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Monstros Podem Ser Gentis

Sem aviso prévio, Atticus retirou o vidro espetado do pé de Daphne.

Um grito rasgou sua garganta. A dor foi tão ruim quanto quando o vidro tinha cortado sua carne. Agora que foi retirado tão abruptamente, a ferida queimava.

Porém, surpreendentemente, tão rápido quanto a dor veio, ela se foi. O que antes era doloroso logo foi substituído por uma sensação refrescante. Daphne ofegou, seu peito subindo e descendo rapidamente enquanto olhava para Atticus, que estava agachado logo abaixo dela.

Um rei como ele, alguém grande e poderoso, estava dobrado aos pés dela. Ele segurava ela suavemente com uma mão enquanto a outra pairava sobre sua pele. Ela podia sentir um leve formigamento onde a ferida estava. Parecia que a geada estava beijando sua pele quando sua mão se movimentou.

Dentro de segundos, Daphne observou sua pele sendo remendada pouco a pouco. Foi só então que ela percebeu que Atticus estava usando sua magia nela - a mesma magia que ele usou para matar aqueles quatro homens agora estava sendo usada para curá-la.

Assim, seu pé voltou ao normal. Não havia cicatriz, dor, nem ferida. Apenas um leve tom de vermelhidão do sangue restante para lembrá-la de que o que aconteceu não era apenas um pesadelo assustador.

"Há algum desconforto remanescente?" Atticus perguntou, chamando sua atenção.

Daphne acordou de sua distração, piscou rapidamente. Sua garganta estava seca quando seu olhar encontrou o de Atticus. Ele ainda estava de um joelho, segurando seu tornozelo enquanto a olhava de baixo como se fosse um devoto em louvor à sua deusa.

"N-Não", finalmente Daphne conseguiu forçar a saída. "Estou bem."

O rei acenou com a cabeça antes de se levantar por completo novamente. Assim que ele se levantou, pegou Daphne em seus braços. Ela soltou um pequeno grito de surpresa, seus braços rapidamente envolvendo seu pescoço enquanto tentava se equilibrar. Daphne sentiu Atticus tremer um pouco de riso.

"Vamos te levar para um lugar seguro", ele disse. Quando ela desviou o olhar do chão para encontrar seu olhar, Daphne foi recebida com um sorriso travesso nos olhos dele. "Este não é um quarto para uma nova noiva. Especialmente quando você é minha."

Seus passos largos rapidamente os ajudaram a atravessar o quarto. Daphne não conseguiu olhar para os homens que jaziam no chão. Ela sabia - ou tinha adivinhado - quando passaram por eles. O tempo todo, ela manteve os olhos bem fechados. No entanto, mesmo se recusando a abrir os olhos, ela sabia que a imagem de seus pescoços quebrados e corpos mutilados já havia se gravado em sua mente.

Sem dúvida, ela seria atormentada por pesadelos por muitas noites que viriam.

"Vossa Majestade, o senhor está bem?" Um homem apareceu repentinamente com alguns guardas atrás dele. Ele estava vestido de maneira um pouco diferente, o que levou Daphne a supor que ele não era apenas parte dos cavaleiros, mas talvez alguém um pouco mais alto na hierarquia.

"E claro, você não poderia ter aparecido quinze minutos mais cedo quando de fato teria sido útil." Atticus resmungou, revirando os olhos. "Limpe meu quarto. Alguns idiotas tentaram armar uma emboscada."

"Você..."

"Diferente de certas pessoas," Atticus disse com um olhar penetrante, "eu consigo terminar o trabalho rápido e eficientemente. Seja útil, Jonah, e peça para alguém limpar o quarto. Não quero que o sangue manche meus tapetes."

"Sério?" O homem, Jonah, suspirou. Ele esfregou a parte de trás da cabeça com uma mão.

"Foram importados", Atticus disse firme. "Se você se demorar, vou fazer você limpá-los."

"Que terrível", Jonah falou em tom monótono, aparentemente não se importando com as palavras de Atticus. "Princesa Daphne, por favor, convença seu marido a ser menos tirano. Limpar tapetes não está dentro do meu conjunto de habilidades."

Daphne levantou as sobrancelhas com surpresa. Este homem não parecia ter medo do Rei Atticus! Ela olhou para ele mais de perto.

Era inegável. Jonah era bastante bonito, com humor visível em seus olhos.

Daphne o avaliou, inspecionando o homem rapidamente. Cabelo dourado e bagunçado, olhos verde floresta e um sorriso que fazia Daphne se lembrar de um Golden Retriever.

Porém, a maneira como ele facilmente se aproximou do tirano rei do Norte era mais do que prova suficiente de sua força. Só porque ele parecia inofensivo não significa que realmente era. Afinal, nenhum bom moço frágil poderia facilmente fazer amizade com os monstros de que os pais contam histórias para seus filhos.

Ele deu a ela um sorriso covinhas, como se a convidasse a entrar em uma piada privada. Uma juventude efervescente irradiava praticamente do homem.

Se o Rei Atticus incorporava a dureza do inverno, esse homem era o calor do verão. Ela se encontrou relaxando mais quanto mais olhava para ele.

Então ela se lembrou de que ainda estava nos braços do Rei Atticus, e apressou-se em pedir para Atticus que a colocasse no chão. Era embaraçoso cumprimentar alguém novo quando ela estava encaixada em seus braços como um bebê.

"Eu consigo andar", declarou Daphne, antes de se virar para o estranho. "Sou a Princesa Daphne Molinero, de Reaweth. Posso ter a honra de saber seu nome?"

"A honra é minha." O homem fez uma reverência, com os lábios curvados em um sorriso. "Sou Jonah Raycott, líder da Guarda do Rei. E um velho amigo do novo marido. Por favor, cuide dele por mim, ele fica irritado facilmente. Rabugento também, como um bebê."

"Que guarda você é." Atticus franziu a testa. "E eu não fico 'irritado' ou 'rabugento' facilmente. Você mentiroso."

O fato de que sua nova noiva parecia se abrir para Jonah em questão de minutos o irritava. Sempre havia sido assim quando eram crianças - Atticus, ofendendo descaradamente as pessoas com suas palavras e ações, enquanto Jonah acalmava as penas eriçadas e os sentimentos feridos.

"Você quer que eu conte para a sua nova esposa sobre todos os seus momentos idiotas?" Jonah ameaçou. "Porque isso é o que vai acontecer se você me fizer limpar até mesmo um tapete."

"Chantagear o rei constitui traição. Jogarei você nas masmorras."

"Então você estará nas masmorras também, ouvindo meu relatório para esta noite", Jonah respondeu facilmente. "O que a sua nova esposa vai pensar? O marido dela, passando uma noite em uma cela fria e suja, com apenas outro homem para lhe fazer companhia."

Daphne riu de divertimento. Atticus pegou o breve movimento de seus lábios e ficou ainda mais incomodado.

"Apenas saia, idiota." Atticus era um rei, então ele não - não podia - resmungar, mas havia certo descontentamento em seu tom, como se ele fosse uma criança contrariada.

Era uma emoção tão comum que Daphne teve que piscar de surpresa. Todo esse tempo, Atticus tinha se comportado como um monstro inteligente e mortal, mas neste exato momento, ele era apenas um homem provocado por seu melhor amigo.

Um sentimento engraçado surgiu no coração de Daphne.

O supracitado melhor amigo fez-lhe uma saudação de dois dedos e, em seguida, deu a Daphne uma reverência profunda. "Foi um prazer conhecer você, Princesa Daphne. Tenha um bom descanso. Deixarei ele em suas mãos carinhosas."

E então ficaram sozinhos.

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