compromissos de trabalho, que tem aumentado devido ao anúncio do segundo filme, além do noivado e da ausência de Eros e Weenny.
Se reúnem a noite no restaurante e debatem sobre tudo o que eles têm aprendido, estão realmente empolgados.
Um dos temas mais debatidos por todos é sobre o Imperador, as leis e o harém.
As mulheres ainda estão revoltadas pela injustiça e os homens acham que a ideia é maravilhosa, apenas Ricardo e Claudio pensam diferente, não concordam.
— Será mesmo que nós, meros mortais, podemos ver a família Imperial? – Eduardo parece encantado com essa possibilidade.
— Seria bem legal. – Vivian diz.
— Não esqueçam de pensar no que pode acontecer se não soubermos nos portar diante deles, podemos ser realmente duramente castigados ou mortos?
— É, talvez seja melhor ficar bem longe da possibilidade de uma encrenca. – Tatiane diz.
— Longe da realeza principalmente! – Rafael diz e todos concordam.
— Poxa, fiquei com muito dó do Príncipe sucessor do trono. – Mayara diz e todas concordam.
As mulheres dizem que talvez o Príncipe seja solitário e os homens tentam adivinhar onde ele possa estar, saiu da Índia e foi se exilar onde?
— Acho que o Príncipe deve ser mimado e egoísta, provavelmente grosseiro com as mulheres e machista, já que deve ter crescido longe de sua mãe e família. E também deve ser metido e prepotente, já que deve ter muito dinheiro. Temos sorte de não morar na Índia, já pensou esse cara governar o nosso país? Odiaria conhecê-lo. - Samara surpreende a todos ao tecer seu comentário abertamente.
A maioria ri dessa conclusão dela, mas ninguém quer concordar ou discordar, afinal nenhum deles conhece o Príncipe e também jamais haverá de conhecer.
— Quem somos nós para conviver com a realeza? – dizem em uma só voz.