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CAPÍTULO QUATRO

Eu ouvira falar de um cabaré "famoso" há décadas... Triste fama constatada na primeira visita... Uma prostituta bêbada, com um enorme sinal de carne escura pendurado no rosto, esperava por algum cliente que chegasse.

Mas naquele dia, eu fui a primeira visitante... Cheguei com a cara e a coragem e perguntei se cabia mais uma. Com a resposta afirmativa de que todas seriam bem vindas, entrei.

Espremido entre o mercado de venda de peixe e o mercado de venda de carne, a velha casa misturava os odores de vísceras e escamas dos peixes que eram limpos todas as manhãs e escorriam por esgotos a céu aberto, com os de carnes putrefatas, que não foram vendidas e depois de jogadas nas encostas de um rio por onde há anos não escorria um fio de água em seu leito, eram disputadas por gatos e cachorros magros, que foram desprezados por seus donos, sob alegação de que ali seria "farto de comida".

E o primeiro cliente chegou... O meu antigo vizinho. Tão amigo, tão fiel, tão companheiro... Tão humano... Simples assim.

Eu estava firme em minha convicção de que se em uma loja o comprador chega e se dirige ao vendedor que lhe atende melhor, eu venderia bem a minha "mercadoria". Depois de uns tempos, em conversas com companheiras de profissão, descobri que eu era a única a ter orgasmos...

E fomos para o quarto... Um banheiro, com sabonete e toalha única para todos os que entrassem, estava à disposição. Sempre relacionei sexo à limpeza, a banho, a cheiro bom... Passaria a entender que era passado...

O cliente disse que em casa tomara banho... Ali não seria necessário.

E numa cama de lençóis fedidos, que depois descobri que eram trocados uma vez por semana, salvo alguma vez que algum velho cliente de esfíncteres frouxos defecava na cama após o sexo, fui fazer o meu amor vendido...

O que o deixou muito satisfeito, pois queria dose dupla... Em casa, tinha uma jovem e bonita esposa, que nunca permitira que ele a visse nua...

Comigo, foi oral no capricho, com duras cavalgadas no final. Cliente conquistado, a partir daquele dia ele passaria a me chamar em casa, se lá chegasse e eu não estivesse.

Na saída do quarto, outro cliente esperava. Naquele dia, eu sairia de lá com dinheiro suficiente para comprar a comida que eu não deixara em casa.

Um senhor com cinco anos a menos que meu pai... Que me perguntou se eu iria com um parente... Resposta afirmativa. Assim, ganhei o da minha segunda venda daquele dia.

Não foi difícil... Mas descobri que jamais chegaria ao orgasmo com ele ... Mas gemer sei muito bem... Gemidos de falso prazer, uns carinhos na cabeça de poucos cabelos brancos, e ele desmanchava-se em gozos.

Dizia que eu era quente, e a esposa era "uma geladeira"... É incrível o quanto os homens põem nas esposas as culpas pelos fracassos dos relacionamentos.

À noite, a estrada me esperava. Comprei alguns alimentos e fui para casa. Hoje, acho que os meus filhos, principalmente o que na rua, gritava de Leste a Oeste me chamando de puta, têm consciência das vezes que comeram por causa do dinheiro da minha venda.

Em casa, arranjei uma desculpa... Eu reencontrara uma antiga amiga que estava com a mãe idosa no hospital. E eu havia sido contratada para passar os fins de semana com essa idosa.

Na verdade, eu já conseguira comprar roupas adequadas para a profissão e escondidas numa sacola de viagem que eu deixava num prédio abandonado, eu estava disposta a passar os fins de semana "trabalhando" nos postos de gasolina.

Na BR 116, eu recebera orientações para somente aceitar carona de caminhoneiros.

Carros pequenos, como chamavam popularmente, poderiam ser perigosos.

Conheci histórias de mulheres que foram mortas, ou que com um pouco mais de sorte, se a isso se pode chamar de sorte, foram encontradas nuas, estupradas e sodomizadas por armas e objetos diversos.

Mas naquela noite, havia uma senhora, digamos muito decente, que estava a esperar carona também... E fomos em um carro de porte médio. Eu sustentando a estória do hospital...

O que eu não sabia, é que aquela decente senhora ia para um cabaré de uma filha e que ela me conhecia e ao chegar a minha cidade contaria a todos do bairro que eu estava sendo prostituta nos postos.

Eu nunca usei drogas... Apesar de elas sempre estarem presentes em minha história de vida. Mas ali me confrontei com meninas de idade indefinida, que "davam" por dois reais, cinco vezes, para comprar uma pedra de crack.

Era com essas meninas e com travestis, que iríamos disputar a clientela.

Cheguei ao cabaré, que porque o mundo é mesmo muito pequeno era da filha da senhora que viajara comigo. Bêbados e drogados se esfregavam nas mulheres que ali se expunham, saindo nuas dos quartos. Havia uma mulher, uma apenas, muito bonita. Que parecia com as prostitutas dos filmes pornôs que eu assistia escondida.

Ela vinha de longe, para conseguir o dinheiro de sustentar o marido gigolô. Descobri que esse era o maior percentual de prostitutas... As que sustentam homens e as que são lésbicas.

Depois, as que sustentam filhos. As que são por prazer? Isso não existe...

E a mulher que eu conhecia não apareceu... Vi-me sozinha, num local ermo, a beira de uma estrada e com uma vila de casas de taipa ao meu redor. Era a Cracolândia e as meninas de jovens corpos purulentos que se vendiam por cinco vezes dois reais em troca da droga, moravam ali.

Esperei que o dia amanhecesse e vim para a estrada. Minha amiga chegou, ainda bêbada do porre da noite anterior e ordenou que eu fosse para o lugar que seria minha casa dos fins de semana.

Um quarto, com o aluguel dividido para nós duas e duas lésbicas. Uma garrafa com água, um colchão no chão e uma rede compunham a mobília.

Deveríamos dormir, para depois irmos visitar os cabarés do centro da cidade. Era necessário ganhar o dinheiro do aluguel da semana e o de trazer para casa.