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Capítulo 09

Laurenn conduziu Letícia para fora do galpão, acomodando-a cuidadosamente na carruagem real. Enquanto aguardavam Aleph, Letícia, exaurida pelo trauma, adormeceu encostada no ombro do irmão. 

 

— Depois que soube que os bandidos foram presos e que você estava a salvo, ela relaxou e adormeceu — explicou Laurenn a Aleph, que se aproximava da carruagem. 

 

— Sua reação foi… inesperada — comentou Aleph, recordando a fúria controlada de Laurenn no galpão. 

 

— Quando se trata da minha irmã, eu… perco o controle — admitiu Laurenn, com um sorriso constrangido. — Obrigado por me deter. Mas não esperava que você a conhecesse. 

 

— Para ser sincero, não imaginava que ela fosse a sua irmã — respondeu Aleph, pensativo. — A princesa é bem diferente do que você descreveu. 

 

... 

 

Anteriormente, Dagmar, a assistente pessoal de Letícia, notara a saída incomum da princesa e, preocupada, alertara Laurenn. Imediatamente, o príncipe reuniu um grupo de Cavaleiros Reais e partiu em busca da irmã. Sir Hector, o cavaleiro mais leal a Laurenn, seguiu os passos de Letícia discretamente e, ao presenciar seu sequestro, correu para informar o príncipe. 

 

Enquanto isso, Aleph caminhava pela cidade quando Verônica, desesperada, o interceptou. Entre lágrimas e soluços, contou sobre o sequestro de Letícia e implorou por sua ajuda. Sem hesitar, Aleph seguiu as instruções de Verônica, correndo em direção ao local indicado. 

 

Ao chegar ao galpão abandonado, deparou-se com Laurenn e Sir Hector, prontos para invadir o local. 

 

— Príncipe Laurenn! — exclamou Aleph, surpreso. — O que faz por aqui? 

 

— Me pergunto a mesma coisa sobre você. — respondeu Laurenn, com a voz tensa. 

 

Aleph explicou que fora alertado por Verônica sobre o sequestro de Letícia. Laurenn o encarou, a desconfiança evidente em seus olhos. 

 

— Então você veio resgatar minha irmã? — questionou, com um tom de incerteza. 

 

Antes que Aleph pudesse responder, um grito abafado vindo de dentro do galpão interrompeu a conversa. Sem mais delongas, Laurenn e Aleph trocaram um olhar e, guiados pela urgência da situação, invadiram o local. Laurenn ordenou a Sir Hector que convocasse reforços. 

 

... 

 

Letícia despertou, mas manteve os olhos fechados, fingindo ainda dormir. A curiosidade a dominava, e ela queria ouvir a conversa entre Laurenn e Aleph. 

 

— A princesa Letícia me convidou para ser cavaleiro oficial dela — confidenciou Aleph, um tom hesitante em sua voz. — Mas não sei qual a maneira correta de responder a essa solicitação. 

 

— Se a acompanhasse até o Reino do Outono, apenas para garantir sua segurança… — começou Laurenn, com um suspiro de alívio. — Eu ficaria muito mais tranquilo, ainda mais depois do que aconteceu hoje. Confio plenamente em suas habilidades, afinal, você é… 

 

Aleph interrompeu Laurenn com um gesto discreto, lançando um olhar significativo em direção a Letícia. 

 

— … um grande amigo — concluiu Laurenn, modificando a frase no último instante. 

 

"Espera… o que ele ia dizer? — pensou Letícia, intrigada. — "Por que mudou de ideia? O que Aleph é, afinal?" 

 

— Princesa Letícia? — chamou Aleph, tocando levemente o braço dela. — Está se sentindo bem? 

 

"Como ele percebeu que eu acordei?" — questionou-se Letícia, surpresa. — "Ele notou a mudança na minha respiração?" 

 

Abrindo os olhos lentamente, Letícia se sentou e agradeceu a Aleph por sua ajuda, desculpando-se pelo transtorno. Aleph balançou a cabeça em negativa, e com um gesto gentil, pousou a mão sobre a dela, transmitindo-lhe tranquilidade. 

 

Ao chegarem ao castelo, encontraram o rei Hayden à sua espera, o rosto marcado pela preocupação. Laurenn, como sempre, sentiu-se intimidado pela presença imponente do rei. 

