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Gato preto cruzando o caminho

Quando a segunda-feira de manhã chegou, Julie estava pronta para assistir suas aulas. Saindo do dormitório com Melanie, elas seguiram em direção ao Bloco Azul. O edifício era pintado de cinza, ainda que fosse chamado Bloco Azul, cercado por paredes com apenas uma entrada apesar de estar dentro do campus.

Ela viu os alunos seguindo em direção ao prédio, alguns que estavam do lado de fora do prédio conversando com os amigos.

"É para evitar que os alunos matem aula?" questionou Julie enquanto passavam pelos portões.

Melanie, que estava ocupada revirando seu livro à procura de algo, virou-se para Julie e disse, "Apenas as três primeiras horas. Como essa propriedade já pertenceu aos Lordes, dizem que esse edifício em particular foi usado há décadas como quartel-general para algo importante. Provavelmente é por isso que havia outro conjunto de muros e o Veteris acabou usando. Mas isso não impede alguns alunos de matar aula."

"Acho que agora eu sei por que os alunos aqui têm tanta reputação em tirar notas altas," murmurou Julie, enquanto entravam no prédio.

Como esperado, a arquitetura do edifício era magnífica. Entrando pelas portas largas, ela notou o grande espaço, e o teto era mais alto que o do prédio principal. Havia pinturas estampadas nas paredes que faziam este lugar parecer que ela estava em um museu. Haviam dois corredores no lado esquerdo e direito, e na frente estavam as escadas que levavam ao andar superior.

"Nossa sala é lá em cima," informou Melanie, e Julie a seguiu.

Seguindo sua nova amiga, Julie subiu as escadas e caminhou através dos corredores. Pelo caminho, ela não deixou de notar alguns olhares curiosos sobre ela, mas ela se comportou como se não os notasse. Quando entraram na sala de aula, o professor já estava presente e em pé perto do quadro.

Melanie deu-lhe um aceno antes de caminhar em direção ao seu lugar como o resto dos alunos que entravam. Julie ficou para trás para falar com o professor.

Era um professor homem, seu cabelo loiro e um sorriso nos lábios quando ele a olhou, "Não acho que eu a vi aqui na aula da semana passada."

"Sou uma aluna nova. Julianne Winters," Julie tirou a página impressa que ela tinha coletado do escritório para mostrar a ele.

O professor deu uma olhada rápida no papel antes de devolvê-lo a ela. Ele lhe ofereceu um sorriso e disse, "Eu sou Alan Torres. Sou seu professor de Matemática. Você pode pegar o assento que está em frente à mesa da Srta. Mitchell." Ela havia escolhido ciências como sua principal, e a universidade havia adicionado algo chamado Rubix, que deveria ser matemática química, o que ela nunca tinha ouvido falar antes. É claro, sem esquecer havia educação física, pensou Julie consigo mesma.

"Obrigada," respondeu Julie, pronta para deixar a frente da classe. Mas antes que ela pudesse dar um passo à frente com pressa, o Sr. Torres perguntou,

"Você não vai se apresentar? Isso não é uma aula de história, mas falar um pouco sobre você seria encantador," o professor sorriu. Ao mesmo tempo, ela ouviu o sino tocar no prédio, e como um feitiço, tudo ficou silencioso.

Quando seus olhos caíram sobre os alunos que já tinham tomado seus lugares, Julie inalou, "Eu sou Julianne Winters," ela se repetiu. Ela se virou para olhar o professor, que esperava que ela falasse mais.

"Não é você que empurrou o Jackson?" um dos meninos no fundo perguntou a ela.

"Ela é a tal?" veio outra voz, "Cara, ela está ferrada," a pessoa deu uma risada.

O burburinho do murmúrio cresceu na classe, e o rosto de Julie ficou levemente vermelho. "Parece que eles já te conhecem. Você pode ir e tomar seu assento," disse o Sr. Torres.

