No dia seguinte, Dante acordou sentindo-se surpreendentemente tranquilo. O progresso na criação de suas runas estava caminhando bem, e ele sentia que estava próximo de alcançar algo significativo. Apesar de todo o mistério em torno de sua jornada pessoal, ainda tinha de se concentrar nas atividades de Hogwarts. O dia começaria com a aula de Transfiguração, uma matéria que não representava grandes desafios para ele, mas ainda assim, era essencial para seu progresso como estudante. Ele já havia aprendido a dominar os feitiços mais simples de transfiguração e sempre conseguia completar as tarefas de forma eficiente. Mas algo em sua intuição dizia que essa aula em particular poderia ser diferente.
Chegando à sala de Transfiguração, Dante sentou-se no lugar de sempre, ao fundo, preferindo observar os outros alunos entrarem antes de se engajar em qualquer interação. O salão estava agitado com o burburinho dos alunos, ansiosos para o que viria a seguir. Logo, a professora McGonagall entrou com sua habitual postura impecável, chamando a atenção de todos sem esforço.
Com um leve aceno de sua varinha, o quadro negro ao fundo da sala mostrou a palavra "Duplas". Os alunos trocaram olhares curiosos, ainda sem entender o que aquilo significava.
"Bom dia, classe", começou McGonagall, com sua voz clara e firme. "Hoje, teremos uma mudança importante na maneira como as aulas serão conduzidas a partir de agora. Todos os trabalhos, sejam em sala de aula ou fora dela, deverão ser feitos em duplas."
Imediatamente, os murmúrios aumentaram. Alunos cochichavam entre si, alguns com entusiasmo, outros com clara relutância. Dante franziu a testa. Não era fã da ideia de trabalhar em equipe; gostava de controlar todos os aspectos de suas tarefas.
"Vocês devem dividir as tarefas de forma igual", continuou McGonagall, ignorando os cochichos ao redor. "Cada parte da tarefa deve ser realizada por um dos membros da dupla, e, ao final, vocês deverão unir as duas partes. Vamos saber claramente quando apenas um de vocês fez o trabalho, e, nesse caso, a nota será zerada."
Dante suspirou profundamente. Ele detestava depender dos outros para realizar qualquer coisa, principalmente em atividades que envolviam concentração e precisão. Ele tinha a sensação de que essa atividade em dupla seria mais frustrante do que desafiadora.
"Agora, escolham suas duplas", finalizou McGonagall, dando a ordem para que os alunos se levantassem e começassem a procurar parceiros.
Dante continuou sentado por alguns momentos, sem qualquer intenção de se levantar. A ideia de formar dupla não o atraía, e ele preferia esperar que alguém se aproximasse ou que sobrasse para ser colocado com quem restasse. Observando seus colegas, viu grupos de amigos formando duplas rapidamente, enquanto ele permanecia em silêncio. Antes que pudesse pensar em quem iria sobrar, uma voz ao seu lado o fez levantar o olhar.
"Hermione Granger", pensou Dante ao vê-la. Ela era conhecida por ser uma das melhores alunas da turma, sempre dedicada e focada.
"Oi, Dante", disse ela, com um sorriso. "Quer formar dupla comigo?"
Ele a olhou com uma expressão neutra. Não havia nada de errado em trabalhar com Hermione, mas preferia fazer tudo por conta própria.
"Eu... não sei, Hermione", respondeu ele. "Prefiro fazer as coisas sozinho."
Hermione parecia determinada. "Bem, McGonagall deixou claro que temos de trabalhar em duplas, então você não tem muita escolha."
Dante franziu o cenho. "Eu sei, mas... talvez eu pudesse esperar por outra pessoa."
Hermione sorriu pacientemente. "Você sabe que trabalhar em equipe pode ser bom, certo? Podemos aprender muito um com o outro. E não me importo de ser sua dupla."
Dante suspirou, percebendo que resistir seria inútil. "Tá bom", disse ele, relutante. "Vamos formar dupla, então."
