O calor do verão estava começando a ceder, dando lugar ao frescor das primeiras brisas da primavera. Iara e Ares continuaram se encontrando, com as visitas ao jardim de Iara se tornando uma rotina. Para Ares, esses momentos no jardim eram um refúgio, um espaço onde ele podia respirar profundamente e refletir sem a pressão constante do mundo externo. Para Iara, eram ocasiões para ver um lado de Ares que ela nunca imaginara antes, um lado mais vulnerável e autêntico.
Numa tarde particularmente tranquila, Iara e Ares estavam sentados no jardim, rodeados pelo perfume das flores e pelo som suave dos pássaros. Eles estavam discutindo a vida, como sempre, quando Ares trouxe à tona um assunto que o perturbava.
— Sabe, Iara, às vezes sinto que estou em um beco sem saída. Todo o tempo que passei envolvido com corridas e confusões... não sei se ainda quero isso para minha vida. — Ele disse, olhando para as mãos entrelaçadas, como se buscasse uma resposta nas palmas das próprias mãos.
Iara o observava atentamente, percebendo a angústia em seu tom de voz.
— O que te impede de mudar? — perguntou ela suavemente. — Às vezes, o medo do desconhecido é o que nos prende ao que conhecemos, mesmo que não nos faça bem.
Ares suspirou e se recostou no banco, os olhos vagando pelo jardim.
— É como se eu estivesse preso a esse caminho. Todo mundo espera que eu continue com isso, e eu mesmo não sei o que fazer se não estiver no meio do caos. E se eu mudar e falhar? E se eu não encontrar um propósito que me faça sentir tão vivo quanto eu me sinto nas corridas?
Iara ponderou por um momento, escolhendo suas palavras com cuidado.
— Às vezes, o que precisamos é dar um passo atrás e encontrar o que realmente nos faz feliz, não o que os outros esperam de nós. A mudança pode ser assustadora, mas também é uma oportunidade para encontrar um novo propósito, um novo caminho. Ninguém conhece o futuro, mas é a nossa coragem em enfrentar o desconhecido que nos define.
Ares a olhou com uma expressão pensativa. Ele sabia que ela estava certa, mas a ideia de deixar para trás o mundo que conhecia o assustava. Ele havia construído uma identidade em torno daquela vida, e agora, parecia que estava sendo desafiado a reinventar-se.
Naquela noite, enquanto Ares voltava para casa, seu telefone tocou. Era uma mensagem de um velho amigo, convidando-o para uma corrida importante no próximo fim de semana. O convite veio com uma promessa de um prêmio considerável, algo que poderia resolver alguns problemas financeiros que ele estava enfrentando. A tentação era grande, mas a conversa com Iara ainda ecoava em sua mente.
Nos dias que se seguiram, Ares se viu dividido entre a velha vida que conhecia e a nova perspectiva que estava começando a explorar com Iara. Ele percebeu que estava à beira de uma grande decisão, uma que poderia mudar sua vida para sempre.
Enquanto isso, Iara continuava sua rotina, tentando não se deixar levar pelas preocupações de Ares. Ela estava empolgada com a possibilidade de novos projetos para seu jardim e preparava-se para a chegada das novas ervas que havia encomendado. Sua vida era tranquila e previsível, mas com a presença de Ares, começou a perceber a complexidade das emoções que vinha lidando.
No dia da corrida, Ares se preparava para mais um evento que, em teoria, deveria ser emocionante. Mas algo estava diferente. Ele sentia uma tensão que não era apenas por causa da competição, mas pela decisão interna que tinha que tomar. Ele estava no meio da multidão, se aquecendo e verificando sua moto, quando avistou Iara na plateia. Ela havia decidido assistir, apoiando-o mesmo sabendo do que ele estava se envolvendo.
Quando a corrida começou, Ares deu tudo de si, mas algo estava faltando. Ele não sentia a mesma euforia de antes. A adrenalina estava lá, mas o prazer parecia ausente. Ele terminou a corrida em segundo lugar, e a sensação de vitória foi ofuscada por uma profunda sensação de insatisfação.
Após a corrida, Iara o encontrou nos bastidores, suado e exausto. Ela o cumprimentou com um sorriso caloroso, mas também com um olhar de preocupação.
— Como você está? — perguntou ela.
Ares balançou a cabeça, tentando encontrar as palavras certas.
— Não sei. Sinto que estou perdendo algo que nunca realmente tive. — Ele disse, a frustração evidente em sua voz.
Iara o abraçou com carinho, oferecendo-lhe um conforto que ele tanto precisava.
— Às vezes, é preciso enfrentar a dor para descobrir o que realmente queremos. E eu acredito que você está no caminho certo para encontrar isso.
Naquele momento, Ares percebeu que Iara estava ao seu lado não apenas como uma amiga, mas como alguém que o compreendia de uma maneira profunda. Ele sabia que precisava fazer uma escolha, uma que poderia determinar seu futuro. A corrida havia sido um lembrete de que, apesar das vitórias momentâneas, o que realmente importava era encontrar um propósito verdadeiro.
Enquanto a noite caía e as luzes da pista de corrida se apagavam, Ares tomou uma decisão. Ele sabia que precisava mudar, precisava encontrar uma nova direção para sua vida. E, pela primeira vez em muito tempo, estava disposto a dar esse passo, mesmo que significasse abandonar a vida que conhecia e enfrentar o desconhecido.
Com o apoio de Iara e a determinação recém-encontrada, Ares se preparava para enfrentar o próximo capítulo de sua vida, um capítulo que prometia ser repleto de desafios, descobertas e a oportunidade de realmente se encontrar.