Ye Rim precisava mesmo ir ao banheiro, mas como esperado, os dois amigos pareciam ter algo estranho entre eles. Ela olhou o corredor vazio, certificando-se de não ser vista, e deu dois passos cautelosos e silenciosos para trás, parando ao lado da porta, e impedindo que a porta do estudio se fechasse, com o calcanhar.
Essa técnica tinha sido muito útil quando estava sendo perseguida por suas colegas de dormitório, na época de trainee. Ye Rim apurou o ouvidos, para tentar ouvir o que os dois homens diziam, pois tinha certeza que falariam dela.
"Vocês não estão juntos, estão?" Lee Dae Won perguntou ao amigo.
Ye Rim chegou a colocar a mão na boca, de ansiedade. Que pergunta direta!
"Ah hyung, que pergunta é essa? Está me perguntando isso somente porque eu a trouxe?" ela ouviu, mas algo ficou muito estranho, de repente. Ye Rim olhou pra trás, e teve a sensação de que um deles se aproximava da porta, então esgueirou-se de modo a colar-se a parede, tirando o pé da porta. Com isso, infelizmente, o vão deixado se fechou.
Ela se empertigou, imaginando que eles sairiam. Então, ela fingiria estar voltando do banheiro.
Ninguém saiu, entretanto. "Droga!" murmurou para si mesma. Que conversa é essa? Estão falando de mim e eu sequer posso ouvir?! Isso é justo?!
Dentro do estúdio, Jun Hyeon, que tinha fechado tentado pegar Ye Rim no flagra espionando, mas preferiu terminar a conversa ao invés de entrar em mais uma controvérsia com a esquisita cantora, virou-se novamente para Dae Won.
"Ela não está mais ouvindo?"
"Este estúdio tem um bom isolamento acústico. Se ela ouvir algo do lado de fora, é uma alienígena." o músico esclareceu. "Agora, se você não tem nada com essa garota, por que está agindo assim?"
"Ha. Que engraçado, hyung. Só estou aqui porque ela me pediu carona."
"Cuidado para não confundir as coisas. Devia ter aprendido a lição que eu aprendi. Ela só pediu uma carona, não que você falasse por ela."
Jun Hyeon ficou chocado, e tentou entender porque seu hyung dizia isso. "Oras, apenas falei que você ao menos devia ter perguntado pra ela."
"Imaginei que você pensasse que ela não precisa de cavaleiros encantados para defendê-la ou falar por ela, mas você veio aqui fazer isso. Quase me ofendi, mas acho que estou entendendo o motivo." o mais velho falou, e piscou para Kim ao final.
"Apenas penso que a entendo. Sua intromissão a incomoda e envergonha. Não é culpa sua que ela se sinta assim. Ela só não quer mais tentar e fracassar." ele expôs seu ponto de vista, após tudo o que viu e ouviu.
"Ha. Agora ficou claro."
O médico ficou um pouco incomodado e com a impressão de que o sarcasmo na voz de Dae Won era ainda maior. Ele sempre admirou a inteligência e raciocínio rápido de seu hyung, mas estar do outro lado não era confortável. Nem ele queria realmente discutir por causa de Ye Rim, que, como ambos sabiam, não era nada dele além de uma conhecida.
"Vamos lá, hyung." ele coçou a nuca. "Eu nao quero atrapalhar o seu lance. Mas acho que este não é o caminho."
"Você, de todos, acha que eu quero ajudá-la porque tenho algum interesse?"
A atenção de Kim foi tirada por um momento por uma breve aparição do topo da cabeça de Ye Rim, tentando espia-los pelo visor da porta do estúdio.
"O que foi?" Dae Won, que estava de costas para a porta, perguntou, mas não virou-se para ver.
"Ela. Tentando nos espiar."
"Essa garota realmente existe?"
"Ás vezes me pergunto isso, também." Jun Hyeon falou. "Mas já que começamos, vamos terminar esta conversa. Eu já vi você muito a fim de uma garota antes, e você está a fim dela."
