Os Dedos.

"Então, temos cinco costelas quebradas, cortes pelo corpo inteiro, ombro perfurado, alguns órgãos machucados, seis ossos fraturados e um baço sangrando, tudo isso numa missão de rotina, garoto, você não tem sorte." Comentou Shoko-san, com sua mão em cima do meu peito sem camisa.

Estou deitado na mesa de autópsia prateado fria numa sala assustadora, assim como minha médica, quem está tratando minhas feridas, Shoko-san, parecia mais abatida hoje do que o normal, olheiras gigantes negras ao redor dos olhos e cabelos sujos que pareciam não ter sido lavados a um bom tempo, seu jaleco não era branco, e sim amarelado sujo, as roupas de baixo azuis de hospital também estão sujas de vermelho, vou me enganar pensando que isso é molho de tomate, mesmo assim, não é uma boa ideia falar mal da aparência de uma mulher, é uma ideia pior ainda falar da aparência de uma mulher que está curando suas feridas graves.

"Você esqueceu dos dedos." Tentei fazer uma piada levantando minha mão, mostrando para ela meus dedos quebrados e sangrando.

"Ah sim, esqueci dos dedos." Foi tudo que ela falou, ainda com a mão em cima do meu peito.

Estou sendo curado lentamente, por isso estou consciente, a mão da Shoko-san, está brilhando em verde fraco, uma diferença enorme de cor, a Energia Amaldiçoada normalmente tem um forte tom azul, o que ela está usando em mim agora é a Técnica Amaldiçoada Reversa, criando energia positiva através da negativa, regenerando meu corpo como mágica, e essa é a primeira vez que posso a sentir.

Já fui curado pela Shoko-san, duas vezes, uma eu estava inconsciente e na outra foi um ferimento menor curado em segundos, então não deu tempo de sentir a energia positiva correndo pelo meu corpo, por isso mesmo essa é uma chance valiosa, algo que vai me ajudar um por cento na tarefa de chegar nessa técnica.

Fechei meus olhos e tentei focar no que estou sentindo, é interessante em vários pontos, primeiro, não estou sentindo nenhuma dor, segundo, a sensação da energia correndo pelas minhas veias é o completo oposto da Energia Amaldiçoada, já que ela vem das emoções negativas, sempre a um frio e solidão no seu uso, já a Técnica Reversa, é confortável, minha explicação é falha, mas verdadeira.

"Pronto!" Avisou Shoko-san, tirando a mão do meu peito.

Abri meus olhos e me sento cem por cento, mesmo com o corpo coberto de sangue seco, estando sem camisa, deitado numa mesa onde ficam os cadáveres.

"Obrigado." Agradece depois de sair da mesa num só pulo, Shoko-san, foi até a esquerda, pegando algo da mesa e jogando para mim, era uma camisa simples azul que coloquei a seguir.

"Acabou aqui!?"

Quem entrou na sala foi Nanami-san e Nitta-san, lado a lado.

"Sim, obrigado pela sua ajuda!" Agradece profundamente o Nanami, abaixando minha cabeça e me curvando.

"Eu não fiz nada, só o levei para o carro, você deveria agradecer essa daqui, ela quebrou todas as leis de trânsito chegando no colégio em tempo recorde." Ele falou apontando para Nitta-san, que parecia um pouco tensa e com vergonha.

"Obrigado!" Fez o mesmo gesto para ela.

"Não me agradeça, por favor, essa missão deveria ser fácil, falhei no meu trabalho deixando você entrar no templo."

Então era isso.

"Eu sou um Feiticeiro, e havia um Espírito Amaldiçoado no local, simples assim."

"Ele está certo, você não pode se culpar por isso, afinal, quem imaginaria que seria aquele Objeto Amaldiçoado." Nanami-san, chamou minha atenção para algo.

"O objeto, o que era?"

"Um dos dedos do Rei das Maldições!"

Sim, isso explica muita coisa.

"Você tem sorte, muitos Feiticeiros experientes de Grau Um, não conseguiriam vencer uma Maldiçoa alimentada com uma daquelas coisas." Lembrou Nanami-san.

"Foi sorte mesmo, ataquei ele antes dele conseguir digerir aquela coisa, por isso ele não chegou no Grau Especial."

"Isso é algo que tenho que estudar mais tarde, mas agora, todo mundo para fora, quero tomar banho e dormir." Shoko-san, nos lembrou de onde estamos.

Assim, após eu agradecer mais uma vez a ela, andamos para fora da "enfermeira" e começamos a caminhar lentamente a caminho dos dormitórios, já está de noite, então acho que só vou encontrar meus colegas amanhã, o que é bom, quero ter uma boa noite de sono antes de ser bombardeado pelas perguntas do Panda.

