Os meus próximos dias foram alternando-se entre tecer minhas peças e cultivar minha magia. Em poucos dias, eu já podia sentir o poder transbordando em meu corpo, tomando parte de mim e me possuindo, de forma inacreditável. Era como um fogo que queimava em minhas veias. A sangria logo deveria ser realizada.
Aqui, seria fácil demais para eu transportar esse sangue, mas na mansão do duque... Eu seria vigiada vinte e quatro horas por dia.
Eu encarei minhas mãos, não tão lisas quanto antes.
"Eu devo resolver esse assunto depressa."
Peguei o resto do dinheiro que havia sobrado e uma bolsa, indo até a entrada. É claro que não iria pedir permissão daquele velho para sair, duvidava muito que aqueles bastardos com o rabo entre as pernas me impediriam.
O cocheiro da última vez parecia bem ocupado, deitado com as costas escoradas em um tronco de árvore, antes que eu chegasse perto o suficiente, senti uma presença atrás de mim.
"Senhorita, irei escoltá-la dessa vez."
Me virei e deparei com um homem alto, de pele parda e cabelos negros. Ele olhava para mim com olhos determinados.
"Oh... não precisa se incomodar..."
"Não estou fazendo mais do que meu dever em proteger a princesa do condado, vamos."
Com passos largos, ele se aproximou do cocheiro e chutou a sua perna.
"Anda logo, bastardo!"
O homem resmungou algum xingamento como resposta e finalmente subiu para o seu local de trabalho.
"Ah... Sir...?"
"Evans."
"Sir Evans, obrigada mesmo, mas eu não preci..."
Sir Evans abriu a porta da carruagem e estendeu a mão para mim. Relutante, eu a aceitei e o permiti que ele me ajudasse a subir. Logo após, ele subiu e fechou a porta com força, sentando-se na minha frente.
Estrategicamente, encarei a janela, mesmo sabendo que isso me faria ficar mais enjoada ainda.
Não demorou muito para que chegarmos ao local que eu havia informado, uma loja que vendia bordados. Que um dia viria ser conhecida como "Bordadet boutique", mas... Eu havia chegado antes que ela.
Que se dane a heroína, o futuro marido dela tem muito dinheiro. Ela não precisa de mais!
Eu lancei um olhar de descontamento para o cavalheiro; ele iria realmente me escoltar. Não, provavelmente vigiar cada passo meu. Precisava achar uma desculpa.
"Ahn…" enrolei uma mecha dos meus cabelos por entre meus dedos. "Sir Evans, o senhor se importaria de esperar aqui na carruagem...?"
"... Sim. Meu dever é te acompanhar."
"Mas... é que eu gostaria de entrar sozinha..."
'Aff! Que cara chato.'
"Senhorita...-"
"Sir Evans..." enrosquei meus cabelos por entre meus dedos. "Como o senhor deve saber... eu irei me casar em breve... E isso requer alguns preparativos para a minha vida de casada; se é que você me entende." minhas bochechas se avermelharam levemente. "Não vai ser muito apropriado da sua parte se me acompanhar agora."
Ele abaixou os olhos.
"Ah. Entendo."
'Finalmente livre daquele cão.'
*Gritinhos internos*
Eu entrei no local. Como era de se esperar, cheio de lenços e bordados espetaculares. Duas mulheres estavam atendendo, uma de cabelos dourados e outra de cabelos castanhos.
A loira se chamava Vivian, ela havia criado a tapeçaria. A morena se chamava Lilian, ela havia criado o bordado de pedraria e a ideia de bordar roupas. Ambas eram irmãs, apesar de não serem tão parecidas.
Escostado numa estante, estava o proprietário, Michael Jacksy. Ele era o irmão mais velho das duas, com cabelos loiros reluzentes.
'Apesar desse local ter duas artesãs tão talentosas, continua em falência... O motivo? Elas tiveram o QI de uma porta e anunciaram para o mundo e fundo suas descobertas e como realizar suas peças.'
'Conhecimento é poder, mas conhecimento também é perda!!!' Espremi meus olhos, ainda analisando o local.
"Ooi! Como posso te ajudar?" Vivian se aproximou de mim.
"Boa tarde, eu queria falar com o proprietário desse lugar."
Michael levantou a cabeça, direcionando seus olhos para mim.
"Sim?"
"Eu quero comprar esse lugar."
"OI?!!"
"Desculpe, mas esse lugar não está a venda."
Eu joguei um saco de moedas na direção dele, que imediatamente o sacou.
"Mil moedas de ouro."
"OIII??????"
O loiro encarou um pouco o saco em sua mão, inclinando sua cabeça para mim.
"Muito bem, feito.
É só acertamos a papelada e iremos desocupar o local para você."
Eu toquei sua mão.
"Não será necessário. Eu só queria me tornar chefe de vocês mesmo, você pode se tornar responsável pelas finanças. Eu dormi nas aulas de economia."
'Eu não poderia perder Michael Jacksy, estou bem ciente de que ele futuramente iria criar uma firma poderosa de artesanato.'
"Ha... Ok."
Michael se afastou, suas bochechas coradas.
'Será que vi errado?'
"Eu trouxe algo que pode fazer essa loja subir novamente em influência."
Retirei as peças que eu havia tecido nos últimos dias da minha bolsa, os olhos dos três brilharam. Lilian se aproximou.
"Que coisa linda é essa?"
"Se chama crochê, eu criei."
Vivian estendeu um dos forros, olhando admirada.
"Quanto isso pode valer?" Michael apontou para um lenço.
"Umas trinta moedas de ouro."
GASP
"MA-MAS ISSO É MUITO DINHEIRO!" Lilian berrou, com o rosto pálido.
"Pense nisso como uma iguaria, algo novo sem igual, as nobres vão surtar."
Eu sorri, confiante.
O loiro parecia pensar, antes de assentir.
"Muito bem."
Ele recolheu as minhas peças, colocando sob o balcão.
"Tenho outros truques também, mas por enquanto, isso deve bastar, eu espero."
"Iremos aguardar ansiosos pela sua próxima visita, srta. Everett."
Franzi o cenho.
"Então sabe quem eu sou?"
"Ninguém deixaria de reconhecer seus cabelos vermelhos."
Eu lhe ofereci meu último sorriso, antes de deixar, agora, a minha loja. Sr. Evans me esperava impaciente.
"Já acabei, vamos."