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Despertar da alma gêmea

Ômegas são classes vulneráveis. São fracos, não sabem cuidar de si mesmos, precisam sempre estar sob a proteção de um alfa, pois, é a única classe que será capaz de protegê-los.

Essa era uma das, dentre várias, lições valiosas que a família Jones passavam para as gerações seguintes. Toda vez que escutava aquele tipo de conversa, Gabriel ficava sem compreender o motivo de sua família paterna estar tão interessada em ser mais forte que as demais classes. Afinal, sua mãe nunca parecera fraca. Nem seu tio, muito menos o seu avô materno...

A família materna eram um pouco sensíveis, mas bem legais se comparadas à família paterna. Sempre perguntavam como ele estava, como se sentia quando algo ruim acontecia, e seu avô fazia um pão delicioso quando o visitava no sítio.

De fraco, eles não tinham nada.

Na medida em que crescera, Gabriel compreendera o verdadeiro significado daquelas lições. Não era a questão de um ômega ser fraco, mas de torná-lo fraco. O suficiente para depender de um alfa.

Principalmente em períodos de cio.

Quando Gabriel perdera a virgindade com uma garota ômega, ele desvendara os mistérios das lições aprendidas na infância. Não era no dia a dia que um ômega iria mostrar sua vulnerabilidade, era na cama. Era naquele momento que o alfa deveria mostrar sua força para deixar claro que sem ele aquele ômega não sobrevive. Como se o alfa dominante fosse uma droga para um viciado de longa data.

Onde não teria mais volta.

Gabriel nunca gostara de se sentir daquele jeito, apesar de seus instintos seguirem tais padrões. Sempre fazia o seu melhor quando estava no cio, pois queria impressionar a garota. Ora essa, que menino em plena puberdade gostaria de ouvir que sua performance fora um fracasso? Certamente ele se esforçaria para arrancar elogios de sua parceira.

No entanto, aquilo sempre parecia errado. Insatisfatório. Entediante ao ponto de Gabriel não aceitar mais os convites para ser parceiro de cio das meninas que gostavam dele. Era como se para elas, qualquer suspiro daquele alfa fosse o suficiente para delirar.

Gabriel não queria aquilo.

Bem... Não até então.

Desde o momento em que admitira arder em desejos por Theodore, Gabriel sentia que o lema de sua família paterna o bombardeava. Não era uma garota ômega, mas sim um garoto. Ele não era fraco, mas sim forte ao ponto de não negar sua orientação sexual. Quantas vezes Theodore deixara claro, e muito bem falado, que gostava de homens? Seus momentos eram gloriosos, mesmo que tivesse uma ponta de vergonha em seu semblante.

Ele não era nada vulnerável.

Só conseguia sentir aquela vulnerabilidade quando o tocara pela primeira vez. Fora tão assustador para Gabriel descobrir um lado seu daquela maneira, que fora difícil parar. Oh sim, fora muito difícil. Quando se tem consciência de que o prazer está em deixar o outro vulnerável.

As reações que arrancara de Theodore enraizaram em suas memórias, sendo revividas no looping eterno. O calor que suas mãos sentiram quando segurara seu membro e o masturbara na escola jamais o abandonara. A voz o chamando daquela maneira, a forma como seu corpo chamava pelo dele... Nada daquilo abandonaria Gabriel.

Observando aquele ômega dormir na sua cama com o corpo encolhido, Gabriel puxara as cobertas sobre ele suspirando pesado. Agora compreendia o significado das lições aprendidas, era simplesmente insuportável resistir.

Queria deixá-lo vulnerável.

Queria mostrar para Theodore que somente ele o satisfaria.

Que aquele alfa era seu, assim como aquele ômega era dele.

E ninguém mais seria capaz de interferir naquela relação.

Pois Theodore só poderia depender de Gabriel.

Acariciando a própria testa, o alfa mordia o lábio inferior com força. Pelos céus, como se odiava por concordar com os pensamentos de sua família. De maneira alguma queria se reduzir a uma relação sexual dependente. Ou então de tornar Theodore uma pessoa fraca.

Levantando-se da cama, o garoto nu seguira para o banheiro onde pudera pegar uma toalha e a umedecer na torneira. Quando retornara para o quarto, tivera todo o cuidado do mundo em limpar Theodore retirando qualquer resquício da ejaculação.

Enquanto deslizava o pano úmido por sua pele, Gabriel não deixara de observar aquele ômega. Os cílios de Theodore eram compridos e estranhamente escuros, mas charmosos ainda assim. A sua boca era tão definida e estava ligeiramente avermelhada pelos beijos trocados outrora. Até passara a ponta do seu polegar sobre eles, sentindo a maciez de sua pele e abrindo um sorriso em vê-lo dar um beijinho preguiçoso.

