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XXIV - Existem Manchas

Passou-se uma longa e cansativa semana, eu e Faye demos muito duro para colocar a casa em ordem, em dois ou três dias da semana fomos visitados por Agatha e Raika, elas ajudaram um pouco com a faxina, talvez podessemos chamar isso de reforma, pelo tanto que fizemos. A cada já era habitável, meu quarto já estava todo arrumado, tínhamos tudo pronto, Faye limpou e arrumou até mesmo a parte que seria a biblioteca.

Hoje Grace e Celeste vão vir nos visitar, ver como ficou e creio que irão nos passar novas tarefas.

- Fire! Venha almoçar! - gritou Faye do andar de baixo.

- Estou indo!

Desci as escadas pulando, esse era outro ponto legal da casa, o chão era até que bastante macio, como era tudo meio que feito de madeira, era macio, e pular era uma coisa bem fácil.

- Pare de pular pela casa, vai acabar caindo e se machucando...

Faye não gosta muito que eu fique pulando por aí, durante a semana eu inventei de pular pela escada e acabei caindo, me ralei inteiro.

- Vou mandar colocarem raladores no lugar dos degraus, aí sim quero ver você cair, vai se sentir uma cenoura ralada...

Ela falava isso dando pequenos risinhos irritantes, eu acho que ela percebeu que isso é irritante, e agora faz de propósito. Em termos de pessoa boa, Faye com certeza não é, em uma semana sozinhos ela já conseguiu me fazer querer voltar, mas voltar sem ela.

Provavelmente nossos pais brigavam com ela quando ela me irritava, e por isso ela nunca fazia, mas agora que estamos sozinhos, não há ninguém para a parar.

- Vamos comer então?

- Vamos. - ela respondeu.

Faye simplesmente cozinha muito bem, no primeiro dia, fizemos uma espécie de competição entre nós dois, para ver quem cozinhava melhor, o ganhador iria ser o responsável pela comida, e ela ganhou com uma facilidade enorme. Aparentemente eu não sei fazer nem mesmo um arroz sem o deixar preto, talvez se eu tentar derreter um gelo, eu consiga o queimar.

Enquanto comemos alguém bateu na porta.

- Tá aberta! - gritei para a pessoa entrar.

A porta abriu, era Grace, ela veio nos visitar pelo visto.

- Boa tarde meus queridos, como estão?

- Estamos bem!

Grace estava subindo as escadas enquanto eu mastigava a comida.

- Vejo que vocês deram uma boa arrumada na velha biblioteca...

- Sim, foi uma semana bastante trabalhosa.

- Uhum! - respondi com a boca cheia.

- Agatha e Raika vieram aqui nos ajudar algumas vezes...

- Então vocês dois já está fazendo amigos, coisa boa!

Terminei de engolir e fui falar.

- Sim, elas são muito legais, disseram que vão nos apresentar o resto das amigas.

- Ah sim! Eu me lembro, Agatha e Raika cresceram brincando junto de mais três garotas.

- Será que elas são legais? - perguntou Faye.

- Mas é claro! Conheço essas crianças desde antes de nascerem!

Grace foi andando pela casa, vendo os armários e gavetas, verificando se estava tudo arrumado.

- Pelo visto vocês extinguiram cada partícula de sujeira dessa casa...

- Sim, deu muito trabalho! - respondeu Faye.

- Não vou enrolar vocês...

Ela fez um gesto no ar e uma tela apareceu, dava para ver algum texto nela e algum tipo de taxa, algo em porcentagem, estava tudo em zero.

- Vou passar para vocês algumas atividades, essas atividades como devem imaginar são todas focadas em Faye, mas Fire pode ajudar, ou em alguns casos ele pode fazer sozinho...

- Interessante... - respondi meio que murmurando.

- Mas claro, Faye deve fazer a maioria...

- Estive conversando com algumas pessoas responsáveis por isso, e decidimos que não os daremos esses colares ou pingentes que vestem.

Passei a mão no pingente que estava no meu pescoço.

- Porquê não? - perguntou Faye.

- São coisas velhas, daremos algum dispositivo mais novo e ergonômico para vocês, não é bom sair por aí com uma coisa pendurada no pescoço desse jeito...

- Entendo.

- No meu caso o que eu uso é vinculado a uma armadura de energia que fica no meu corpo, posso torná-la visível para vocês.

Ela fez mais um gesto no ar e outra tela apareceu, ela mexeu em algumas coisas e uma forma azulada surgiu a sua volta, era como uma expansão do seu corpo.

- Todo mundo com um cargo relativamente importante no governo tem uma dessas, não é nada realmente forte.

