A estrutura maciça brilhava intensamente enquanto o grupo se aproximava, as runas douradas pulsando como se estivessem vivas. Kaira liderava o caminho, verificando as bordas da entrada antes de dar um sinal rápido para os outros seguirem.
"Vamos sair rápido," disse ela, seu tom firme, mas sem hostilidade.
Seungho observou enquanto os outros passavam pela entrada, um a um, até que fosse sua vez. Quando atravessou o limiar, foi envolvido por uma luz ofuscante que parecia puxá-lo em todas as direções ao mesmo tempo. Por um breve instante, ele sentiu como se estivesse caindo, apesar de seus pés nunca deixarem o chão.
E então, tudo ficou claro.
O barulho o atingiu primeiro.
A luz desapareceu, substituída pelo som de carros buzinando, vozes murmurando e um zumbido constante de atividade. Seungho piscou, seus olhos precisando de um momento para se ajustar ao ambiente. Ele estava de volta.
O portal havia se aberto no meio de Gangnam, no coração movimentado de Seul. Arranha-céus modernos cercavam a área, suas superfícies de vidro refletindo o brilho pulsante do portal atrás deles. A rua ao redor estava cercada por barreiras metálicas, e uma fila de carros de polícia estava estacionada ao longo da calçada, suas luzes piscando em um ritmo constante.
Homens e mulheres em ternos pretos estavam posicionados estrategicamente ao redor, controlando uma multidão de curiosos. Apesar da agitação, as pessoas mantinham distância respeitosa, tirando fotos e sussurrando entre si, mas sem ultrapassar os limites.
Seungho deu um passo para frente, observando o contraste entre o caos contido e a ordem reluzente da cidade.
"Se sente desorientado?" Kaira perguntou, parando ao lado dele.
"Não," ele respondeu, olhando ao redor com calma.
Kangwoo, que já estava à frente, revirou os olhos ao ouvir a troca. "Não temos tempo para passeios turísticos, Sr. Perdido," disse ele, o sarcasmo evidente.
"Por aqui," disse Kaira, enquanto gesticulava para uma das áreas reservadas.
Ao se aproximarem de uma das tendas brancas montadas dentro da zona de segurança, um homem de meia-idade, vestindo um terno impecável, saiu para encontrá-los. Seu cabelo grisalho estava penteado para trás, e ele parecia exalar autoridade.
"Srta. Choi," ele disse, inclinando levemente a cabeça em direção a Kaira. "É sempre um prazer vê-la, mas devo admitir que o retorno de sua equipe tão cedo era bastante inesperado."
Kaira inclinou-se em resposta, mantendo o tom respeitoso. "Diretor Song," ela começou, "não conseguimos—"
Song levantou a mão, interrompendo-a antes que pudesse continuar. Seu olhar desviou brevemente para a multidão aglomerada atrás das barreiras, algumas pessoas apontando na direção deles. "Por favor, entrem na tenda primeiro," ele disse, com uma voz calma.
A equipe obedeceu sem questionar, passando pela entrada da tenda. Lá dentro, o ambiente era organizado, com mesas dobráveis, cadeiras e uma pequena bancada com garrafas de água e copos descartáveis. Dois homens de terno permaneciam de pé, atentos aos arredores.
O diretor seguiu o grupo e gesticulou para os assentos. "Antes de continuarmos, gostaria de oferecer algo para beber. Temos água, café, chá."
A maioria da equipe recusou educadamente, com exceção do caçador mais jovem, que hesitou antes de responder. "Eu aceitaria um chá, se não for incomodar, senhor."
Song acenou levemente para um dos homens de terno, que imediatamente deixou a tenda para buscar o pedido. Enquanto isso, ele se acomodou em uma cadeira à cabeceira da mesa e gesticulou para que Kaira continuasse.
"Pode prosseguir, Srta. Choi," disse ele, cruzando as mãos sobre a mesa enquanto olhava diretamente para ela.
"Como eu dizia," começou Kaira, agora com todos em um ambiente mais privado. "Não conseguimos concluir a missão. Houve uma interferência dentro da fenda. Não conseguimos chegar ao chefe."
Os olhos do homem se estreitaram. "Interferência?"
