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Exaustos  

Exceto pelo dragão ninguém mais conseguiria dormir naquele laboratório.

A limpeza havia demorado muito mais do que eles pensavam.

Agora o ambiente já estava até cheirando bem é mesmo cansados eles não tiravam o olho do homem que havia sido retirado do casulo nem mesmo por um segundo.

Mas como o cansaço era extremo cederam ao sono e só acordaram horas depois por causa da barulheira próximo a eles.

Eles mal podiam acreditar em seus olhos quando viram um homem acuado tentando se proteger a todo o custo do dragão que parecia querer engolir ele novamente.

Talvez dessa vez até mastigá-lo um pouco.

Kowalsk foi o primeiro a reagir indo para frente do dragão com uma faca na mão ameaçando

furá-lo caso não desistisse da vítima.

O dragão não se sentia nem um pouco intimidado, mas parecia evitar um confronto direto com Kowalsk.

Gareno não tardou a agir e antes que alguém pudesse falar algo ele já estava sobre o dorso do dragão com as duas luvas especiais nas mãos e pronto para o golpe.

Thilláila, porém foi mais rápida do que Gareno antes que ele pudesse dar o golpe no dragão, ela imobilizou Gareno torcendo suas mãos para trás e imediatamente derrubando-o do dragão.

A queda não lhe causou grandes danos, mas o mesmo não poderia se dizer de Thilláila que mal podia se mover.

Atenção do dragão havia mudado e agora ele avançava contra Gareno para defender Thilláila.

A situação estava tensa e Gareno ainda sem se levantar totalmente já se posicionava para dar um golpe de impacto na cara do dragão que ainda parecia não estar totalmente recuperado.

Kowalsk já nem mais sabia o que fazer, se atacava o dragão se atacava Gareno ou simplesmente não fazia nada.

E foi nesse momento que ele se lembrou de que a sua faca nada faria no couro impenetrável daquele bicho.

Mas em todo caso ele estava ali para mostrar que se importava.

_Largue essa arma Kowalsk você não parece estar certo do que pretende fazer.

_Então larga essa luva Gareno porque você quer machucar o dragão e o dragão só quer proteger Thilláila. Então você vai acabar ferindo o dragão e machucando Thilláila e provavelmente nesse processo também vai acabar me machucando. O que sinceramente não vai ser uma boa ideia. Então vamos todos abaixar as nossas armas.

_Você não viu como ela me atacou, Kowalsk?

Perguntou Gareno indignado.

_Você atacou Gareno? Por que você atacou Gareno, Thilláila?

Perguntou Kowalsk sentindo-se confuso.

_Eu apenas quis impedir que ele machucasse o dragão.

Respondeu a moça sendo ajudada pelo velho soldado.

_Está vendo Kowalsk. Ainda acha que posso confiar numa mulher?

_Ah Gareno! Para de drama. Vamos parar com essa palhaçada. Tô com fome e quero comer alguma coisa e não brigar.

_Kowalsk eu não acredito que você me pediu para eu largar as luvas e não me ajudou a levantar completamente? Como acha que eu iria bater na cara do dragão ajoelhado daquele jeito?

_ Sei lá, talvez se você pedisse educadamente ele se abaixava para você dar um socão nas fuças dele. Mas que bom que vocês fizeram as pazes. Eu já me sinto bem melhor além disso eu estou morrendo de fome e eu queria saber se o café ainda vai demorar muito pra sair.

Gareno já estava bufando de raiva por causa das brincadeiras sem graça de Kowalsk.

De repente todos, incluindo o dragão foram surpreendidos por aquela voz do homem tirado de dentro do dragão.

Todos queriam perguntar alguma coisa deixando o homem terrivelmente confuso até que vários rosnados e urros de dragões, que ainda estavam do lado de fora do laboratório acordassem a todos para realidade.

Aquilo não era um programa de entrevista com convidados especiais e tudo mais.

Era apenas o intervalo para que se preparassem para luta que em breve participariam.

E se quisessem continuar vivos eles precisavam se unir mais e se conscientizar de que estavam em uma guerra querendo ou não.

_Quem é o senhor? De onde é? E o mais importante como é que o senhor foi parar dentro desse dragão?

Perguntou Kowalsk se adiantando entre os demais.

_Eu acho que a pergunta mais importante seria por que o senhor foi parar dentro do dragão?

Contribuiu Gareno sendo assentido pelo movimento de cabeça de Kowalsk.

Thilláila também quis fazer uma pergunta, mas foi gentilmente interrompida pelo homem que se mostrava bem à vontade com todos.

_Eu acho que nós não temos muito tempo para ficarmos aqui conversando e me desculpe por interromper a mocinha, mas contarei tudo o que querem saber e tudo que eu sei enquanto estiver deliciando-me com um saboroso café da manhã.

 

 

 Velho Kaminski 

 

"Meu nome é Othon Kaminski, e eu era de um antigo povoado chamado Tupavinski. Quando conheci minha namorada, fiquei tão apaixonado que queria estar apenas com ela. Então, nos casamos e nos mudamos para uma floresta da forma mais linda que pudemos. Sempre fui apaixonado pela natureza selvagem, e minha esposa também era, queríamos ficar o mais longe possível de todos. Por isso, escolhemos a floresta e a vida selvagem que ela oferecia.

