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Conto 7: Vida antes do nascimento

Eu o conhecia faz tempo. No final do ano voltei a conversar com Edgar, pela internet. A lembrança que tinha era de um rapaz bem afeiçoado, inteligente e bom; amigo de Victor.

Marcamos um encontro, e, passados alguns meses começamos a namorar.

" Eu queria outro filho, mas tenho receio... " – pensava. – "Mas se demorar muito, não vai dar tempo, já estou com 39 anos! "

Finalmente chegaram as tão esperadas férias. Uma tarde, enquanto fazia crochê no sofá da sala, ouvi uma voz:

- Quero ir pra aí! – pediu.

- O quê?! – perguntei admirada.

- Eu quero ir pra aí...

Percebi a presença de um espírito bom: era um anjinho! Ele era pequeno e estava de pé, bem na minha frente.

"Meu Deus! Chegou a alma que eu iria receber! " – pensei assustada. – "Nós conversamos por pensamento! Como fiz isso?! ".

No dia seguinte, liga-me Lívia, minha amada irmã:

- O anjinho chegou, viu? – disse ela, enfaticamente.

- Eu sei, ele já falou comigo...

- E o que disse? – perguntou curiosa.

- Que queria vir para cá! Só que eu estou com medo de recebê-lo! – desculpei-me.

- Essa criança vai vir de qualquer jeito! Se você não o receber vai se arrepender! Se não for com você, esse espírito virá através de outra mulher! – retrucou fervorosamente.

- O Edgar não quer um filho!

- O Edgar não sabe o que quer! Se você não receber esse espírito, lá na frente você será cobrada. Pensa no que vai fazer!

- É que eu tenho medo... – justifiquei.

- Você está bem, não é? Chega e sai a hora que quer. É difícil sair da zona de conforto, começar tudo de novo, eu sei disso...

- Chego em casa, tiro os sapatos e deito no sofá. Não tenho criança pequena pra olhar!

- O Victor está grande. E você está tão resistente que o próprio anjinho veio falar com você. Deus vai te dar forças pra que você receba este espírito!

- Edgar acha que não tem condições financeiras para ter um filho.

- Tudo vai acontecer no tempo certo.

- Não tenho tanto tempo...

Passaram-se alguns dias. Estava em casa, indo do quarto para a cozinha, pensando: "O Victor me deu tanto trabalho quando criança, passar por tudo isso de novo...".

- Eu vou ser bonzinho! – diz o anjinho.

Continuo pensando: "Nem vou ser tão exigente com o próximo filho".

- Quero que seja tão exigente comigo como foi com o Victor. – responde.

"Ele tá sondando meus pensamentos... Como faz isso?" – reflito, bem intrigada.

Mais dias se passaram... estava deitada na cama e o anjinho se aproxima e diz:

- Quero ir pra aí...

- Eu quero que venha, é o Edgar que não quer! Vai falar com ele! – retruco, já brava.

Ele sai do quarto. Posso sentir seus movimentos, a distância, o tamanho dele, não sei como explicar.... Depois disso, nunca mais falou comigo, será que ficou chateado?

- Sonhei com uma menina, ela vinha de mãos dadas com alguém e segurava uma boneca. – contou Edgar.

- E como ela era? – perguntei.

- Bonita, usava um vestido e tinha um laço na cabeça. Venho sonhando com essa menina há várias noites... – e continua. – Ela me chama pra brincar! Até fiquei com vontade de ter um filho.

Ri do sonho, como se fosse tolo, mas, na verdade, fiquei intrigada.

"Será que o anjinho é uma menina? " – pensei.

Contei a Edgar sobre o anjinho, ouviu com desconfiança e não emitiu opinião.

Repentinamente, os sonhos desapareceram e o anjinho ficou em silêncio.

"O que aconteceu? Pra onde ele foi?" – perguntava-me, com temor.

Passaram-se alguns meses... Eu engravidei! Para a surpresa de todos: era um menino! Seu nome: Luigi. Será que o anjinho vai gostar desse nome quando nascer?

Sempre que orava pelo bebê, Deus me dava uma visão: uma luzinha brilhante junto dele.

Essa visão me tranquilizava, pois dava-me a certeza de que Deus olhava por nós.

No tempo certo ele nasceu. O anjinho, com quem conversava, veio para cá como bebê. Reconheci seu espírito e pude cuidar dele.

Luigi foi crescendo, e, surpreendentemente, gostava de bonecas: as penteava enquanto assistia desenhos.

- Luigi... eu gosto do meu nome, Luigi. – disse ele.

Numa bela manhã de sábado fomos andando até a padaria. Luigi, já com dois anos, estava no colo do pai e perguntou:

- Eu sou bonzinho, né, papai? Sou bonzinho, né, mamãe? Sou bonzinho...

- Sim, você é bonzinho, Luigi, um anjinho. – respondi carinhosamente.

E pensei: "Meu Deus! Ele disse isso antes de nascer! Cumpriu o que prometeu, ele é bonzinho...".

Edgar colocou Luigi no chão, para correr um pouco:

- Durante o banho, Luigi falou que lembrava que conversava com você, antes de nascer. – contou Edgar, intrigado.

- Nunca comentamos disso na frente dele...

- Eu sei, fale com ele depois.

Chegando em casa perguntei curiosa:

- Luigi, você lembra que conversou com a mamãe antes de nascer?

- Lembro. – respondeu calmamente.

- E onde você estava?

- Aqui! Com você!

- E o que você queria?

- Eu queria colo, queria tête.

- E o que a gente conversava?

- Não lembro...

E uma voz fala comigo, em pensamento:

- Será dado esquecimento a ele. Daqui em diante não se lembrará de mais nada.

- Então tudo o que aconteceu, antes dele nascer, não era coisa da minha cabeça?

- Não era! Sua fé vai aumentar depois disso.

"Essa voz interior era um anjo! Era um anjo que falava comigo! Agora sei disso, pois percebi sua presença boa! " – penso admirada.

O anjo se vai e eu medito:

"Então é possível conhecer o espírito antes dele nascer! E como é curioso vê-lo depois, com um corpo, e cuidá-lo, como filho. Mas... se existe vida antes do nascimento, de onde vêm esses anjinhos? "

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