Kangwoo, ainda visivelmente incomodado, cruzou os braços, encarando fixamente Seungho. "Encontramos ele dentro do portal e não sabemos como entrou. Ele disse que está perdido."
Song ergueu uma sobrancelha, virando-se para Seungho. "Perdido, é? O Sistema não permite entradas não autorizadas, e um portal reservado como este deveria ser inacessível... Mas creio que trazê-lo até aqui nos custou muito tempo, Srta. Choi."
"Foi minha decisão trazê-lo para fora em segurança, senhor," Kaira respondeu, mantendo o tom firme e respeitoso. "Aceitarei qualquer punição que o senhor considerar adequada, mas eu não poderia deixar alguém que, possivelmente, fosse apenas um civil curioso se machucar dentro do portal. Contudo, acredito que ele já provou que não é um civil. Ele lutou ao nosso lado e nos ajudou a lidar com as criaturas. Acredito que vale a pena investigá-lo mais a fundo, mas, por ora, ele não representa uma ameaça."
Song manteve-se em silêncio por um momento, observando Kaira com um olhar avaliativo. Ele então desviou os olhos para Seungho, analisando-o com cuidado. "Muito bem, Srta. Choi, sua decisão será respeitada por enquanto. No entanto, não me interprete mal: isso não o isenta de uma investigação mais detalhada. Quero um relatório completo da missão."
Kangwoo soltou uma risada baixa. "Você diz isso agora, mas ele claramente não é comum. Alguém que entra em um portal como este, sem equipamentos e sozinho?"
"Já chega, Sr. Han," disse Song, seu tom cortante. "O que importa agora é garantir que o portal não se torne instável até que vocês possam voltar e fechá-lo."
Kangwoo frustrado, resmungava baixinho, mas o suficiente para que Seungho e outros membros do grupo ouvissem.
"Equipe minha," ele murmurou entre dentes. "Mas, claro, todo mundo escuta a Srta. Choi só porque ela tem um Rank maior. Ridículo."
Kangwoo lançou um olhar enviesado para Kaira, que estava conversando calmamente com o Diretor Song. Seu tom de voz era sereno, mas firme, como se não precisasse de esforço para se fazer ouvir.
"Se ao menos alguém lembrasse que eu sou o líder oficial…" Kangwoo continuou, mas sua voz se perdeu quando um dos caçadores mais jovens tossiu, claramente desconfortável com o que estava ouvindo.
Kaira, embora aparentemente distraída com Song, parecia ter captado o murmúrio. Ela não olhou diretamente para Kangwoo, mas sua expressão endureceu ligeiramente, como se estivesse perfeitamente ciente de suas reclamações.
Enquanto os caçadores discutiam, Seungho observava tudo ao seu redor, deixando seus sentidos absorverem cada detalhe. O cheiro de ozônio no ar, misturado com o leve aroma metálico típico de fendas recém-abertas, fazia seu nariz formigar. O som abafado das vozes além das barreiras era entrecortado por gritos distantes e cliques de câmeras, enquanto a multidão do lado de fora tentava vislumbrar o que acontecia. Ele sentia a vibração sutil do chão sob seus pés, causada pelo fluxo instável de energia residual do portal atrás dele. Cada detalhe parecia ao mesmo tempo familiar e estranho, como se pertencesse a um mundo que ele havia deixado para trás há muito tempo.
O contraste era gritante. Durante anos no Abismo, ele havia enfrentado solidão, monstros e as vezes até a quase morte. Agora, ele estava no centro de Gangnam, cercado por pessoas, luzes e tecnologia que pareciam distantes da sua realidade.
Kaira percebeu seu olhar perdido e aproximou-se.
"Você está bem?" ela perguntou, baixando a voz para que apenas ele ouvisse.
Seungho assentiu lentamente. "Isso é... diferente."
Kaira olhou para ele com curiosidade, mas decidiu não pressioná-lo. "Não vai demorar muito para que você volte para casa. Vamos resolver isso."
Casa...
A quanto tempo ele não ouvia essa palavra? Era uma ideia que parecia ao mesmo tempo reconfortante e inalcançável. Ele tentou se lembrar de onde vivia antes da Fenda engoli-lo, mas apenas fragmentos desconexos invadiam sua mente—paredes escuras e vazias, um som abafado de risadas que já havia esquecido, e um silêncio pesado que parecia devorar tudo ao redor.
