Em um quarto vazio, onde a janela permanecia fechada, o sol mal iluminava a frágil construção de tábuas. Em um canto daquele comodo, uma mulher gritava de angústia enquanto segurava um homem gravemente ferido e próximo a eles, outro corpo jazia inconsciente no chão.
De súbito, a figura desfigurada ergueu-se lentamente e segurava sua espada com firmeza.
Entendo… Como posso ver, Saymon realmente perdeu.
Ele caminhou lentamente até o local onde o homem ferido estava e levantou a mão para tocar seu próprio rosto, apenas para confirmar o que já sentia: o rosto estava completamente desfigurado e enquanto avançava, memórias recentes tomavam sua mente de assalto e trazia lampejos de eventos que o faziam hesitar por um instante.
Seus olhos recaíram sobre a espada. À primeira vista, parecia inalterada, mas uma energia nova pulsava em sua lâmina, diferente e poderosa, como se tivesse alcançado outro nível. O demônio esboçou sorriso frio e pensou:
Saymon, o seu sacrifício não foi em vão. Como pode ver, a espada voltou finalmente a ser o que era antes.
Após contemplar a espada, ele desviou o olhar para o humano ferido no chão e para a mulher que o auxiliava.
— Como posso ver, aquele ataque destrutivo foi o seu limite.
Nana, ao perceber a presença inimiga, levantou-se de imediato e assumiu uma postura defensiva, seus olhos fixos na ameaça à sua frente. Castiel, por sua vez, ao avistá-lo, esboçou um sorriso.
— Não… foi somente um deslize do meu corpo.
— Entendo.
Ele levantou sua espada e balançou, no entanto, a mulher reagiu, mas não conseguiu impedir a sequência de cortes. De repente, ele interrompeu o ataque e permaneceu imóvel por um instante.
— Como posso ver, todos os meus cortes estão sendo mandados para outro lugar, ou outra dimensão. Uma habilidade realmente muito interessante. Mas tenho uma questão, essa habilidade é sua?
— Feio pra caralho, não pense que vou falar qualquer merda para nutrir seu rosto cagado.
— Cahaha! Não importa. Levarei o seu corpo, e ele será meu para as pesquisas. Mas antes… farei alguns testes com ele. Vejamos do que você é realmente capaz.
O demônio retomou os ataques com ferocidade e desferiu golpes constantes, mas para sua surpresa, o corpo dela permanecia intacto. Ele testou com golpes de aura e energia negativa, e até mesmo sem ela, mas o resultado foi o mesmo.
— Acho que finalmente entendi. Não importa o que eu faça, o resultado será sempre o mesmo.
— Não tem como me vencer!
— Mas percebi algo interessante… você tende a esquivar dos meus ataques com cuidado. Será que essa habilidade tem um limite? Quanto mais você consegue suportar antes de tudo desmoronar?
— Pense o que quiser.
— Nesse mundo, não existe habilidade sem um ponto fraco. Minha teoria é que meus cortes estão sendo enviados para outra dimensão ou algum lugar distante. No entanto, percebi algo curioso: toda vez que meus golpes atingiam em cheio, especialmente em locais vitais, você parecia ficar preocupada, quase aflita. Então, me diga… Será que todos os danos que eu deveria causar estão sendo transferidos para outra pessoa?
Nesse instante, o comportamento dela mudou, ainda que sutilmente. Não foi algo imediatamente visível, mas foi o suficiente para compreender totalmente o que acontecia.
— Cahaha! Como podes ver, eu entendi a sua habilidade. Olha, conheces essa espada?
— Estou pouco me fudendo para que merda essa porcaria de espada serve.
— Escute, quando entender, o desespero vai tomar conta do seu ser.
— Cala boca!
Ela atacou novamente, mas, em vez de se defender, o demônio se esquivava com facilidade enquanto continuava a falar com sua voz calma e cheia de desdém.
