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Casamento

A atmosfera da igreja era sombria, nem mesmo a doce melodia da orquestra poderia acabar com toda aquela tensão. Eu suspirei quando o padre finalmente disse:

"Que a noiva entre." 

Todos aqueles olhares de julgamento foram direcionados para minha pessoa, ou para os meus seios, não tive certeza. O decote exagerado não era a maior fonte de desconforto, e sim a mantilha que ocasionalmente raspava contra a minha testa e minhas bochechas. 

Entrei sozinha, torcendo para não cair e nem pisar na bainha do vestido. Eu poderia morrer se cometesse um erro desses naquele momento.

'Você pode matar todos eles se quisesse.' um pensamento intruso entrou em minha mente, não diria tão intruso. Eu diria que era a essência de Luella Everett. 

Me posicionei ao lado do meu noivo. 

'Que o diabo o carregue!'

Se este cara era tão bonito assim, eu me perguntei sobre o príncipe herdeiro. Seus cabelos eram dourados, sua pele tão pálida quanto a minha (não existe sol nesse mundo não???) e olhos vermelhos, impiedosos. Era como se ele já desejasse minha cabeça sem eu ter cometido nenhum pecado.

Este era Isaak Wiscold, o homem frio e indiferente que o mundo conhecia.

A cerimônia não era muito diferente do que no meu mundo, então eu não fiquei tão perdida quanto pensei que ficaria.

Na troca de alianças, meu noivo teve o maior cuidado possível para não me tocar, e eu tive o mesmo para com ele. 

E então, finalmente acabou.

"O noivo é permitido beijar a noiva." 

Ele não moveu um dedo, e é claro que eu não passaria essa vergonha de tomar a iniciativa. Burburinhos foram ouvidos pelo salão.

"Agora, como marido e mulher, devem caminhar de lado a lado, simbolizando a caminhada da vida, que agora terão juntos, até a morte." 

É claro, ele saiu na frente, com passos largos. Seria impossível eu acompanhá-lo com aqueles saltos e vestido arrastando pelo chão. 

'Canalha.'

Apertei meus punhos.

'Destreza e velocidade no nível máximo.' 

Ele nem percebeu que eu estava do seu lado até eu segurar seu braço. Os convidados ofegaram.

O duque virou seu rosto para mim, parecendo transtornado por eu ser capaz de acompanhá-lo naquelas posições.

'É claro que eu não seria, mas estou de hack. Ops. Magia.'

Eu havia aprendido a elevar minhas habilidades, esses efeitos duravam aproximadamente dez minutos. Como consequência, sentia muito cansaço. 

"Eles ficam bem juntos, não acha, lady Susan?" ouvi uma mulher dizer.

"É uma pena que a noiva é cheia de luxúria." um dos convidados do noivo disse. 

Minha cabeça estava girando e nem se havia passado dez minutos. 

'Ha... O espartilho.' suspirei.

Caminhamos até o salão de banquete, tudo parecia maravilhoso. A mesa onde nos sentaríamos, ficava no centro, era a mais alta devido os degraus. Naquele momento, o duque se desvencilhou de mim e subiu primeiro.

'Esse cretino.'

Mesmo que eu estivesse nos efeitos da minha magia, não tinha confiança para subir sem nenhum apoio. 

Por sorte, um dos cavalheiros que estavam por perto ofereceu sua mão para me ajudar a subir.

Encarei Isaak, sentado na ponta da mesa, enquanto eu mesma sentava na ponta oposta. 

'Eu vou me vingar dessa vergonha! Você vai ver! Com meus conhecimentos químicos, eu vou criar uma pílula anticoncepcional e você nunca vai ter herdeiros para prosseguir seu ducado...! OU MELHOR... EU VOU CRIAR UM DIU! NÃO... EU VOU FAZER UMA LAQUEADURA.'

Os servos começaram a colocar comida em nossos pratos, encarei aquilo, quase a morrer de fome.

'Ah... Na história original, ele nunca procurou Luella para passarem uma noite juntos.'

'Seu amor pela protagonista é mesmo impressionante!'

Escorei minha bochecha na palma da minha mão, me perdendo um pouco nos meus pensamentos.

'O triste é que no final, ela não o escolhe e ele acaba sozinho! Que homem tolo, se ele ao menos tivesse enxergado Luella direito!'

Naquela mesa, estavam presentes os pais de Isaak (do condado de Livian), e sua irmã mais nova (Flore). E claro, a minha família, ou seja, meu pai, a esposa dele e o filho deles, que não passava de um bebê.

"A comida não é do seu agrado, Luella?" 

Ouvi uma voz carregada de desprezo e sarcasmo, os olhos azuis joviais pareciam se divertir com a minha timidez.

Estreitei meu olhar.

'Se eu ao menos pudesse comer sem que esse espartilho me estourasse...' 

Ofereci um sorriso gentil à minha cunhada.

"É que estou jejuando por um casamento feliz." 

A Sra. Livian sorriu para mim, talvez um pouco comovida, ao direcionar suas palavras para mim.

"É uma pena, ouvi dizer que você gosta de frutos-do-mar, mandei fazerem especialmente para você."

Sorri mais abertamente, coçando meu pescoço.

'Devo pedir a algum servo que guarde algo para mim? 

Nahh, posso ficar sem comer por um dia.'

As borboletas têm certa de 12 mil olhos.

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