O peitoral de Theodore estava repleto de marcas espalhadas em sua pele, mas sem mordidas. Gabriel fora extremamente cuidadoso naquele quesito depois do que vira acontecer ao seu melhor amigo. O corpo de Theodore não era definido, ainda assim magro e macio. Só de olhá-lo de longe o alfa sentia vontade de afundar o rosto em sua barriga para beijá-lo e mordiscá-lo até ouvir sua risada.

Queria simplesmente se afundar naquele ômega.

Terminado de limpar o seu corpo, Gabriel fora até seu armário pegar alguma blusa sua. Não queria mexer nas coisas do ômega sem sua permissão, então seria melhor pegar das próprias roupas emprestadas. Uma camisa fora a única peça que pegara, já que um cheiro peculiar o despertara dos devaneios.

Olhando sobre o ombro constatou que Theodore ainda dormia. Apesar de seu corpo emanar o cheiro. Ele estava no cio definitivamente, provavelmente as roupas lhe seriam um incomodo enquanto ele desejasse ser tocado. Só de imaginar aquilo Gabriel já sentia o sangue pulsar em suas veias.

Fora necessária muita disciplina, e alguns carneirinhos, para não se deixar levar pelo cheiro e acordar Theodore para mais uma rodada enquanto o vestia.

Aproveitando a calmaria daquela madrugada, Gabriel vestira apenas uma calça e fora até a cozinha buscar algo pra comer. O silêncio em sua casa era certamente rotineiro, mas sentir o cheiro de Theodore por onde passasse era novo. Uma sensação agradável tomava conta de Gabriel.

Sem muito o que poder preparar, escolhera fazer um macarrão instantâneo. Enquanto esperava o miojo ficar pronto, o alfa encarava a bancada de sua cozinha espreitando os olhos. A cozinha aberta dava vista para a sala, parecendo vazia para ele. Apesar dos móveis e decoração que sua mãe escolhera, não tinham muita graça para Gabriel.

Uma sensação estranha tomara sua cabeça. Uma visão rápida de alguém sentado na bancada abraçado a outra pessoa, sorrindo belamente compartilhando um doce momento. Fora tão rápido que Gabriel sentiu-se vazio quando se virou para o fogão continuando a preparar do seu lanchinho noturno.

O que era aquilo?

Cena de algum filme que andou vendo? Parecia...

Um arrepio tomara sua espinha. Olhando em direção das escadas, o alfa arregalava os olhos ao ver Theodore em pé semi nu o encarando com as pupilas dilatadas. Seus cabelos dourados estavam bagunçados, e sua cara parecia sonolenta ainda. Ainda assim, adorável.

— Por que acordou? Poderia dormir mais um pouco. — Questionava Gabriel abrindo seu costumeiro sorriso cavaleiro. O ômega descera as escadas o fitando serenamente, dando um passo de cada vez em sua direção exalando aquele cheiro tão sedutor. — Theo?

Onde já havia visto algo assim?

Lentamente Theodore se aproximara de Gabriel, inclinando o corpo em sua direção fitando-o bem de pertinho. O alfa até recuara um tanto quanto confuso com a sua súbita aparição, mas precisando controlar suas mãos em tocá-lo. Se sentisse o calor de seu corpo... Seria ali mesmo que aconteceria. E Theodore merecia bem mais que isso.

— O que está fazendo, alfa?

Sua voz baixa e límpida surpreendia Gabriel. O ômega estava completamente inconsciente, dominado pelos instintos, obtendo um charme descomunal. Era como se Theodore brilhasse acima do comum em sua singela visão.

— C-Cozinhando um miojo. Também está com fome, Theo?

Theodore olhara de canto para o fogão e então voltara a olhar para Gabriel concordando com a cabeça.

— Vai me alimentar, alfa?

Engolindo em seco, Gabriel concordara com a cabeça. Estava nítido a intenção do ômega em seduzi-lo, e ele estava caindo como um patinho. Tão fácil e manso em seu jogo de charme. Principalmente quando sorrira docemente, causando a discórdia interna de Gabriel. Cobrindo o rosto com as mãos, se lamentava por descobrir ser fraco por Theodore em pleno cio.

Sob os olhos vigilantes de um ômega, Gabriel desligara o fogo parecendo se esquecer completamente de onde estava. Procurava por garfos, mas sempre abria a gaveta errada. Tudo por sentir aqueles olhos claros e dilatados o acompanhando no mísero movimento que fizesse.