- Se não é forte porque você usa? - perguntei.

- Ela consegue segurar qualquer tiro de uma arma, mas se por exemplo, Celeste inventar de me dar um soco, a armadura não vai segurar nada.

- Ela só te protege de projéteis?

- Não, a pressão de um soco da Celeste provavelmente iria estilhaçar essa armadura.

- Ah...

Ela tornou invisível novamente, eu me levantei e coloquei a mão nela.

- Ué, não tem nada?

- Ah, não, ela só se torna sólida quando algo forte vir me acertar, como um tiro.

- Ah.

Me sentei de volta na cadeira e fui terminar de comer.

- Eu pedi ao governo para me mandar alguns daqueles braceletes deles. - indagou Grace.

- Bracelete? - perguntou Faye.

- Sim, tem a mesma finalidade dos pingentes, mas são melhores.

- Legal.

Ela puxou de um dos bolsos da roupa que estava usando, era um sobretudo branco, muito limpo para a umidade da cidade. De algum lugar ali dentro ela tirou dou braceletes brancos, entregou um para cada um de nós.

- Vistam.

Colocamos nos nossos pulsos, eles se ajustaram para o nosso tamanho e ligaram, me lembrou muito do meu bracelete, que pensando agora, eu não tenho ideia de onde está, um círculo azul surgiu na palma de nossas mãos e sumiu, ele estava todo configurado.

- Façam um gesto no ar, com a mão direita descendo para baixo...

Fizemos ambos o movimento que Grace instruiu, uma tela para cada um de nós surgiu, não era nada mais que a tela inicial desde dispositivo, como qualquer outro tem essa "apresentação", é apenas uma customização.

- Vou mudar meu gesto. - disse para Grace.

- Porquê? - questionou Grace.

- Ué, eu sou canhoto, não vou ficar usando mão direita.

- Faz sentido.

Grace puxou um pouco de ar e colocou as mãos na cintura.

- Vocês mexem nisso depois, agora quero que terminem de comer e vão fazer as novas tarefas, elas irão aparecer em uma aba chamada "Tarefas" nos seus braceletes.

- Já tem alguma tarefa aqui? - perguntei abrindo a aba em questão.

- Não, ainda não enviei nada a vocês, quando eu sair daqui eu envio.

- Ok! - exclamou Faye.

- Eu já vou ir, só quis vir ver como estavam e dar isso a vocês.

- Obrigado Grace. - respondi ela.

Ela desceu novamente as escadas e saiu pela porta.

Fiquei passando um pouco a mão no bracelete, era bem bonito, Faye estava fazendo algo, parecido? Ela estava fuçando as coisas nele, parecia já ter domínio em como o usar, fui fazer o mesmo. Quando o "abri" vi logo de cara uma notificação, como eu tinha dito antes, o aparelho já estava vinculado aos meus dados, aquela notificação era da escola de Quémeron, pensando agora, eu nem mesmo lembrava do nome da escola. Seu nome era "Academia Husk - Filial de Quémeron", a mensagem dizia que fui admitido na escola, e que as aulas começaram esse semana, na terça-feira.

- Merda, já é segunda!

- Olhe como fala Fire!

- Desculpe Faye.

- O que aconteceu?

- Fui admitido na escola nova, e as aulas começam amanhã...

- E você não preparou nada?

- Não...

- É melhor você ir falar com Grace.

- Mas isso não era ocupação de Celeste?

- Sim, mas ela não está aqui, e não temos o contato dela.

- Acho que já vou correndo, talvez eu a alcance.

- É melhor mesmo, deseje que ela não tenha saído voando.

Levantei depressa da mesa, limpei minha boca em um guardanapo que estava na mesa e pulei escada abaixo.

- Cuidado! - gritou Faye, não sei se era para mim ou para as coisas.

Sai pela porta de casa e vi ao distante Grace andando pela principal rua da cidade, corri o mais rápido que pude.

Eu queria a um tempo já fazer um teste, o que aconteceria se eu tentasse usar magia de fogo no meu corpo para me impulsionar? Nem pensei direito na hora, eu precisava chegar rápido em Grace e eu tinha a chance de usar magia, pensei em criar um impulso para trás, que me jogasse para frente, fiz algo fraco enquanto corria para testar minha idéia.

- Deu certo... Vou tentar mais forte...

Fiz um impulso que em teoria era para ser apenas um pouco mais forte, só que como um iniciante em magia, não saiu como o desejado e foi um pouco forte demais. De primeiro instante foi incrível, eu fui lançado a uma enorme velocidade para frente, era como se alguém tivesse me jogado para frente, abri minhas pequenas asas para tentar controlar melhor meu movimento, acho que funcionou um pouco, consegui desviar de alguns objetos, mas não todos.

