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"Obrigado por isso..."

Do lado de fora, Koji observava a luta com os olhos arregalados de preocupação. Ele se lamentava por não poder ajudar, sentindo-se impotente enquanto Saik lutava pela vida.

— Merda... O que tá acontecendo? — Koji murmurou ao mesmo tempo que fervia com pensamentos desesperados.

Enquanto isso, a corrida do gigante finalmente culminou em um impacto brutal contra o vórtice de Alaric. A colisão entre a energia tangível do colosso e a densa tempestade de fragmentos cortantes gerou uma onda de choque que reverberou por toda a cidade. 

O solo se rachou, prédios desmoronaram e o ar se encheu de uma energia vibrante e caótica.

— Não conseguimos passar? — Saik se perguntou, ofegante, enquanto tentava manter o controle da situação. 

— O gigante ainda tá vivo? — questionou Alaric, com sua confiança começando a vacilar ao perceber que o colosso de Saik ainda não havia sido destruído.

Saik sentia a barreira vívida do gigante sendo pressionada ao máximo, quase cedendo sob a força do vórtice de Alaric. 

Para surpresa de ambos, o gigante começou a se sobressair levemente, deformando uma pequena parte do vórtice. A ação repulsiva causada por essa deformação fez com que centenas de milhares de fragmentos cortantes fossem lançados em todas as direções, devastando ainda mais a cidade.

Observando tudo à distância, Koji foi pego de surpresa quando viu os fragmentos cortantes vindo em sua direção. Num reflexo rápido, ele se jogou para trás, caindo de costas no chão, mas antes que pudesse se recompor, dezenas de esferas de energia já haviam surgido e neutralizado os fragmentos.

— Eu sempre esqueço que elas só surgem quando algo me ataca... — Koji pensou, ainda nervoso, mas aliviado.

Spherea, o demônio do pacto de Koji, apareceu de repente e sempre do seu jeito repleto de sarcasmo e desprezo.

— Essa vida é boa, né? Ser um portador que nem precisa lutar. — provocou Spherea entre discretas risadas.

— Spherea? Aonde tu tava? Por que parou de falar comigo? — Koji estava surpreso e irritado com o súbito retorno de Spherea, que não se manifestava há algum tempo.

— Eu gosto de aparecer nos momentos bons, e esse momento tá maravilhoso.

— Maravilhoso? Não tá vendo que meu amigo pode morrer a qualquer momento ali.

— Quanto desespero desnecessário. Seu amigo tá vivasso. Eu tô sentindo a energia dele. — Spherea respondeu num tom despreocupado.

 — Por que o Saik e até você consegue sentir energia de outros portadores e eu não? — perguntou Koji com uma leve raiva no tom de voz.

— Nossa... tá diferente hein? Tá mais desequilibrado. Mas respondendo sua questão, a energia que os portadores sentem dos outros portadores é somente a rasa aura de energia interna que encobre seus corpos naturalmente, e você, Koji, como é um portador que não controla sua própria técnica, não usa a energia interna. Como quer sentir a energia dos outros se não tem contato nem com a sua própria energia interna? Fala pra mim! — Spherea explicou, sempre provocando e desprezando Koji.

— Ok... Ok... entendi, beleza? Pode parar de me humilhar? Só aparece pra isso?

— Parece que alguém vai chorar...

— Cala a boca!

Enquanto Spherea tentava manter algo além da tensão no momento, Koji fixou seu olhar nas esferas que avançavam em direção ao vórtice de fragmentos cortantes de Alaric. O cenário caótico ao redor mal registrava em sua mente enquanto ele observava, impressionado, as esferas passarem pelo vórtice sem esforço, causando uma onda de repulsão.

— As esferas causam um efeito de repulsão ao encostar nos fragmentos… Elas empurram os cortes de energia do vórtice… — seus pensamentos fervilhavam, tentando entender o que estava acontecendo.

Spherea, nunca perdendo a chance de ser sarcástico, riu de desdém ao perceber a fascinação de Koji.

— É sério que tá tão impressionado com isso? Eu achava que você já tinha entendido a explicação que fiz lá em Dynami.

— Mas eu lembro da explicação que você fez sobre as esferas em Dynami... Elas não são absorvidas, nem desintegradas, mas você não me disse que elas também não sofrem com cortes.

— Não falei porque pra mim era óbvio, e por isso achava que seria óbvio pra você também. Eu tinha certeza de que você iria associar cortes a desintegração.

Koji franziu a testa em negação com o que disse Spherea.

— Óbvio? — questionou ele.

— Claro! Cortar é desintegrar também.

— Pra mim, cortar é deformar, desintegrar é diferente disso.

— Tá bom, oh idiota da razão. As esferas não sofrem absorção, desintegração e, muito menos, cortes. Não importa quanta energia interna esteja nos cortes, as esferas não sofrem deformação. Como eu já disse em Dynami, as esferas da sua técnica, que, só pra lembrar, eu te dei, entendeu? — Spherea falou com um tom de superioridade.

— Que me deu o quê… Você não me deu nada porque eu não pedi nada — respondeu Koji, irritado.

— E pra terminar, o máximo que alguém poderia fazer contra as esferas é aprisioná-las, sei lá, prendê-las em uma dimensão, em uma área de anulação. Isso seria o máximo que alguém com uma técnica apropriada poderia fazer — completou Spherea.

Nesse momento, algo clicou na mente de Koji, e ele se endireitou, os olhos se acenderam com uma nova ideia.

— Eu acabei de ter uma ideia.

— Hm... Acho que já tô ligado.

— Em Dynami, quando entendi que as esferas me protegiam a qualquer custo, eu usei elas para me fazer voar. Agora, vou usá-las para me levar para dentro do vórtice e tirar o Saik de lá

— É uma boa.

Koji respirou fundo.

Preparando-se mentalmente para o que estava prestes a fazer. Em meio ao cenário desastroso e perigoso, ele começou a correr em direção ao gigantesco vórtice, cada passo ressoando com sua determinação. 

À medida que se aproximava do círculo de cortes, as esferas começaram a se multiplicar rapidamente, formando uma proteção ao redor dele, como uma forte bolha de defesa.

A cidade ao redor tremia com cada nova onda de energia gerada pelo confronto entre o gigante de Saik e o vórtice de Alaric. Os edifícios desabavam, e o solo rachava sob a pressão das forças titânicas em jogo. 

Mas Koji, agora cercado por centenas de esferas densamente agrupadas, parecia alheio ao caos. Seus olhos estavam fixos no vórtice à sua frente.

— Pai... Estou indo salvar um amigo com a ajuda das esferas que só surgiram na minha vida por causa de você... Obrigado por isso — murmurou ele para si mesmo, com os olhos lacrimejando enquanto se aproximava do vórtice.

Quando Koji sentiu um leve impacto, percebeu que tinha chegado no vórtice.

— Entrei?

— Tamo entrando no vórtice, Koji — disse Spherea num tom raramente sério.

As milhares de esferas que rodeavam Koji avançavam com precisão e eficiência, repulsando os fragmentos cortantes do vórtice para todos os lados, rasgando a estrutura de energia de Alaric. 

— O quê? Quem entrou no meu vórtice? — pensou Alaric, com o olhar cheio de raiva e sem entender quem tinha entrado.

Parecia que agora sim, Koji decidiu de vez assumir o papel de portador.

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