Julie caminhou cautelosamente em direção ao assento vazio, deslizando para dentro antes de colocar sua bolsa no colo. Tirando um livro e uma caneta de sua bolsa, ela os colocou na mesa. Depois que o Sr. Torres deixou a classe, a próxima aula começou rapidamente. E por mais que Julie estivesse animada para aprender e tirar notas mais altas este ano, ela não pôde evitar que seus olhos começassem a fechar. Fazia um tempo desde que ela tinha sentado em uma palestra tão longa.

Na mesma semana, em um dia, ela se desculpou da aula para visitar o banheiro. Pelo caminho, ela passou por algumas salas de aula onde os professores haviam começado a ensinar. Isso deixou os corredores vazios exceto por um ou dois alunos que carregavam livros ou papéis.

Entrando no banheiro, foi recebida pelas paredes verdes pastel com padrões de flores, dando uma aparência vintage. As janelas eram pequenas, e havia cabines opostas aonde os espelhos haviam sido fixados com cinco pias.

Julie caminhou em direção à pia, empurrando as mangas compridas de seu suéter para cima, antes de girar a torneira e espirrar água em seu rosto. Seus olhos castanhos a olhavam de volta pelo espelho. Puxando os lenços de papel, ela os pressionou em seu rosto. Ao ouvir a risada das meninas vindo de fora do banheiro, ela jogou o lenço de papel na lixeira e puxou as mangas para baixo.

Quatro meninas entraram no banheiro, rindo de alguma coisa.

"Você deveria ter visto a cara dela," riu uma das meninas enquanto entrava. "Ela mereceu por pensar que podia enfrentar você."

"Ela mereceu por ousar olhar para o meu homem. Eu avisei ela antes e ela ousou escrever cartas e enviar presentes," disse a outra, que parecia ser a líder do grupo, já que as outras três meninas se aglomeravam ao redor dela. "Agora ela vai aprender a deixá-lo em paz."

"Foi uma boa ideia escrever com o nome dele e enviar para a Stella. Mas eu acho que ele mesmo teria rasgado se ele tivesse encontrado," disse a primeira menina com um sorriso no rosto.

"Com certeza ele teria. Ele apreciaria meus esforços em manter as pragas longe dele," riu a segunda menina.

Uma das meninas acenou com a cabeça em direção a Julie, e Julie notou o gesto pelo espelho.

Julie parecia uma pessoa dócil para um estranho por causa de sua figura e seu rosto de aparência doce. Com os óculos de armação redonda em seu rosto e o suéter que a cobria bem, ela parecia ser alguém sobre quem as pessoas poderiam pisar.

"Você deve ser nova aqui. Qual é o seu nome?" Julie estava ocupada puxando o lenço de papel, e a menina disse, "Estou falando com você, garota do suéter."

Julie virou-se, suas sobrancelhas levemente erguidas, "Eu sou a Julie. Quem é você?" ela perguntou de volta a eles.

"Eu? Você não sabe que não deve questionar seus superiores? Parece que você perdeu a orientação de como se comportar como caloura aqui," disse a menina, cruzando os braços sobre o peito.

Julie encarou as quatro garotas e então perguntou, "De que ano vocês são?"

"Segundo ano," respondeu uma delas com excesso de confiança.

Ao ouvir isso, Julie sorriu e disse, "Bem, parece que vocês estão procurando a pessoa errada para atormentar. Eu sou uma aluna do terceiro ano. Boa sorte na próxima vez." Ela deu um passo para a frente, apenas para ter uma das garotas bloqueando seu caminho. "Ainda não terminamos de conversar?" Julie perguntou em um tom desentendido.

"Mesmo que seja verdade, não seguimos necessariamente a ordem anual," disse a líder do grupo. Era evidente que a menina vinha de uma família rica e estava acostumada a conseguir o que queria, enquanto tinha três capangas ao seu redor. "Você obviamente é nova aqui, e estamos aqui há mais tempo do que você. Você é quem deveria estar nos seguindo."

Este lugar estava cheio de delinquentes e pessoas que gostavam de intimidar os fracos, pensou Julie consigo mesma, o que também acontecia em outros lugares. Mas este era extremo, como se as pessoas ficassem nos cantos, prontas para atacar o outro.

