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Capítulo Três

Maddison Junez 

Estava frio. 

A Martina falou que iria chegar cedo como combinado, mas estava ficando escuro. Era estranho ter a minha mãe no meu apartamento da universidade para se esconder. Não poderíamos voltar para casa. Estava muito perigoso para voltar. O sentido de casa não era para sentir dessa forma, muito menos com medo de voltar no lugar onde você se sente comfortável. 

Não sabia muito menos se o meu pai estaria nas ruas á procura de nós ou estar mais perto do que nós pensávamos. Isso acaba me arrepiando junto com o frio da estrada. Um Mercedes aproximou da rua, estacionando perto do parque de estacionamento. Apenas poderia ser alguém rica, fazendo assim a pessoa sair do carro. Era uma senhora de idade, de cabelos escuros com óculos escuros, caminhando lentamente.

Minha mãe parecia nervosa, então segurei a mão dela, fazendo outro carro acelerado vir e parar na nossa frente, assustando a senhora e a nós. Logo que o carro desligou, já dava para perceber quem estava no carro: Martina. Ela era a melhor amiga da minha mãe por anos. 

— Gente sem educação. — falou a senhora, olhando para a Martina, passando á frente sem dizer mais nada. 

 Martina simplesmente jogou a língua para fora, fazendo careta atrás da senhora sem ela perceber, logo caminhando em nossa direção. Ela sempre usava roupa comfortável, então notava o quão energética ela era, completamente cheia de vida. Ela parecia ser aquelas mulheres que mesmo sozinha, ela se dava bem porque amava a própria companhia.

Após notar a nossa existência, os seus olhos foram diretamente para a minha mãe, fazendo ela olhar de cima para baixo. Ambas pareciam que não estavam se reconhecendo, mas sabiam quem era uma a outra. O ambiente ficou estranho. Martina apenas segurou a mão da minha mãe e simplesmente encarou a mesma. 

— O que aconteceu, Naira? 

Minha mãe não respondeu. 

Ela abaixou a cabeça, se encolhendo aos poucos, segurando a mão da Martina com força. O seu corpo foi se tremendo com a raiva e medo que ela segurava por anos e mesmo assim não poderia nem fazer nada com aquilo. Já estava colado dentro dela fazendo raízes. Mesmo assim, minha mãe não fez com que aquilo a alimentasse e tornasse uma pessoa asquerosa, capaz de matar alguém. 

Já eu…

Martina segurou firmemente a mão da minha mãe, segurando o meu pescoço, puxando para perto dela, colocando a minha cabeça no peito dela, fazendo ela me dar um beijo na minha testa, acarenciando o meu cabelo. Eu não conseguia entender quem era aquela mulher e nunca tinha visto ela na vida. Apenas ouvi sobre ela, porque a minha mãe disse que ela seria a única pessoa que poderia ajudar neste mundo. 

Naquela mesma tarde, logo do pôr do sol estar a expôr, liguei na Martina. Com certeza que ela estranhou pela minha voz de quem era e com quem ela estava falando, mas apenas dizer que eu era a filha da Naira Junez fez ela perder o fôlego e ficar sem falar direito por dois minutos. Foi uma chamada completamente estranha, mas dava para entender o por quê. Era alguém especial. 

— Você fez bem, garotinha. — disse a Martina acarenciando o meu queixo, dando um leve sorriso.

 — Você cuidou da sua mãe. Sei que vai sentir saudades dela, mas pode ligar nela sempre que quiser. 

O melhor é não ver ela até o seu pai estar preso ou der um sinal de onde ele está.

Engoli em seco porque sabia que a minha mãe estava correndo o risco, mas eu também. Martina acredita que eu vou ter mais segurança estudando longe dele, pois as autoridades não iriam deixar o meu pai entrar no meu apartamento tão facilmente. Ela tinha um plano, mas não se sabia qual plano que ela estava seguindo. Apenas tinha que confiar nela nas mãos da minha mãe, pois sabia que ela era pessoa de confiança.

Peguei as malas da minha mãe, caminhando para o carro da Martina, abrindo a bagagem de trás, colocando as malas ali, enquanto a minha mãe se acalmava nos braços da Martina. Nunca tinha visto a minha mãe daquela forma e mesmo assim, não sentia que estava fazendo o suficiente. Logo que as malas se encaixaram, fechei a porta da bagagem, caminhando até a minha mãe. 

Eu sabia que naquele momento poderia ser a última vez que iria a ver se as coisas dessem errado. Eu não queria isso. Estava confiando na Martina para proteger a minha mãe e fazer com que o meu pai nos deixasse em paz de vez. Coisa que eu duvido pouco em acontecer. 

