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Era mais um belo e ensolarado dia.
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Richard decidiu levar Ethan e suas irmãs para a sua empresa, como fazia às vezes.
Dizia que era para que aprendessem como é o dia a dia de uma empresa desde cedo, embora os funcionários soubessem que ele só queria exibir os netos que tanto o orgulhavam.
Ethan, com 14 anos, era muito mais alto do que seus colegas, embora seu crescimento tenha desacelerado desde então.
Já ciente das manias do avô, e familiarizado com o ambiente, vagou sem rumo pelos corredores da empresa, explorando o ambiente familiar.
Em uma sala de recepção, ele encontrou um garoto mais novo, concentrado em seus desenhos com lápis de cera. O garoto tinha cabelos castanhos e parecia ligeiramente magro, com uma aparência tímida enquanto olhava em volta nervoso.
Ethan sentiu uma curiosidade incomum em relação ao garoto e decidiu se aproximar. Mesmo não costumando se comunicar com estranhos nem um pouco, mas talvez curiosidade, perspectiva de conhecer alguém ou outra coisa, o fez falar com o garoto.
"Por que está tão nervoso?" perguntou, surpreendendo o garoto com sua repentina interação.
"Ah!?"
"Huh.. está.. tudo bem?" Ethan ficou sem palavras com a reação do garoto e começou a perder a confiança em sua decisão de se comunicar.
"Ah, não. Quero dizer, sim. Não, está tudo bem sim. Obrigado." - Depois de algum embaraço, o garoto respondeu. Mas sua resposta só deixou Ethan mais hesitante e começou a duvidar da sanidade do garoto.
"É que.. Minha mãe me trouxe para o trabalho dela e me disse para esperar desenhando. Só que.. aqui é estranho, e parece tudo diferente. Eu não acho que goste daqui." O garoto hesitou um pouco e falou, revelando um pouco de sua ansiedade.
Ethan pensou um pouco e pegou uma folha e um lápis de cera e começou a desenhar com o garoto, ele não sabia o que era, mas algo o fez querer continuar aquela conversa. "Então.. você não gosta de coisas novas? Ou não gosta de mudanças?"
"Acho que os dois..? Não é a mesma coisa?" O garoto pareceu ganhar alguma confiança ao ver Ethan desenhando com ele e continuou sua própria arte enquanto perguntava.
"Bom, são quase.. mas também muito diferentes.." Ethan talvez não tenha percebido que adquiriu o mesmo hábito do avô de falar pensativamente.
E tal forma de falar só deixou o garoto mais confuso, o fazendo parar o desenho e olhar para Ethan esperando algum esclarecimento.
"Veja bem, quando algo novo chega ou acontece em sua vida é diferente de quando ocorre uma mudança por algum motivo." Finalizou Ethan, dando ao garoto um pouco de compreensão.
"Então.. se algo mudou é porque aconteceu algo novo, mas às vezes algo novo é só algo novo e não muda nada?"
"Isso mesmo. E às vezes algo novo pode mudar para melhor. Não depende só se é bom ou ruim, mas também da maneira como você lida com isso."Concluiu Ethan enquanto complementava a resposta do garoto.
"Mas coisas novas assustam e mudanças também. O mundo todo é assustador." Insiste o garoto, mostrando uma atitude surpreendentemente firme em seu ponto de vista.
Ouvindo isso, Ethan parou por um instante. O garoto continuou a listar seus medos e preocupações com o mundo.
Durante esse tempo descobriu que o garoto tinha medo ou receio de muitas coisas, algumas até sem sentido algum para Ethan. Mas suas falas fizeram Ethan refletir por um momento.
Ethan sempre se distanciava de tudo e todos que não fossem relacionados com sua família, tinha poucos passatempos e nenhum amigo de verdade. Talvez sua atitude tenha sido a mesma que a desse garoto, fugindo de tudo, se afastando do que não conhece.
Lentamente Ethan percebeu que talvez seus problemas não fossem realmente únicos, ou que só ele os tivesse. Só eram expressos de maneira diferente e as fontes eram distintas, mas os mesmos medos e receios.
"Então descubra tudo." Ethan de repente interrompeu o garoto e disse como se ele próprio tivesse tomado uma decisão.
"Uh? O que quer diz-"
"Descubra tudo, aprenda tudo que pode aprender e viva tudo o que puder viver. Se tem medo de coisas novas, então experimente tudo o que puder experimentar e então não terá mais nada a temer." - Depois de falar um uma só respiração, Ethan fez uma pausa, para o garoto ou para ele mesmo assimilar o que acabou de dizer.
"Tudo que tem que ter em mente é só uma coisa,e deve sempre se lembrar dela: Se você tem um problema e pode resolver, então você não tem um problema e ele já está resolvido; Se você tem um problema e não pode resolver, então você não tem um problema, porque o que parece um problema é só a vida, e não pode ser mudado."
Os mesmos medos, receios e preocupações, só por causas diferentes. Essa foi a conclusão de Ethan perante a conversa com o garoto.