Certamente ele queria ir para cama e ser tocado. Queria que um alfa o dominasse e o tornasse dependente dele. E Gabriel desejava aquilo também. Pelos céus, poderia se enterrar no seu corpo até rasgá-lo ao meio só para provar à Theodore que ele era o seu alfa. Mas isso não significaria que perderia o controle? Que cederia ao credo que tanto repulsa em sua família.

Virando a cabeça sobre os ombros, constatara Theodore parado em pé como uma estátua.

Logo se lembrara do episódio na casa do seu capitão, de quando vira Nicolas debaixo da mesa encarando Milles.

Ah... Era aquilo. Definitivamente era aquilo. A sensação era a mesma, tendo a diferença de os protagonistas daquela perseguição serem outros. Ele e Theodore.

— Então é assim que ômegas se comportam durante o cio... — Murmurava o rapaz preso aos próprios pensamentos.

Theodore inclinara a cabeça infantilmente, dando alguns passos em sua direção estendendo os braços para abraçar o pescoço de Gabriel. Pendurando-se em suas costas Theodore abrira um sorriso lascivo, exalando ainda mais o seu cheiro.

— Que demora, alfa. Não sou um ômega muito paciente.

Ainda existia algum fio de sanidade em si? Gabriel duvidava muito, aquele jeito era simplesmente...excitante. Mas deveria se controlar por alguns minutos, eles não haviam comido e o ômega estava em pleno cio. Precisava cuidar dele antes que se perdessem no corpo do outro mais uma vez.

Mas como deveria lidar com aquele lado de Theodore? Era o seu instinto ômega diante de si pedindo por sua atenção. Não fazia a menor ideia de como lidar com ele. Era diferente de qualquer outra garota com quem já se relacionara.

Basicamente ele quer ser cuidado, não? Mimado pelo alfa. Então, estaria tudo bem em Gabriel ceder pro seu lado dominador?

— Seja um bom garoto e coma tudo, sim? — Tentara dizer com firmeza ao ômega.

Lentamente os olhos azulados de Theodore se arregalavam e um sorriso enorme brotava em seus lábios. Concordando com a cabeça infantilmente, Theodore recuara três passos obedientemente.

Muito bem... Ele gostava de ser tratado daquele jeito.

Respirando fundo, Gabriel finalmente encontrara um garfo e pegara a pequena panela para entregar ao ômega, que ainda estava em pé em frente à bancada. Com alguns fios do macarrão no garfo, Gabriel estendera o mesmo para o ômega esperando ele se servir. Tudo o que Theodore fizera fora abrir a boca e deixar ser alimentado pelo alfa.

Seu coração fora à loucura em vê-lo tão obediente querendo ser cuidado e mimado. Até se encostara na bancada deixando as mãos para trás como se recusasse a segurar o maldito garfo.

— Ah... Que golpe baixo. — Murmurava Gabriel desistindo de compreender a sua situação, passando a alimentar Theodore com cuidado. — Duvido que numa situação normal você fosse me deixar te dar comida na boca.

Observando Theodore naquele estado o flash da visão que tivera outrora retornara em sua mente. Como um refrigerante borbulhando em um copo, subindo por um canudo, o sangue de Gabriel percorria todo o seu corpo em extrema velocidade. Apesar disso, suas mãos perdiam o calor junto do rosto que ficava pálido. Deixando a panela sobre a bancada, Gabriel segurara as coxas do ômega o erguendo suficiente para sentá-lo na bancada, sem desviar os olhos dele.

Era assim que aquela pessoa da visão estava sentada?

E então a sensação mais engraçada surgira em seu peito.

Como um déjà vu.

Engolindo em seco, o alfa ficara entre as pernas de Theodore, abraçando sua cintura o encarando atônito. Aquele era o seu lugar, sentia no seu âmago. No seu peito uma explosão eufórica bombardeava, e sua mente não parava de trabalhar fervorosamente com os pensamentos tão ligeiros e agonizantes.

Tudo por estar replicando algo que viera sorrateiramente do seu inconsciente.

Os braços do ômega envolveram seu pescoço e seus rostos aproximaram-se perigosamente. Suor começava a surgir na testa de Gabriel, e seu cheiro forte de um alfa dominador exalava sem pudor algum. Encarando-o petrificado, prendera a respiração ao ouvir Theodore sussurrar.

— Te encontrei, meu alfa.

Uma boca se encontrara com a outra iniciando um beijo silencioso e estupefato. Gabriel não conseguia reagir quando tinha sensações tão estranhas ocorrendo em seu corpo. Seus músculos formigavam e nada mais parecia importar.

Nada além daquele ômega.

Seu ômega.

Sua alma gêmea.

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