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Capítulo 20 - Pousada

— Terra à vista. — Alícia grita se apoiando na frente do bote.

No terceiro dia finalmente podíamos ver, ao longe, a costa poderia ser vista. Diferente da ilha, ela estendia-se às duas extremas laterais, seu fim não poderia ser visto no horizonte. Havíamos chegado no continente humano, Mannheim.

Em poucos minutos desembarcamos no porto da cidade. As casas apresentavam certa simplicidade, eram pequenas, dificilmente se via alguma que tinha um segundo andar ou fosse maior que as demais, isso demonstra seu baixo poder aquisitivo. Esta é a cidade mais próxima do continente demoníaco, o perigo explica o abandono.

Estranhamente não somos abordados por ninguém, nem mesmo um guarda. Algumas pessoas que passavam nos olham com certo receio, mas ninguém diz uma única palavra.

— Esta camisa é muito grande. — Alícia reclama.

Pedi para que ela usa-se uma de minhas camisas. Seu vestido estava muito sujo e estragado, além da aparência o que mais me preocupava eram suas marcas negras, a antiga roupa não as escondia o bastante. Precisamos comprar roupas para ela urgentemente.

— Precisa usá-la apenas por um tempo — explico. — Tento aguentar por um tempo.

— Okay — responde.

Apesar de não atrair os olhares durante a chegada esta realidade mudou rapidamente. Várias pessoas estão me olhando com diversas expressões, a sua maioria de temor, mas a raiva também era grande. Talvez minhas roupas humanas e meus olhos castanhos deveriam esconder o fato de ser um vampiro, no entanto ainda havíamos chegado do continente demoníaco, fofocas se espalham rápido.

Deixamos o barco no porto, não há o que possamos fazer com ele, seu objetivo já havia sido cumprido. Pego minha mochila e começamos a andar pela cidade, nosso foco é comida, encontrar um lugar para passarmos a noite e acharmos a guilda.

— Ei viajante. — Uma mulher diz me puxando. — Não quer se hospedar em nossa pousada?

Olhando para a placa vejo o nome da pousada, Moon. Interessante, neste mundo existem vários termos em inglês. O imóvel era maior do que aquelas ao seu redor, além de ter um segundo andar. A mulher, apesar de sua face calma e sorridente, era bem esperta, vampiros costumam ter muito dinheiro, gosto de como é perspicaz.

No momento temos três moedas de prata média, uma de bronze grande e dez de bronze médias. A moeda humana se chama yon, é dividida entre moedas de bronze, prata, ouro e platina, pelo menos para pessoas normais. A de cobre pequena é a menor, vale 1¥ (um yon), uma de cobre média equivale à dez pequenas, bronze grande equivale à dez médias e uma moeda pequena de prata equivale à dez grandes de bronze, e assim por diante.

Seguimos a mulher, que se apresentou como Rosa, para dentro de sua pousada. A entrada era um bar, havia uma bancada ao fim, uma estante atrás esbanjava uma grande quantidade de garrafas, mesas estavam espalhadas no espaço restante.

— Funcionamos como um restaurante também. — Ela fala notando minha expressão. — Ah, não se preocupe. Fechamos cedo para não atrapalhar o sono de nossos residentes.

Uma anfitriã atenciosa.

Sentamos em cadeiras na bancada. Rosa pega um pedaço de papel e nos mostra.

— Essa é a nossa tabela de preços — diz entregando o papel.

— Obrigado.

Pego e mostro para Alícia também.

— Alugar um quarto por um dia inteiro custa três moedas médias de bronze, se o quarto for para uma pessoa, para duas o valor aumenta para quatro — explica. — Também servimos café, almoço e jantar. Almoço e Jantar custam quatro moedas de bronze pequenas, o café custa duas.

Decidimos ficar. Paguei dois dias na pousada, além de duas refeições para comermos agora mesmo. No total oitenta e oito yons.

— Irei preparar a comida de vocês agora mesmo — diz pegando a tabela e seguindo para dentro de uma porta à direita.

Nos sentamos em uma mesa longe da bancada, perto da entrada, ao nosso lado estava a escada para os quartos. Já estava de noite, acredito que por volta das sete horas, provavelmente começará a chegar pessoas agora, a bancada é o local mais próximo a bebida, vamos nos manter longe.

— Amanhã iremos comprar roupas para Alícia e nos inscrever na guilda — falo.

— Okay. — Alícia confirma.

Depois de alguns minutos Rosa trouxe a comida. Um total de três pratos, cada um com uma comida, sopa, vegetais e pão.

— Está tudo bem gastar dinheiro assim? — pergunta Alícia.

— Crianças não deveriam se preocupar com isso. — Pego um pedaço de pão e coloco em sua boca.

— Mas Alícia é a mais velha — reclama depois de mastigar e engolir.