"O que aconteceu com o dedo?" Perguntei para os dois, quem me respondeu foi a Nitta-san.

"Devido à sua natureza, ele vai ser colocado num local secreto na escola, no cofre."

Sim, estamos falando aqui do Objeto Amaldiçoado mais famoso e poderoso desse mundo, também o mais maléfico, ele não dá nada para os Feiticeiros, apenas a morte.

"Por favor, não me diga que os Velhos, querem um relatório pessoalmente." Já basta quase morrer.

"Não, o relatório será feito pela agente da missão, como sempre." A fala do Nanami-san, me fez relaxar como nunca.

Parte de mim, ainda acha que isso foi outro plano dos Velhos, escondendo a natureza do Objeto, mas isso não faz muito sentindo, eles teriam que ter atraído aquela Maldição, para que a luta acontecesse.

"Por favor, Yamamoto-san, não fale assim dos Líderes!" Alertou Nitta-san, olhando para todos os lados como se eles estivessem sempre nos vendo, e isso é até possível.

O engraçado, é que esse mesmo medo que ela está demonstrando, é o que aqueles idiotas querem que todos sintam quando falam seus nomes.

"Fui ensinado pelo Gojo-sensei, qualquer reclamação, por favor, fale com ele." Sorri com essa piada.

O que é pior, falar mal dos Velhos idiotas, ou reclamar com o Mais Forte?

Nitta-san, apenas ficou em silêncio.

"Está na minha hora, meu expediente acabou, até amanhã." Do nada, Nanami-san, se despediu e foi para outro caminho que leva até a saída da escola.

"Como assim?" Perguntei sem entender para Nitta-san.

"Nanami-san, tem uma certa peculiaridade, ele só trabalha num horário específico, como se esse realmente fosse um trabalho comum, e ele odeia horas extras."

Sim, não tem nenhum Feiticeiro, que não seja, peculiar, da sua própria forma.

"Mas Fujiwara-san, você foi realmente incrível, é a primeira vez que vejo um Feiticeiro de Grau Um lutar, foi simplesmente, avassalador." Continuamos nosso caminho devagar.

"Pode me chamar de Yamamoto, e quanto à luta, acho que não fui tão bem assim, teria morrido no chão se não fosse por vocês."

"Mesmo assim, foi incrível, os rumores são, com certeza, verdadeiros."

O sim, os rumores do pupilo direto daquele que é o Mais Forte, membro de um clã lendário antes perdido. A maioria deles se acalmou durante esses messes, mas também não tive nenhuma missão complicada para alimentar o fogo disso, bem, o quão ruim pode ser dessa vez?

"Só por curiosidade, quantos alunos você acha que conseguiriam vencer aquela maldição lutando sozinhos?" Perguntei para tentar ter uma ideia melhor.

"Bem, acho que dois, talvez três, isso escolhendo em todos os anos e nas duas escolas."

Droga, os boatos vão sair do controle.

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Acordei duas horas depois do horário comum com o corpo inteiro dolorido, a cura foi perfeita, mas ela não se livra do cansaço acumulado da batalha e do estresse dele, então, lentamente, saí da minha cama e fui para o banheiro me preparar para um novo dia cheio de perguntas.

Depois do banheiro e de trocar de roupas, fui comer algo, já era tarde, então comi sozinho e fui imediatamente para o dojo. Variamos um pouco como o treinamento funciona já que não temos tantos professores ou uma espécie de cronograma feito, mas sempre que o dia está nublado, todo o treinamento é feito dentro do dojo, e hoje está nublado.

Normalmente, eu deveria ir direto para o Yaga-san, fazer meu breve relatório do que aconteceu, mas ele não chega tão cedo no seu escritório, e ele com certeza, já sabe o que aconteceu, então vou esperar ele me chamar, e se eu der sorte, talvez ele não me chame, assim evito escutar os gritos.

"Oh, todo mundo já está aqui." Cumprimento meus amigos após trocar meus sapatos na entrada.

Panda, Toge-san e Maki-san, estavam sentados ao lado do dojo, no centro, o Yuta, está se preparando para tentar acessar sua energia amaldiçoada sem explodir todo o prédio e começar o treinamento.

"Como foi sua missão?" Perguntou Panda.

"Quase morri." Respondi sentando-me de forma relaxada do lado deles, hoje, vou passar o dia inteiro descansando e relaxando.

"Salmão."

"Sim, eu estou bem, Shoko-san, deu um jeito nas minhas feridas ontem mesmo."

"Como você conseguiu quase se matar?" Assim que Maki-san perguntou, comecei a fazer um resumo do que aconteceu, sem esconder nada.

"Um dos dedos, você com certeza, é um azarado!" Riu Maki-san.