 

O salão principal fervilhava de criados e cortesãos, alarmados com a notícia do sequestro. Hayden, percebendo a comoção, abraçou Letícia com força, transmitindo-lhe alívio e apreensão. 

 

— Letícia! Não faça isso comigo! O que eu faria se algo lhe acontecesse? — exclamou, a voz embargada pela emoção. — A partir de hoje, um dos meus melhores cavaleiros será designado para protegê-la! 

 

Acalmando a multidão com um gesto de mão, Hayden dispensou a todos, ordenando que retornassem aos seus afazeres. Seu olhar, porém, pousou sobre Aleph, que permanecia ao lado de Letícia. 

 

— Quem é este jovem? — perguntou, com um tom inquisitivo. 

 

— Este é Aleph, Majestade — respondeu Letícia. — Ele é um cavaleiro da cidade e foi quem me resgatou. 

 

— Nesse caso, devo-lhe minha gratidão — disse Hayden, apertando a mão de Aleph com força incomum. — Seu cabelo… é bastante incomum. Não há ninguém com essa cor de cabelo em nosso reino. 

 

— Ele é do Reino do Outono, Majestade — interveio Letícia, tocando o braço do rei discretamente, num gesto de advertência. 

 

— Do Outono? — Hayden observou Aleph com mais atenção. — Seu rosto me é familiar… Já nos encontramos antes?... "Ele me lembra… aquela pessoa que tanto odeio…" 

 

Laurenn abriu a boca para intervir, mas Aleph se antecipou, curvando-se em uma reverência respeitosa. 

 

— Não me recordo de tê-lo encontrado antes, Vossa Majestade. 

 

"Se ele tivesse alguma ligação com Ryuuichi, jamais se curvaria diante de mim" — pensou Hayden, a suspeita diminuindo. — Bem, já que fez um excelente trabalho, diga-me: qual recompensa deseja? 

 

— Se Vossa Majestade permitir, gostaria de servir como cavaleiro oficial da princesa Letícia, protegendo-a de qualquer perigo que a ameace — declarou Aleph, encarando Hayden com um olhar firme e desafiador. 

 

— Se essa é a vontade de Letícia, não me oponho — concordou Hayden, dirigindo-se à filha. 

 

Um sorriso iluminou o rosto de Letícia. A esperança de ter Aleph como seu protetor renascia. 

 

... 

 

Em um canto sombrio e isolado do castelo, longe dos olhares curiosos da corte, o General Shineid esbravejava, a frustração evidente em sua voz. 

 

— Incompetente! — vociferou, lançando um olhar furioso ao homem que se encolhia diante dele. — Eu ordenei que se livrasse de Letícia! Mas contrata um monte de gente inútil que nem você! 

 

— General, eu não podia prever que o príncipe Laurenn apareceria e a resgataria — justificou o homem, a voz trêmula de medo. 

 

— Não me importo com suas desculpas! — rosnou o General Shineid, a raiva intensificando-se. — Letícia precisa ser eliminada antes de chegar ao Reino do Outono. Se falhar novamente, as consequências serão… desagradáveis. 

 

A ambição corroía o General Shineid. A serviço da rainha Risny, ele planejava usar a morte de Letícia como trampolim para ascender na hierarquia do reino de Risny, consolidando seu poder e influência. 

 

... 

 

Assim como o Mestre Yoshi manipula as energias positivas que sustentam o equilíbrio da dimensão, a Rainha Risny controla as energias negativas, uma força antagônica e igualmente poderosa. Seu reino, uma fortaleza isolada e impenetrável, é governado com punho de ferro, um regime ditatorial onde a palavra da rainha é lei absoluta. A distância geográfica que separa seus domínios dos territórios influenciados pelo Mestre Yoshi não é mero acaso, mas uma necessidade imposta pela natureza conflitante de seus poderes. 

 

Risny é a criadora das shineideas, moldando-as à sua vontade através de diversos métodos. Um deles envolve a infusão direta de magia negativa em seres humanos, corrompendo-os e transformando-os em instrumentos de suas ambições. Seu objetivo final é a dominação total, a conquista dos reinos vizinhos através da desestabilização política e da opressão sistemática. Ela busca destruir tudo o que o Mestre Yoshi construiu e tudo o que ele representa, aniquilando o equilíbrio que ele tanto se esforça para manter. Uma guerra silenciosa, travada nas sombras, opõe esses dois, cujo poder pode determinar o destino de toda a dimensão. 

 

 

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