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CAPÍTULO 29 - MEUS PRÓPRIOS OLHOS

Escondida sobre as trevas da noite, Luna chegou ao cenário que procurava. Ela novamente estava à frente do grande prédio de pesquisas, que agora estava caído junto ao solo.

— "Esse lugar tem um péssimo clima"

Todas as vidas que tinham sido perdidas naquele lugar estavam soltas sobre o solo no qual restava apenas os destroços da estrutura do grande prédio.

Quanto mais Luna andava sobre aquele lugar, mais sentia o clima pesar sobre sua alma, a fazendo perder seu semblante a cada passo.

Seus olhos se fechavam mais a cada passo dado, seu sorriso era consumido pelo pesar do sangue que tomava posse do gramado rodeado por uma grande cratera, lugar onde Luna parou de andar.

Parada ao lado da cratera, pensou profundamente sobre tudo que havia acontecido. Aquela era a primeira vez que via todo o cenário dos destroços do prédio. No momento em que tudo havia acontecido, Luna se encontrava desmaiada de fraqueza.

— "Nós sobrevivemos a uma queda onde a morte era inevitável e nisso fizemos essa cratera?"

Respirando fundo, encarou de forma fixa a cratera que estava à frente de seus olhos.

— "Não. Definitivamente isso não é algo que nós fizemos."

Balançando a cabeça em negação, Luna chegou a sua conclusão particular, a qual foi transformada em palavras.

— "Você diz coisas bem pensadas, isso parece mais divertido quando visto de perto."

Uma voz surgiu vinda do outro lado da cratera, chamando a atenção de Luna.

— "Quem é você?"

Luna levantou seu olhar do chão para encarar a direção do dono da voz. Um homem, que estava parado exatamente em linha reta de Luna.

Ele era um homem comum. Vestindo roupas pretas, não se destacava das pessoas que Luna tinha visto em sua vida. Se fosse visto em meio a todos os habitantes, provavelmente não seria escolhido por algum motivo especial.

Por mais de sua aparência simples, sua presença era grande o suficiente para que não pudesse ser ignorado de nenhuma forma. Era notório para Luna que ele não era apenas uma pessoa comum.

— "Eu sou Edward Defen. Sou o homem mais importante desse país."

— "Não foi convincente, tente novamente." — Luna sorriu, provocando o homem à sua frente.

— "Não preciso fazer isso agora, no momento certo vou confirmar o que digo."

Sem perder sua linha de raciocínio, ele respondeu a provocação da garota de forma tranquila e confiante, destruindo todo o plano mental que Luna costumava fazer.

Sem saber exatamente o que dizer a partir dali, Luna se manteve calada, tirando um sorriso amarelado do homem que a encarava pelo outro lado da cratera.

— "Eu não gosto dessa sua reação."

— "Sorria para a vida, essa é a graça de viver."

— "Mas porque você sorri dessa forma e nesse momento?"

— "Sinceramente, acho que a pergunta deveria ser o porque eu não faria isso."

Se mantendo sem gesticular ou mover o corpo, Edward Defen não chamava atenção de Luna por seu movimento, porém apenas suas palavras ditas de forma suave eram suficientes para a concentrar totalmente em cada movimento de sua boca.

— "Você é estranho."

Luna percebeu que todo o clima do ambiente tinha se aliviado. A presença que aquele homem tinha atravessava todo o clima de morte e perda, tornando tudo um pouco mais agradável.

Por mais disso, Luna evitava sorrir, mantendo em seu rosto o mesmo semblante sério que carregava desde que tinha chegado a aquele lugar.

O homem por sua vez, mantinha em seu rosto uma expressão serena, a qual não tinha mudado durante nenhum momento da conversa entre eles. De seu corpo e alma emanava tranquilidade, algo refletido em sua ação de encarar fixamente a cratera sem mover seu olhar em nenhum instante.

— "Escute, Luna. Talvez você seja a única capaz de entender isso no momento, por isso, não diga nada do que ouvir aqui para terceiros."

O homem finalmente moveu seu olhar, levantando os olhos em direção ao rosto de Luna, a qual franziu sua testa, sentindo insegurança.

— "Quando vocês estavam caindo, eu os salvei da morte."

Mantendo um olhar sério e fixo aos olhos de Luna, viu o ambiente absorver um silêncio torturantemente vergonhoso.

Luna o encarava de volta com a mesma expressão que mantinha desde que tinha chegado ali, porém não abriu a boca ou tremeu os lábios, apenas se manteve na mesma posição. Era como se ela esperasse uma finalização para o que começou a ser dito por ele.

— "É isso, não tem nada a mais que eu possa lhe dizer sobre." — Disse o homem, percebendo que Luna não reagiria com palavras antes que tomasse novamente a fala.

— "Você pode me explicar o porquê faria isso. Você disse que somos inimigos em interesses, por isso não vejo sentido algum em sua ação."

— "Ah, é isso então."

Aliviando o estresse do corpo, ele levantou suas mãos para o céu em forma de alongamento.

Logo, expressou algo novo em seu rosto, sorrindo da mesma forma que tinha feito reagindo ao silêncio de Luna.

— "A explicação que você espera provavelmente é maior do que a que vou lhe entregar, porém apenas serei sincero quanto ao que fiz."

Encarando Luna, percebeu em sua expressão uma forte insegurança, algo notório em seu olhar inquieto, o qual encarava diversos pontos e se alterava de pouco em pouco tempo.

— "Eu salvei vocês para que vocês sejam o principal motivo do extermínio de todos os vilarejos das regiões vizinhas."