Hermione se sentou ao lado de Dante, parecendo satisfeita com a escolha. Ele, por outro lado, ainda estava apreensivo sobre como isso iria funcionar.
Assim que todos os alunos estavam em suas duplas, McGonagall deu um sorriso discreto, o que surpreendeu alguns dos estudantes. "Ah, eu esqueci de mencionar um detalhe importante", disse ela, com uma leveza incomum em sua voz. "As duplas que vocês formaram hoje deverão permanecer as mesmas até o final do ano letivo."
O burburinho na sala voltou com força total. Muitos alunos expressaram sua surpresa e até certa frustração. Manter a mesma dupla por todo o ano era algo inesperado.
"Isso é para incentivar a cooperação entre vocês", continuou McGonagall, seu tom voltando a ser sério. "Trabalhar com alguém por um longo período é uma habilidade valiosa, e tenho certeza de que vocês aprenderão muito com isso."
Dante não disse nada, mas sentiu um leve desconforto com a ideia de estar preso a uma dupla pelo resto do ano. Ele já estava imaginando as dificuldades que viriam com essa imposição.
"Agora, para a primeira atividade", anunciou McGonagall, fazendo um gesto com a varinha. Em cada mesa, apareceu um pequeno bule de chá de cerâmica. "Cada dupla será responsável por transfigurar este bule. Um de vocês deverá transfigurar a metade superior, enquanto o outro ficará com a metade inferior. Quando terminarem, as duas partes devem se encaixar perfeitamente, formando um único bule."
Hermione imediatamente se inclinou para o bule na mesa à sua frente, examinando-o com cuidado. "Eu posso fazer a parte de baixo, se você quiser", sugeriu ela, já pensando na divisão de tarefas.
Dante assentiu. "Tudo bem, eu faço a parte de cima."
"Ótimo", respondeu Hermione com um sorriso, já pegando sua varinha.
Enquanto começavam a trabalhar, Dante percebeu que, apesar de simples, a tarefa exigia mais do que apenas habilidade com transfiguração. A maior dificuldade estava no fato de que as duas partes precisavam se unir de maneira precisa, algo que dependia de uma comunicação e entendimento claro entre os dois.
A sala estava silenciosa, mas Dante ouviu algumas conversas sussurradas ao seu redor.
"Isso é mais complicado do que parece", comentou um aluno próximo. "Como vamos fazer as duas partes se encaixarem? Cada um de nós imagina o bule de um jeito diferente."
Outro aluno respondeu: "Pois é, se eu fizer a parte de baixo redonda e o meu parceiro fizer a parte de cima mais estreita, não vai encaixar."
Dante ouviu essas preocupações, mas manteve-se concentrado em sua própria metade. Ele não tinha muito interesse nas dificuldades dos outros; queria apenas terminar sua parte com perfeição. No entanto, era verdade que a tarefa não era tão simples quanto parecia. A precisão era essencial.
Hermione estava claramente focada, concentrando-se em cada detalhe da parte inferior do bule. Dante a observou por um breve momento e, em seguida, voltou sua atenção para a tampa que estava transfigurando.
Após alguns minutos de trabalho, Hermione levantou o olhar. "Terminei minha parte. Como está indo a sua?"
Dante olhou para a metade superior que havia transfigurado. "Está quase pronta. Vamos tentar encaixar."
Eles cuidadosamente uniram as duas partes do bule. No início, parecia que tudo ia se encaixar, mas então uma pequena falha apareceu na junção. Não era algo grande, mas visível o suficiente para indicar que as duas partes não estavam perfeitamente alinhadas.
"Ah, não...", murmurou Hermione, desapontada. "Parece que algo não deu certo no encaixe."
Dante franziu o cenho, estudando a junção com atenção. "Provavelmente usamos abordagens diferentes. Talvez devêssemos ter combinado melhor como imaginávamos o bule."
"Sim, acho que você está certo", respondeu Hermione, tentando não se deixar abalar pelo erro. "Vamos tentar de novo."