Tecnicamente, a muitas dessas coisas por aí, quer dizer, o Maldito Rei das Maldições, para o desprazer de todos, não tinha apenas dez dedos, o desgraçado tinha quatro braços, isso quer dizer vinte dedos no total, vinte coisas que poderiam causar o mesmo problema de ontem, mas claro, dizem que muitos estão selados, mas com certeza, não todos.

"O que são esses dedos?" Perguntou o novato.

Depois de mais uma rodada de explicações, ele entendeu.

"Então, esse rei das Maldições, era tão forte quanto a Rika-chan?"

Foi uma pergunta que calou todo mundo.

"Acho que ele é mais forte, mas não há muitas coisas escritas em detalhes sobre Ryomen Sukuna, acredite em mim, procurei bastante, infelizmente, ele tinha o mal habito de não deixar sobreviventes depois de suas lutas, então informações precisas não existem, nem sabemos como ele perdeu, o que é bastante estranho." Comentei.

"Como assim?" Perguntou Panda.

"Vocês sabem como os clãs são arrogantes, você acha que eles deixariam de escrever seus nomes na história do mundo Jujutsu? Esses idiotas teriam erguido esculturas e construído castelos em seus nomes para celebrar uma vitória tão grande, seria o ápice do poder deles, mesmo assim, temos zero informações, nem sabemos quem lutou e contra ele!" Esse buraco na história me deixou tão irritado quanto eu descobri que não havia conhecimento nenhum sobre os Domínios na biblioteca.

"Ele está certo, aqueles idiotas são podres assim." Maki-san, nossa especialista nos clãs, concordou comigo.

"Bem, isso não importa muito agora, então, o que vocês estão treinando hoje?" Perguntei olhando para o Yuta.

"Estamos esperando o Yuta, se aquecer para treinar com o Panda, hoje eles vão treinar sem armas." Maki-san, respondeu com um certo desgosto na voz, para uma lutadora tão, intensa, ela não gosta muito de lutar com apenas as mãos, talvez seja porque o Panda, sempre leva a melhor quando treinamentos assim acontecem.

"Sou eu quem vai treinar com o Yuta-kun, hoje!" Gritou Panda, muito animado, se levantando do chão.

"Espera, porque não escutamos mais da história do Yamamoto-san!" Yuta, não teve chance, Panda, agarrou seu ombro e o puxou para o centro do dojo.

De todos, Panda, é o mais gentil, mas ele não é delicado, seu corpo é forte demais, lutar contra ele usando as mãos, é o mesmo que bater contra concreto, imagine fazer isso sem poder usar direito a energia amaldiçoada para fortalecer o corpo, não é fácil.

"Atum." Toge-san, me lembrou.

"É verdade, tinha esquecido, como foi a missão do Panda?" Perguntei para Maki-san, os outros dois já estão brigando devagar.

"Sem dificuldade, mas houve vítimas." Ela respondeu em voz baixa.

Ele é o mais gentil de nós, abaixo daquilo tudo é claro.

"Deixa eu adivinhar, ele pediu para treinar hoje como Yuta?"

"Salmão."

Ele está tentando treinar o novato para não morrer durante uma missão, pelo menos, é esse seu pensamento no momento.

Continuamos a ver os dois treinarem conversando em voz baixa para não atrapalhar, depois de um mês e meio de treinamento, Yuta, pelo menos não está sendo um completo saco de pancadas, conseguindo até mesmo acertar alguns bons socos no Panda, mas é claro, ele não estava indo com tudo.

"Quanto tempo você acha que os Velhos, vão conseguir evitar que ele saia numa missão?" Perguntei curioso, nem mesmo eles, podem tirar alguém do ramo por muito tempo, na verdade, é do interesse deles que o Yuta, continue na escola e nessa sociedade, a outra opção é ir embora e ficar sozinho, tirando o pouco de controle que eles tem sobre a situação, o pior, é que concordo com eles, deixar o Yuta, completamente sozinho no mundo vai ser a receita para o caos.

"Se o Gojo-sensei, não o agarrar a força e o levar para uma missão ele mesmo, talvez mais um mês ou dois."

Acho que a Maki-san, também está certa sobre isso.

"Ele ainda não voltou?" Perguntei.

"Folha de Mostarda."

Gojo-sensei, saio para uma missão fora do país duas semanas atrás e ainda não deu as caras, pior que sei que essa maldição, que deu tanto trabalho para um país inteiro não ter outra escolha a não ser pedir ajuda, e isso é grande, já que todo Feiticeiro tem um alto grau de arrogância, tenho certeza que nosso sensei, resolveu o problema rapidamente e agora está passando seu tempo relaxando numa praia ou em algum lugar assim nas custas da organização que pediu ajuda.

