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CAPÍTULO 31 - VOCÊ TEM MEDO, GAROTINHA?

Enquanto se abriam os portões do país dos grandes muros, se ouviu um estrondo ensurdecedor que invadiu todo o ambiente. Era uma invasão que começava a acontecer no país mais protegido do mundo.

Muitos dos que estavam no país corriam para fora, enquanto todos que estavam fora corriam para dentro enquanto matavam todos os moradores ao fio da espada.

Todos os guardas do país foram chamados e cada vez mais povoavam o caminho entre o portão e as primeiras casas do país, porém não era suficiente. Muitos morreram antes mesmo que pudessem usar suas armas ou empunhar seus escudos e espadas.

Não havia mais volta. Nada mais podia ser feito. Tudo seria tomado pelos invasores em pouco tempo.

Em meio a toda a guerra, um dos guardas correu em direção oposta a batalha que ocorria nos portões do país. Ele corria em direção ao último prédio do país dos grandes muros, conhecido como prédio do Rei.

Entrando sem tempo para pedir licença, invadiu a sala do líder do país, o qual torcia ansiosamente para que não ouvisse mais notícias ruins.

— Euder, não há mais o que fazer!

Ofegante, o guarda exclamava suas palavras com sua expressão forte. A situação era realmente perdida aos olhos de quem lutava nela.

— Isso não é nada bom! Volte para a batalha! — Ordenou com fervor em sua voz

— Sim, senhor! — Disse o guarda, correndo de volta para fora da sala.

Esperando que o guarda saísse da sala, Euder caiu junto ao chão enquanto exclamava para si mesmo sua tamanha culpa e desespero. Para ele, não havia mais nenhuma ideia a ser usada, ele havia feito tudo que podia, mas ainda assim, perdia a batalha mais importante de sua vida e de seu país.

Se levantando do chão, o homem sem cabelos que vestia uma roupa de batalha expressou em seu rosto uma grande dor, juntamente a falta de brilho em seus olhos que trazia à tona toda sua decepção e desesperança.

— Não há mais o que fazer, não é?

Antes que pudesse cair em meio a solidão de seus próprios pensamentos profundos, foi resgatado pelo som da inocente voz que invadiu a sala e o chamava da altura do chão.

— Papai.

Uma criança entrou na sala e, andando com pequenos pulos, se aproximou das pernas do homem, o abraçando carinhosamente. Junto dela, entrou uma mulher, a qual estava totalmente coberta por panos brancos do pé à cabeça.

— Euder. Precisamos fugir daqui.

— Não podemos, amor… Na verdade, eu não posso.

Compartilhando do mesmo olhar triste da mulher que entrou na sala em desespero, a encarou de forma fixa por algum tempo sem dizer mais nenhuma palavra.

— Você sabe quais são minhas obrigações. Mesmo que seja difícil, esse é o momento de provar todo meu esforço por esse lugar. Enquanto isso, fuja com ela.

— Você é difícil, Euder. Porém, eu sinto orgulho de você.

Trocando imediatamente os olhares tristes e o sentimento de vazio por sorrisos serenos, foram interrompidos por um barulho. Era o choro da pequena garota, que clamava pela atenção de seu pai.

Em resposta ao pequeno choro da garota, Euder aproveitou o último momento de companhia que poderia ter com sua filha, a balançando em seus braços e a rodando nos ares por alguns instantes.

— Sentirei falta de você, pequena Linn.

— Não diga as coisas como se pretendesse morrer! Estaremos te esperando.

Trocando o foco de seu olhar fixo, Euder encarou por mais uma vez a mulher que estava a sua frente. Novamente, eles trocaram olhares serenos e sorriram um para o outro.

— Não esqueça, eu amo vocês duas.

Sem perder mais tempo, Euder entregou sua filha nas mãos de sua esposa, a qual correu para o fundo da sala em busca de achar o esconderijo que estava camuflado no chão abaixo da mesa de escritório de Euder

— Sobrevivam. É só isso que eu peço a vocês. — Euder disse, porém, não foi ouvido por sua esposa

Sem tempo para repetir sua fala, Euder deixou a sala para lutar com suas armas na guerra que pouco a pouco destruía seu país por completo.