Havia uma pequena tenda de feira na minha frente, com algumas frutas, eu não tive força o suficiente para desviar, na verdade acho que só piorei minha situação, acabei rodopiando no ar e acertei em cheio a tenda. Apaguei acho que por alguns segundos, quando abri os olhos eu estava no meio de várias frutas destruídas, tábuas quebradas e outras coisas que compunham a agora destruída tenda.

- Você está bem!? - uma voz feminina gritou para mim.

Olhei para cima, uma garota de cabelos compridos, brancos, talvez prateados, com as pontas rosadas, um rosa bem intenso, não prestei muita atenção no que ela vestia, o que mais percebi foi seu rosto e seu grande cabelo, ela tinha uma expressão de preocupada, sua pele era um tom bem claro de rosa, não consegui ver a cor de seus olhos, havia muita sombra os cobrindo. Ela me ajudou a levantar.

- Ugh, Obrigado... Qual é seu nome?

- Mayla!

- Mayla, quanto fica tudo isso?

- Ah, preciso ver com minha mãe, ela está dentro de casa, vai ficar uma fera quando ver isso...

- Eu acho que consigo pagar tudo, só preciso saber o valor.

- Ok vou chamar ela

Mayla entrou em sua casa, que era logo atrás da tenda, deu para ouvir ela gritar lá dentro a palavra mãe, ela desceu logo em seguida sorrindo, ela me encarou e seu rosto voltou a fechar, ela chegou bem perto de mim e passou a mão no meu rosto. Por alguns segundos fiquei com medo dela, mas a mão dela era muito leve e suave.

- Agora que eu vi, você estar todo machucado, está sangrando olhe!

Ela pegou minha mão e passou na minha testa e no meio dos meus cabelos, realmente tinha sangue, não era muito, nem sentindo eu estava, acho que tem a ver com eu ser sky, mas se bem que eu senti a pancada no trem.

Na verdade, aquilo não chegou a doer, foi só o susto do impacto e também que foi um impacto no rosto, qualquer um fraqueja com isso.

- Não se preocupe Mayla, nem sentindo estou.

- Ah, vamos limpar pelo menos!

- Pode ser...

- Vou pegar um pano e um remédio para limpar!

Assim que ela correu para dentro a mãe dela desceu, acho que não vou conseguir alcançar Grace a tempo, talvez eu tenha que ir até a prefeitura para falar com ela. A mãe de Mayla viu de longe a destruição e correu.

- O quê aconteceu aqui!?

- Eu vim planando muito rápido e acabei batendo na sua tenda...

- Essa tenda nem é minha!

- Ué, de quem é então?

- E da vizinha, ela vai virar um monstro!

- Eu posso pagar tudo!

Ela colocou as mãos na cintura e ficou olhando para aquela bagunça.

- Pode ser, acho que ela vende as frutas dela a três takens cada.

- Eu destruí umas vinte dessas...

- A tenda não deve custar mais do que dez.

- Vou pagar oitenta então, para cobrir tudo o que foi perdido e mais um agrado.

- Acho que vai servir...

Ela puxou de seu bolso um celular e já abriu um sistema de pagamento e colocou o valor de oitenta takens, coloquei meu bracelete próximo ao seu celular e o pagamento foi efetuado.

- Vou avisar para ela que ocorreu um acidente, ela não está em casa hoje, sorte sua.

- Ainda bem... - falei isso um pouco envergonhado.

Enquanto terminavamos nossos negócios, Mayla desceu as escadas correndo com algumas coisas.

- Sente em alguma cadeira... Qual é seu nome mesmo?

- Fire, meu nome é Fire Sky.

- Vou te chamar apenas de Fire!

- Tudo bem então.

Sentei em uma cadeira que havia logo atrás de mim, e que por mero acaso não foi nem sequer tocada pela destruição. Mayla pegou alguns panos que trouxe consigo, eram mais para toalhas, pareciam muito macias, ela virou algum líquido que estava em um frasco sobre elas, parecia quente.

- Pode ser um pouco desconfortável, ok?

- Vá em frente...

Ela passava aquilo nos meu machucados mais aparentes, era quente, mas era confortável, e depois de alguns segundos sobre alguma ferida parecia começar a formigar, ela tirava então a toalha de cima da ferida, e ela estava quase que totalmente fechada.

- Você nunca tinha feito isso né? - perguntou Mayla.

- Não, o quê é isso?

- É um cristal que meio que faz o seu corpo se curar mais rápido.

