Anos após o sacrifício de Arbon, a vida em Valiandra seguia em paz. No pequeno vilarejo de Eldaria, cercado por colinas verdejantes e campos de trigo dourado, nasceu um menino chamado Roones. Desde cedo, ele demonstrava uma curiosidade insaciável e uma fascinação peculiar pelas histórias do lendário herói.
Enquanto outras crianças brincavam despreocupadas, Roones passava horas na praça central de Valiandra, contemplando a estátua de Arbon. Os detalhes da armadura dourada e da espada erguida ao céu pareciam sussurrar segredos apenas para ele. Em sua imaginação, ele não era apenas um espectador das lendas, mas parte delas.
Sua mãe, Lyria, uma mulher gentil e sábia, via nos olhos do filho uma luz incomum. Muitas noites, enquanto o colocava para dormir, ela repetia com ternura:
— Um herói não é aquele que busca glória, meu filho, mas aquele que sacrifica tudo por aqueles que ama.
Essas palavras se tornaram o norte de Roones. Ele cresceu ajudando os aldeões de Eldaria com pequenas tarefas, sempre disposto a aliviar os fardos alheios. Ainda assim, sentia no fundo da alma que estava destinado a algo maior.
Certo dia, enquanto trabalhava no campo sob o sol abrasador, um viajante apareceu. Ele era um homem idoso, de rosto marcado pelo tempo e olhar penetrante, carregando uma bengala adornada com runas brilhantes que pareciam pulsar com uma energia antiga.
— Você tem o brilho de um coração justo, garoto — disse o velho, após observar Roones por um momento. Sua voz era grave, mas cheia de sabedoria. — Mas justiça sem força é como um fogo sem chama: ineficaz.
Roones, intrigado, deixou de lado sua enxada e encarou o estranho. Antes que pudesse perguntar quem ele era, o viajante retirou de sua bolsa um medalhão reluzente com o símbolo de uma chama.
— Este medalhão pertenceu a Arbon — revelou o velho. — Ele foi forjado para escolher um sucessor digno, mas apenas aquele que demonstrar verdadeira coragem e bondade poderá ativar seu poder.
Os olhos de Roones se arregalaram, e seu coração disparou. Ele estendeu a mão hesitante enquanto o viajante colocava o medalhão em sua palma. A chama gravada no metal parecia brilhar por um instante, como se o objeto estivesse vivo.
— Seu destino será moldado pelas escolhas que fizer — continuou o velho. — Lembre-se, garoto: a luz de um herói não surge da ausência de medo, mas da coragem de enfrentá-lo.
Sem dizer mais nada, o homem misterioso virou-se e desapareceu entre as colinas, deixando Roones com o medalhão e um turbilhão de pensamentos. A partir daquele dia, o jovem sentiu que sua vida nunca mais seria a mesma. Algo dentro dele despertara, um chamado que ele ainda não compreendia, mas que sabia ser impossível de ignorar.