webnovel

Sacrifício

26 de abril de 2014, Dynami, Brasil.

Em um cemitério na cidade de Dynami, um funeral ocorria sob um céu sombrio coberto por nuvens escuras. Entre os poucos presentes, um menino de 10 anos, chamado Koji, olhou com consternação para o túmulo de sua mãe, Jenna Fuller, e perguntou inocentemente ao pai, Norman Fuller.

— O senhor está bem?

— Estou — respondeu Norman, sua voz soava calma e com uma segurança admirável.

No entanto, o garoto surpreendeu seu pai com uma nova pergunta, no mínimo desafiadora.

— Quem o senhor acha que matou a mamãe? 

A pergunta comoveu Norman. Ele ficou nervoso e agachou-se para conversar com o filho. 

— Chega de perguntas. Eu não quero ouvir isso aqui. Falar dessas coisas agora é um desrespeito com a sua mãe.

A postura segura de Norman demonstrava as suas raízes alemãs, o sucesso na carreira acadêmica e no mercado financeiro, como gestor de investimentos internacionais, não havia sido por acaso.

Depois de uma tarde melancólica, Norman e Koji chegaram em casa encharcados pela chuva e, após uma série de banhos rápidos, o menino subiu as escadas até seu quarto, enquanto Norman se confinou no escritório. Com uma luz fluorescente acima de sua mesa, ele procurou, examinou e leu alguns arquivos amadores sobre Os Demônios de Oxford, um livro publicado em 1931 por um jornalista britânico chamado Lenny Chesterton. Estes arquivos relataram ensinamentos para as práticas de dois rituais, o tradicional e o proibido.

Os demônios eram entidades poderosas seduzidas por suas escritas, artefatos antigos que os invocavam. Após a escrita ser encontrada e citada em voz alta, uma negociação de sacrifícios entre humano e demônio ocorria, em caso de acerto entre as ambas partes, o demônio sacrificava o que foi negociado, enquanto uma técnica de poder sobre-humano seria concedida ao indivíduo. Em caso de rejeição, o humano morreria. 

No ritual proibido, uma vida humana era tirada, um membro de seu corpo era decapitado, e em seguida usado de maneira negligente e imoral, como uma escrita para iniciar o ritual. Contudo, ainda necessitava comer o membro cortado, banhar as mãos com sangue humano e citar a reza das escritas em voz alta. Por fim, uma marca apareceria e passaria a fazer parte do corpo, como uma tatuagem. 

Nesse momento, o celular de Norman tocou.

— Alex? Alguma novidade? 

Alex era advogado de Norman Fuller há muitos anos, a sua personalidade materialista tornava-o alguém apegado em objetivos que elevasse o seu status, incluindo corrupções e falsas acusações, caso fosse necessário.

— Boa noite, Norman! Eu nunca vi um escritório tão agitado como hoje! Mas olha... tenho uma ótima notícia para você! — gritou Alex, incomodado com o alto barulho no escritório.

— Estou escutando.

— O seu nome continua entre os suspeitos, mas estou próximo de ter o juiz do nosso lado. O caso da Sra. Jenna Fuller está afunilando e precisamos oferecer um valor para vossa excelência, tem uma quantia para agora?

— Fala que eu tenho $500 mil — afirmou Norman, de pé em frente a sua mesa, nervoso, inquieto e se movimentando bastante.

— Isso tudo? É muito dinheiro, tem certeza?

— Eu não vou precisar mais de dinheiro. Você já tem todas as minhas informações bancárias, então só acelera tudo, ok? — ofegante e suando, disse o Norman.

A ligação foi desligada abruptamente por Norman, que correu para a cozinha gritando por seu filho. 

— Filho! Koji! Vem comer!

Ele tirou uma macarronada deliciosa do micro-ondas e colocou sobre a mesa, Koji não demorou nenhum pouco, imediatamente chegou e sentou em uma das cadeiras. 

— Macarronada? Não acredito que foi o senhor que fez — com um sorriso discreto, brincou o garoto.

— É melhor não desacreditar de mim hein — rebateu Norman, em tom de brincadeira enquanto despejava a macarronada no prato do filho.

Koji pegou o seu prato de macarrão e começou a comer. Norman, cuidadosamente, retirou um copo de líquido vermelho do forno, que no caso era sangue, como ensinava nos rituais. 

— Pai, esse macarrão é diferente — disse Koji, de boca cheia e impressionado com o gosto exótico.

De repente, Norman jogou o sangue nas mãos do filho, atingindo parcialmente a face do menino, e citou a reza das escritas.

— Veniant umbrae, devorent omnes lucem quaerentes, martyr magnas massas, fac novus mundus domum tuam.

— Deixem as sombras virem, devorem todos que buscam a luz, martirizem as grandes massas, façam do Novo mundo, a sua casa.

Com uma dor e ardência inimaginável, Koji olhou para o antebraço direito e percebeu que uma escrita havia surgido. Os gritos de angústia e desespero do garoto eram tão altos que os vizinhos ouviram. 

Norman foi ao seu escritório, voltou com uma pistola 12mm, aproximou-se do filho e falou pausadamente. 

— Filho... o que fiz vai te ajudar, você terá uma sombra e ela vai sempre te defender, você não sentirá mais medo, muito menos preocupação. Eles estão chegando, a cada ano que passa, eu sei que vão chegar e não quero que meu filho sofra com eles. Vai ser bom reencontrar sua mãe... tchau filho.

BANG!

Com um tiro na cabeça, Norman cometeu suicídio na frente do filho. O sangue espalhado pela cara do garotinho foi como uma encenação cinematográfica de um pintor famoso jogando tinta em sua tela de arte.

O som do disparo percorreu a vizinhança, e um agente chamado Sam, de vestimenta preta e comportamento silencioso, invadiu a casa armado. Nada de perigoso foi encontrado, apenas um garoto de 10 anos com sangue nas mãos e no rosto que havia testemunhado o suicídio do pai minutos antes.

Bab berikutnya