Depois de quase um ano juntos, algo aconteceu em uma noite que mudou nossas vidas para sempre. Ao longe, vimos uma estrela caindo do céu e sentimos seu impacto na terra. Por muito pouco, não morremos na hora.

Infelizmente, minha esposa não teve a mesma sorte, e como morávamos longe de tudo e de todos, ela não seria socorrida a tempo para sobreviver.

A cabana que construímos juntos era forte o suficiente para suportar um vendaval e talvez até um terremoto. Mas não haveria nada que pudesse resistir à força destrutiva daquele evento, e por isso ficamos sob os escombros da cabana por horas ou talvez dias, sem saber o estado de saúde um do outro.

Quando finalmente me livrei dos escombros, estava dentro de um lugar estranho, com muitos fios e aparelhos esquisitos ligados a mim. Quando perguntei sobre minha esposa, disseram que não havia mais ninguém naquela cabana. Que eu estava sozinho quando me resgataram e por pouco não morri.

Então começaram a fazer testes em mim, quase me virando do avesso, e a partir daí eu não era mais dono de mim. Cada vez que eu abria os olhos e perguntava 'Que dia é hoje?', a resposta era sempre exatamente um ano depois da última vez que eu havia perguntado.

Gareno não falava nada, mas se prestasse bem atenção em seus olhos, podia ver que ele estava chorando. Thilláila nem sequer piscava, anotando sabe-se lá o quê num caderno velho encontrado ali mesmo.

'Quando foi que aconteceu esse evento que o senhor mencionou?' perguntou Kowalsk, sempre atento aos detalhes.

'30 de junho de 1908,' respondeu Kaminski calmamente, enquanto todos arregalavam os olhos.

'Por acaso o senhor sabe que dia é hoje?' perguntou Gareno.

'Não, meu filho, eu não sei o dia exato, mas sei que ano estamos, 2037.'

'Por favor, senhor Kaminski, o senhor se importaria de nos dizer em que ano nasceu?' perguntou Thilláila.

'De maneira alguma, minha filha. Nasci em 1888.'

Todos arregalaram os olhos novamente.

'Se o senhor estiver realmente falando a verdade, sabe o que isso significa?' perguntou Kowalsk, fazendo algumas contas.

'Sim, meu filho. Que farei 150 anos no ano que vem, se eu estiver vivo até lá, claro.'

'Isso não surpreende o senhor?' perguntou Gareno, admirado com tanta calma.

'Não, jovem. Acredito que depois de tudo que passei, poucas coisas podem me surpreender. Se você estivesse no meu lugar, pensaria da mesma forma.'

Numa pequena pausa, o senhor Kaminski saboreou mais um pouco de café enquanto comia algo parecido com um biscoito, tão duro quanto velho. Mas ele não reclamava, apenas sorria, se preparando para mais uma pergunta.

'A pergunta que está deixando todos curiosos aqui, como o senhor foi parar dentro de um dragão?' Thilláila perguntou, feliz por ser a primeira a fazer a pergunta.

'Olha, minha filha, sobre isso, eu não sei.'

'Como assim?' perguntaram todos abruptamente.

'É verdade, eu não sei como me colocaram dentro de um dragão. Mas sei que fizeram inúmeros testes comigo. De maneira que admiro não terem colocado um dragão dentro de mim.'

Essa frase realmente não soou bem, e de repente todos sentiram um calafrio percorrendo suas espinhas. Afinal, aquilo era estranho, mas, diante dos fatos já presenciados, era possível. Percebendo a tensão, o senhor Kaminski quebrou o gelo.

'Calma, pessoal, foi só uma brincadeira. Afinal, quem colocaria um dragão dentro de uma pessoa? E por que motivos?'

'Exatamente isso que fico pensando, senhor Kaminski. Que motivos teria uma pessoa louca, mas inteligente o suficiente, para fazer o que fizeram com o senhor? Por que guardá-lo dentro de um dragão?' perguntou Kowalsk.

'Não tenho certeza, filho, mas talvez, só talvez, eu tenha a resposta,' disse o senhor Kaminski, calmamente tomando mais um gole de café.

'Talvez seja por causa do meu sangue.'

'Seu sangue? E o que tem de especial no seu sangue?' perguntaram todos.

'Vocês talvez já tenham ouvido falar em sangue dourado.'

'O sangue dourado é um sangue raro, com Rh nulo, certo?' interrompeu Thilláila.

'Rh nulo? Explique isso melhor, Thilláila,' exigiu Kowalsk.

'Nulo, ou seja, os glóbulos vermelhos não possuem nenhum tipo de antígeno Rh. Os indivíduos com Rh nulo, além de não possuírem o antígeno RhD, também não expressam outros antígenos do sistema Rh. Por isso, seus glóbulos vermelhos são frágeis, causando uma anemia leve, mas crônica.'

'E talvez os torne mais vulneráveis a alguns experimentos estranhos, como esse que vimos hoje... um homem saindo de dentro de um dragão,' concluiu Gareno, sob o olhar atento de Kowalsk.

'E como ele pode saber disso?' perguntou Thilláila.

'Simples, moça, porque ele também é resultado de um experimento. Talvez a única diferença é que ele não saiu de dentro de um dragão, mas de dentro de um tubo de ensaio gigante,' respondeu Kaminski.

 

 

 

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