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CAPÍTULO 1 - MUNDOS DE INJUSTIÇA

A luz forte cegava os cansados olhos do garoto que parecia viajar dentro de sua própria consciência. Seus olhos abriam levemente enquanto a luz penetrava sua retina e a fazia queimar. Exitando abrir totalmente os olhos, ele não conseguiu ver nada do que estava ao seu redor, apenas sentiu o queimar em sua pele e a luz penetrar o pouco espaço que havia aberto em seu olho.

Seu corpo estava mais leve, como se estivesse flutuando em meio ao vazio do céu. Batendo seus braços repetidas vezes, não conseguiu sentir seus movimentos, nem mesmo o peso de seu próprio corpo. O desespero começou a tomar sua expressão antes que ele mesmo notasse esse sentimento em sua alma. Seus sentidos assim como sua percepção pareciam estar sendo afetados de forma extrema, o que estava o deixando mais confuso em relação a entender tudo que estava ao seu redor.

"Você chegou, finalmente."

Uma voz atravessou os ouvidos vindo de alguma parte daquele lugar. Movendo a cabeça em todas as direções, ele ainda exitava em abrir seus olhos, pois a luz ainda os incomodava, mesmo totalmente fechados.

De uma vez, o corpo voltou a pesar, seu raciocínio se estabeleceu, seus pensamentos voltaram a ter forma de voz em sua cabeça e as cores ao redor não incomodavam mais. Em segundos, os lindos e claros olhos dele foram se acostumando novamente com as cores ao redor, e aos poucos transmitiam todas as informações a seu cérebro. Pouco a pouco, visualizou tudo ao seu redor, que parecia bem incomum de acordo com sua última memória. Sua percepção ainda estava danificada, mas a partir dali ele poderia recuperá-la pouco a pouco.

"Onde estou?!"

Seu pensamento tomou forma de voz e acabou saindo sem que nem mesmo ele notasse, isso o deixou ainda mais pensativo sobre o que está acontecendo ao seu redor. Sua percepção de mundo tinha sido alterada de uma vez em apenas um piscar de olhos, as cores diversas penetraram seus olhos de uma vez, machucando a retina que tinha se acostumado apenas a luz branca de pouco tempo atrás. Visualizando cada parte ao seu redor seus pensamentos voltaram a tomar forma de voz.

"As casas não parecem nada modernas, e parece que estou no meio de uma feira."

Ele então levantou seus olhos e visualizou todo o lugar ao seu redor, tendo certeza de sua conclusão anterior. Sua percepção tinha sido recuperada naquele mesmo momento e seu cérebro já tinha se conectado aos batimentos de seu coração. Daquele momento em diante ele sabia que poderia contar com suas capacidades físicas e mentais para resolver o problema que estava começando a viver a partir do momento em que seu mundo foi tomado por uma luz branca.

Tudo estava ficando mais claro, o movimento de demi-humanos e lagartos gigantes carregando carroças ao seu redor o ajudava a esclarecer mais facilmente o que estava acontecendo. Segundos foram o necessário para alinhar os pensamentos, fortes o suficiente para se projetarem novamente em voz

"Eu estou… em um mundo paralelo. Aparentemente com uma cultura medieval e mágica."

Até aquele momento, não havia nem mesmo movido um músculo do lugar onde havia sido invocado, o que o fez começar a pensar logo em seu próximo passo. Sua cabeça rapidamente já tinha entendido e aceitado a idéia do novo mundo, mas nem mesmo pensou por segundos sobre o que faria ali. Apenas decidiu se mover como parte de uma reação instintiva, indo para a direção de uma barraca de frutas.

Sem noção de linguagem, a primeira ação tomada foi tentar ler um cartaz que estava colado a frutas na banca de um vendedor de cabelo roxo vinho. Parando em frente a banca, notou escritos similares aos kanjis, porém com formas desconhecidas, Indicando que não era a mesma linguagem que ele conhecia de seu mundo anterior.

– "Isso não me parece tão surpreendente assim, sinceramente! É o clichê de toda invocação de jogos."

Projetando seus pensamentos acima de suas ações ele acabou perdendo um pouco de seu foco apenas relacionando seus conhecimentos sobre invocações em jogos.

– "… Esse não é o foco! - Ele pensou enquanto acertava seu próprio rosto com dois leves tapas na parte inferior das bochechas, sendo um tapa em cada bochecha."

Deixando tudo aquilo de lado, ele voltou a pensar em como deveria resolver aquela situação. Logo que sua noção sobre linguagem escrita foi entendida, decidiu tentar se comunicar com o dono da banca de frutas.

"..."

Parado a frente do homem, ele mal conseguiu abrir sua boca. Sua voz não se formou em som nenhum, o fazendo apenas ficar parado em pé encarando o vendedor, que de modo desconfiado o encarava de volta.

