Emma desceu as escadas e foi encontrar Caio na cozinha. Ele havia subido em uma cadeira e colocado o pó de café na cafeteira. Ela foi até ele e o tirou da cadeira, mas antes de colocar ele no chão, o beijou carinhosamente. Depois terminou de prepara o café e um pensamento passou por sua mente. A maleta! Ela largou tudo e foi até a sala. A maleta continuava lá. Próxima do lugar onde o homem estava. Ela avançou e a abriu. Muitas notas de dólares e uma rosa vermelha amassada e um cartão com alguns dizeres. Ela tirou a rosa e o cartão e os jogou no vaso, dando descarga em seguida. Voltou na cozinha com a maleta nas mãos. Não queria mais se separar dela por medo de desaparecer. Caio agora estava na mesa da cozinha, novamente em cima de uma cadeira e tentava preparar um sanduiche. Ela foi até a geladeira, que ele havia deixado aberta e tirou leite e depois colocou em uma vasilha com cereal para Caio e o sentou para que comesse. Ela não tinha apetite e só tomou uma xicara de café. Pensou muito antes de tomar uma decisão. Esperou que Caio terminasse seu café e foi até os quartos e colocou algumas peças de roupas de ambos em duas malas e pegando Caio, o colocou na cadeirinha. Ele não fazia perguntas. Apenas sorria contente para ela.
Dirigiu até o supermercado e entregou sua carta de demissão. Se despediu de todos, sem dizer para onde iria ou mesmo ou o motivo de sua partida. Entregou seu carro em uma concessionária para que fosse vendido e deixou o número de sua conta e seu telefone para entrarem em contato e depositar o dinheiro para ela e foi para o aeroporto de taxi e pegou um avião para Wyoming.
Chegaram na cidade e Emma respirou aquele ar com alivio. Se hospedou em um hotel barato e começou a procurar no jornal algum emprego. Encontrou apenas um emprego para qual estava apta em uma fábrica de eletrodoméstico como secretária. Ela ligou para o número e foi convidada para uma entrevista.
Ela foi até o endereço com um carro alugado e colocou Caio aos cuidados da dona do hotel, lhe pagando cem dólares para isso e gostou da localidade da fábrica. Era afastada. Ela passou por um pequeno bairro onde as casas eram muito espaçadas umas das outras. Viu uma placa de venda em uma delas. Estava em mal estado, mas talvez ela pudesse a comprar e fazer uma reforma. Isso se conseguisse o emprego na fábrica. Era próxima da casa e ela poderia ir fazendo caminhada para o trabalho.
Ela foi recebida por uma senhora que devia estar na casa dos cinquenta anos. Não reteve o nome dela na memória. O escritório onde foi recebida, era de luxo e Emma desanimou ao constatar isso. Ela não tinha experiencia e nem mesmo um diploma dizendo sua escolaridade.
A senhora sorriu gentilmente e lhe serviu café.
"O patrão gosta de entrevistar seus empregados pessoalmente, quando ele tem tempo, e por acaso, hoje ele está nessa empresa. Coisa rara, já que ele cuida de vários negócios."
Emma assentiu com a cabeça. Não importava quem fosse a entrevistar, suas chances eram mínimas.
"O que tenho que fazer?" Emma perguntou. Não sabia o que o cargo exigiria. Ela tinha conhecimento de como administrar um negócio, já que fora gerente anteriormente, mas não sabia se uma secretária exercia as mesmas responsabilidades.
"O principal é atender o telefone e passar para o diretor da empresa, quando você mesma não saber como resolver a situação. Também vai receber os possíveis clientes e todos que entrarem nessa sala e tem que servir café... Ele pode também pedir que faça ligações para ele, mas tem uma agenda aqui com todos os nomes. Tenho certeza e fé que você não vai encontrar dificuldades."
"Ficar no seu lugar?" Emma perguntou se sentindo mal por estar tentando roubar o lugar daquela senhora. Era muito gentil. Mas sua pergunta era tão fria quanto seu olhar.
"Não." Ela respondeu sorrindo. "Estou aqui apenas esperando uma substituta. Vou me casar e os negócios de meu futuro marido são em Tóquio. Estou torcendo para que ele a aceite para que eu possa ajeitar minha vida."
Emma ia dizer algo quando o telefone na mesa da secretária agradável tocou. Ela atendeu e ficou a escuta e depois colocou o telefone de volta ao descanso.
"O patrão vai ver você agora." Ela disse e saiu do seu lado da mesa e abriu a porta do escritório e fez um gesto com a mão para que Emma entrasse e assim que ela o fez, a secretaria fechou a porta sem fazer barulho.