Ethan percebeu que ele é mais parecido com o garoto que pensava ser. Que ele não seja tão assustador e monstruoso quanto achava.
"Que tal isso? Tente encontrar algo que goste, que deseje fazer de verdade. E, talvez, dessa forma você vai encontrar não só uma coisa que anseie, mas também a coragem necessária para fazer isso." Em sua própria jornada de superar o passado, encorajou o garoto a explorar o mundo, a descobrir seus interesses e a encontrar coragem em suas paixões.
Essas palavras não eram apenas conselhos para o garoto, mas também uma reflexão profunda sobre sua própria jornada.
"E então? O que acha disso?" Ethan termina sua fala e entrega o desenho que fazia ao garoto. Uma composição simples de uma paisagem de praia com o céu claro, mas que parecia muito bonita para ter sido feita com lápis de cera em tão pouco tempo.
"Ah.. Oh, sim. Ficou muito bom. Você desenha muito bem.." o garoto despertou das palavras de Ethan em transe e falou quando viu o desenho entregue a ele.
"..Não falei do desenho!" A lateral da mão de Ethan, com um controle preciso e muita prática, acertou o topo da cabeça do garoto o fazendo cobrir o local com as mãos enquanto olhava para Ethan com queixas.
"Estou perguntando o que você pensa sobre o que eu falei. Ou não estava prestando atenção?" Ethan fala lentamente, como se fosse desferir outro golpe caso o garoto desse a resposta errada.
"E,eu escutei! Eu estava prestando atenção! Eu vou tentar fazer isso, ok? Eu prometo." O garoto respondeu agilmente enquanto apertava as mão na cabeça como proteção e Ethan acenou com a cabeça quando ouviu a resposta.
"Certo, isso é bom. Eu tenho que ir agora, talvez nós vejamos depois. Até algum outro dia."
"Oh.. ok. Até a próxima.."
Após a conversa, Ethan seguiu seu caminho, sem perceber o impacto de suas palavras no garoto. E assim segui seu próprio caminho, enquanto continuava a pensar em como pôr em prática o que havia refletido a pouco.
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Alguns minutos se passaram e o garoto continuou ali, parado, segurando o topo da cabeça com as mãos enquanto observava o desenho feito por Ethan que ficou em cima da mesa.
De repente, ouvindo o som de passos ele levantou a cabeça e viu uma mulher caminhando em direção a ele. "Mãe! Você finalmente voltou!"
A mãe dele sorriu gentilmente e acariciou a cabeça do menino enquanto falava. "Olá, filho. Como você está? Se divertiu desenhando?"
"Sim, e eu conheci alguém." Respondeu o garoto alegremente, fazendo sua mãe erguer as sobrancelhas.
"É mesmo? Pode me dizer quem é?"
"Ele é um garoto, parece mais velho que eu e tem cabelos brancos. O nome dele é.. "
"Qual o problema?" O menino parou sua fala, parecendo um pouco envergonhado. Tal ação fez sua mãe questionar o estado do garoto.
"..Eu esqueci de perguntar o nome dele…" completou o garoto com certo embaraço.
"Entendi. Está tudo bem.. eu acho que sei de quem você está falando." A mulher confortou seu filho enquanto recolhia as coisas de cima da mesa. Ela pensou no neto que o seu chefe sempre elogiava e falava sobre com orgulho. O garoto ouviu isso e falou com expectativa e ajudava a mãe a recolher os materiais.
"Mesmo? Sabe quem ele é?"
"Claro! Vamos para casa que eu te conto no caminho." A mãe do menino acenou a cabeça e disse quando terminou de recolher os lápis da mesa.
"Hm.. mãe.. será que um dia você pode me levar na montanha russa? Só na pequena! Não quero ir na grande." O garoto perguntou de repente enquanto caminhavam.
"Montanha russa? Achei que você tinha medo de altura.. e de coisas rápidas." A mãe ficou obviamente surpresa com o pedido do menino e não pode deixar de perguntar. O garoto ponderou um pouco antes de falar.
"Eu.. Eu realmente tenho medo, mas quero tentar fazer de tudo. Talvez eu encontre algo que goste entre os meus medos."
"Ah! Que incrível! Meu filho, você cresceu tanto de repente, hein?" A mãe rapidamente se abaixou e deu um beijo feliz na testa do menino, que se encolheu um pouco em vergonha e não pode deixar de dizer.
"Ei mãe.. eu já estou crescido.. não faça isso em público.."
"Claro, claro. Meu menininho já é um homem grande."
"Mãe.."
"Tudo bem. Hehe, estou apenas brincando. Então que tal irmos para casa agora, meu pequeno grande Ben?"
"Hm! Vamos lá."
Ethan não havia percebido grande o impacto que suas palavras tiveram no garoto. Seu comentário se tornaram quase um tesouro secreto, guardado profundamente pelo garoto, alimentando sua coragem para enfrentar seus medo enquanto vivia com essa lembrança em mente.
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V__ Z_ X_
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