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"Quais são os seus planos para o futuro?"

O som insistente do despertador ecoou pelo quarto, arrancando-me de um sono mais profundo do que deveria. Olhei para o teto, os olhos piscando devagar enquanto tentava afastar o torpor que ainda pairava sobre mim. As imagens de um sonho fragmentado começaram a se dissolver, mas, por um instante, lembrei-me de Yuki.

Suspirei, virando para o lado e desligando o despertador com um toque rápido. Não era o momento para me perder em devaneios.

Levantei-me, espreguiçando os braços enquanto o quarto ainda parecia envolto em uma tranquilidade preguiçosa. Depois de me arrumar, desci as escadas, onde o cheiro reconfortante de torradas e ovos tomava conta do ar.

Na cozinha, minha mãe estava de avental, inclinada sobre o fogão, e Hana, minha irmã mais nova, movia-se ao redor da mesa com energia de sobra para alguém tão pequeno.

— Bom dia, Shin! — Minha mãe saudou sem tirar os olhos da frigideira. — Dormiu bem?

— Uhum, bem o suficiente — respondi, pegando uma torrada. O calor do pão recém-saído da torradeira era um conforto simples, mas necessário.

— Bom dia, maninho! — disse Hana, com um sorriso tão animado que parecia iluminar a cozinha. — Teve algum sonho estranho? Eu tive um sobre coelhos gigantes tentando fazer um bolo.

Dei uma risada fraca, mas balancei a cabeça.

— Nada de coelhos aqui. Foi só… normal. — Evitei maiores explicações, ignorando o nervosismo que começou a se formar.

Comi rápido, os pensamentos já na escola. Assim que terminei, joguei minha mochila nas costas e acenei para as duas.

— Tô indo. Vejo vocês mais tarde.

Saí para o frescor da manhã e, na esquina de sempre, avistei Seiji e Rintarou. Como sempre, Seiji estava cheio de energia, acenando como se me visse pela primeira vez em semanas.

— Ei, Shin! Sobreviveu mais uma manhã? — gritou ele, rindo alto.

— Mal. Acordar cedo é uma tortura — respondi, retribuindo o sorriso.

Rintarou estava mais calado, mas deu um aceno tranquilo enquanto ajustava a alça da mochila no ombro. Caminhamos juntos pelas ruas, e logo a conversa se voltou para os jogos que jogamos na noite anterior.

— Então, eu testei uma nova estratégia ontem — começou Seiji, gesticulando animadamente. — E adivinha? Totalmente invencível! Quero dizer, até eu fiquei surpreso comigo mesmo.

— Invencível? — perguntei, levantando uma sobrancelha. — Isso parece exagerado, até pra você.

Rintarou, com seu tom sereno, interrompeu.

— Invencível até alguém te derrotar e acabar com o seu ego. Dê uns dois dias.

Seiji fez uma careta fingida, segurando o peito como se tivesse levado um golpe direto.

— Isso machucou, Rin. Mas não o suficiente pra me impedir de provar que tô certo. Vocês vão ver!

Rimos enquanto continuávamos pelo caminho. A cidade parecia acordar ao nosso redor, com o som distante de carros e o murmúrio da vida cotidiana preenchendo o ar.

Ao chegar na escola, o ambiente era um contraste total com a tranquilidade das ruas. O pátio estava cheio de alunos em movimento, vozes misturadas em conversas e risadas ecoando em todas as direções. Era caótico, mas estranhamente reconfortante.

Cruzamos o pátio e entramos na sala de aula. O ambiente ainda carregava a energia inicial do dia, com mochilas sendo jogadas no chão e alunos tentando arrancar as últimas fofocas antes do professor chegar.

Peguei meu lugar habitual, soltando a mochila ao lado da cadeira. Logo depois, o professor entrou, segurando uma pilha de papéis que parecia ameaçar cair a qualquer momento. Ele ajeitou os óculos, analisando a sala com seu olhar meticuloso.

