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31- Missões (3)

Segunda-feira.

*Bam!* Sekiro colocou uma grande pilha de missões no balcão do recepcionista, o som ecoando pelo hall do edifício como um desafio silencioso.

O recepcionista, já familiarizado com a cena, olhou para os papéis e começou a analisá-los rapidamente. Com um gesto automático, entregou a recompensa a Sekiro, juntamente com outra pilha de missões. No entanto, o clima estava diferente daquela manhã.

Diferente de antes, Sekiro apenas aceitou o dinheiro, seus olhos fixos e intensos sobre o recepcionista. A tensão no ar era palpável.

"O que foi?" o recepcionista perguntou, um toque de nervosismo em sua voz, tentando manter a postura profissional.

"Já passou uma semana."

"E?"

"Missão ranque C."

O recepcionista franziu a testa, recordando-se da conversa anterior. "Ah, eu tinha esquecido, sobre isso—"

Antes que pudesse terminar, um frio na barriga se instalou. Ele sentiu um calafrio subir pela espinha, como se um predador o observasse.

Quando olhou para Sekiro, viu aqueles olhos amarelos brilhando como faróis, encarando-o com uma intensidade que o fazia sentir-se pequeno e vulnerável.

Naquele momento, ele se sentia como uma presa encarada por um lobo faminto, ciente de que a situação não era favorável. O recepcionista engoliu em seco, tentando parecer calmo.

"O h-hokage pediu que você o visse. Por isso, eu não posso te dar a missão."

Sekiro ainda o encarava, suas feições impassíveis, enquanto buscava algum sinal de mentira que pudesse justificar uma reação mais intensa. Se encontrasse qualquer indício de engano, jurava que faria o recepcionista se arrepender de suas palavras.

Felizmente para o recepcionista, Sekiro não encontrou nada que indicasse desonestidade. "Uhm," Sekiro finalmente concordou, um aceno de cabeça que parecia mais uma concessão do que um verdadeiro acordo. Ele então saiu em direção ao escritório do Hokage.

Enquanto isso, o recepcionista respirava fundo, o peito subindo e descendo rapidamente, enquanto enxugava o suor que escorria pela sua testa, um suor que ele nem percebia ter produzido. O ambiente ao seu redor parecia tenso, e ele se perguntava como um garoto tão jovem poderia causar tanta apreensão.

"Aquele garoto ainda vai me matar," murmurou, tentando recuperar a compostura. Ele se apoiou no balcão, relembrando das outras vezes em que Sekiro havia quase cruzado a linha entre a audácia e a imprudência. "Eu preciso de um aumento."

Enquanto isso, Sekiro caminhava pelos corredores do edifício com confiança, como se conhecesse o lugar de cor, embora nunca tivesse passado por ali.

O silêncio absoluto ao seu redor só tornava o ambiente mais imponente, mas Sekiro não se deixava abalar. Todos sabiam que o escritório do Hokage ficava no andar mais alto, com uma ampla vista panorâmica para a vila.

Ele avançava com um propósito claro, observando cada detalhe à sua volta, até encontrar a maior porta no corredor, virada em direção à vila.

Toc, toc.

"Pode entrar," chamou uma voz idosa do outro lado.

Sekiro abriu a porta e deu alguns passos para dentro. Ali estava o Terceiro Hokage, Hiruzen Sarutobi, usando seu icônico chapéu e segurando um cachimbo entre os dedos. O escritório estava repleto de pergaminhos e pilhas de papel – o peso do dever de um Hokage em sua forma mais pura.

Por um momento, Sekiro analisou a cena, pensando consigo mesmo.

'Depois ainda falam que sonham em ser Hokage... Prefiro morrer engasgado com a minha própria saliva.' refletiu, com um toque de ironia.

"Senhor Terceiro Hokage," cumprimentou Sekiro, demonstrando o mínimo de respeito necessário, mas sem tirar a seriedade do olhar.

"Ah, jovem Sekiro! Há tempos eu queria falar com você," Hiruzen disse, com um tom paternal enquanto soltava a fumaça do cachimbo.

O Hokage parecia curioso, talvez até um pouco intrigado. "Não é muito de falar, não é? Como tem sido sua vida de ninja?"

Sekiro pensou por um instante. "Improdutiva," respondeu, sem cerimônias.

"Pouco tempo para treinar e muitas missões inúteis... mas o dinheiro é bem-vindo."

Hiruzen sorriu levemente, surpreso pela honestidade direta. "Imagino que sim. Em apenas uma semana, você completou 290 missões de rank D. Nunca vi alguém fazer algo assim antes."

"Uhm," murmurou Sekiro, impassível.

O Hokage o observou atentamente, buscando ler o garoto além das palavras curtas. "Deve ter conseguido uma boa quantia, não é? Quanto acumulou com tudo isso?"

