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Feiticeira, Parte Três

Javir sentou-se na beira da cama na estalagem, sua mente ainda girando pelos eventos do dia.

[Uma nim que consegue lançar feitiços,] ela pensou, balançando a cabeça em descrença. [E uma possível prodígio nisso. Quais são as chances?]

Ela se jogou de volta no colchão, olhando para o teto.

[Talvez isso seja o que eu precisava. Algo para tirar minha mente de-]

Seus pensamentos foram interrompidos por uma batida na janela. Javir se sentou, franzindo a testa em confusão.

[Que diabos?]

Ela atravessou o quarto, espiando para fora na noite. Lá, empoleirado no peitoril da janela, estava um pequeno pássaro, um envelope preso em seu bico.

Os olhos de Javir se arregalaram em reconhecimento.

[Um pássaro mensageiro? Quem estaria me enviando cartas até aqui?]

Ela abriu a janela, cuidadosamente tirando o envelope do bico do pássaro. Ele piou uma vez, então voou para a escuridão.

Com um suspiro, Javir rasgou o envelope, desdobrando a carta dentro.

"Querida Javir," dizia, "Espero que esta mensagem a encontre bem. Soube do que aconteceu na academia, e só queria dizer como sinto muito. A maneira como te trataram foi de mau gosto e injusta. Sei que você só estava tentando fazer o que era certo. Por favor, considere voltar. A academia precisa de alguém como você, alguém com uma forte bússola moral e paixão pelo ensino. Pense nisso. Sua, Miria."

Javir bufou, amassando a carta em sua mão.

"Tudo o que fiz foi apoiar uma garota nim," ela murmurou, jogando a bola de papel na cesta de lixo. "E aparentemente, isso é suficiente para te isolarem nos dias de hoje."

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Na manhã seguinte, Javir dirigiu-se à Casa Blackflame, pronta para continuar a educação mágica de Melisa.

Ela encontrou a garota esperando por ela no jardim, pulando de ponta dos pés com excitação mal contida.

"Javir!" Melisa chamou, acenando entusiasmadamente. "Você está aqui!"

Javir riu, colocando sua mochila no chão.

"Claro que estou. Ainda não conheci um professor que tivesse o costume de chegar tarde."

Melisa sorriu, mas então seu rosto ficou sério.

"Antes de começarmos, porém, preciso de um favor."

Javir ergueu uma sobrancelha, curiosa.

"Oh? E o que seria?"

Melisa remexeu nos pés, parecendo um pouco envergonhada.

"Bem, é só que... eu preciso de alguns abraços e beijos para poder usar magia. Você sabe, por causa da coisa toda nim."

Javir piscou, surpresa.

[Certo. Eu tinha esquecido desse pequeno detalhe.]

Mas vendo o olhar esperançoso no rosto de Melisa, ela não conseguiu recusar.

"Tudo bem, garota. Vem aqui."

Ela abriu os braços, e Melisa praticamente saltou para eles, abraçando-a apertado. Javir retribuiu o abraço, sentindo um calor estranho se espalhando pelo seu peito.

[Isso é... bom. Quando foi a última vez que abracei alguém assim?]

Depois de um momento, Melisa se afastou, olhando para Javir expectante.

"Beijos também, lembra?"

Javir riu, revirando os olhos, e deu um beijo rápido na testa da garota.

"Pronto. Satisfeita?"

Melisa afirmou com a cabeça.

"Sim!"

E, com isso, ela saiu pulando, pergaminho em mãos, deixando Javir balançando a cabeça em diversão.

[Ela é realmente um punhado.]

Mas enquanto observava Melisa praticar o feitiço, seus movimentos já mais fluidos e confiantes do que no dia anterior, Javir não conseguia deixar de se impressionar.

[Caramba, ela está pegando isso rápido. Suas habilidades de memorização pelo menos são incríveis.]

Melisa girou, um sorriso largo no rosto.

"Você viu isso, Javir? Acho que quase consegui!"

Javir concordou, um sorriso orgulhoso surgindo em seus lábios.

"Você está indo muito bem, garota. Continue assim, e você será mestre em pouco tempo."

Melisa brilhou, virando-se de volta.

Por um tempo, Javir apenas observou enquanto Melisa trabalhava para dominar o feitiço Ventos Gelados, o feitiço que Javir estava ensinando a ela.

A garota estava tão focada que era fofo. Ela movia uma mão no ar, ensaiando o signo de feitiços, os olhos fixos no pergaminho.

[Ela pegou os movimentos habilmente,] Javir refletiu. [Agora é apenas uma questão de canalizar a quantidade certa de Essência e pronunciar a invocação corretamente.]