A resposta do mais velho foi um dar de ombros, e a pergunta: "E você vai me impedir de fazer o possível para ajudar na carreira dela, por que você acredita nisso?"
"Não vê? Ela já disse não. Ela não quer participar de um reality show ou de qualquer coisa que sua amiga possa colocar ela dentro. Ela não quer mais fracassar, muito menos ao vivo para o país todo. Muito menos ao vivo para a cidadezinha dela." Ele sentiu que se inflamou, enquanto dizia isso, então mudou seu tom. "Deixe ela em paz, hyung."
"Jun Hyeon, preste atenção. Você só tem ouvido as palavras dela. Ouça mais que isso. Ela clama por reconhecimento. Ela implora por reconhecimento. Ela é uma ótima artista. E ela está definhando cantando em algum lugar obscuro, ela está morrendo. Ela está se desgastando longe da luz. Preste atenção nos olhos dela. Preste atenção toda vez que ela diz: 'Ei, olhe pra mim, eu tenho talento! Eu sou bonita! Olha como eu sou azarada'. Ela diz: Por que ninguém está me escolhendo?! Por quê?!'
Dae Won imprimiu intensidade em suas palavras, e Jun Hyeon não pôde deixar de ver as analogias que o amigo estava imprimindo em seu discurso. Seus olhos encheram de lágrimas teimosas.
Mas Dae Won não tinha acabado. Deu dois passos a frente, chegando perto de Kim, que se sentiu incomodado, já que sentia-se emotivo e fragilizado com as lembranças e reflexões que essa conversa estava trazendo:
"Jun Hyeon, talvez você esteja perdendo o jeito. Sua vida agora é dizer às pessoas que talvez elas não queiram realmente o que elas dizem que querem. Elas vêm até você e têm que te convencer que elas realmente querem. Ye Rim não fará isso. Ela acha que ninguém ninguém vai escutá-la."
Ele suspirou, abalado, passou as mãos na nuca, e disse: "Ok. Você é cruel, hyung."
"Eu vou ajudá-la." Dae Won não pediu desculpas, nem Kim achou que isso aconteceria.
"Certo. Faça isso, hyung."
Eles se olharam, e em comum acordo, foram para a porta, de maneira chamativa. Kim Jun Hyeon abriu a porta, falando de maneira alta: "Você devia ligar pra minha mãe, ela sente falta de você."
"Farei isso, pode deixar." Dae Won seguiu a brincadeira, e os dois se depararam com YE RIm, graciosamente pronta para tocar a maçaneta. Ela levou a mão ao peito, 'assustada': "Oh!"
Ela é louca! Kim concluiu.
Dae Won sorriu: "Tudo bem?"
"Ah, vocês já estavam saindo."
"Sim. Eu tenho um compromisso daqui a pouco. Mas espero vê-la em breve. E você também, Jun Hyeon." Dae Won se despediu, e Kim teve a impressão que a parte do compromisso era mentira, mas agradeceu ao seu hyung mentalmente por não criar um encontro a três de novo. Por mais que ele admirasse seu Hyung, vê-lo fazia Kim se lembrar de Ji Hyeon, e isso sempre doía.
Quando Dae Won se afastou eles pelo corredor, ele se virou para a garota, que de repente parecia ocupada lendo algo ao celular:
"Podemos ir? Aconteceu alguma coisa?"
Ela balançou a cabeça, e ergueu o olhar para ele, guardando o celular:
"Ah, não. Só minha unnie que disse que levou um vestido específico para o Pearl, para que eu usasse hoje. Só achei estranho."
"Isso não é comum?" Ele perguntou, um pouco curioso.
"Bom, às vezes ela fica entusiasmada com algo que acabou de criar, e quer que eu experimente… Só que este não é o caso… às vezes me pergunto o que passa por aquela cabecinha... " ela pareceu intrigada, por sua expressão pensativa. Mas logo mudou de ânimo, e exclamou, andando a frente com um pose desbravadora:
"Ao café!"