"Trezentos e doze mil ryos... trezentos e setenta e dois mil, contando com hoje," disse Sekiro, exibindo um punhado de notas que ele havia guardado cuidadosamente dentro de suas roupas.

Hiruzen arqueou as sobrancelhas, surpreso. "Cough, cough," ele reagiu, tentando disfarçar a tosse causada pelo espanto. "Isso é... realmente impressionante."

O velho Hokage sabia que esse valor superava a recompensa máxima permitida em uma missão de rank B, que exigia um nível de risco incomparável com as tarefas simples de rank D.

"Uhm," Sekiro continuou sem reagir, como se nada daquilo fosse extraordinário.

Hiruzen se acomodou na cadeira, ajustando o chapéu, e decidiu abordar um tópico mais sério.

"Soube que você está interessado em uma missão de escolta. Pode me dizer por que especificamente escolta? Existem outras missões de rank C, menos arriscadas."

Sekiro desviou o olhar por um momento, considerando a pergunta, antes de responder. "Treinamento." disse com firmeza.

"Missões de escolta são imprevisíveis. Mesmo as mais seguras acabam sendo atacadas por algo ou alguém. Eu planejo usar essa oportunidade para treinar com o inimigo. Não existe treino melhor do que uma luta real."

Hiruzen assentiu, compreendendo as intenções do garoto. "Bem perspicaz. Vejo que está determinado a ficar mais forte. Pelo que me lembro, você e outros alunos formaram um grupo de treino ainda na academia, e foi você quem começou tudo isso."

"Uhm."

O Hokage se inclinou um pouco para frente, os olhos analisando Sekiro com uma curiosidade paternal. "Diga-me, por que você quer ficar tão forte? Parece que está com pressa."

Sekiro poderia ter hesitado, mas não demonstrou nenhuma reação de desconforto. Qualquer outro jovem ninja talvez se sentisse intimidado com a questão, principalmente ao estar na presença do Hokage.

Mas Sekiro apenas sustentou o olhar de Hiruzen com a mesma frieza, sem pretensão nem necessidade de esconder a verdade.

"O mundo é um lugar perigoso," começou, em um tom baixo e firme. "Ser fraco é o único pecado que existe. Se eu quero proteger quem é importante para mim, então preciso ser forte."

As palavras simples, mas diretas, carregavam um peso que o próprio Hokage pôde sentir. Hiruzen avaliou o garoto, intrigado com a profundidade de sua resposta.

Ele sabia que Sekiro tinha uma determinação rara e uma visão de mundo peculiar para alguém tão jovem. E, ainda assim, era difícil prever até onde essa força de vontade o levaria.

Hiruzen deixou o silêncio pairar por um instante, antes de responder. "Esse é um fardo pesado para alguém da sua idade, Sekiro," ele disse, gentilmente.

"Mas entendo. Se esse é o seu caminho, farei o possível para guiá-lo."

Sekiro assentiu, e, sem prolongar a conversa, aguardou a instrução final de Hiruzen sobre a missão.

"Pelo que sei, você gosta de selecionar suas missões a dedo," Hiruzen disse, enquanto um leve sorriso surgia em seu rosto. "O que me diz desta?" Ele estendeu um pergaminho em direção a Sekiro, com uma expressão de quem já conhecia a resposta.

Sekiro abriu o pergaminho e leu o conteúdo com calma.

『Escoltar uma caravana cheia de grãos e outros consumíveis até a Vila da Areia.』

O jovem ninja franziu o cenho. "Perigosa demais. As chances de encontrar um ninja inimigo com o poder de um jonin são muito altas," respondeu, sem hesitar, devolvendo o pergaminho para Hiruzen.

"Por que você acha isso? Até onde sei, Konoha e Suna estão em paz desde a última guerra." Hiruzen perguntou, fingindo inocência, mas com um brilho calculado nos olhos. Ele observava cada reação de Sekiro, como se cada movimento fosse uma peça a ser analisada.

Sekiro respondeu com uma voz baixa e controlada, mas sua mente estava clara. "Somente isso não é uma garantia. Suna poderia orquestrar um ataque contra a própria caravana para enfraquecer nossa credibilidade aos olhos do senhor feudal."

Hiruzen ergueu uma sobrancelha, surpreso com a sagacidade de Sekiro. Aquele teste de análise, que ele havia preparado, não parecia estar desafiando o jovem ninja como esperava.

Hiruzen achou interessante o modo como Sekiro pensava e, ao mesmo tempo, a frieza com que descartava as opções mais arriscadas.

"Já se passaram muitos anos desde a última guerra," continuou Sekiro.

"Suna já se estabilizou e não temeria o início de outra. Ao orquestrar um ataque à própria caravana, eles poderiam roubar os grãos, ganhar recursos e ainda incriminar outra vila, minando nossa reputação."