Como se estivesse em sintonia, Melisa respirou fundo, seus olhos ardendo de determinação.

"Frigus, ventus, veni!"

Uma rajada de vento gelado explodiu de suas mãos estendidas, girando ao seu redor em um mini redemoinho. Melisa riu de alegria.

As sobrancelhas de Javir se ergueram, um sorriso se espalhando em seu rosto.

[Bem, eu vou ser danada. Ela realmente conseguiu! E rápido, também.]

Ela se lembrava claramente de muitos de seus alunos anteriores, principalmente adolescentes e adultos de verdade, lutando com esse feitiço específico.

[... Mas ela fez parecer fácil. Caramba.]

Enquanto o vento gelado baixava, Melisa se virou para Javir, um sorriso triunfante no rosto.

"Você viu? Eu consegui!"

Javir riu, concordando com aprovação.

"Eu vi. E tenho que dizer, estou impressionada. Você pegou isso muito mais rápido do que a maioria dos meus alunos antigos."

Melisa ergueu uma sobrancelha, mas assim que pareceu que ia fazer uma pergunta, um pensamento ocorreu a ela.

"Oh! Espere, já volto!"

Ela correu para dentro da casa, deixando Javir piscando em confusão.

[O que ela vai fazer agora?]

Poucos momentos depois, Melisa voltou correndo, os braços cheios de pedras pequenas e lisas.

Javir inclinou a cabeça, curiosa.

"E essas são para quê?"

Melisa sorriu, despejando as pedras aos pés de Javir.

"Vou esculpir o signo de feitiços nelas! Assim, posso fazer runas desses feitiços e vendê-las para meus vizinhos. Bem esperto, né?"

A mandíbula de Javir caiu, sua mente girando.

[Ela... Ela vai fazer runas? Nessa idade? Sem treinamento formal?]

Ela balançou a cabeça, uma risada incrédula escapando de seus lábios.

"Melisa, quantos anos você tem mesmo?"

A garota estufou o peito, parecendo orgulhosa.

"Nove! Bem, quase dez, mas ainda assim."

Javir passou a mão pelos cabelos claros com o sol, espantada.

"E você descobriu como fazer runas sozinha? Ninguém te ensinou?"

Melisa assentiu, começando a esculpir o primeiro signo de feitiços em uma pedra com uma pequena faca.

"Sim! Quer dizer, eu tinha alguns livros para me ajudar, mas fiz toda a experimentação e tal por conta própria."

Ela olhou para Javir.

"Ei, você acha que poderia energizar essas runas com sua Essência depois que eu terminar de esculpi-las? Aposto que elas venderiam muito mais se já viessem pré-carregadas!"

Javir sorriu, uma ideia travessa se formando em sua mente.

"Diga o que, garota. Vou fazer melhor por você."

Ela se inclinou, sussurrando conspiratoriamente.

"Que tal aprender a infundir runas com Essência diretamente do ambiente? Sem precisar do poder pessoal de um mago."

Os olhos de Melisa se arregalaram, a emoção praticamente vibrando nela.

"Sério? Você pode me ensinar isso?"

Javir sorriu, bagunçando os cabelos da garota.

"Com certeza posso. Mas primeiro, provavelmente devemos pedir permissão à sua mãe... Aliás, que tal chamá-la para vir aqui e perguntarmos se ela pode vir conosco."

Melisa assentiu, saltitando sobre os dedos dos pés.

"Certo! Vou perguntar a ela agora mesmo!"

Ela correu de novo, deixando Javir rindo enquanto ela se afastava.

[... Ela descobriu como lançar feitiços como uma garota nim, aprende signos de feitiços tão rapidamente e descobriu a magia das runas sozinha, sem nenhum professor por perto?]

Javir balançou a cabeça.

[Isso é meio assustador.]

---

Um tempo depois, Javir, Margaret e Melisa caminhavam pela floresta perto da aldeia, o sol filtrando através do dossel de folhas acima delas.

Melisa saltava de árvore em árvore, seus olhos arregalados de admiração enquanto absorvia cada pequeno detalhe ao seu redor.

"OOH, olha esse cogumelo engraçado! E esse inseto estranho! Ei, que tipo de pássaro é esse? É tão colorido!"

Margaret riu, balançando a cabeça ante a curiosidade sem limites de sua filha.

"Melisa, querida, por favor, fique por perto. Não queremos que você se perca por aqui."

Javir sorria, observando as travessuras da garota com diversão.