• • • • •

Lançado para longe, Mizu caiu no chão após sofrer um forte golpe de Linn.

— Porque isso, Linn? Eu confiei em você!

— Isso é um erro seu, não há confiança que se firme em tão pouco tempo.

Caído de joelhos no chão, Mizu paralisou seu olhar ao ouvir as palavras de Linn que ecoavam diversas vezes em sua mente. Por mais de entender suas palavras, ele não podia aceitar nada do que ouviu dela.

No fundo de sua mente, suas antigas memórias atravessavam sua atual realidade, a qual o fazia recuperar seu semblante sorridente.

— Não. É realmente possível confiar em alguém mesmo em tão pouco tempo. Ela é a prova viva disso.

— Eu acredito que sei bem sobre o que você está falando. Sei que você confia nela, mas será que ela confia em você?

Novamente paralisado, Mizu sabia bem sobre suas ações e as consequências que vieram sobre elas. Assim como sentiu antes, o arrependimento o fazia abaixar sua cabeça diante de seu próprio reflexo que era visto através de seu sangue derramado no chão.

Linn ainda estava de pé e olhava de longe o garoto que sangrava juntamente ao chão. Desde o início do ataque, apenas Linn tinha atingido Mizu, que apenas tentava se desviar dos ataques de forma falha.

— Me impressiona o quão fraco você é, garoto. Você se deixou levar por alguém que mal conhece.

— Sinceramente, eu não vejo problema em confiar nas pessoas. Sei que lutamos pelo mesmo objetivo, no fundo, nós ainda somos aliados, Linn.

Ofegante, Mizu rebateu a afirmação de Linn usando toda sua convicção. Mesmo caído e machucado, ele ainda não se mostrava fraco e muito menos disposto a se manter no chão.

— Diferente do que você imagina, eu acredito que fiz a escolha correta em confiar na Luna. Sei que não somos amigos, eu nunca poderia deixar meus objetivos de lado por ela, porém ainda assim, ela escolheu ser uma aliada e eu confio nisso.

— Hahaha. Você é mais patético do que eu poderia ter imaginado.

Do fundo de seu coração, Linn riu, soltando todo o fôlego do fundo de seus pulmões. Ela ria de Mizu, da situação, do lugar onde estavam e de si própria.

Desviando o olhar para todos os cantos em volta de seu corpo, Linn pouco a pouco perdia sua noção ideal da realidade. Algo diferente estava dominando a mente da fofa garota de óculos que emanava de si uma aura bruta.

— Sabe Linn… — Mizu disse, se levantando do chão de forma definitiva — Eu admiro seus pensamentos reais, no fundo, você queria muito se sentir superior a mim, não é?

Ouvindo as palavras que saíram de forma irônica da boca do garoto, Linn se enfureceu ainda mais. Seus olhos praticamente tentavam saltar de seu rosto em direção a Mizu.

— Porém, pensei com mais calma sobre tudo que você me disse e acredito que cheguei a uma conclusão. Você tem medo de mim, por isso nunca confiou nas minhas palavras e ações. Mesmo que você possua esse cristal, eu ainda sou mais forte, não é mesmo?!

Já de pé, Mizu encarou os olhos enfurecidos da garota que estava do outro lado do grande campo em que estavam lutando naquele momento. Do outro lado do olhar do garoto, Linn expressou algo novo. Seus olhos apresentaram o verdadeiro terror, algo que mudou totalmente a forma de seu olhar.

Tensa, ela tremeu ao tentar manter os olhos fixos ao olhar do garoto, o qual expressava sua mais sincera confiança, a exalando de seu corpo e a transformando na energia que o fazia voltar a sua clássica posição de luta.

— Já que eu finalmente entendi a situação, é hora de começar de novo!

