Vendo Richard dizer com tanta naturalidade as coisas cruéis que causou a ele, sua testa não pode deixar de franzir.
— Isso não é algo a se orgulhar sabia? — Ele vocifera.
Em seguida Kolin pega a xícara de chá e a joga no chão deixando vários estilhaços pelo chão.
Richard ignora a xicara quebrada e nem sequer desvia o olhar do livro quando diz:
— Só não vá ao último andar, os quartos de lá não estão disponíveis.
Kolin sabia que não devia perguntar mas pergunta mesmo assim.
— Por que? Quem mais mora aqui além de você?
— Ninguém, mas lá fica o meu quarto e dos meus familiares mortos, ainda não tirei as coisas de lá, então não é uma boa ideia entrar. — Ele explica com calma.
— Seus... familiares mortos?
— É, você sabe provavelmente, já que sabe mais sobre mim do que eu mesmo, minha mãe suicida, meu pai no acidente e agora Rarlee, também tem Narlan mas as chances de ele sobreviver são mínimas.
O outro pisca os olhos algumas vezes e o encara em silêncio. Ele já sabia como Richard era, mas ainda assim, todas as vezes que ele demonstrava tanta frieza, Kolin ainda não sabia como reagir.
Era meio assustador.
Richard nota seu silêncio e diz:
— Ah, isso te incomoda? Se quiser pode ficar com o que quiser então, se não se importar em ter coisas de gente morta. — Ele percebe que sua expressão piora e tenta concertar — Aqui tem várias empregadas e elas são muito prestativas, então se quiser só jogar fora as coisas que estão nos quartos tudo bem também.
— Seu maldito psicopata, você não tem coração, por que diz isso com tanta naturalidade sendo que sempre que pode dar uma entrevista você não para de se lamentar sobre sua vida, tudo o que você diz é puro marketing?
Os olhos de Richard ficam vazios por um momento mas ele não diz nada.
— Você realmente não se importa com eles? — Kolin pergunta em um impulso o que estava preso na garganta há algum tempo.
Enquanto pegava suas coisas de volta ele aproveitou para ver algumas entrevistas que Richard havia feito, incluindo fotos suas no funeral de Rarlee.
Nas fotos ele segurava um guarda chuva para protege-lo da neve, e seu rosto estava impassível, nenhum traço de tristeza passava pelos seus olhos.
Apesar disso mas entrevistas ele dizia coisas emotivas típicas de poesias dramáticas, como sentir uma dor tão intensa a ponto de nem acreditar.
— Entrevistas, ah, eu não fiz tantas desde a morte deles, e foi publicado um número bem limitado, parece que você realmente não cansa de me vigiar.
Kolin fica vermelho pela raiva e faz uma careta.
— Isso... é apenas para garantir que você não faça nada contra mim.
Rihard por fim fecha o livro que esteve tão concentrado durante todo o tempo e se aproxima, os olhos cinzas o fitando sem emoção.
— Não me leve a mal Kolin, posso ser seu pior inimigo mas você não é o meu, pelo contrário, você não está nem entre os dez primeiros, então não haja como se estivesse. — Ele fala com eloquência.
— O que quer dizer com isso de que eu não sou seu inimigo?
— Exatamente o que ouviu.
— É claro que eu sou, não precisa mentir sobre isso, eu sei que você me odeia. — Ele diz batendo na mesa.
Richard o olha de cima a baixo por um momento e em seguida da um sorriso que não chega aos olhos.
— O que te faz pensar isso?
— O que? Você quer mesmo saber, desde que eu te conheço tudo o que faz é atormentar minha vida e sem motivo nenhum, sempre, e eu nunca vi você atormentar ninguém mais assim, pelo menos não tanto. — Ele responde enquanto tenta manter a linha de raciocínio.
— Não exagere, você não é tão especial assim, eu não me lembro de te torturar tanto quanto você diz. — Ele diz dando de ombros.