— "O que?!" — Luna tremeu seu corpo. Ela não conseguiu evitar que seu medo fosse maior que sua razão, o deixando ser evidente.

Logo, ao vê-la tremer ao outro lado da grande cratera, caminhou lentamente por dentro dela em sua direção.

— "O que nós temos haver com sua guerra contra os vilarejos?"

— "Isso é simples, se eu puder convencer a todos que o grande invasor é na verdade o líder de um ataque coletivo dos vilarejos, farei com que o apoio a essa guerra seja coletivo entre todos desse país."

Deixando de lado o sorriso suave, Edward Defen agora sorria de forma agressiva, deixando todos os seus dentes pontudos evidentes. Seus olhos se contraíram, encarando Luna de forma mais profunda e agressiva.

O clima da presença do homem aumentou com a mudança de atitude e expressão que teve, fazendo com que todo o ambiente de morte e sofrimento voltasse, sendo aumentado em mil vezes sobre o que era antes.

— "Vocês são os piores."

Mesmo sentindo medo, Luna não recuou ao ver o homem se aproximar em passos lentos. Seu corpo ainda tremia, sua alma estava insegura e seus olhos não podiam mais se fixar em nada, porém sua determinação não poderia ser abalada naquele momento.

— "Você já esteve aqui antes, não é?" — Mantendo a seriedade em seu olhar, Luna tirou o clima do ambiente, mudando o assunto que falava com o homem.

Se paralisando em seus passos lentos dentro da cratera, observou tudo ao seu redor, era como se ouvisse tudo que foi dito por Luna mais uma vez antes de lhe responder.

— "Você viu as marcações, não é? Ela também te disse sobre os rastros apagados de Alon, não é? Linn não é boa em nada que faz mesmo."

— "O que?!" — Luna se paralisou ao ver o homem declarar sua raiva a Linn, lhe chamando por seu nome.

Naquele momento, Luna tinha recebido informações demais para que pudesse entender de uma vez, tudo estava se tornando um novelo confuso em sua cabeça.

— "Rastros apagados? Linn? Você a conhece?!"

Ainda parado exatamente no centro da cratera, o homem novamente riu para Luna, trazendo de volta aquele sorriso amarelado e simpático para seu semblante.

— "Parece que superestimei demais todos vocês, haha" — Respirando fundo enquanto balançava a cabeça em negação, parou de rir e tornou a falar — "Não direi nada sobre Linn, isso acredito que você possa questionar diretamente a ela, porém posso lhe dizer sobre Alon."

Interessada na fala do homem, Luna deixou de lado em sua mente tudo aquilo que ainda não era sua prioridade, focando apenas em ouvir sobre o que lhe interessava no momento.

Naquele ponto, ela já não sentia mais seu corpo tremer e da mesma forma sua alma se mantinha ligada, o que ajudava a pensar racionalmente e manter sua noção de tudo que estava ao seu redor.

— "Me diga, o que você citou em relação ao Alon."

— "Pois bem. Aquela besta veio até o centro da cidade durante a madrugada. Ele mal podia falar, porém expressou tudo que viu acontecer e tudo que ainda queria fazer, por isso eu vim para cá limpar todos os rastros dele."

— "Besta? Ele está vivo? São coisas demais!"

— "Não posso desenhar para você, sei que você não é uma criança. Alon está vivo, não há rastros suficientes para provar isso pois ninguém o viu ou verá o sangue que ele deixou, porém ele voltará e sua volta será culpa de vocês."

Respirando fundo, Luna assimilou tudo que lhe foi dito, tendo entendido a intenção de Edward Defen durante seu discurso de explicação.

Por mais de estar insegura, Luna não deixou que seus pensamentos no futuro atravessassem o presente no qual vivia naquele exato momento.

Por sua vez, o homem que se mantinha no mesmo ponto exato da cratera não mudou sua expressão e nem mesmo moveu um músculo, sua única ação desde o início de sua fala foi desviar seu olhar para o céu, o qual lhe dava um chamado.

— "Pois bem, por enquanto isso é tudo. É o momento de nos despedirmos."

— "Foi só o sol aparecer que você já quis ir embora. Por acaso você é algum tipo de vampiro?"

— "Haha, você é sinceramente a melhor deles. Gosto muito do seu tom de ironia e humor, espero ter outra oportunidade de rir junto a você antes de te matar."

— "Você está convencido demais, isso me faz acreditar de verdade que você é o dono desse lugar."

— "Haha, nos veremos em breve."

Os dois sorriam de forma suave um para o outro enquanto conversavam de forma descontraída. O brilho do sol evidenciou a pele cansada do rosto dos dois, que tinham virado mais uma noite em busca de seus objetivos.

Finalmente, o homem tornou a andar, porém junto de seu passo curto, criou de seu corpo uma forte luz branca, a qual chegou à Luna, lhe cegando por alguns segundos.

— "Que porcaria, eu me descuidei."

Segundos após ver toda sua visão ser tomada por uma luz forte, tornou a enxergar, porém não podia mais encontrar o homem que conversava antes.

Com o semblante levemente cansado, viu seus olhos ficarem descontrolados ao se fixarem em vários pontos diferentes. Seu instinto pouco a pouco se aproveitava de seu cansaço e sanidade afetada.

— "Isso é péssimo. Luzes brancas dessa forma são o principal gatilho para que eu me sinta assim… Esse homem sabe demais…"

Respirando fundo, Luna se sentou no chão ao lado da cratera. Negando a se levantar logo, se forçou a descansar sentada ali, enquanto via as horas da manhã passaram diante de seus olhos.