— Não se engane! Você não pode me vencer apenas por que se acha mais forte!

— Haha, não entendo sua preocupação, você mesmo disse com palavras claras… Você não confia em mim.

Frente a frente com Linn, Mizu correu o mais rápido que podia em direção dela, a qual rapidamente empunhou o cristal em sua mão dominante, se preparando para receber um ataque do garoto.

Os dois expressavam tensão em seu olhar, porém, Mizu exalava confiança, enquanto Linn, evidenciava os detalhes de seu medo através de seus olhos.

— Você é forte mesmo, Linn?!

• • • • •

— Você é mesmo forte, garotinha?!

A voz grossa do homem ecoou pelo ambiente, sendo acompanhada pelo barulho da corda que por mais uma vez bateu na mulher que estava amarrada no centro da sala.

A cena que Linn via enquanto era provocada pelo homem era a de sua mãe totalmente ferida e sofrendo cada vez mais golpes proferidos pelo homem que segurava uma corda de pano grosso.

Aquele mesmo homem era quem falava com Linn de forma provocativa. Ele sorria empolgado a cada vez que repetia os movimentos de trazer e lançar a corda sobre o corpo da mulher, a machucando com grande intensidade.

— Vocês não estavam prontas para pagar o pecado de seu rei?

Batendo novamente nas costas da mulher com a corda, tirou sangue suficiente para manchar o chão da sala. O sangue que espirrou para o outro lado da sala teve seu fim ao chegar aos pés da pequena garota, a qual estava amarrada a uma cadeira no outro lado da sala.

— Mamãe?! — A pequena garota gritou desesperada.

O sangue que havia manchado os pés da garota ainda estava vívido e borbulhante. O calor que emanava de cada gota queimava os dedos dela e a fazia gemer em dor e desespero.

Em meio ao seu desespero, tudo que ela podia ver naquele momento era a imagem de sua mãe sendo lançada ao chão pelo homem.

— Por hoje está ótimo. Nos divertiremos novamente amanhã.

Batendo o rosto da mulher contra o chão, a fez sangrar pela última vez antes de caminhar em direção a saída da sala.

— Nos vemos novamente amanhã, garotinha.

Antes de chegar à porta de saída, parou para falar com a pequena garota que estava amarrada em uma cadeira no canto da parede. Segurando o rosto dela em suas mãos, ele sorriu, emanando de seu sorriso uma grande psicopatia.

— Não! Eu não quero te ver! — A garota gritou em voz alta enquanto se debatia segurada pela mão do homem.

— Não se debata, garota. Por acaso você tem medo que eu seja mais forte?! Hahaha!

Soltando o rosto da garota, o homem tornou a caminhar para a porta após rir em voz alta sem parar.

• • • • •

— Ainda não!

Mizu lançou seu corpo para trás para desviar do ataque que Linn produziu usando sua perna direita estendida de forma reta em direção ao rosto dele.

Contra atacando com o peso de seu corpo, Mizu diminuiu a distância do combate entre eles para evitar os ataques longos da garota.

Usando o peso de seus ombros, se lançou contra ela para a atingir, a lançando levemente para trás.

— Ah!

Tentando manter a fixação do corpo no chão, Linn foi atingida por três vezes pelo mesmo ataque de corpo de Mizu, que usava da lateral de seu ombro para atingir todo o corpo frágil de Linn.

Mizu entendeu o que necessitava para ter vantagem no combate contra a garota

— Você não é boa em combate físico a curta distância, não é?!

Levantando sua voz para Linn, Mizu diminuiu novamente a distância entre o corpo dos dois, que agora estavam a poucos centímetros de distância um do outro.

Usando novamente de seu corpo, se lançou de ombro a ombro com Linn, que perdeu totalmente seu equilíbrio após o ataque de Mizu.

Caindo no chão, Linn perdeu o tempo dos ataques e das defesas, sendo atingida por mais dois ataques ainda quando estava no chão.