O Hokage sorriu com aprovação. "Interessante. Mesmo assim, não acha que talvez esteja sendo um pouco… cauteloso demais?" Ele sabia que era improvável que Sekiro mudasse de opinião, mas queria sondá-lo mais.

Sekiro ergueu o olhar e, com a mesma expressão impassível, continuou. "Pode até ser uma visão cautelosa, mas é realista. Outra possibilidade é que uma vila rival nos embosque. Eles poderiam ordenar que seus ninjas usassem técnicas comuns de outras regiões, criando a ilusão de que outra vila está por trás disso. Se pudessem, roubariam a carga. Se não, destruiriam tudo."

Hiruzen ficou em silêncio por alguns segundos, absorvendo as palavras. Ele sabia que Sekiro estava certo, mas queria ver até onde ia seu raciocínio. Afinal, não era comum ver um genin tão estrategista.

"A credibilidade de Konoha sofreria do mesmo jeito," Sekiro continuou, com um tom de certeza.

"Suna também não teria nada a ganhar, e nossa aliança se enfraqueceria. Em resposta, o senhor feudal provavelmente procuraria outra vila para suprir as necessidades da região, e quem quer que tenha planejado o ataque se ofereceria para preencher esse espaço."

"E, no final, teriam os grãos e a vantagem diplomática," completou Hiruzen, com um sorriso satisfeito. "Você pensou em tudo."

"Uhm." Sekiro apenas assentiu, sem demonstrar entusiasmo ou orgulho. Na verdade, ele não sentia nada disso no momento.

Para ele, analisar os riscos de uma missão era algo completamente normal; qualquer um pensaria nisso, até mesmo as crianças de seu clã de shinobis. Ele respirou fundo, refletindo brevemente sobre as expectativas que um dia já recaiam sobre ele.

Como filho adotivo de Coruja, o líder do clã, Sekiro sabia que era o próximo na linha de sucessão. Por isso, não era surpresa que tivesse sido instruído em áreas como política, estratégia e análise.

Mas, em sua visão, essas habilidades não o tornavam especial. Mesmo uma criança em treinamento poderia formular respostas como as dele, esse tipo de pergunta era comum nos testes escritos que todos precisavam enfrentar no clã.

Hiruzen, observando sua reação contida, se permitiu um sorriso discreto. Com paciência, o Hokage estendeu-lhe outra missão.

"Então, o que você acha desta?" Ele entregou o pergaminho com cuidado, mantendo o olhar atento sobre Sekiro, analisando cada uma de suas reações.

Sekiro examinou a missão cuidadosamente, mas, após um momento, balançou a cabeça e explicou suas razões para recusar. Ele apontou que as chances de conflito direto eram mínimas, o que tornaria a missão desnecessária para alguém com suas habilidades, ou mencionou que os riscos eram altos demais, impossibilitando uma abordagem segura. Essa cena se repetiu várias vezes – missão após missão era recusada.

Após o que parecia uma eternidade, Sekiro encontrou uma missão que julgava adequada para seu nível. Ele fechou o pergaminho, assentindo para si mesmo antes de olhar para o Hokage. "Essa aqui serve."

Hiruzen, no entanto, hesitou antes de responder. Com um leve franzir de sobrancelhas, ele observou Sekiro em silêncio por um instante antes de falar.

"Eu entendo que você queira essa missão, Sekiro, mas você não pode realizá-la... pelo menos, não sozinho."

Sekiro apenas respondeu com um "Uhm", aguardando a explicação.

O Hokage suspirou levemente, mas seus olhos demonstravam uma firmeza quase paternal. "Sei que você tem plena confiança em sua capacidade de resolver o problema, mas tudo o que o cliente vê é uma criança que acabou de sair da academia, sozinha e sem um sensei. Não importa o quanto você se destaque, a percepção deles é o que determina."

Sekiro deu um aceno curto, reconhecendo o ponto do Hokage, mas sem nenhuma palavra adicional.

Hiruzen se inclinou um pouco à frente, ponderando antes de propor: "Então eu estava pensando: que tal eu enviar um jonin com você, apenas como supervisão? Ele não interferirá no seu treinamento, estará lá somente para dar uma presença de segurança e garantir que tudo corra bem."

Sekiro considerou a proposta em silêncio, seu olhar fixo em um ponto indefinido da sala. A ideia de ter um jonin acompanhando-o, mesmo sem interferência direta, poderia ser vista como um golpe em sua independência, mas ele compreendia a lógica por trás da decisão. Por fim, ele assentiu. "Ok."

Com um olhar satisfeito, Hiruzen pegou seu carimbo e pressionou-o contra o documento da missão, oficialmente aprovando a tarefa para Sekiro. "Essa missão agora é sua."

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<2150 palavras>

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