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IX - Quase Um Sequestro

Caron O'Niell era um homem com uma missão: resgatar o seu filho. Parecia ser um plano simples e sem problemas. O único problema, no entanto?

Isso mesmo, seu filho. O garoto que ele criou desde que soube de sua existência — aos oito anos de idade —, o garoto que ele procurou por cinco anos em todos os cantos de Arbor. O garoto por quem ele até mesmo abandonou sua companheira destinada, pelo amor dos Espíritos!

O garoto simplesmente o encarava como se tivesse visto seu pior pesadelo, como se ele, Caron O'Niell, o homem quem cuidou dele, o alimentou e protegeu, fosse seu pior inimigo.

E aquilo magoava, magoava mesmo! E pensar que Caron, o homem que não deveria ter sentimentos…

— David? — Ah, aquela voz irritante. Michael Allans, o homem que obrigava seu filho o seguir como se o príncipe fosse um cachorrinho perdido.

— Você está atrapalhando… — Caron resmungou lentamente, indo na direção de Mike ao invés de David, que estava no chão, confuso e apavorado. Não era a primeira vez que isso acontecia, de qualquer forma.

— Não escoste nele! — Rosnou David, a voz rouca e apavorada. — Se você tocar em um único fio de cabelo do Mike, eu juro que vou acabar com você!

Pobrezinho, a grande e apavorante pantera dos O'Niell se resumia a um adolescente assustado perto de seu tio. E Caron sabia disso, e como sabia…

— Não se preocupe, príncipe. Vou só me livrar dele e… — A mão de Caron se ergueu.

Em um segundo, Mike, que ainda segurava Angel e Ethan em seus braços, foi arremessado em direção a Caron por uma força misteriosa. Mas antes que Caron pudesse atingi-los, uma grande pantera se projetou ao seu lado, com um rosnado profundo, pulou em cima de Caron em um golpe feroz.

Caron se desviou da mordida por pouco tempo, antes que pudesse ver marcas douradas se projetando sobre o corpo de Mike, ele e as crianças sumindo em uma poeira dourada.

Lolo! — Gritou David, a pantera enorme recuou, correndo em direção ao dono.

Veja bem, Lolo era em parte um O'Niell. O suficiente para não ser arremessado quando David saiu do quarto do Rei, mas não o suficiente para permitir que todos os presentes pudessem permanecer no quarto.

Lolo ajudou David a se levantar, fazendo Caron olhar para eles, se distraindo o suficiente para que Jin lhe desse um ataque surpresa e Caron atravessasse uma parede.

Trevas cobriam o corredor em que Caron caiu, haviam parasitas naquele quarto também, mas quando a escuridão os tocavam, os parasitas, feitos de brilho das estrelas e Magia Negra, agonizavam e secavam até a morte.

Caron se levantou rapidamente e pulou de volta para aonde estavam lutando, em frente ao quarto do Rei. Jin o esperava lá, em posição. Caron analisou o perímetro enquanto desviava de um soco, David ainda estava lá, mas por pouco tempo.

Mike reapareceu, marcas douradas cobriam seu corpo, letras gregas dançando por sua pele enquanto ele abraçava a Fera Sagrada e seu filho.

— Não! — Grunhiu Caron, correndo para onde David desaparecia no ar, mas foi tarde demais.

Caron agarrou o pó dourado que se espalhou, mas não o príncipe. Ele encarou Jin, deixando seu ódio transparente, a escuridão tomava a caverna, mas Caron estava acostumado demais para se importar.

Antes que a luta prosseguisse, no entanto, o brilho dourado voltou e Mike agarrou Jin por sua jaqueta de couro, que o fez revirar os olhos. Jin deu um aceno debochando, desaparecendo junto a Mike, que mesmo com o rosto pálido e o nariz sangrando, deu um último olhar afiado para Caron. O olhar de um pai furioso.

Mesmo que tenham sumido em um pó dourado, como letras despedaçadas, Caron já sabia. Não era o fim.

Uma luz brilhou sobre a caverna, para espantar a escuridão e funcionou, em partes. A escuridão de Jin era como uma parte viva de si, tal qual tinta de polvo no mar, demoraria para deixar a Caverna Sagrada.

Caron sentiu sua pele queimar, mas manteve uma fachada estoica. Não que precisasse, é claro. Já não era mais segredo para o Rei que Caron fez um contrato com o Feiticeiro Negro para aprender a magia proibida. Mas Caron era orgulhoso demais para a admitir que pudesse ser machucado pelo Espírito Mentor.

— Fez um show e tanto agora. — Disse o Rei, sarcasticamente.

— Só quis pegar o meu filho de volta.

O Rei arqueou uma sobrancelha.

— Seria difícil acontecer, precisaria ter um filho primeiro.

— O garoto é meu filho!

— Lembro de ouvir Destiny dizer que sua irmã deu à luz, não você.

— Uma família não precisa de tais rótulos. — Caron basicamente rosnou.

— Deveria ter pensado nisso antes de usar o corpo do melhor amigo dele como um receptáculo para sua alma. Talvez isso seja algo recorrente, afinal. — Disse o Rei, que encarava seu próprio corpo na posse de Caron.

Caron deu as costas, nem um pouco arrependido.

— Meros detalhes, quando conseguir levá-lo para casa. O príncipe verá que minhas intenções foram puras.

O Rei gargalhou.

— É isso que veio fazer aqui? Implorar pelo perdão de um filho que nem é seu?

Caron o ignorou e continuou andando, a abrindo as grandes portas de pedra e conseguindo entrar sem problema algum no quarto do Rei.

— Venho atrás da Armadura De Aled.

— Ora… o que há de tão fascinante em um Artefato Sagrado? Não somente um, mas dois O'Niells o desejam…

Caron arqueou as sobrancelhas.

— O príncipe está atrás da Armadura De Aled?

O Rei lhe lançou um olhar afiado, enquanto Caron se espantava com a cesta de piquenique e os sanduíches espalhadas pelo quarto.

— Ele tem um nome, sabia disso?

— Se não é um verdadeiro membro da família O'Niell que lhe nomeia, não é válido. Agora me responda, o príncipe está atrás da Armadura De Aled?

O Rei meneou a cabeça, parecendo desapontado.

— Quer mesmo falar sobre isso? Talvez tenha se esquecido que quem o nomeou foi a camponesa que você decaptou.

A sua companheira destinada, a mulher que Caron pediu sua cabeça para que mantivesse seu filho seguro. Também conhecido como a mulher devassa que seduziu Jin Yang.

A esposa de Caron, que morreu virgem, culpada injustamente de ter tido um caso com O Ceifador.

— Isso não vem ao caso. Agora, o príncipe está…

— Porque deseja a armadura, afinal?

Caron deu de ombros.

— É o desejo de meu mestre.

— Ah… o Feiticeiro Negro…

O homem que prendeu o Rei na maldição do sono eterno.

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