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Insônia existencial

Madrugada.

Noite chuvosa.

Olho para o relógio e...

01:03 da manhã.

Diferente do normal, os vizinhos não estão fazendo barulho.

Não tem música alta vindo de lá.

Não tem ninguém em minha casa.

Somente eu.

Antes, eu precisava de mais espaço.

Hoje.

Um Shift+Enter já dá.

Antes.

Tinham muitas vírgulas.

De uns meses pra cá.

Só quero finalizar.

Olho para o relógio e...

Já são 01:33?

Tem tanta coisa pra fazer.

Olho para o relógio e...

2:40.

Agora seria o momento perfeito para morrer.

Morrer dormindo.

Estou em paz.

Estranhamente.

Em paz.

Não penso mais no futuro.

Observo constantemente o passado.

Surgem perguntas inúteis como:

E se não fosse assim?

Como eu disse:

Inúteis.

Não tem sentido.

Veja bem.

Não é por falta de perspectiva de vida (mesmo não tendo).

Não é porque tudo parece perfeito (até porque não está).

É só que...

Não há mais nada para fazer.

Eu queria tanta coisa.

Tanta coisa.

É silencioso lá fora.

E agora está quieto aqui dentro.

Por isso é estranho.

Eu sinto que poderia morrer bem agora.

Agora eu poderia morrer bem.

Como vocês disseram né?

Sem reclamações.

Agora.

Quero.

Descansar.

Nada saiu do jeito que eu queria.

O que devo fazer então?

Descansar.

Vou dormir.

Esperando não acordar mais.

....

...

..

.

Acordei.

Novamente.

Outro dia.

Novamente.

Não saiu como eu queria.

Faço tudo de novo.

Todas as mesmas coisas.

Fujo da realidade.

Mas nem isso estou conseguindo mais.

Vou tentar dormir mais um pouco.

Vai que...

Eu consiga dormir.

Se eu acordar então eu não consegui dormir.

Dormir é fechar os olhos.

Fecho os meus, mas segundos depois já estão abertos.

A cama me expulsa.

O segurança do shopping me expulsa.

O banco da praça também me expulsa.

Então olho para as pedras sobre o mar.

São macias.

Juro que são macias.

Quero descansar.

Quero.

Fechar os olhos.