O olhar da minha mãe estava se escurecendo, quase não via as pupilas. As lágrimas gordas estavam presas nos seus olhos, querendo cair em seu rosto em qualquer momento. Foi naquele momento que ela sorriu. Era um sorriso que nunca tinha visto, fazendo o meu corpo esquentar. Aquele me surpreendeu. Talvez eu estava feliz demais por saber que a minha mãe estava bem. Ou era alívio?

Tem vezes que o nosso corpo acaba nos controlando apenas pela nossa vontade, mas é a função dele. O problema é que o coração está sempre em guerra com o cérebro. O cérebro pode ser frio com as pessoas, mas o coração acaba com tudo. Nos deixa mais macios e doces. E por um motivo, isso pode ser bom, porque você não tem o orgulho ao lado.

Martina se afastou aos poucos e nos deixou a sós. Eu mesma sabia que aquilo poderia demorar se o meu pai não fosse dar sinal e isso seria muito ruim. Isso significava que ele estava mais perto que nunca. Ela acarenciava o meu rosto como se fosse um adeus e isso estava me doendo. Não sabia o que estava por vir e então, eu estava com medo. 

— Vai ficar tudo bem, okay? — falou a minha mãe, dando um leve sorriso, olhando para o meu rosto.

— Você tem a certeza que vai ficar bem? Por favor, me liga quando chegar lá. Eu quero que dê certo—

— Filha, você não tem como controlar isso. Nós já conseguimos a cereja do bolo. Você pode respirar agora. — interrompeu a mesma, soluçando aos poucos, aproximando de mim, me abraçando com força, deixando um beijo na minha testa. 

Nós já conseguimos a cereja do bolo. Você pode respirar agora.

O que ela quis dizer com isso? 

Com isso, aproveitei cada aperto nos braços grandes e quentes, me encolhendo, sentindo o cheiro dela natural que ela sempre teve. Estava fazendo tarde e iria ficar escuro, fazendo assim a Martina chamar a minha mãe e a mesma entrar no carro. Despedi das duas e fique na estrada esperando o carro arrancar. Poderia ver o carro de longe junto com o pôr do sol, fazendo o veículo desaparecer aos poucos até eu não puder ver mais. 

Senti um vazio. Estava sozinha agora e não sabia como iria lidar com isso, principalmente sem ter tanto dinheiro. Lentamente fui caminhando para a loja de conveniência para pegar o meu jantar para uma semana, por volta de 7 noodles. De diferente sabores. Olhei na loja em volta e parecia estranha pelo clima. 

Ao pegar o último noodles, senti que alguém estava olhando para mim, como se os olhos estivessem na minha nuca, me deixando completamente arrepiada, passando a mão no local, olhando para trás. Não tinha nada. Engoli em seco e caminhando rapidamente para pagar, deixando uma nota de 10. Pegando num saco, jogando todos os noodles dentro, saindo da loja. 

Não estava me sentindo segura por algum motivo, mesmo que eu estivesse sozinha e longe do meu pai. Apressei o passo e caminhei para a porta do meu apartamento, destrancando a porta, entrando para dentro, fechando a porta com força. Me encostei na porta, dando um leve suspirando, contando números repetivamente.

O céu já não dava sinal do sol e por aí, decidi relaxar, pois sabia que em poucos dias iria começar a estudar na grande universidade que tanto queria. Eu iria realizar o sonho que tinha desde criança. Nada iria me parar naquele momento, era eu e eu agora. E nada mais. Eu queria finalmente puder focar em mim e apagar todos os problemas que tinha. 

Ao colocar os noodles no lugar, comecei a arrumar as coisas do apartamente já que parecia ainda desarrumado e as coisas ainda estavam dentro das malas. Eram muitas malas. Talvez não ia conseguir aquilo tudo em uma noite só, então arrumei o mais importante que era o material para as aulas. 

Coloquei as coisas na mala e sabia que naquele exato momento, iria ter um novo começo na minha vida. Um banho quente poderia resolver tudo e apagar todos os meus problemas, mas tinha alguma coisa que estava presa na minha cabeça que queria apagar. A imagem ainda estava diretamente clara e isso estava me atormentando. 

Molhei o meu cabelo, dando um leve suspiro e mesmo assim, a imagem continuava clara mesmo com os olhos claros. Aquilo estava me atormentando, mesmo que fosse algo bom. Talvez porque as coisas boas e doces são as coisas mais dificéis de largar. 

E sim, era ele.