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Conto 45: A bruxa

À noite, enquanto deito e me cubro...

- Deus vai falar com você, em sonho. – diz um anjo.

E o sonho vem...

"Da mesma gaveta que tirei as últimas roupas do meu ex-marido, para doação, tiro duas blusas de Cássio:

- Que estranho... O que essas blusas fazem na minha casa? – penso indignada, enquanto as levanto com mãos, na altura dos olhos, e as contemplo.

Uma era bonita, azul, parecia de uniforme militar, e, a outra, era branca com muitas assinaturas, semelhante àquela que os estudantes fazem no último dia de aula, ao se despedir.

À tarde, vou ao encontro de Cássio num lugar cheio de árvores, parecia um bosque.

- Estão com você, Ana? Eu não sabia! – diz surpreso.

Devolvo as blusas, ele recusa a branca com a mão:

- Essa não!

Pega só a azul e a admira com um sorriso:

- Quero só esta! Espera... Daqui a pouco passo para pegá-la! – fala, devolvendo-a.

Deu uma desculpa qualquer. Deixa-as e vai embora rapidamente. Desaparece entre as árvores.

Começa a ventar, ouço o farfalhar das folhas. Sinto frio, então deixo a blusa azul sobre um tronco de árvore cortado, e, visto a blusa das assinaturas, a da despedida, já que ele queria a outra.

Um homem, que nunca vi, aparece, puxa-me pelo braço e convida-me para um passeio. Andamos pela floresta, de braços dados, e ele fala muito comigo. Não estava interessada na sua conversa, então largo o seu braço:

- Preciso voltar! – falo, apontando para um caminho.

Estava preocupada com a blusa azul que deixei no tronco. E se alguém a levar?

Enquanto regresso correndo, vou afastando os galhos com as mãos para passar. De longe, vejo a blusa azul, dobrada sobre o tronco, como a deixei, e, ao lado uma mulher de cabelos pretos.

Eu me aproximo. A blusa tinha uma fila de bonequinhos pequenos, grudados da altura do peito.

"Como não percebi esses bonecos antes?" – penso indignada.

Os bonequinhos eram todos iguais, sem feição, sem roupa, duros. Só o último era de uma bruxa feia, e com chapéu cônico; estava mofado por dentro.

A mulher me olhava com fúria; com uma mão, amassou a bruxa e a bruxa inflou, amassou e a bruxa inflou, de novo; ela amassou com mais força, parecia que ia inflar, mas não inflou, ficou murcha.

- Ela quebrou! – pensei.

A mulher olhava fixamente nos meus olhos, estava muito brava. Pensei que ia pedir a blusa azul, então avisei:

- Essa blusa é do meu amigo! – disse, pegando-a, e virando-me para o lado.

Levanto a cabeça para o céu, está anoitecendo. Ao olhar para a blusa, vejo que os bonecos sumiram, e a mulher também. Estava só.

Volto ao mesmo lugar, do início, para esperar por Cássio.

Fica escuro, e, lá estava eu, vestindo a blusa da despedida, enquanto abraçava a outra. Só que Cássio não voltou.

- Não acredito que ele não vem pegar as blusas! Vou ter que levá-las pra casa de novo! – pensava embravecida.

Acordo. Vou trabalhar pensando no significado desse sonho. À noite, liga minha mãe e conto o que sonhei:

- Vou abrir a bíblia... "Quem semeia para a sua carne, da carne colherá destruição; mas quem semeia para o Espírito, do Espírito colherá a vida eterna. E não nos cansemos de fazer o bem, pois no tempo próprio colheremos, se não desanimarmos. Portanto, enquanto temos oportunidade, façamos o bem a todos, especialmente aos da família da fé." Gálatas 6:8-10. – lê.

Ela interpreta:

- Esse sonho mostra que não acabou! Você semeou coisas boas: orou por ele e o ajudou. Nesse tempo ele se firmou mais, na fé, não é isso?

- Sim. Deus pediu pra ajudar, e o eu ajudei, sem esperar nada em troca!

- A semeadura acabou! Não precisa mais ajudar seu amigo. Entre a semeadura e a colheita existe um tempo de espera. Chegou o tempo da espera, porque a semente precisa de um tempo para nascer, e, a planta um tempo para amadurecer. Ele vai refletir. Agora, ore por você, pela sua vida. Você vai colher o que é bom!

- Obrigada, mãe. Deus abençoe.

- Deus abençoe.

Na noite seguinte, Lívia é quem liga:

- Fale-me mais desse sonho...

- Tirar as roupas da gaveta e devolvê-las significa que quero tirá-lo da minha vida. Ele não pega as roupas, ou seja, não vai aceitar a ruptura da amizade. Coloco a blusa da despedida porque estou decidida a terminar esta missão. Acho que os bonecos representam a legião de demônios que está sendo derrotada, mas, um funciona então ele não está totalmente liberto do mal. Quanto à mulher, não tenho certeza, parecia brava com os bonecos, amassava a bruxa, será que era um anjo? Anoitece, e, durante a noite, nada se pode resolver; ainda não acabou. Acho que essa é a interpretação.

Lívia pensa um pouco e conclui:

- Sinto que aquela mulher é a "dona Pomba". Ela está brava com você e não com os bonecos. Ela aperta a bruxa, mas ela deixa de funcionar quando você se aproxima. É por causa das suas orações que eles não conseguem agir na vida dele. No sonho você volta pra pegar a blusa azul... você tem que voltar a orar pela vida dele!

- Parece que é isso mesmo! Tinha parado de orar por ele, depois de tudo o que aconteceu, mas voltarei a orar!

- Ana, vou dormir, estou com sono.

Ela dorme, durmo também.

No dia seguinte, conto o sonho para Cássio, na esperança de encontrar mais informações.

- Não sei o que significa. Não faço a mínima ideia. – informa.

Contei a minha interpretação.

- Não sei, não sei. – nega veementemente.

- Mas será que nada do que eu falei tem algum significado pra você? – pergunto indignada.

- Não consigo, não tenho sensibilidade. – justifica-se, gesticulando as mãos.

- Pensei que você pudesse me ajudar...

- Não sei, mas quem sabe no futuro...

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