— O nome dela é Fuma. Sua habilidade mais comum é envolver-se em uma aura de vento cortante, capaz de dilacerar qualquer inimigo que se aproxime. Mas isso não é tudo. Ela também tem a capacidade de abrir uma dimensão própria, onde exerce controle absoluto sobre tudo o que acontece ali. Essas são as habilidades que vocês testemunharam até agora.
Antes de continuar, chutou Nana para longe e ela bateu nos destroços.
— Outra habilidade é o despertar da espada sem mudar de dimensão!
Normalmente, a espada de vento invisível só poderia ser utilizada em outra dimensão, mas com sua recente evolução, ela agora possuía a capacidade de se tornar invisível até mesmo em um plano onde a espada não tinha domínio.
A lâmina começou a emanar vento ao seu redor e sua forma se dissolveu gradualmente até desaparecer por completo. A aura de vento que envolvia a espada estava mais intensa do que jamais havia sido.
— Como pode ver, quando ela desperta, a habilidade de manipular o vento se torna ainda mais poderosa, mesmo fora de sua dimensão. Mas não se engane, isso não é tudo.
Do que esse demônio está falando?
— Ela pode cortar qualquer coisa, não importa onde esteja. O segredo está no fato de que ela não pertença a este mundo. Consegue entender?
— Hum?
— Tudo que ela corta nesta dimensão é cortado também na sua dimensão de domínio. No entanto, com uma espada normal, não importava o quanto eu te atacasse, não tinha efeito, pois o seu verdadeiro corpo não está aqui. E mesmo que o dano seja transferido para o corpo original, parece que não causa nenhum impacto real. A minha teoria é que apenas uma pequena parte do dano sofrido aqui é refletido no corpo original.
— O que queres dizer?
— No momento em que Fuma desperta, realiza um corte e o transmite para sua dimensão, o dano teria que passar pelo corpo real antes de alcançar a sua própria dimensão. Consegue entender? Isso significa que, ao transferir o corte, ela acabaria transmitindo totalmente o dano ao corpo original.
— Não me diga…
— Sim. Como podes ver. Posso te cortar!
Ela sentiu o desespero tomar conta e tentou recuar, mas o inimigo não deu tempo. Com sua velocidade e experiência, ele atacou sem hesitação. A espada cortou o ar e a atingiu. Ao seu lado, uma cabeça rolou e nesse momento, o desespero a consumiu por completo.
— Entendo, então esse era o real corpo.
Com as mãos trêmulas, pegou a cabeça de seu irmão e, descontrolada, começou a chorar intensamente. Seus olhos se fecharam lentamente, enquanto um sorriso quase imperceptível se formava em seu rosto e foi nesse instante que ele deu seu último suspiro.
Nana em total negação, gritou o nome do seu irmão e recusava aceitar a cruel realidade diante dela. Castiel, ainda ferido e com a voz fraca, queria ajudar, mas seu corpo estava exausto demais para reagir.
Enquanto isso, o demônio observava a espada com um sorriso satisfeito e, com um tom de desprezo, disse:
— Mulher, não quero mais o seu corpo. Morra!
Ele balançou a espada com força, mas a lâmina passou direto pelo corpo de sua presa. Ele franziu a testa, confuso, sem entender o que acontecia.
De repente, algo inesperado ocorreu. O adversário se ajoelhou, demonstrando surpresa, enquanto Nana se levantava e disparava um poderoso chute na cabeça dele.
O que é isso, o que aconteceu com o meu corpo?
Como demônios geralmente não sentem dor, ele não percebeu imediatamente que havia sido cortado.
Isso no chão é o meu sangue? Impossível… Quando fui cortado? Espera, não me diga…
Começou a rir e se levantou, olhando o rosto de sua inimiga, que estava tomada pela raiva. Ele segurou sua espada e entrou em posição defensiva. Nana, com os punhos cerrados, começou a andar em direção a ele. De repente, ela acelerou e correu com velocidade, e desferiu um soco poderoso.
O impacto foi tão forte que o corpo inimigo destruiu a parede e a atravessou. Ela caminhou até o buraco feito pelo golpe e olhou de cima para ele com rosto molhado de lagrimas, proclamou:
— Eu… eu te punirei, feio imundo!