Emma entrou no escritório amplo e bem decorado. Um homem de cabelos louros mexia distraído no computador a sua frente. Ela pensou que ele ainda não tinha percebido sua presença até que ele disse sem tirar os olhos do computador.
"Sente-se, senhorita..."
"Emma."
Ele fechou o computador e encarou Emma assim que ela se sentou. Emma se assustou mas fingiu indiferença. Os olhos dele pareciam ver seu interior e Emma não pode deixar de perceber o quanto era belo. E seus olhos azuis não deixavam fácil a tarefa de se concentrar nas suas palavras. Ele também parecia surpreendido enquanto a observava com insistência.
"Tem alguma experiencia, Emma?"
"Não. Já gerenciei um supermercado, mas creio que não deve ser nada parecido com as obrigações de uma secretária..."
Ele a encarou indagador. Era linda. Só um tolo não veria isso. Estava procurando uma profissão inferior à de gerente? Isso era estranho.
"Realmente não." Ele disse enfim. "Gerenciar um negócio exige muito mais responsabilidades e uma secretária... Não tem que carregar esse peso. Porque você acha que esse cargo é melhor do que o de gerente?"
"Em momento algum disse que é melhor."
Richard viu os olhos frios e indiferentes da moça e sorriu. Não era o tipo que mentia e ele valorizava isso.
"Muito bem... Então porque quer esse cargo?"
"Porque... Não importa." Emma disse e se levantou. Ela não poderia exercer aquele cargo. Não tinha experiencia e nem sabia quem era.
"Porque se levantou?" Ele perguntou curioso, franzindo a testa.
"Obrigada por seu tempo." Emma disse e saiu pela porta. Se despediu da secretaria que a fitou com olhar surpreso e desceu as escadas, chegando ao carro alugado.
Quando entrou no carro e já ia dar a partida, o homem que a estava entrevistando surgiu na frente do carro, fazendo com que Emma se perguntasse como ele chegou ali tão rápido. Ele foi até o vidro e deu uma batidinha. Emma respirou fundo e abriu o vidro.
"Porque saiu desse jeito Emma? Eu estou disposto a contrata-la. É uma pessoa razoavelmente sincera e gosto disso. Disse algo que a ofendeu?"
"Não. Não tenho experiência."
"A secretária que vai sair, vai passar uma semana treinando você. Se quiser o emprego, esteja aqui as nove da manhã para que comece seu treinamento." Ele disse e entrou na fábrica.
Emma não podia acreditar. Ela conseguiu o emprego! Dirigiu até a casa que não ficava nem três minutos dali que estava a venda e ligou para o número da placa. Foi atendida com amabilidade, mas com desconfiança.
A imobiliária combinou que uma de suas representantes estaria ali dentro de uma hora para lhe mostrar a casa por dentro. Emma concordou, mas ficou a espera ali mesmo. Não demorou muito para que o representante chegasse e mostrasse à casa para ela. Por dentro estava tudo novo, inclusive a pintura. A casa ainda tinha o cheiro de tinta fresca. O vendedor explicou que o dono fez todas as reformas necessárias por dentro e que iria terminar o serviço ainda aquela semana, porém, se ela ficasse com a casa de imediato, o dono estava disposto a entregar ela por noventa mil dólares. E se ela quisesse esperar pela reforma, ficaria quase em cento e vinte mil dólares. Emma ficou pensativa. Mesmo com suas economias, não conseguiria comprar a casa já toda reformada e ainda a mobiliar. Era melhor que a comprasse por aquele valor e gastasse o seu dinheiro a mobiliando. O estado exterior da casa, estava feio, mas não era o que mais importava. Ela fechou negócio e foi com o corretor até seu escritório, onde assinou o contrato de compra e venda e ficou noventa mil dólares mais pobre.
Ela passou em uma loja de móveis e depois que escolheu tudo, não restou nem mil dólares para ela. Teria que pagar o carro, o hotel e o dinheiro pela dona ter ficado com Cal e mudaria naquele dia mesmo, já que não poderia arcar com mais uma diária.
Emma chegou de taxi e entrou na casa vazia. Improvisou alguns papelões e aquela noite dormiram sobre eles, abraçados para espantarem o frio, já que a luz só chegaria no dia seguinte.