— Bom dia, classe. Antes de começarmos, tenho algo diferente para vocês. — Ele colocou os papéis sobre a mesa, pegando uma caneta para dividir as pilhas. — Quero que respondam a uma pesquisa sobre seus planos para o futuro. Nada complicado, só honestidade.

Ele começou a distribuir os formulários e, quando chegou a minha vez, peguei o papel e olhei para ele. "Quais são os seus planos para o futuro?", perguntava a primeira linha.

Olhei ao redor da sala, vendo meus colegas inclinados sobre suas folhas, escrevendo com confiança. Seiji rabiscava com entusiasmo, sua mão correndo sobre o papel como se já tivesse planejado cada detalhe da sua vida. Rintarou, sempre calmo, escrevia metodicamente, como se cada palavra fosse parte de uma equação já resolvida.

Todos pareciam saber exatamente o que queriam, como se o futuro fosse uma estrada clara e reta na qual eles já estavam trilhando. Mas eu? Eu estava preso, sem conseguir dar sequer o primeiro passo.

Um nó no meu estômago começou a se formar, e por mais que eu tentasse pensar em algo, qualquer coisa, as palavras simplesmente não vinham. O silêncio dentro da minha mente era ensurdecedor. Cada segundo que passava, minha incapacidade de preencher aquele espaço vazio se tornava mais evidente. A pressão de não saber quem eu era ou quem eu queria ser me sufocava, como se o próprio ar estivesse fugindo da sala.

O papel continuava ali, em branco, refletindo o que eu sentia: uma ausência de direção, uma falta de propósito. Enquanto todos ao meu redor avançavam, eu estava parado, congelado, incapaz de mover-me para frente.

O tempo passou mais rápido do que eu esperava, e logo o professor começou a recolher os formulários. Olhei para o meu — ainda em branco. As perguntas pareciam simples, mas para mim, cada uma pesava mais do que eu podia responder naquele momento. Suspirei e caminhei até a mesa do professor, entregando-o do jeito que estava.

Ele olhou brevemente para a folha, mas não disse nada. Apenas pegou o papel e passou para o próximo aluno. O gesto parecia insignificante, mas para mim, foi como um lembrete gritante do vazio que eu carregava.

No intervalo, sentei com Seiji e Rintarou, tentando esquecer o incômodo que o formulário havia me causado.

— Então, o que vocês escreveram? — perguntei, tentando soar casual.

Seiji foi o primeiro a responder, com um entusiasmo típico.

— Fácil! Vou ser um jogador profissional de futebol! — Ele estufou o peito, como se já estivesse vivendo esse futuro.

— Ah, claro. E qual time vai te contratar? — perguntei, sorrindo levemente.

— Ainda não decidi, mas não importa. Qualquer um ficaria feliz em me ter! — Ele piscou, rindo alto.

Rintarou, como sempre, foi mais contido. Ele ajustou os óculos e respondeu com a mesma calma de sempre.

— Quero continuar estudando. Entrar na universidade, fazer uma boa graduação e, depois, trabalhar em uma empresa sólida.

— Planejado e organizado como sempre, hein? — Seiji brincou, dando um leve tapa no ombro de Rintarou.

Eu sorri, mas a leveza deles fazia contraste com o que eu sentia por dentro.

— E você, Shin? O que escreveu? — perguntou Seiji, com curiosidade genuína.

Meu sorriso vacilou, mas tentei não demonstrar.

— Nada. Não sei ainda o que quero fazer.

Seiji inclinou a cabeça, mas em vez de se surpreender, deu de ombros.

— Relaxa, cara. Ninguém tem que saber tudo agora. Você vai descobrir eventualmente. Todo mundo tem seu tempo.

Rintarou assentiu, e sua voz tranquila complementou o comentário de Seiji.

— Não saber ainda não é um problema. É um começo. O importante é continuar pensando nisso. As respostas vêm quando a gente menos espera.

Apesar das palavras reconfortantes, não consegui evitar a sensação de inadequação. Como eles conseguiam falar sobre seus sonhos com tanta certeza, como se o futuro já estivesse desenhado? Eu admirava isso, mas, ao mesmo tempo, sentia uma pontada de inveja.