Apesar de suas queixas ela começa a comer, fico feliz de finalmente conseguir uma refeição decente. A comida era realmente deliciosa, uma grande variedade de temperos podia ser sentida, pão estava um pouco duro, mas após molhá-lo na sopa ficou um pouco melhor. Enquanto comíamos pessoas começaram a chegar.

— Como estava? — Rosa perguntou chegando perto.

— Uma delícia — afirmo.

— Al��cia achou muito gostoso — fala enquanto limpa o rosto com um guardanapo.

— Fico feliz de ouvir isso — diz sentando em uma cadeira, em nossa frente, que estava vazia. — Então, tenho certeza que deseja algumas informações, afinal, deve ser difícil vir do continente demoníaco. — Ela fala baixo para que apenas nós pudéssemos ouvir.

— Pode-se dizer que sim — falo com um sorriso. — E quanto essas informações custariam?

— Não se preocupe com isso, é sempre bom ajudar um companheiro. — Ao falar seus olhos trocam de cor rapidamente, de castanho para negros.

Uma raça demoníaca vivendo disfarçada. Não apenas isso, eu não pude nem ao menos sentir a diferença entre ela e os humanos, seu nível deve ser muito maior que o meu.

— Na verdade não preciso de nada extraordinário, apenas uma noção básica de preços — falo.

Ela apenas sorri e assente.

O ganho diário de um plebeu é algo entorno de duas à três moedas médias de bronze. Um aventureiro consegue ganhar mais facilmente, porém varia muito graças ao rank e tipo de missão. Consigo comprar roupas novas para Alícia com três moedas médias para roupas simples, mas existe a opção de pagar mais em roupas de maior qualidade ou menos com roupas usadas. Também nos contou onde ficava a guilda na cidade. Por fim, o mais importante, para tomarmos banhos normalmente se compra baldes de água, cada um custa uma moeda de bronze pequena. Deixei dois pagos.

— Acho que acabei me distraindo — diz olhando ao redor. — Tenho que servir os clientes.

— Obrigado por tudo — falo.

— Alícia agradece — diz abaixando a cabeça.

— Não se preocupe com isso. — Ela responde indo até uma mesa próxima.

Não tinha como comprarmos roupas a essa hora, a loja provavelmente já estava fechada. Subimos para o nosso quarto. Rosa havia mexido os pauzinhos e arrumado um quarto de solteiro com mais um colchão.

— Fique com a cama — falo enquanto coloco a mochila em um canto.

— Não é melhor Ioan ficar nela? — pergunta Alícia. — É mais confortável.

Me jogo no colchão que estava no chão.

— Eu acordo mais cedo, vou acabar te acordando quando for levantar — respondo me espreguiçando.

Ela fica parada por um tempo, talvez pensando no que eu havia falado, mas acaba deitando na cama.

Penso no dinheiro que Lucio deixou comigo, eram trinta mil cento e dez yon (30.110¥), não sabia como o sistema monetário funcionava, então foi um verdadeiro choque ao perceber quão grande era essa quantia. Me pergunto se todo vampiro teria acesso a essa quantidade, mas não deve ser possível, Lucio é um nobre afinal.

Pensando sobre o que aprendi hoje uma lembrança me vem à mente. Quando estávamos vendo os preços da pousada, Alícia não falou nada quando viu o papel, mas quando entreguei o dinheiro ela me perguntou sobre a quantia que estava gastando.

— Alícia. — A chamo.

— Sim? — Ela fala um pouco sonolenta.

— Você aprendeu a ler? — pergunto.

— Hmm... — Parecia estar com sono. — A mãe de Alícia ensinou um pouco, mas Alícia não teve chance de aprender muito.

Entendo, ela era muito nova quando as marcas negras começaram a aparecer, além disso não é de se espantar que não seja alfabetizada, aprendi que a taxa de alfabetização dos humanos é baixíssima, até mesmo alguns nobres, que deveriam ser aqueles estudados, beiram o analfabetismo. As aulas com Lucio foram úteis.

— Que tal comprarmos alguns livros quando tivermos oportunidade? — pergunto.

Alícia, que estava quase adormecida, levanta em um salto.

— Livros? — pergunta. — Mas eles não são muito caros.

Assim como eu havia pensado. Quando estávamos na ilha vi como Alícia é uma criança curiosa, quando a ensinei o método de saber se a água era potável seus olhos brilharam. Alguém assim provavelmente seria uma estudiosa caso tivesse nascido em uma família de alta classe.

— Mas acho que seria um ótimo investimento — falo. — Também não tenho um bom domínio da linguagem humano, também tenho que estudar, isso seria ótimo para nós dois, não acha?

Seus olhos brilham.

— Sim, Alícia também acha. — Um grande sorriso se estende em seu rosto.

Alguém bate na porta.

— Aqui estão os baldes de água. — A voz de Rosa vem de fora do quarto.

— Vamos tomar banho agora, amanhã vamos para a guilda — falo para Alícia.

— Okay. — Alícia responde animada.

Comentem, avaliem e votem, dessa forma estará ajudando a obra!

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