Quando amanheceu, tomou banho frio e só então pensou que não tinha com quem deixar Caio. Ela resolveu que o levaria consigo e teve uma bela surpresa. A empresa contava com uma creche, onde os filhos dos empregados ficavam durante o horário do expediente dos pais. Emma achou aquilo maravilhoso e acreditando que estava muito melhor agora, começou seu treinamento. Passaram se seis meses e ela estava totalmente entendendo de todo o seu serviço. Caio havia urinado na cama e ela gastaria mais tempo do que normalmente gastava para chegar ao trabalho. Naqueles meses, passara a gostar de Richard. Ele tinha um jeito diferente dos outros homens e não a olhava como se fosse um pedaço de carne. Não perdia tempo a elogiando, mas falava abertamente sobre estar satisfeito com seu desenvolvimento dentro da fábrica. Desde que ela fora contratada, ele não havia ido visitar suas outras empresas e as vezes almoçavam juntos, na verdade, quase todos os dias. Ele falava e ela só escutava e apesar de seu olhar indiferente e frio, gostava da conversa dele. Ela ligou e avisou a ele que chegaria um pouco mais tarde. Ele não se importou e pareceu a Emma que estava nervoso. Ela deu banho em Caio, que completava quatro anos naquele dia e deu a ele um tablet, antes de irem para a fábrica. Ela chegou e se sentou em sua mesa, olhando no computador se havia algo agendado. Ela ouviu as vozes alteradas vindas do escritório de Richard, mas não ousou interromper. Ele ligou em seu telefone e surpreso por ela já ter chegado, pediu que levasse duas xicaras de café até sua sala. Ela foi até a cafeteira e preparou o café. Depois serviu duas xicaras na bandeja e dando uma batidinha na porta antes de entrar, passou pelo visitante e serviu Richard primeiro. Quando se voltou para servir o visitante, viu os olhos esverdeados do homem para quem ela tinha se vendido, lhe fitando com testa franzida e um ar debochado. Ela ficou nervosa e derramou o café na roupa dele, para seu desespero e divertimento de Richard.
"Está vendo Andrey? Até a secretaria sabe que você não toma café como uma pessoa normal." Ele disse e deu gargalhada enquanto Andrey fitava Emma com o olhar zangado.
"O que está esperando?" – Ele perguntou com arrogante. Sua voz soando como a uma ameaça. "Traga algo para limpar essa bagunça toda que fez!" Ele disse com raiva e assim que Emma se retirou ele se voltou para Richard. "Está transando com essa moça?"
Richard sorriu e largou sua xicara na mesa.
"Você não é mais meu amigo. Não creio que devo lhe dar satisfações de que com quem saio... Porque o interesse?"
Andrey o fitou irado. Não eram mais amigos. Não compartilhavam segredos, mas ele ainda gostava dele, como se fosse o irmão que nunca tivera. Sabia que aquela moça estava naquela cidade e conseguiu informações sobre ela através do detetive que colocou atrás dela. Achou que ela já havia sofrido o bastante e acabou deixando ela. Porém, agora que descobria que ela era amante de seu rival, e seu prazo de se casar estava se esgotando, aproveitaria para se vingar dos dois. No entanto, mudou de assunto, para que Richard fosse pego de surpresa.
"Então, a tecnologia de Midas... Eu creio que não poderá dar lance maior que o meu, nem que venda tudo o que tem. Não seria melhor, você se retirar e deixar que eu a compre, antes que você se arruíne?"
"E deixar uma mina de ouro tão facilmente em suas mãos? Me faça uma proposta melhor e pensarei no seu caso."
"O que você quer?"
"Sinto falta de sua amizade. Sejamos sócios para nos reaproximar. Você compra setenta por cento da tecnologia e eu entro com os outros trinta por cento."
Andrey ficou pensativo. Aquela não era uma proposta ruim. Ainda mais que ele podia fazer com que o restante dos trinta por cento, fosse exatamente o valor de todos os bens de Richard. Ele não era um bom administrador e estava quase falido. Não tinha capital de giro e todas as suas empresas estavam fechando no vermelho. Enquanto pensava sobre essas coisas, a secretária voltou e entregou a ele um pano, mas ele virou o rosto para o outro lado com indiferença e pegou algo que talvez nunca tivesse percebido, se não fosse algo fora do comum. Richard olhava para a moça de forma que ele conhecia bem. Richard estava apaixonado por ela! Richard desviou os dela quando percebeu que Andrey o fitava com interesse crescente. Tomou o pano com brutalidade das mãos dela. Se ela tivesse feito com Richard, como fez com ele quando se deitaram, podia entender a paixão do amigo. Ela era única. Porém para ele, não passava de um meio de obter prazer, enquanto cumpria a vontade de seu pai adotivo. Ela talvez gostasse do que o tutor e sua esposa haviam feito com ela. Conversou com o outro tutor, encontrado por seu detetive e descobriu que ela era filha de um bilionário. Mas nem fazia ideia de sua fortuna. Ele só foi acionado, quando dinheiro demais estava saindo do fundo dos pais dela. Então, ele que havia sido nomeado pelos pais da jovem antes de morrerem, o tutor que cuidaria de suas finanças, começou a não permitir que o dinheiro fosse gasto com demasiado descuido e passou para o abusador da jovem, apenas uma pensão que achou necessária para a sobrevivência dela. Mas o homem que era amante dela, tinha o poder legal sobre ela. Então o segundo tutor cuidou para que recebessem uma mesada até que ela completasse vinte e cinco anos e fosse procurada para receber sua herança e cuidar dela como bem entendesse. Pelas contas do detetive, ainda faltavam mais de cinco anos para que ela pudesse receber sua herança. Mas Andrey a queria. E ele sempre conseguia tudo que queria. Não seria diferente com ela. Mesmo sendo uma vadia, iria se casar com ele. Já tinha até o contrato deles pronto.