"Tacke!"

Na minha desatenção, esqueci do treinamento e o Yuta, acabou de ser jogado contra a parede por um golpe pesado do Panda.

"Desculpe por isso!" Ele se desculpou correndo na direção do menino ainda se levantando do chão, pelo menos, ele não perdeu o controle da Rika.

Yuta, foi pego de surpresa, mas ele não está machucado, por isso o treinamento continuou enquanto conversamos sobre nada realmente importante, depois de duas horas, estava na hora do descanso, e Yuta, correu para tomar um banho antes da hora do almoço, Panda, nem ficou suado com esse nível de treinamento.

Depois de um almoço tranquilo, eu fiquei com muito tempo livre, realmente fiquei desacostumado a não ter nada o que fazer ao ponto de ficar inquieto, consegui ficar apenas uma hora sentado num banco do lado de fora da escola observando o nada antes de correr para a biblioteca, não vou treinar hoje, mas posso manter minha mente ocupada até o anoitecer.

Quase todos estão fazendo seus próprios treinamentos, dessa vez sozinhos, e como sempre, quase ninguém usa a biblioteca, pelo menos era assim antes, agora, o Yuta, está sentando numa das mesas com vários livros abertos ao seu redor, havia também alguns pergaminhos antigos, textos originais.

"O que você está pesquisando agora?" Perguntei entrando na biblioteca e falando um pouco alto demais para o local, mas estamos sozinhos.

O garoto realmente gosta de estudar, e já está entrando nos assuntos mais complexos desse mundo, ainda bem que ele não é idiota de tentar fazer qualquer coisa sozinho.

"Técnica Reversa." Ele respondeu em voz baixa.

"Faz sentido." Suspirei puxando uma cadeira na frente do outro lado da mesa que ele está sentado.

"Você não acha apressado?" Ele agora parecia bastante surpreso.

"Também pesquisei algo assim, vai ficar tudo bem, desde que você não tente fazer isso sozinho, e faz sentido você querer algo desse tipo, também acho até que você tem chance de conseguir isso antes de todo mundo."

Quer dizer, o menino é gentil demais, é claro que em vez de procurar a Expansão, uma técnica ofensiva, como eu fiz, ele escolheu o poder de curar a si mesmo e talvez os outros.

"Mas aqui diz que poucos conseguiram aprender, é bastante complexo, eu nem consigo usar minha Energia Amaldiçoada direito."

"Isso é verdade, mas seu problema não é o controle, e sim o acesso a Energia Amaldiçoada, isso pode ser resolvido, e o que vai te ajudar mesmo a conseguir isso é a quantidade de Energia que você tem."

"Como assim?" Ele perguntou confuso.

"Gojo-sensei é um monstro, ele consegui gerar a energia possitiva gastando uma quantidade ridícula de energia amaldiçoada, mas para os outros, isso é muito diferente, com suas reservas, você tem o luxo de desperdiçar, gastando o triplo que alguém normal poderia gastar sem se preocupar, não é eficiente, mas funciona."

Já eu, graças a minha abençoada falta de controle, não importa o quanto eu gaste, não vou chegar lá, a Técnica Reversa está longe para mim, por isso mesmo foquei toda minha atenção na Expansão de Domínio, e estou quase lá.

É engraçado, a Expansão de Domínio é considerada o auge que um Feiticeiro pode chegar, mas para mim, pessoalmente, a Reversão é o auge.

"Sem chance! Eu nunca vou conseguir isso!" Foi tudo que Yuta falou, mas mesmo assim, ele continuou lendo os livros.

Sim, acho que ele só vai despertar quando for para sua missão, até lá, não a muito que se fazer com ele.

Ele voltou ao seus estudos e eu me levantei para ir até minha mesa bagunçada, como quase ninguém vem para biblioteca fora nós, as minhas coisas nunca foram movidas de lugar, se acumulando uma em cima da outra, fica mais fácil para pesquisar assim.

Ver um Domínio diferente do Gojo-sensei, que é simplesmente avassalador de tão perfeito, me ajudou muito, mesmo ele sendo incompleto, isso me deu algumas ideias de como as coisas funcionam tampando algumas lacunas na minha teoria, não sobre a barreira, e sim sobre o que a enche, se tudo continuar da forma que está, acho que já posso testar um Domínio incompleto, isso já me dá uma vantagem ridícula em comparação com os outros. Também usei esse tempo livre para avaliar minha luta contra a Maldição anterior.

Não era para ser uma lutas de vida ou morte, mas fui pego de surpresa varias e várias vezes pela velocidade dela, isso não pode acontecer de novo, aquela luta não deveria ser tão complicada.

Parece que preciso de mais estudo e treinamento, ainda bem que tenho tempo.