Alinos - O sonhador

Alinos (M-932A)

-Ano 711, após a criação do império

-Colônia móvel de mineração 3 (Sweeper03)

Pax's P.O.V

Eu não aguento mais. Depois de tanto tempo lutando, eu não aguento mais...

"Acorda, seu inútil!" gritou uma voz aguda de alguem que eu tenho quase certeza de que vou esganar nos próximos quinze segundos.

"Lo, se você gritar mais uma vez no meu ouvido, eu te jogo no compactador de lixo," respondi, claramente no auge do meu bom humor.

Lo, o gêmeo, é um verdadeiro pé no meu saco. Mas, apesar disso, é uma das poucas pessoas por quem eu daria minha vida.

"Pax, já passou da hora de acordar! Vamos nos atrasar pro turno!" insistiu o tampinha. Acredite ou não, essa praga, que atormenta a minha existência, tem apenas oito anos.

"Tá, tá, já estou indo," resmunguei enquanto me levantava da cama.

São 5:15 da manhã no fuso horário atual. E, como sempre, está quente pra Caralho.

Caminhei até o lavatório comunal do bloco E do sweeper. Você deve estar se perguntando o que é um sweeper. Bem, o sweeper, ou "colônia móvel de mineração" para os nerdolas, é um enorme bloco estúpido de metal pesado pra Caralho e que decidiram equipar várias lagartas gigantes. É também minha casa e a de mais umas 7 mil pessoas, infelizmente.

"Tá quente pra caralhooo!" compartilhei minha prece matinal com meus colegas de bloco ao sair do banho.

"E, pela milionésima vez, você está certo, Pax," disse meu amigo Kassio, rindo.

Kassio, o Enxerido, é meu amigo de infância. Ele é um dos operadores dos sistemas de telemetria e comunicação do sweeper. E não preciso nem dizer que ele é O fofoqueiro, mas é o fofoqueiro que todo mundo adora. Ele também é dois anos mais velho que eu.

"No dia em que eu estiver errado, Kassio, pode deixar que eu mesmo me jogo do topo do sweeper," brinquei.

"Já vi que vamos ter que criar um novo trabalho diário: 'Salvador do Pax'..." intrometeu-se Lo, arrancando boas risadas de todos.

Ah, esqueci de me apresentar. Meu nome é Pax, o Sonhador. E eu trabalho na manutenção do sistema de suporte à vida do sweeper.

"Nos vemos na hora do almoço, Enxerido!" despedi-me de Kassio e segui em direção à minha estação de trabalho, com Lo ao meu lado.

"Nunca vou entender por que você insiste em me acompanhar nesse trabalho chato, Lo," disse ao meu pequeno amigo.

"Porque eu tenho medo de você e a Myna fazerem besteira. E eu gosto de respirar, ok?!" respondeu o tampinha.

"Ah, para de drama. Faz mais de dois meses que não botamos fogo no sistema!" respondi, indignado.

"Uga buga, disse o retar-" Lo não teve tempo de terminar, pois eu já tinha dado um leve soco em sua cabeça.

"E na próxima, eu te dou um chute no cu," ameacei com um sorriso.

Lo me olhou com cara de choro, mas decidiu engolir as lágrimas e manter a pose de durão.

"Finalmente, os mocinhos decidiram trabalhar! Eu já estava indo arrastar vocês pelos corredores," disse uma voz feminina que eu reconheceria em qualquer lugar.

"Foi mal, Myna, mas o Lo acabou dormindo demais e eu tive que arrancá-lo da cama," menti descaradamente.

"Ah, seu filho da-" Lo me encarou e decidiu cortar a reclamação pela metade,lembrando-se do chute prometido.

"Nada de desculpas, vocês dois. Vamos logo! Esses dutos não vão se limpar sozinhos," ordenou Myna com firmeza.

Myna, a Esperançosa, também é minha amiga de infância. Ela é filha do capitão do sweeper, mas os dois não se dão muito bem. Ela também é minha melhor amiga.

"Ei, teve notícias da sua mãe?" perguntei, tentando abordar um assunto delicado.

A mãe de Myna, Eliana, a Defensora, é líder do esquadrão de defesa e resgate do sweeper. Ela desapareceu há dois dias enquanto tentava salvar uma jovem que caiu nos níveis inferiores do sweeper, antes de ser engolida por uma tempestade de areia.

"Ainda não, mas eu sei que ela está bem! Minha mãe é a mulher mais corajosa de toda a galáxia!" disse Myna, estufando o peito com orgulho.

"Se alguém pode sobreviver aos desertos de Alinos, é com certeza a Eliana!" acrescentou Lo com brilho nos olhos.

"Vocês têm razão. Logo teremos notícias dela, com certeza," respondi, tentando sorrir para passar confiança.

Uma coisa que aprendi ao longo dos anos com Myna é que ela sempre se sente melhor quando eu sorrio para ela.Mas, lá no fundo, eu estou apavorado.

Eliana foi quem me acolheu quando meus pais caíram do sweeper há onze anos. Ela cuidou de mim desde então. Meus pais nunca foram encontrados e foram dados como mortos pelo deserto.

Eu não posso deixar que essa história se repita.

Não.

Eu não vou deixar que isso aconteça de novo...