Eles se separaram por mais alguns minutos, refazendo suas metades com mais cuidado, até que finalmente conseguiram unir as duas partes perfeitamente.
McGonagall passou pela mesa deles e olhou o trabalho com olhos críticos, mas satisfeitos. "Bom trabalho, Granger, Maximilliam", disse ela, com um leve aceno de aprovação. "Esse é o tipo de cooperação que espero ver de vocês durante o ano."
Hermione sorriu, satisfeita, enquanto Dante apenas assentiu, sentindo-se aliviado por terem completado a tarefa com sucesso. No entanto, ele não pôde deixar de pensar no que McGonagall havia mencionado sobre manter as mesmas duplas pelo resto do ano. Seria um longo caminho pela frente.
Enquanto os outros alunos ainda lutavam com suas próprias transfigurações, McGonagall observava Dante de longe, com uma expressão pensativa. "Pobre garoto", pensou ela. "Ele passou por tanto... Essa nova dinâmica de aula foi feita especialmente para ele. Ele precisa aprender a confiar nos outros, a se abrir. Caso contrário, temo que ele possa se perder em sua própria escuridão."
Com um suspiro, a professora continuou a caminhar pela sala, ajudando os alunos conforme necessário.
A aula seguinte com o professor Gagueira começou da forma habitual, com o ambiente da sala carregado de um cheiro forte de alho, o que fazia muitos alunos torcerem o nariz assim que entravam. Dante entrou sem pressa, mantendo seu usual distanciamento. Ele nunca esperava grandes coisas daquela aula; para ele, era quase uma perda de tempo. O professor Gagueira era incapaz de manter a atenção dos alunos por muito tempo, e sua fala entrecortada pela gagueira interminável só tornava tudo mais penoso.
Dante se sentou na parte de trás da sala, seus pensamentos já se desviando para as runas que ele queria testar mais tarde. Mas, para seu desgosto, a aula de hoje seguiria a mesma dinâmica de duplas que a de Transfiguração. O professor mal havia começado a explicar a tarefa quando a ordem foi dada: mais uma vez, os alunos teriam de trabalhar em pares.
Dante franziu o cenho e olhou ao redor, na esperança de que talvez pudesse se esquivar dessa regra. Mas, antes que pudesse sequer cogitar uma desculpa, um aluno da Sonserina, que parecia tão desinteressado quanto ele, se aproximou.
"Você quer formar dupla?" perguntou o garoto, cuja expressão não sugeria entusiasmo algum.
Sem se dar ao trabalho de responder verbalmente, Dante acenou com a cabeça, resignado. O aluno sentou-se ao lado dele e, por um breve momento, Dante se permitiu uma faísca de esperança: talvez esse garoto soubesse o que estava fazendo. Infelizmente, essa esperança se dissipou quase instantaneamente.
A tarefa, relativamente simples, consistia em responder a um pergaminho com perguntas sobre feitiços básicos de defesa. Dante sabia que poderia ter terminado o trabalho sozinho em menos de meia hora, mas seu parceiro se revelou uma pedra no caminho. A cada pergunta, o garoto da Sonserina fazia expressões confusas e parecia mais perdido do que qualquer outro aluno na sala.
"É... acho que é o feitiço Lumos... ou será que é o Nox?" o garoto disse, enquanto Dante tentava manter a paciência.
"São feitiços opostos", respondeu Dante, com a voz baixa, mas afiada. "O que você está fazendo não faz sentido."
Dante rapidamente preencheu a parte que lhe cabia, e quando o garoto da Sonserina terminou sua metade — de forma desastrosa, é claro —, Dante só podia suspirar. O resultado final era, sem dúvida, uma combinação de respostas corretas e erros grotescos. Não seria surpresa se eles recebessem uma nota medíocre, ou até pior.
Ao fim da aula, Dante mal se despediu. Ele não conseguia suportar aquela perda de tempo e já sentia o peso da frustração acumulada. O professor Gagueira, em sua costumeira inabilidade de controlar a classe, mal percebeu que Dante e seu parceiro entregaram o trabalho sem grandes discussões. Como de costume, a aula não proporcionava nenhum desafio real a Dante, apenas mais uma confirmação de que ele precisaria encontrar formas mais produtivas de gastar seu tempo.