Sim... não havia nada que restava para ele naquela antiga e velha casa. "Voltar" não significava nada, pois não havia ninguém o esperando, a não ser a dor.
—
Enquanto o grupo se preparava para dispersar, Song se aproximou de Kaira. "Dois dias. Nem mais, nem menos. Precisamos desse portal fechado antes que atraia atenção indesejada. Certifique-se de que sua equipe esteja pronta."
"Sim, senhor," Kaira respondeu, inclinando-se respeitosamente.
Diretor Song terminou de conversar com Kaira e voltou sua atenção para Seungho. Seus olhos avaliavam o homem à sua frente com cuidado, como se estivesse tentando decifrar um quebra-cabeça.
"Srta. Choi," ele disse, sua voz firme. "Leve sua equipe e preparem-se para a próxima incursão. Preciso conversar com ele sozinho."
Kaira hesitou por um momento, olhando de relance para Seungho, mas acabou assentindo. "Sim, senhor."
Ela fez um sinal para os outros membros da equipe, que seguiram relutantes. Kangwoo resmungou algo inaudível, mas obedeceu, lançando um último olhar de desdém para Seungho antes de sair da tenda.
Agora a tenda estava vazia, exceto por Seungho e Song. O diretor fechou a entrada, criando uma barreira para as distrações externas. Ele então se virou lentamente para Seungho que ainda estava de pé, gesticulando para uma cadeira.
"Por favor, sente-se," disse Song, sua voz um pouco mais controlada, mas ainda carregada de autoridade.
Seungho obedeceu, a rigidez de seu corpo mostrando que ele estava desconfortável com a situação.
"Meu nome é Song Minsoo," o diretor disse, cruzando os braços enquanto o observava. "E você é?"
"Kang Seungho," respondeu ele, mantendo a voz firme.
Song inclinou a cabeça, registrando o nome. "Sr. Kang, você sabe que entrar em portais exclusivos ilegalmente é considerado crime?"
A declaração caiu como um peso.
Seungho franziu a testa, claramente surpreso. "Crime? Eu não sabia. Peço desculpas… não foi minha intenção causar problemas."
Song suspirou, como se já esperasse essa resposta. Ele puxou uma cadeira e se sentou em frente a Seungho, apoiando os cotovelos na mesa.
"A maioria das pessoas que faz isso diz o mesmo. Mas você entende a gravidade disso? Portais exclusivos são propriedades protegidas por contratos caríssimos. O acesso sem autorização pode causar grandes problemas—tanto para você quanto para nós."
Seungho abaixou os olhos. "Eu... não sabia. Só lembro de estar perdido e de... encontrar o portal."
"Entendo," disse Song, embora seu tom não demonstrasse total convicção. "Preciso do seu número de caçador para verificar sua identidade no sistema."
Seungho hesitou, sua mente vasculhando memórias que pareciam estar empoeiradas e desconexas. "Eu... não me lembro do número," admitiu.
A expressão de Song endureceu. "Você não lembra? Nem mesmo o básico? Quando foi sua última entrada em um portal?"
Seungho olhou diretamente para ele, a confusão começando a transparecer em sua voz. "Eu... não sei. Só... em que ano estamos?"
Song franziu a testa, surpreso pela pergunta incomum. "Estamos em 2036."
Seungho ficou imóvel. O número ecoou em sua mente enquanto ele processava.
Doze anos.
Ele piscou, tentando controlar a onda de choque que ameaçava dominá-lo. Apenas doze anos? Ele havia sentido cada segundo no Abismo, cada momento estendendo-se como se fosse uma eternidade.
"Doze anos," ele murmurou para si mesmo, quase inaudível.
Song estreitou os olhos, percebendo o impacto da revelação no rosto de Seungho. "Sr. Kang," disse ele, seu tom mais grave agora. "O que exatamente aconteceu com você?"
Mas Seungho não respondeu. Sua mente estava presa naquele número. Doze anos. O mundo havia seguido em frente enquanto ele estava preso.