Passamos pelas ruas movimentadas da cidade, rodeando por tudo enquanto caçávamos o tal Covil Luar, nome bem genérico inclusive.
Uma coisa engraçada que eu notei é a tecnologia desse lugar.
Eles estavam avançados.
E não digo pouco.
As pessoas andavam com celulares de tela digital, finos e modernos. Em alguns estabelecimentos tinham TVs de tela plana igual ao bar na árvore.
Micro-ondas, cafeteira, até vi um carrinho de controle remoto passando pela calçada.
Ao menos, não estava em um nível tecnológico superior ao de quando eu morri.
Mas da mesma forma isso tudo soava bizarro. Parece que somos uma civilização avançada que se diferencia do resto do mundo atual. Os bruxos brasileiros.
Poderoso de fato, tanto tecnologia nas palmas de suas mãos, o fluxo de informação é muito mais fácil enquanto não existir uma magia que os intercepte.
Tenho certeza que existe algum feitiço que o faça, mas provavelmente é mais conhecido pelos bruxos da América do Sul, dando vantagem em situações de invasão, sendo eles a vítima ou não.
Me pergunto ainda o que seriam essas armas mágicas, estou curioso em como podem adaptar magia com objetos que não sejam uma varinha, que serve nada mais como simples objeto de canalização.
"Ei, acho que é por aqui." O garoto deu uma sugestão sem fundamento, mas de alguma forma se provou verdade.
Pisei o pé na calçada enquanto as pessoas passavam apressadas, acima de mim o nome bem grande escrito em vermelho neon "Covil Lunar" dentro de um tipo de outdoor pequeno. Fico imaginando que o dono deve ter achado a ideia do nome genial quando criou.
O garoto foi na frente e chegou na frente da porta de vidro, ela abriu sozinha, então o segui e passei por ela também.
O lugar era largo, em cada canto da parede tinham prateleiras e vidro tampando-as. Variava entre facas, espadas, pistolas e até fuzis, cada um com design bem pitoresco com cores fortes e desenhos mais 'fantasiosos'.
Um homem conversava com uma mulher ao lado de um estande com adagas, eram os únicos na loja além do balconista franzino e de óculos.
"Olá, Tio André." O menino falou olhando para o homem.
"Artur? O que faz aqui?" André desviou o olhar da moça e perguntou surpreso.
"Ora, vim te visitar."
"Você não iria para o Castelobruxo hoje?"
"Bom, iria. Mas meus pais não quiseram pagar uma ilha privada, então temos que esperar."
"Mãos de vaca, hein?"
"Hehe, para você ver."
"Espere ai, logo conversarei com você e seu amigo."
"Certo!" O garoto se dirigiu para um outro lado da loja com um banquinho e me chamou.
Fui até ele enquanto observava as armas no lugar.
Algumas me chamavam a atenção. Principalmente as armas de fogo.
Não conhecia muito de armas, mas tenho certeza que a maioria não era como as do meu mundo. Tinham formatos estranhos e diferenciados.
Uma tinha o cano tão grosso quanto minha panturrilha, o que já era estranho. Era completamente liso e meio arredondado, parece que no meio se abria como um pequeno repositório. Imagine um sapo com a garganta inflada, lembrava um pouco isso.
A cor era de um amarelo areia, e o cartucho onde eu creio ficar a munição brilhava em vermelho com runas flamejantes.
Uma outra espada tinha a lâmina completamente ciana e vapor frio escapava no ar.
Outra ainda não tinha lâmina visível e a empunhadura era negra, mas eu conseguia ver as minúsculas partículas de poeira sobre a sua superfície se me concentrasse.
Outras não eram tão intuitivas, embora tivessem designs fabulosos.
"Ainda não perguntei o seu nome." Artur disse se sentando no banco.
"Nauac."
"Ei, nome estranho, mas até que é daora. Já a mim, Artur, como você provavelmente ouviu." Ele sorriu e mostrou a mão, qual eu apertei.
"Bom, Artur, você não me disse que era seu tio quem cuidava dessa loja."
"Não disse? Devo ter esquecido."
"Provavelmente deve. Quem são seus pais?"
"Viviane e Thiago Duarte. Alguns bruxos do ministério, sabe o que é?"
"Conheço. E atuam onde?"
"Meu pai é um Auror e minha mãe é do Departamento para Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas. Caramba, é bem melhor se você só perguntasse do meu pai."
"Você está bem, então. Com um Auror como pai."
"Pensei que não soubesse o que era, seu guia não é tão mal, afinal. Mas não é assim, cara, realmente. Eles não são tão importantes, apenas assalariados normais."
"Entendo..." Eu disse, já sentia as alterações em seu interior. Provavelmente seus pais eram bons no que faziam, chefes de departamento, talvez? E creio que a família deva ser de puro sangue colonial. Uma possibilidade, claro.
André terminou de falar com a mulher, ela tinha acabado comprando uma adaga com um cabo de pele de jacaré, linhas pretas irregulares desenhadas sobre a superfície da lamina, difícil dar um palpite sobre o que fazia.
Ele se aproximou de nós com um sorriso.
"As pessoas gostam dessas belezinhas. Pura paz aqui e tanta arma para vender!"
Ele era um homem barbudo e careca, o braço fechado em tatuagem. Parecia bem estereotipado, e o nome do lugar pareceu mais aceitável na minha mente.
"Tantas armas mágicas, vocês estão em guerra?" Eu perguntei, com uma resposta esperada.
"Guerra? Não, não, rapaz. Assim como eu disse, as pessoas simplesmente gostam de armas."
"Entendo... Penso que com tantas armas vocês devem conseguir dominar as outras sociedades bruxas, ou até mais que isso."
Ele me olhou meio surpreso, coçando a barba.
"E acabar com a paz? Nunca! O Brasil é um país pacífico e deve permanecer sendo."
"Claro, pelo menos vocês estão bem desenvolvidos em questão tecnológica, até mesmo tendo essas armas desiguais."
"Realmente estamos, somos uma das maiores potências do mundo bruxo, no final das contas." Ele parecia orgulhoso.
"Você é amigo de Artur?"
"Sim, me chamo Nauac."
"Interessado em armas, Nauac?"
"Não particularmente, mas poder é poder, no final das contas."
"Perfeito pensamento, enquanto pudermos nos fortalecer, mais protegido o país fica, não é?" Ele piscou. "Diferente daqueles lugares sofrendo com ameaças que eles mesmo criaram."
"Não está mentindo."
"Sabe que não. Quer que eu lhes mostre algumas coisas?"
André olhou para mim, então eu acenei com a cabeça.
"Seria louco se não!" Artur disse ao meu lado.
"Venham aqui, só não espalhem por aí sobre isso, não como se fosse a maior coisa do mundo, mas ainda prefiro que não saibam tanto. Efeito surpresa é bom."