- Cristal?

- Sim, a gente coloca ele na panela e esquenta com água, é bem rápido, ele derrete e parece se juntar com a água.

- Então esse líquido quente é o cristal?

- Sim!

- Que dahora.

- Muito legal né.

Minhas feridas todas fecharam, eu estava perfeito novamente, agora acho que teria que ir diretamente para a prefeitura.

- Mayla...

- Oi?

- Eu vou indo, preciso chegar na prefeitura.

- Você já resolveu as coisas com minha mãe? - perguntou ela pegando as coisas que usou em mim.

- Sim, sim, já resolvi tudo.

- Então tudo bem!

- Passe lá na árvore algum dia!

- Na biblioteca velha?

- Isso mesmo.

- Okay!

Ela estava entrando em casa com as coisas já.

- Só não vá sair correndo por aí novamente!

Gritou ela para mim, acenei para ela e sai, dessa vez não fui exatamente correndo, fui trotando.

Eu tinha uma ideia bem vaga de onde é a prefeitura, esse era um dos motivos pelo qual eu queria alcançar Grace, mas a cidade não é muito grande, acho que não tem como me perder.

No suposto caminho que eu estava fazendo para a prefeitura aproveitei e observei bem a minha volta, a cidade era muito viva mesmo, passei por uma espécie de restaurante, um pequeno caminhão estava descarregando algumas caixas alí, acho que eu poderia algum dia passar ali para comer.

Passei por uma pequena ponte também, um riacho cruzava a cidade, a ponte era agradável, feita de pedras e tijolos acidentados, musgo crescia por entre as rachaduras, e em alguns casos cobria todo um tijolo, no rio, a água era clara, quase que cristalina, alguns peixinhos nadavam alí, haviam pequenas plantas aquáticas em toda a beira do pequeno rio, uma garota de cabelos escuros estava colhendo algumas flores ali no canto, ela se vestia muito bem, um vestido branco com desenhos em um tom de verde, combinava com o ambiente, vestia também um chapéu bem grande, não sei ao certo o nome daquilo, era para proteger ela do sol pelo que imagino.

Ela se virou e viu que eu estava a encarando.

- Boa tarde?

- Bo-Boa tarde!

Ela ainda agachada colhendo flores voltou-se para mim.

- Você é novo na cidade?

Ela me encarava de uma forma desconfortável.

- Na verdade sim.

- Veio de onde? - ela parecia interessada.

- Eu vim de Miray.

- Ó, Miray, que bela cidade, o frio, o estilo, e a sua beleza moderna.

- Você já esteve lá?

- Sim, claro. - ela parecia gostar bastante de lá.

Eu precisava sair dali, não queria ser desrespeitoso, mas eu não tinha tempo, nem sei o porquê dela ter vindo falar comigo.

- Aonde você mora? - perguntou ela.

- Ah, eu moro em uma árvore bem grande, aqui na cidade.

- Aqui tem várias árvores bem grandes...

- Ah, hmm, eu moro na antiga biblioteca, acho que é isso.

- Aquela velharia? Que dó de você...

Essa frase dela pareceu um tom bastante arrogante, não gostei disso, esperava que uma garota tão bela e delicada assim talvez fosse igual em atitude.

- Não chame aquele lugar de velharia, aliás, eu nem posso ficar aqui perdendo tempo, preciso ir me apressar.

- Você já vai?

- Sim, se quiser continuar depois, passe na "velharia".

Sai andando para longe, não sei, mas ela ter falado mal da biblioteca me deixou irritado, depois que ela disse isso eu perdi completamente o interesse pela nossa conversa. Talvez seja algum afeto que eu já tenha criado pela nova casa?

Pela nossa curta conversa também deu para perceber que ela é o tipo de pessoa que não gosta muito do que tem por aqui, e inveja os outros, pelo menos foi o que pareceu quando ela falou de Miray. Da próxima vez que eu me encontrar com Agatha ou Raika vou perguntar para elas sobre essa outra garota, pensando agora, eu nem dei a chance dela me falar o nome, droga.

Eu já estava na rua da prefeitura, eu acho incrível o quão fresco e úmido é o ar dessa cidade, parece que meus pulmões foram completamente restaurados do tempo que fiquei em Miray, o que eu sentia todo dia lá era que o ar pesava e que quando era inverno, cada inalada de ar era como respirar pedaços de vidro. Aqui não tenho essa sensação, o ar é leve e revigorante.

Eu já havia chego na prefeitura, estava apenas subindo as escadas, entrei pela bela porta decorada, acho que aquele lugar sempre vai me espantar, são muitos detalhes, em tudo tem detalhe, muito lindo, Grace estava conversando com a recepcionista no balcão.