"Aceito sua oferta, com uma condição." Andrey disse pensando em sua vingança. Colocaria os trinta por cento da tecnologia, no valor exato dos bens de Richard. "Quero que mande a secretária embora."
Emma o fitou com o mesmo ar frio e indiferente, mas estava indignada. Apenas por ela ter derramado o café, seria mandada embora? Não pode deixar de comparar aquele homem com o primeiro que abusara dela. Ambos eram implacáveis em sua arrogância.
"Emma, já pode ir." Richard disse com o rosto lívido, mas o olhar calmo. "Precisamos conversar a sós. Por favor, não passe nenhuma ligação."
Emma saiu com vontade de derrubar Andrey da cadeira, mas resistindo a seus impulsos e foi se sentar a sua mesa. Então o nome do homem era Andrey. Agora ele sabia o seu também. Mas não entendia o brilho de ira que vira no olhar dele. Não pensou que ele guardasse algum rancor. Fizeram um negócio e cada um cumpriu com sua parte. Porque será que ele estava tentando a prejudicar?
"Não posso mandar Emma embora, Andrey. Me peça qualquer coisa. Qualquer outra coisa."
"É só isso que quero. Não pode manter sua amante fora de sua empresa? Pode a pagar o salário sem que seja necessário sair da cama dela. Sabia que tinha algo errado, quando percebi que abandonou suas viagens e fixou residência nesse fim de mundo. Nem mesmo tem um restaurante decente nesse lugar."
"Você tem a mente deturpada. Emma e eu somos só... Amigos, talvez. Ela é uma moça de respeito e não admite liberdades extras com ela."
"Você está apaixonado." Andrey concluiu com um sorriso debochado.
Richard achou que era inútil negar.
"Você também!" Ele disse sem saber exatamente porque disse e viu o olhar de surpresa e confusão no olhar de Andrey. "Você já a conhecia antes de vir para cá!" Ele adivinhou sem entender o que aquilo significava. Os dois apaixonados por uma mesma mulher. Não era como Elena, nenhum dos dois a amava, apenas transavam com ela na mesma época.
Andrey não respondeu a essa questão.
"Vai mandar ela embora ou não? Qual de nós dois você escolhe?"
"Tenho algo melhor que a demissão dela para você."
"Não me diga..."
"Descobri o que aconteceu com seu verdadeiro pai."
Andrey o fitou franzindo a testa. Tinha muitas cartas na manga ainda. Podia ouvir Richard e assim ainda ter tudo que queria. Ele não tivera coragem de colocar um detetive a procura de suas raízes, por causa de seu pai adotivo. Mas gostaria de saber o que aconteceu com seu pai biológico. Sua mãe nunca falava dele. Andrey recostou na cadeira.
"Estou ouvindo."
"Não é algo muito bom. Ele foi morto por uma gangue, que queria roubar o relógio de ouro dele, que era herança de família."
"Me dê os detalhes Richard. Sabe que não fico satisfeito com conclusões tiradas por terceiros."
"O nome de seu pai era Magno. Ele conheceu sua mãe em uma boate e em menos de três semanas estavam casados. No dia da morte dele... Ela tinha acabado de dar à luz a você, e ele saiu do hospital para comprar charutos para todos que estavam no hospital. Mas não voltou. Só não sei dizer porque ele foi torturado. Tenho a ficha completa aqui, com os detalhes funestos de como seu pai terminou a vida." Richard disse e abriu a gaveta. Tirou uma pasta azul e a jogou para Andrey.
Andrey pegou a pasta e se levantou.
"O senhor Yong, dono da tecnologia, vai procurar você pra negociar os trinta por cento. Eu comprarei hoje ainda os meus setenta por cento."
Richard se levantou e estendeu a mão.
"Amigos de novo?"
Andrey hesitou por um momento, mas acabou apertando a mão de Richard.
"Claro!" Ele disse e quando se virou para ir embora, estava com um sorriso debochado no rosto.