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A batata e o menino

"Observar alguém sofrer te faz feliz, Sua Majestade?"

Assim que Aries percebeu sua pergunta, ela mordeu a língua e segurou a respiração. Suas palavras saíram no calor do momento, já que era óbvio que Abel estava se divertindo. Ele era como um diabo a incitá-la a se afundar em nada além de arrependimentos, a carregar as mortes de seu povo.

Ele não precisava, porém.

Aries já havia percebido isso há muito tempo. Quando aquele príncipe herdeiro lhe concedeu um lugar especial durante a execução de todos. O príncipe herdeiro fez questão de que ela não perdesse uma única morte, gravando que isso não aconteceria se ela não se achasse tão importante.

"Não é óbvio, querida?" o canto dos lábios de Abel se ergueu em um sorriso irônico, arqueando uma sobrancelha enquanto olhava para ela. "Isso não apenas me faz feliz. Estou nas nuvens!"

Abel se inclinou até que seu rosto estivesse a uma distância de uma palma da dela. "Por que, minha querida? Você acha que estou errado? Perturbado? E louco?"

"Eu não disse isso, Sua Majestade." Ela desviou os olhos, com os lábios fechados. "Tudo que Sua Majestade disse são fatos." — isso incluía suas últimas palavras.

"Mhm? Você não é divertida, minha querida. Justamente quando pensei que você finalmente perderia a cabeça… hah, que chato." Ele resmungou em desapontamento, afastando-se dela e deitando de costas. Aries soltou um suspiro de alívio, parecendo que ele abandonou o assunto assim que considerou ser inútil.

"Sua Majestade," ela chamou suavemente, sabendo que não poderia deixá-lo em silêncio por muito tempo, pois isso lhe daria tempo para pensar em como matar o tédio. Abel respondeu com um resmungo desinteressado e não olhou para ela, mas isso foi suficiente para ela.

"Eu fui escravizada em Maganti por quase dois anos. Se eu reagi fracamente, é porque já gastei toda minha energia e sentimentos em relação a isso nos últimos dois anos," ela explicou enquanto examinava o perfil dele cautelosamente. "Viver é meu castigo; minha maneira de expiar pela morte de todos."

"Ah… quer dizer que você já está entorpecida? Que chato." Ela não respondeu, mas seu silêncio foi resposta suficiente. Abel lentamente fechou os olhos e não disse mais nada.

'Ele vai dormir agora?' ela se perguntou depois de um minuto, olhando para seus longos cílios. Aries quase pulou quando ele de repente falou.

"Continue falando," ele disse preguiçosamente. "Vamos ouvir o que você tem em mente. Eu odeio ouvir bobagens, no entanto. Faça ser interessante."

Aries franziu a testa enquanto olhava para cima, refletindo sobre que tipo de coisas ele gostaria de ouvir. Depois de um minuto de contemplação, Abel falou novamente.

"Uau… isso não é interessante?" ele comentou sarcasticamente, fazendo com que ela entrasse em pânico levemente.

"Ah... Sua Majestade, há uma coisa interessante que eu conheço…!" Aries clareou o pensamento, pensando em qualquer coisa aleatória que pudesse agradar seu gosto. "… é uma história curta sobre um garoto que reclama do tédio até ele encontrar uma batata."

Aries mordeu a língua enquanto seus olhos lentamente se abriam. O que ela acabou de dizer? Uma história curta sobre um garoto que sempre reclama do tédio? Ela não estava sendo sarcástica, embora. Esta história surgiu naturalmente porque Abel continuava reclamando que estava entediado. A única parte assustadora era que ele poderia quebrar o pescoço dela porque não tinha nada para fazer.

"Um garoto que reclama do tédio?" ele repetiu com uma sobrancelha arqueada, fixando os olhos nela. "E uma batata?"

Sua boca abriu e fechou como a de um peixe enquanto observava Abel deitar-se de lado novamente, os nós dos dedos apoiados em sua têmpora. "Isso é interessante, minha batata. Então, o que aconteceu com o garoto e a batata?"

"Bem." Aries engoliu em seco enquanto olhava em seus olhos vermelho escuros. Ela tinha notado antes, que seus olhos eram mortíferos, mas lindos. De perto, Abel era um homem lindo — ainda mais lindo que qualquer mulher ou homem que ela já encontrou. Se apenas ele não fosse louco.

"A batata argumentava com o garoto sobre a diversão de estar ao ar livre, brincar com crianças e criar memórias em vez de ficar trancado em seu quarto," ela murmurou distraída, um pouco distraída pelo olhar escondido por trás de seus olhos. "O garoto é teimoso, então ele continuou a discutir com a batata todos os dias. Mal sabia ele que a batata não tinha uma vida longa assim como ele. Então, quando a batata murchou e morreu, só então o garoto percebeu como é solitário estar sozinho novamente."

Ela respirou fundo antes de continuar. "Só então o garoto percebeu que a batata estava ao seu lado, mesmo que eles só discutissem em vez de sair onde a batata pudesse aproveitar seus últimos dias. Só então ele percebeu que a batata era realmente sua amiga. Então, o garoto saiu para provar que a batata estava errada, mas... a batata estava certa. O garoto vê como é lá fora, para brincar com crianças, ser gentil e aceitar que nem sempre está certo."