Internamente, ela suspirou.

Elas sabiam como era estranho entrar em uma sala quando o professor estava dando aula com todos os olhares voltados para ela? Ela tinha vindo aqui para respingar um pouco de água no rosto.

"Você está certa," Julie concordou com a garota, que pareceu surpresa. "Pensando bem, quando devo me juntar ao grupo de vocês? Até agora, nunca fiz parte de nenhum grupo e acho que seria muito legal participar."

Uma das garotas encarou Julie como se não entendesse sobre o que a menina estava falando. A maioria dos calouros sempre empalidecia de medo, o que alimentava o ego do agressor. Mas esta estava falando em se juntar a eles.

"Apenas os alunos de elite podem se juntar ao nosso grupo, e não permitimos que um estudante comum entre facilmente no nosso clã," disse outra garota.

Algo apareceu no rosto da líder do grupo, e ela disse, "Agora lembro onde vi você. Você é aquela que é amiga da Olivia, não é? Eu sou a Eleanor," De repente, seu comportamento mudou, e ela ofereceu um sorriso amigável para Julie, "Você deveria ter nos dito antes que você é próxima do famoso quinteto."

Famous Five, o livro? Perguntou Julie em sua mente.

"Você pode desconsiderar o que a Nancy disse agora," Eleanor sorriu antes de propor, "Sabe de uma coisa? Deveríamos sair juntas. Por agora temos aulas para assistir. Desculpa pelo incômodo."

"Sem problemas," disse Julie, notando como Eleanor se tornou doce e acenou para ela. Julie saiu rapidamente do banheiro.

Este lugar era estranho, pensou Julie consigo mesma. Ela tinha conseguido evitar o ouriço desde sábado, e suas aulas tinham sido tranquilas. Mas o mesmo não podia ser dito sobre o que acontecia fora da sala de aula e do seu dormitório. Saber que os capangas do ouriço estavam procurando por ela a deixava ligeiramente desconfortável.

Ela estava voltando para a sua aula, caminhando pelos corredores, quando de repente alguém pulou bem na frente dela da janela da sala de aula ao lado. Ela inalou um cheiro familiar, algo almiscarado e provavelmente absurdamente caro.

A pessoa se agachou bem na frente dela, demorando alguns segundos como se estivesse amarrando o cadarço de uma de suas botas. Por causa do cabelo preto da pessoa, camisa preta, calça jeans preta, Julie não pôde deixar de compará-lo a um gato preto. Talvez uma pantera seria mais apropriado, pensou Julie consigo mesma.

Quando ele se levantou, os olhos de Julie sutilmente se arregalaram ao ver a pessoa com quem ela quase colidiu na semana passada.

Como se ele a lembrasse, seus olhos se estreitaram levemente, segurando o olhar dela por dois segundos.

"Por que você está matando aula?" sua curiosidade saiu de seus lábios.

Quando o garoto a encarou, Julie percebeu que eles não se conheciam para estar fazendo perguntas como se fossem amigos. Ela viu as tatuagens aparecendo pela camiseta dele e notou que seu braço estava tatuado.

"Volte para a sua aula," sua voz era levemente grave, e os olhos dela rapidamente voltaram. Olha quem está falando, pensou Julie em sua mente.

Ele deu um passo ameaçador em direção a ela, e Julie deu um passo para trás. Ela engoliu em seco.

"Meninas boas devem ouvir o que lhes é dito, a menos que queira convidar problemas."

E ele caminhou por ela como se não tivesse compartilhado uma única palavra com ela. Enquanto o via desaparecer, Julie se perguntou como ele tinha conseguido não ser pego pelo professor enquanto pulava da janela.

Franzindo a testa por causa das suas palavras, ela olhou na direção que ele foi até ouvir alguém chamá-la.

"Srta. Winters." Virando-se, Sr. Borrell apareceu em sua visão. "O que você está fazendo matando aula e parada no corredor? Detenção à noite."

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