Kolin se prepara para para lhe dar um soco, mas sente uma barreira invisível o impedindo, uma força o segurava, como braços invisíveis, era o poder de Chard, ele o fez se lembrar da dor de cabeça que voltou com força total.
— Seu maldito.
— Por que estamos nisso de novo? Nem sequer é necessário.
— É claro que é necessário e você sabe disso.
Ele estava tão exaltado que seus negros cabelos cacheados acabam ficando uma bagunça quase a ponto de cobrir os seus olhos.
— Como seja, eu te odiando em primeiro lugar ou não, isso não muda nada, não é um casamento. — Ele suspira com tédio.
Kolin apenas revira os olhos.
— Esse foi um exemplo ridículo, quem iria querer se casar com você?
Ele zombou apesar da se lembrar da fila de pessoas que matariam por isso.
— Não seja tão sensível aos detalhes princesa, eu também não conheço ninguém que estaria disposto a ser seu marido.
Kolin rangeu os dentes.
— Como se eu me importasse com isso, até por que muitas e muitas pessoas já me pediram em casamento.
Richard lhe dá um sorriso.
— E no entanto não te vejo se casando com ninguém, talvez não haja nenhum digno?
Kolin revira os olhos e cruza os braços se sentando na cadeira. Na verdade a maioria das pessoas se sentiam atraídas por ele mas tinham medo demais para fazer o primeiro movimento ou tentar qualquer coisa.
Apesar de sempre estar cuidando de Melanie por ela ter sido a primeira a não o pisotear ou mentir para ele, não é como se ele nutrisse alguma esperança sobre um relacionamento com ela.
— Não é da sua conta.
Richard balançou a cabeça negativamente.
— E apesar disso minha vida sempre é da sua conta.
Apesar de odiar Richard ele não podia negar sua perseguição por ele, desde que Kolin podia se lembrar investigar a sua vida era um hábito enraizado em seus ossos e carne.
Não que ele não pudesse parar isso, se quisesse ele naturalmente conseguiria se afastar dele... embora nunca tenha tentado.
As bochechas de Kolin esquentam por um momento mas ele fica em silêncio pela primeira vez apenas observando a expressão de Chard mudar por um momento com curiosidade e depois voltar ao normal.
— Só para deixar claro, já sabe o que acontece se qualquer coisa que te contei se espalhar né? — Richard pergunta o olhando fixamente nos olhos.
— Morte? — Kolin pergunta em sarcasmo.
— Morte. — Ele responde com frieza.
Eles ficam nessa troca de farpas até que Kolin diz:
— Eu mudei de ideia, prefiro morar na rua a ter que morar com você.
— Não seja teimoso, se for bonzinho vou te deixar escolher se contamos ou não para a Melanie. — Ele diz como se estivesse falando com uma criança mimada.
— Mas é claro que temos que contar pra ela. — Kolin fala imediatamente.
— Certo então, qual parte exatamente?
Kolin pisca algumas vezes e pensa em qual parte seria menos pior, todas elas pareciam horríveis.
— Mas pensando bem ela já acha você obcecado com esse livro idiota não vai fazer tanta diferença.
Kolin não sabia qual parte do que disse era ruim, mas Chard o olhou como se fosse lhe devorar vivo, alguns minutos se passaram até ele o liberar de seu poder e murmurar um "como quiser" com indiferença.
— Então o que vai fazer a seguir? — Ele pergunta mas Chard se levanta.
— Por hoje foi o bastante, já anoiteceu, vou chamar uma empregada para te guiar para o quarto que preferir.
— Eu não preciso de empregada alguma.
Richard o ignora.
— O jantar vai estar pronto em trinta minutos, se não quiser descer a empregada levará no quarto, tome um banho nesse meio tempo. — Ele diz saindo e levando o livro consigo.
— Eu tomo banho quando eu quiser. — Kolin grita atrás dele.
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