"Você está com algum problema, garoto?"

Estendendo o corpo para a frente, o dono da banca perguntou ao garoto, que instintivamente apenas mexeu sua cabeça enquanto formava uma expressão de dúvida em seu rosto. No fundo, ele estava aliviado por entender o idioma dito pelo vendedor, porém sua ansiedade para se comunicar ainda o atrapalhava de falar o que queria.

"Muito obrigado." Disse o garoto em forma de agradecimento sincero, se virando logo após para ir embora em direção a rua principal da feira onde ele estava

A expressão do vendedor ao ver aquilo era de confusão, sem conseguir transmitir em palavras, sua surpresa foi demonstrada através de sua reação, ao esticar o braço em direção ao garoto, que já tinha ido. Mesmo sendo uma pessoa mais velha sua voz se negou a ser projetada em direção ao garoto naquele momento, o sentimento de surpresa e decepção que se juntou no coração daquele vendedor o fez em seu interior negar uma ajuda a uma pessoa que claramente ia precisar em algum momento.

O dia daquele vendedor tinha acabado ali, ele não tinha mais ânimo para continuar depois de ver o garoto sumir em meio a multidão que atravessava as ruas naquele momento. Com seu coração coberto de culpa, ele decidiu prometer para si mesmo: "eu ainda terei a chance de te ajudar garoto, e eu prometo que farei sem hesitar"

2

Em meio a grande multidão que o cercava naquele momento, ele parecia um garoto totalmente deslocado e perdido de sua mãe. Seu andar era desengonçado e seus olhos pareciam procurar por alguém, por mais que em seu interior ele nem mesmo cogitava encontrar ou pedir ajuda a alguém. Sua cabeça baixa demonstrava seu pensar em relação às escolhas e ações que havia tomado, aquilo martelava em sua cabeça por mais simples que pudesse parecer nessa altura do campeonato…

— "O que eu fiz, eu acho que não agi de forma certa…"

Em meio a seus pensamentos, ele continuou andando pelo centro da feira, totalmente sem rumo e sem noção alguma de seu próximo passo. Sua ansiedade o fazia tremer apenas de pensar sobre a necessidade de se comunicar. Em seu mundo anterior aquilo não parecia um problema tão grande, mas em sua situação atual era impossível evitar os diálogos longos. Seu corpo estava trêmulo e seus olhos se diminuiram junto ao brilho que o cercava.

Sua pupila que diminuía lentamente se encheu de terra de repente, aumentando o dobro de seu tamanho normal em poucos instantes. No tempo de apenas três batimentos de seu coração ele sentiu que tudo ao redor tinha mudado, não apenas seus olhos. Seu corpo se encheu de calor e a adrenalina parecia mágicamente aparecer em seu corpo de forma extrema. Ouvindo um barulho alto que já estava ao seu lado e sem tempo para ter um reflexo decente, ele apenas conseguiu se virar para ver o que se aproximava…

"Saia da frente!"

Uma voz feminina jovem atravessou os pensamentos dele, o que o fez levantar seu olhar na direção de onde vinha aquela voz. Logo, seus olhos visualizam uma jovem garota de cabelo curto e loiro, roupas gastas e uma joia em sua mão esquerda. A característica mais notável dela era sua agilidade. Seu tamanho menor parecia ajudá-la a ter mais velocidade.

"Saia logo!"

Vindo em linha reta na direção do garoto, ela não pareceu mudar sua rota por ele estar ali. Ele mesmo não teve reação e nem mesmo reflexo para desviar daquilo, então apenas fechou seus olhos, ouvindo aquela voz se repetir novamente o pedindo-lhe para sair. Seu corpo mesmo em adrenalina não conseguiu exercer uma ação sobre aquele acontecimento. Seu cérebro já parecia no limite com toda aquela situação e seu corpo não conseguia se mexer sozinho.

Logo, ela colidiu ao corpo dele que estava parado se preparando para aquele impacto. Logo, ele caiu sem forças no chão, enquanto via a garota se levantar e correr novamente.

O impacto tinha sido maior do que o planejado por seu corpo, que não tinha um preparo suficiente para aguentar tamanho impacto direto, o que ocasionou na quebra de uma costela e alguns ferimentos e hematomas leves em seu corpo. Junto disso, viu sua consciência esvair para um simples impacto com uma garota muito mais jovem, o que escancarou a fraqueza física dele.

– "Ela se levantou tão facilmente…"

Alguns instantes depois dele cair no chão, já no fim de sua consciência e tomado por dor, pôde ver se aproximar alguém. Vendo apenas os sapatos brancos daquela pessoa, ele estendeu sua mão na direção deles e os tocando suspirou fundo para aliviar sua dor e manter sua última parte consciente.

"Me ajude… Urgh! Isso dói!"

Logo após ele perdeu totalmente sua consciência, desmaiando ali mesmo.

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