"Ela é bastante enérgica, não é? Acho que nunca vi uma criança tão empolgada com a natureza. A maioria das pessoas lá de casa prefere ficar dentro de casa."

Margaret sorriu, uma ponta de orgulho em sua voz.

"Eu também não. Mas, eu acho... Desde que ela estava doente por tanto tempo, agora que melhorou, ela está ansiosa para compensar o tempo perdido."

Javir assentiu, respirando fundo enquanto caminhava ao lado da mulher nim.

Ela sabia que estava se aproximando demais, respirando os feromônios intoxicantes de Margaret, mas naquele momento, ela não conseguia se importar.

[Só um pouco mais,] ela pensou, saboreando a sensação quente e difusa se espalhando por seu peito. [Qual o mal em aproveitar a companhia dela por um tempo?]

Margaret virou-se para Javir, um olhar indagativo em seu rosto.

"Então, o que exatamente estamos procurando aqui fora? Você mencionou algo sobre um lago especial?"

Javir assentiu, desviando o olhar dos traços atraentes de Margaret.

"Isso mesmo. É um tipo específico de lago, erm, um com água azul brilhante. Mas não é só água - é Essência líquida pura."

Os olhos de Margaret se arregalaram, impressionada.

"Essência líquida? Nunca ouvi falar de tal coisa."

Javir sorriu.

"Poucas pessoas ouviram. É um achado raro, mas se conseguirmos localizar um, tornará muito mais fácil infundir essas runas."

Enquanto caminhavam, Javir se viu cada vez mais curiosa sobre... certos aspectos da vida de Margaret.

Sem motivo algum.

"Então, se você não se importa que eu pergunte... como você e Melistair se conheceram? O que..."

[Como se pergunta isso exatamente?]

Ela decidiu por:

"Como é um casamento entre nim?"

"Nunca viu um antes?"

"Não posso dizer que sim. Nim lá de casa são..." Ela desviou o olhar. "Não tão livres quanto aqui."

Margaret assentiu.

"Bem, nós nos conhecemos desde crianças. Crescemos nessa aldeia, nos apaixonamos na adolescência. Quanto ao nosso casamento..."

Ela fez uma pausa, um brilho de entendimento em seu olhar.

"Vamos dizer que temos um entendimento. Um acordo aberto, se preferir."

Javir assentiu, não totalmente surpresa (e apenas levemente aliviada).

[Faz sentido. Quando o sexo é tão necessário quanto comida, a monogamia é simplesmente ilógica. A menos que seu parceiro seja particularmente dedicado, eu acho.]

De repente, a voz animada de Melisa soou através das árvores.

"Ei, acho que encontrei! O lago azul!"

Javir e Margaret correram até lá, e lá estava - um pequeno lago de água cristalina, brilhando com uma luz azul etérea.

Melisa, em sua empolgação, quase caiu de cabeça no lago, mas os reflexos rápidos de Javir a salvaram a tempo.

"Calma, garota! Cuidado. Essa não é uma água comum. Se você caísse e acabasse bebendo essa água, você... Bem, muitos efeitos colaterais poderiam ocorrer, e poucos deles seriam bons."

Melisa fez beicinho, mas obedeceu, afastando-se da borda.

Javir se ajoelhou ao lado do lago, gesticulando para Margaret e Melisa se juntarem a ela.

"Certo, vamos começar. Melisa, me dê uma daquelas runas que você esculpiu."

Enquanto Margaret se ajoelhava ao lado dela, Javir se viu de repente, intensamente consciente da proximidade da mulher. O modo como sua camisa caía com a gravidade, dando a Javir apenas uma pequena espiada em seu peito.

Seus olhos se encontraram, e por um momento, ficou mais difícil respirar.

[Esses olhos... Deuses, ela é linda,] Javir pensou, seu coração batendo forte no peito.

Margaret corou com um pequeno sorriso tímido.

Mas antes que qualquer uma delas pudesse dizer ou fazer algo, Javir sentiu um arrepio familiar percorrer sua espinha.

Os pelos na nuca dela se eriçaram.

Uma sensação de temor se instalou em seu estômago.

[Não... Não pode ser...]

Ela se levantou abruptamente, a mão alcançando a espada em seu quadril.

"Margaret, Melisa, fiquem atrás de mim. Agora."

A mulher nim piscou, surpresa com a mudança súbita no comportamento de Javir.

"O quê? Por quê? O que está acontecendo?"

Javir cerrou os dentes, seus olhos vasculhando o contorno das árvores.

Esse sentimento frio só poderia significar uma coisa.

"Magos das Sombras."

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