Era como se eles estivessem navegando por águas que já conheciam, enquanto eu me sentia perdido em um oceano sem fim.

As aulas continuaram normalmente, mas minha mente estava longe. Quando o sinal tocou, todos começaram a se levantar e sair, mas o professor me chamou.

— Shin, pode ficar um pouco depois da aula? Quero conversar com você.

— Claro, professor. Seiji, Rintarou, podem ir na frente. Eu já alcanço vocês.

Sentei-me novamente enquanto o professor esperava todos saírem.

— Shin, notei que você deixou seu formulário em branco. Por quê?

— Eu... não sei ainda o que quero fazer — respondi, um pouco envergonhado.

— Isso é completamente normal, Shin — disse ele gentilmente. — Mas é importante começar a pensar sobre isso. O que você gosta de fazer? O que te interessa?

— Não sei... Não tem nada que realmente chame minha atenção.

— E hobbies? Algo que você faz no seu tempo livre que possa se transformar em uma carreira?

— Eu gosto de jogar videogame, mas não sei se isso pode ser um futuro de verdade.

— A indústria de jogos é grande e cheia de oportunidades. Pode não ser fácil, mas se é algo que você realmente gosta, vale a pena considerar.

O professor parecia preocupado, mas não insistiu. Conversamos um pouco mais sobre possíveis interesses, mas eu ainda não conseguia encontrar uma resposta.

Enquanto caminhava pelo corredor vazio, senti um peso no peito. A conversa com o professor apenas reforçou minha sensação de estar à deriva.

Fui direto para o refeitório encontrar Seiji e Rin. Eles estavam me esperando com curiosidade.

— O que aconteceu? — perguntou Seiji.

— Nada demais. Só uma conversa — respondi, tentando soar despreocupado.

Sentamos para almoçar, e a conversa mudou para tópicos mais leves, mas minha mente ainda estava presa na pergunta do formulário.

Enquanto olhava para meus amigos rindo e conversando, a dúvida persistente continuava a ecoar na minha mente. "O que eu quero para o meu futuro? O que eu estava fazendo da minha vida?"

Quando a escola finalmente terminou, caminhei para casa. A tarde estava tranquila, com o sol se pondo e pintando o céu com tons de laranja e rosa. Os sons da cidade começavam a se acalmar, dando lugar aos murmúrios da noite que se aproximava. "Será que algum dia vou encontrar minha paixão? Algo que realmente me motive?", pensei.

Chegando em casa, minha mãe notou minha expressão preocupada.

— Shin, está tudo bem? Você parece distante.

— Só... pensando no futuro, mãe. Nada demais.

Ela sorriu, colocando a mão no meu ombro.

— Não se preocupe tanto, Shin. Você ainda tem tempo. Às vezes, as respostas vêm quando menos esperamos.

Subi para o meu quarto, as palavras do dia ecoando em minha mente como uma trilha que se recusava a terminar. Seiji, Rintarou, o formulário vazio… Tudo parecia gritar a mesma pergunta que eu não sabia responder.

Deitei na cama, o olhar preso no teto. As rachaduras na pintura pareciam traçar caminhos invisíveis, como se fossem labirintos refletindo o caos dos meus próprios pensamentos. "Será que algum dia vou encontrar algo que me faça sentir completo?" A pergunta flutuava, pesando no ar. "Ou estou condenado a continuar assim, preso nessa incerteza?"

Fechei os olhos, tentando afastar o aperto no peito, mas a dúvida era insistente. Por um momento, pensei no que minha mãe havia dito mais cedo, sobre as respostas virem com o tempo.

"Talvez ela esteja certa." A ideia me trouxe um pequeno conforto, como uma faísca em meio à escuridão. "Talvez as respostas realmente venham quando eu menos esperar."

Respirei fundo, sentindo o peso se dissolver, mesmo que apenas um pouco. A incerteza ainda estava lá, mas agora, junto dela, havia algo mais: a esperança de que o futuro não fosse tão vazio quanto parecia.

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