"Hmm..." Abel balançou a cabeça com os lábios fechados.

"Aparentemente, já é tarde demais, já que o garoto não pôde mais brincar com a batata porque ela se foi para sempre."

"Que triste..."

Aries estudou sua expressão inalterada. "É um pouco triste, mas o garoto aprendeu e mudou a partir de então. O moral da história é... às vezes, estar certo não é o mais importante. Às vezes, as pessoas ao nosso redor são ainda mais importantes do que estar certo." Sua voz ficou suave enquanto um sopro raso escapava por seus lábios.

Em sua vida anterior, antes do desastre que se abateu sobre Rikhill, Aries costumava brincar com crianças e narrar histórias infantis. Ela gostava de crianças, então ela conhecia muitas histórias infantis. Essa história era uma de suas favoritas. Mas a reação de Abel não mudou, então ela não sabia o que ele achava da história.

"Continue," ele disse, fazendo suas sobrancelhas se elevarem em confusão. "Eu disse para continuar falando."

"Mas a história termina aí, Sua Majestade."

"Continue falando."

"..."

A expressão de Abel permaneceu a mesma, mas ela sentiu um arrepio de medo descer por sua espinha. Então, Aries limpou a garganta enquanto vasculhava suas memórias por mais histórias.

"Você já ouviu falar sobre a chapeuzinho vermelho e o lobo?" ela perguntou com um sorriso constrangido e continuou a falar mesmo que ele não respondesse. "Chapeuzinho vermelho é uma jovem encantadora que conheceu um lobo bonito..."

Aries continuou falando até sua garganta ficar seca enquanto ele ouvia. No meio de sua terceira história, ela pensou que Abel estava apenas a punindo fazendo-a perder a voz primeiro. Mas quem era ela para reclamar? Contanto que este homem estivesse entretido, era isso que importava para ela. Seu tédio significava derramamento de sangue, afinal de contas. Aries não queria ser sua próxima vítima.

"Então, o sapo -- "

"Você fala muito," ele murmurou em um tom morto, silenciando-a de uma vez. Seu lábio inferior tremia, olhando para ele em branco. Quem mandou continuar falando?! Aries estava à beira das lágrimas enquanto tentava fazer o seu melhor aqui.

O silêncio os envolveu enquanto ela acabava mordendo os lábios enquanto Abel apenas a encarava para baixo. Ninguém poderia dizer o que ele tinha em mente, exceto Abel.

"Agora você está muito silenciosa." Ele apontou preguiçosamente, fazendo Aries morder a língua para manter a compostura. Ela subestimou-o. Ele não era apenas um tirano de sangue frio, mas tinha mais parafusos soltos na cabeça do que ela pensava. Se ele estava assim, ela enlouqueceria antes de Abel estourar.

"Por que você não chora?" ele sugeriu com sua voz barítona profunda, apontando um dedo para um de seus olhos. "Use este e chore."

"..." como ela poderia fazer isso?

"Chato." Abel bufou, agitando seus longos e espessos cílios lentamente antes de desabar de costas novamente. Ele fechou os olhos sem dizer mais nada, fazendo-a estudar seu perfil lateral.

'Ele está dormindo agora de verdade?' ela se perguntou cautelosamente enquanto segurava seu peito. Após vários minutos, ela finalmente pode suspirar aliviada. Parecia que Abel havia adormecido. Seus músculos tensos relaxaram com o pensamento dele dormindo, olhos no teto.

'Eu pensei que o serviria esta noite, mas estou contente que ele apenas me fez conversar por muito tempo,' ela sussurrou para si mesma. Aries estava preparada para dar seu corpo a ele, já que considerava seu corpo sem valor. Mas, assim como quando tomavam banho juntos, os toques de Abel não transmitiam nenhuma intenção maliciosa ou sensual. Era mais como... ele estava tocando um animal de estimação.

'Era só isso?' ela se perguntou, lançando um olhar ao Abel adormecido. 'Desde que ele me adotou como um animal de estimação, ele não pensa em me tocar como uma mulher? Mesmo assim, não posso baixar a guarda. Este homem é volúvel e seus altos e baixos são loucos. Preciso trabalhar duro para que ele não libere sua frustração e me estrangule até a morte.'

Aries fechou os olhos, indiferente à presença de Abel ao seu lado. Sua garganta estava seca, mas ela simplesmente não queria se mexer para salivar a garganta — com medo de que qualquer movimento leve pudesse acordá-lo. Antes de sucumbir à escuridão, seus últimos pensamentos foram... 'Espero acordar amanhã.'

Minutos depois de sua respiração ficar mais pesada, Abel lentamente abriu os olhos. Ele não mexeu um músculo, olhando para o teto. Ele virou a cabeça para ela depois de um minuto e apenas a encarou em silêncio.

"Que estranho," ele murmurou, com os olhos ainda nela. "Como ela pode dormir despreocupada com a pessoa que pensou em dez maneiras de matá-la enquanto ela falava essas histórias sem sentido?"

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