- Senhora Grace?

Ela parou de conversar e se virou

- Oh, Veja se não é Fire.

- Eu preciso te perguntar uma coisa.

- Perguntar o quê?

- Ah...

Esqueci o que eu ia perguntar.

- Esqueci. - corei, e não foi pouco.

- Oh, que graça!

Ela riu junto da recepcionista.

- Lembrei!

- Diga então.

- Eu queria saber sobre como vão ficar minhas aulas...

- Ah, isso, eu já vi tudo, suas aulas começam semana que vem se não me engana não é?

- Na notificação que recebi da escola dizia amanhã.

- Nossa, me esqueci completamente.

- Então, o que faremos?

- Arrume suas coisas por hoje, amanhã eu te levo voando para a escola.

- Voando?

- Sim, eu iria providenciar um carro para te levar, mas só teríamos semana que vem.

Voando, como assim ela me levaria voando, ela pensa que eu sei voar?

- Como você pretende me levar voando?

- Você sobe nas minhas costas, ou algo desse tipo.

- Você sabe que eu não sei voar?

- Sei sim, Celeste me passou vários documentos sobre você e sua irmã antes de se mudarem.

- Entendi.

Ela colocou a mão na cintura.

- Quer perguntar mais alguma coisa?

- Na verdade, quero sim!

- Pergunte então oras.

- Quem são as garotas que você disse que eram amigas de Agatha e Raika?

- Ah, você deve ter se encontrado com uma delas nesse caminho para cá.

- Acho que sim.

Ela se sentou em cima da mesa e cruzou as pernas.

- São cinco no total, as que você não conhece aínda são, Mayla, Elora e Violet.

- Poderia me descrever cada uma?

- Claro.

- Mayla é uma garota muito gentil e alegre, tem um cabelo armado divino, ela mora no centro da cidade, na mesma reta da biblioteca.

- Eu vi ela hoje.

- Certo.

Ela apoiou um dos dedos no lábio.

- Temos Violet, uma garota apaixonada por bom... Gastar, sorte dela que tem família rica.

- Ela é uma que parece ser esnobe?

- Sim.

- Ah.

- Já conheceu?

- Sim...

- Se acalme, ela é uma pessoa legal, só que as vezes parece ser bem arrogante.

- Beleza.

Levantou da mesa agora com uma feição mais séria e começou a andar em minha volta, um ar opressor.

- Agora Elora.

Ela parou de andar na minha frente e se sentou na mesma posição, má agora com a ordem das pernas invertidas.

- Quando ela era pequena ela era um doce, muito amável e alegre.

- Porquê você diz "era"?

- A alguns anos, os pais dela foram para a Capital da região de Miray, ela por sorte não foi junto, você sabe o que aconteceu lá não é?

- Sim eu sei, deu para ver da janela de onde eu morava.

- Pois então, depois disso ela se tornou muito fechada, as vezes as garotas tentam falar com ela, mas não dá em muita coisa.

- Entendo.

Que tristeza, parece comum as pessoas a minha volta terem perdido alguém, Wynona tinha perdido os pais, agora sei que Elora também perdeu os seus.

- Você vai ver Fire, que a guerra feriu até mesmo quem não lutou, Agatha e Raika por exemplo, elas não tem os pais, Raika é pior, ela não tem mais familiares, é um militar amigo da família quem cuida dela.

- Nossa, eu nem imaginava isso.

- A família de Raia era inteira composta por militares, seu pai era o Capitão de Operações Runner.

Nossa, como pode, uma pessoa tão alegre, ter uma história tão triste assim?

- Com Agatha é parecido, os pais dela eram soldados, e foram mortos em combate, eram soldados excepcionais, morreram quando ela era muito pequena.

- Nossa.

- É, nem tudo é o que parece Fire.

- São sempre os pais?

- Geralmente são os pais pelo tempo, a uns dez anos ocorreu um grande investida do império, e muitos soldados foram convocados, poucos voltaram, ganhamos a batalha.

- Não tenho muito mais palavras além de "nossa" para responder.

- Não tem problema.

Ela se acomodou um pouco na mesa, já estava ficando desconfortável.

- Bom, mas tirando toda essa parte pesada, as garotas são muito legais, a única que atualmente é um pouco difícil de conversar é Elora.

- Vou tentar.

- Confio que você consegue, você parece diferente.

Eu me despedi de Grace e sai da prefeitura, acho que eu já sabia mais ou menos o que fazer, eu precisava me tornar amigo dessas pessoas, e tentar unir essa Elora com elas novamente.

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