Por mais de sua força e resistência, ela agora estava cansada demais para se levantar imediatamente.

— Garoto insuportável. — Exclamou enquanto via o garoto Mizu correr por mais uma vez em sua direção.

Levantando os pés em média altura, Mizu usou de toda sua força para chutar em direção a cabeça de Linn. Um ataque que seria o último daquela luta, porém…

— Pawh

Linn rapidamente usou o escudo branco do cristal da defesa para lançar o corpo de Mizu contra sua própria força, o fazendo voar para o lado oposto da direção em que tinha atacado.

Lançado sobre a grama por alguns metros para trás, Mizu finalmente parou de rolar e se manteve caído de peito no chão.

O cristal que estava com Linn também voou, porém, não para frente ou para trás, mas lançado para o lado, na metade da distância entre ela e o garoto que lutava contra.

Linn se manteve caída no chão enquanto tentava recuperar seu ritmo cardíaco e regular sua respiração. Ela não estava exatamente cansada ou machucada, porém, parte de seus sentidos mentais estavam perturbados por toda a adrenalina.

— Huff

Mizu também respirou fundo, evitando que o ar de dentro de seu peito saísse por completo. Seus machucados eram piores que os de Linn e seu corpo estava desgastado demais para se levantar para lutar naquele momento.

— Você é aquele maldito!

De repente, uma voz dobrou o caminho para o lugar onde o garoto e a garota estavam caídos. Aquela voz vibrava em ódio e parecia ter reconhecido Mizu mesmo a muitos metros de distância.

Chamando a atenção do garoto, o dono da voz entrou em grande velocidade sobre o campo de grama, correndo diretamente em direção de Linn, a qual não percebeu sua presença.

Ao ver a cena de forma clara, Mizu expressou adrenalina em seus olhos. Algo mudou repentinamente no coração do garoto, que imediatamente se pôs de pé.

"Eu preciso fazer isso!"

Sem pensar mais de uma vez em sua decisão, correu o mais rápido que pôde enquanto via sua visão se tornar turva após levantar de forma brusca. Mesmo sem ver o caminho a sua frente de forma clara, ele não pôde deixar que seus passos diminuíssem de velocidade.

Do outro lado de sua visão turva, o homem que invadiu o ambiente foi acompanhado por outro homem, o qual carregava em suas mãos um dos fragmentos do cristal da defesa.

O homem enfurecido que corria em direção de Linn empunhou em sua mão uma espada, a apontando para o pescoço de Linn. Aquele homem era um dos guardas encarregados da missão de capturar o invasor, sendo acompanhado por seu líder, que corria logo atrás.

— Você entenderá o que é perder um amigo! — Levantando o fio da espada para o céu, gritou para que todos ao redor o ouvissem.

• • • • •

— Não se debata, garota. Por acaso você tem medo que eu seja mais forte?! Hahaha!

Logo, as memórias traumáticas de Linn foram trazidas à atualidade por seu medo. Ela não podia ver nada do que acontecia ao seu redor, porém tudo que sua mente poderia assimilar naquele momento era o tamanho de seu medo.

Todo o trauma que viveu durante a sua infância foi lembrado em simples palavras que se pareciam em jeito e tom às palavras que um dia foram ditas a ela por um homem mal. Para Linn, aquele era o último pensamento. Até mesmo o último pensar antes de seu fim se trataria de uma tortura.

— …

— Não!

Enquanto o fio da espada atravessava o vento e trazia a pressão do ar contra a cabeça de Linn, uma mão estendida se lançou sobre o meio do caminho da espada. Dessa mão, brilhava uma luz branca mais forte que o sol.

— Círculo defensivo

Da mão estendida, surgiu uma luz branca que cobriu apenas Linn e Mizu, repelindo imediatamente a espada e seu usuário, que voaram para longe.

Repelido pela pressão que se fazia dentro do círculo, Mizu também foi lançado para trás, porém, se manteve de pé ainda perto de Linn.

— Levante-se Linn, esse ainda não é o fim.

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