Assim que as aulas terminaram, Dante saiu do castelo em direção ao local onde sempre treinava: um ponto isolado na margem do lago, não muito longe da Floresta Proibida. A tranquilidade ali lhe dava a concentração necessária para suas experiências com as runas.
Ele se agachou perto de uma das árvores, retirando de seu bolso um pequeno pedaço de pergaminho onde havia desenhado uma runa nova, ainda em desenvolvimento. A ideia era simples, mas exigia perfeição: uma combinação de luz e cegueira. Se funcionasse, a runa deveria emitir um clarão intenso que cegaria qualquer inimigo próximo por alguns segundos, tempo suficiente para Dante escapar ou contra-atacar.
Dante desenhou cuidadosamente a runa na casca de uma árvore com a ponta da varinha, murmurando encantamentos enquanto cada traço tomava forma. A árvore parecia absorver o poder da runa, e por um breve momento, brilhou em um tom suave de dourado.
Ele recuou alguns passos e se preparou para ativar a runa. Um rápido toque da varinha e o brilho explodiu em uma luz intensa, mais forte do que ele esperava. A luz era tão intensa que Dante precisou cobrir os olhos momentaneamente. Ele se deu conta de que a runa estava emitindo uma energia muito mais poderosa do que o pretendido. O brilho era quase ofuscante, e ele percebeu que o ajuste da intensidade era necessário para evitar o risco de cegar a si mesmo ou a qualquer um que se encontrasse nas proximidades.
Dante se sentou, frustrado. Ele estava no caminho certo, mas ainda precisava aperfeiçoar a runa. As primeiras tentativas haviam mostrado que a energia gerada era significativa, mas a precisão necessária para ajustar a intensidade e garantir que a runa não causasse danos colaterais estava além de seu alcance atual.
Com um suspiro, ele começou a trabalhar em novas alterações no desenho da runa. Cada traço precisava ser mais meticuloso, e ele se esforçava para calibrar a força da luz sem comprometer a eficácia da cegueira temporária. Dante sabia que precisava entender melhor a dinâmica entre os diferentes elementos que compunham a runa para encontrar o equilíbrio perfeito.
Ele trabalhou por horas, traçando e retrabalhando os detalhes, mas, apesar de seus esforços, não conseguiu alcançar a precisão desejada. O resultado ainda era uma luz intensa, mas imprecisa, que não oferecia o controle que ele procurava. Cada vez que ele ativava a runa, o brilho era uma mistura de esperança e frustração, um lembrete constante de que estava longe de concluir sua criação.
O sol começava a se pôr quando Dante finalmente decidiu parar. Ele olhou para a runa ainda brilhando na árvore, a frustração evidente em seu rosto. Ele sabia que estava perto, mas as nuances necessárias para perfeição ainda estavam fora de seu alcance.
Enquanto estava imerso em seus pensamentos, algo quebrou o silêncio ao seu redor. Dante se virou abruptamente, com a varinha em punho, pronto para reagir. Era uma coruja negra, pousando silenciosamente em um galho próximo. No bico, ela trazia uma carta selada com o brasão da escola.
Ele pegou o pergaminho da coruja, curioso e cauteloso. Ao abrir, viu que era uma mensagem curta e direta de McGonagall, pedindo que ele comparecesse à sala dela assim que possível. Uma solicitação inesperada, mas que, considerando os recentes acontecimentos, não o surpreendia totalmente.
Caminhando de volta para o castelo, Dante se preparou mentalmente para o que viria a seguir.
Quando chegou à sala de McGonagall, bateu levemente à porta antes de entrar. A professora estava sentada à sua mesa, seus olhos astutos brilhando por trás dos óculos. Sem dizer uma palavra, ela indicou com um gesto para que Dante se sentasse.
Já sabendo Dante que aquela conversa seria longa...